A médica brasileira que lutou por negros nas universidades muito antes da Lei de Cotas

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Uma das primeiras mulheres negras formadas em Medicina no Brasil, Iracema de Almeida ajudou centenas de outras pessoas negras a ascenderem profissionalmente e foi pioneira no estudo da anemia falciforme no país, mas hoje sua história é pouco conhecida. Uma das primeiras mulheres negras formadas em Medicina no Brasil, Iracema de Almeida foi pioneira no estudo da anemia falciforme no país e lutou pela profissionalização de pessoas negras em plena ditadura militar
Arquivo pessoal/Raphaella Reis
"Dizemos com muito orgulho e responsabilidade: nós somos brasileiros vivos. Não queremos mais, queremos o igual", discursou a médica Iracema de Almeida (1921-2004) na Câmara de Vereadores de São Paulo, em 11 de outubro de 1976.
Ela falava como presidente do Grupo de Trabalho de Profissionais Liberais e Universitários Negros (GTPLUN), que ajudou a fundar em 1972, com o objetivo de promover a melhoria econômica da população negra através da profissionalização.
Isso em plena ditadura militar, quando a ideia de que o Brasil seria uma "democracia racial" era parte do discurso oficial.
"Minha avó era uma pessoa muito movida pela força do ódio", lembra a advogada Raphaella Reis, uma das netas de Iracema, em entrevista à BBC News Brasil.
"Ela contava que, certa vez, ela precisou ir a um órgão público ajudar um amigo de Gana que estava vindo para o Brasil e ela precisava informar onde ele iria ficar", conta.
"Ela chegou ao prédio, que ficava no centro, e não deixaram ela entrar, dizendo que aquela não era a porta dela, que ela precisaria entrar pela porta de serviço. E ela respondeu: 'Eu não vou entrar pela porta de serviço, porque não sou sua empregada.'"
Raphaella conta que sua avó então explicou que era médica e que estava ali para realizar um protocolo e registrar seu endereço para o amigo que estava vindo do exterior. Ela teria recebido como resposta que "gente como ela" não tinha casa em endereços como aquele.
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Iracema teria então olhado em volta e visto que no local havia apenas pessoas brancas – a única pessoa negra presente era uma faxineira fazendo a limpeza.
No dia seguinte, a médica teria mandado sua faxineira (uma mulher branca) para realizar a tarefa. E a faxineira teria sido recebida no edifício sem maiores problemas.
"Então ela juntou um pessoal para oferecer formações para pessoas negras, para lotar órgãos públicos de servidores negros. Ela queria lotar escolas de professores negros, encher as faculdades de São Paulo de gente negra, como professores e como estudantes", diz Raphaella, sobre o que teria motivado Iracema a se unir ao GTPLUN.
Iracema foi presidente do GTPLUN, grupo criado em 1972, com o objetivo de promover a melhoria econômica da população negra através da profissionalização
Arquivo pessoal/Raphaella Reis
"Iracema de Almeida, mutatis mutandis, era para a geração negra do pós-guerra o que é hoje o Frei David para a geração dos que lutam para ingressar nas universidades", escreveu o professor e poeta Eduardo de Oliveira (1926-2012) em sua enciclopédia Quem é quem na negritude brasileira (CNAB, 1998).
No verbete dedicado a Iracema, Oliveira compara a médica ao religioso franciscano fundador da Educafro, organização que desde 1993 já ajudou mais de 100 mil jovens negros e de baixa renda a ter acesso ao ensino superior através de seus cursinhos populares.
"Não tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente, mas a conheço como uma irmã da causa", diz Frei David.
"A luta dela pela educação foi determinante, foi estratégica e gerou resultados. Muitos negros que foram beneficiados por ela naquele período ajudaram a construir um clima mais propício para mostrar que, dando oportunidade, o negro dá o pulo da vitória."
Mas o fundador da Educafro não é o único que não teve a oportunidade de conhecer Iracema de Almeida.
Apesar de ter sido uma das primeiras mulheres negras formadas em Medicina no Brasil, de ter colocado em prática o lema "uma sobe e puxa a outra" antes mesmo dele existir, e de ter sido pioneira no estudo da anemia falciforme no Brasil (doença genética e hereditária mais frequente na população negra), Iracema de Almeida é hoje pouco conhecida do público em geral e até mesmo dentro do movimento negro brasileiro.
Conheça a história dessa pioneira na luta pela profissionalização do negro no Brasil e por que sua polêmica afiliação política pode ter contribuído para seu apagamento histórico.
Mulher negra com duas graduações na década de 1950
Iracema de Almeida nasceu em 31 de agosto de 1921, conforme registra seu diploma da Escola Paulista de Medicina (EPM, hoje ligada à Universidade Federal de São Paulo), numa família paulistana negra de classe média.
Isso era algo raro num país que havia abolido a escravidão apenas 33 anos antes (em 1888) e onde, até pelo menos os anos 1960, mais da metade da população negra era analfabeta.
José Correia Leite, um dos principais jornalistas da imprensa negra paulista no início do século 20, registrou a condição confortável da família de Iracema em um trecho do seu livro de memórias E disse o velho militante José Correia Leite (Ed. Noovha América, 2013).
"Chegando à casa de uma família negra, eu vi uma coisa que fazia muito tempo não via mais nas famílias de classe média: um sarau musical bonito (…) Naquela visita, depois eu vim a saber que nós estávamos na casa dos pais da moça que se tornou depois conhecida, a Dra. Iracema de Almeida", lembrou Leite, sobre acontecimentos do ano de 1947.
A própria Iracema atribuía a condição favorável de sua família à profissionalização, mas observava que a vida de um negro de classe média naquela época também não era fácil.
"Minha avó por parte de pai era lavadeira e por parte de mãe era cozinheira e a partir daí todos foram profissionalizados: chapeleira, costureira, meu avô, tintureiro, então nós estivemos num meio assim com um pouco mais de conhecimento", disse a médica em entrevista publicada em 1980 no periódico da imprensa negra Jornegro.
"A minha vida também não foi fácil, não venham falar que minha vida foi fácil, porque meu estado emocional foi pior do que se vivesse no meio do negro pobre. No meio dos negros nós não teríamos o dia todo a agressão que senti e que vivia num meio que não me aceitava e que a toda hora me lembrava que eu estava ali e que não era aquele meu lugar."
Entre os lugares incomuns para mulheres negras na São Paulo das décadas de 1940 e 1950, estava o ensino superior.
Basta lembrar que apenas a partir dos anos 2000 o percentual de mulheres negras com formação universitária superou os 2% no Brasil – em 2022, esse patamar era de 11% considerando a população com 25 anos ou mais, acima dos homens negros (7%), mas abaixo de homens e mulheres brancas (22% e 18%, respectivamente), segundo o IBGE.
Há mais negros com ensino superior, mas ainda poucos
Fonte: Censos 1960-2022 do IBGE. Elaboração: Núcleo de Estudos Raciais, Insper. Não houve declaração de raça no Censo de 1970. Negros incluem as categorias 'preto' e 'pardo' utilizadas pelo IBGE.
BBC
Iracema teve não só uma, mas duas formações de nível superior. Primeiro, diplomou-se em piano pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, em 1941. Depois, cursou medicina na EPM, formando-se em 1951.
"Ela decide ser médica porque, no contexto onde ela estava, não tinha atendimento, era na base do cházinho. E mesmo que tivesse ali um consultório, um hospital, pessoas como ela e a família dela não eram atendidas", diz Raphaella.
Iracema se formou pela Escola Paulista de Medicina em 1951, numa época em que era muito incomum mulheres negras terem acesso ao ensino superior no Brasil
Biblioteca Nacional/Acervo Realidade
"Ela se especializou em cardiologia, mas depois viu uma necessidade muito maior, onde ela estava – ela morou na Zona Leste de São Paulo a vida inteira – de ginecologia e obstetrícia. E foi aí que ela fez o nome dela."
Estabelecida na Vila Prudente, Iracema mantinha no bairro dois consultórios, um em que atendia clientes pagantes, e outro "em que atendia, gratuitamente, a população carente da redondeza, de quaisquer matizes", registrou Oliveira em sua enciclopédia da negritude.
"Ela não tinha só o consultório gratuito, ela entrava nas favelas, com o dinheiro dela pagando remédio, para fazer consultas. E ela dava preferência absoluta ao atendimento de mulheres", acrescenta a neta de Iracema.
GTPLUN
Em outubro de 1972, Antonio Leite – um mineiro que completou seus estudos já adulto, e com isso ascendeu na carreira pública, posteriormente se tornando empresário – teve a ideia de criar uma entidade que lutasse pelos direitos da população negra. Chamou dois amigos para a empreitada.
Faltava alguém com mais experiência na questão racial, daí veio o convite para Iracema de Almeida, que já vinha há alguns anos promovendo palestras e dando orientações "procurando levar uma mensagem de autodeterminação e desenvolvimento da comunidade carente, sobretudo dos jovens negros", escreve o historiador Petrônio Domingues, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e autor de artigo sobre o GTPLUN.
"O GTPLUN surge nos anos 1970 como um grupo de profissionais liberais e universitários negros que visava dar coesão social e política para uma pequena, mas significativa, classe média negra em São Paulo", diz o historiador Rafael Petry Trapp, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e autor de outro estudo sobre o grupo, em entrevista à BBC News Brasil.
Os deputados Adalberto Camargo e Theodosina Ribeiro, o ator Grande Otelo, a médica Iracema de Almeida, o poeta Eduardo de Oliveira e o atleta Adhemar Ferreira da Silva: parte de uma minúscula 'elite negra' no Brasil dos anos 1970
Reprodução
Domingues observa que, no entendimento do GTPLUN, a escolarização, e especialmente a instrução formal, constituía o grande mecanismo de superação para os negros brasileiros.
Assim, entre 1973 e 1978, o grupo ofereceu diversas formações, como cursos de datilografia, de auxiliar de enfermagem e treinamento para futuros office boys, caixas e escreventes.
Como presidente do GTPLUN, Iracema também usava sua influência para criar relações com os governos municipal e estadual de São Paulo, para desenvolver mecanismos de assistência para as comunidades negras de trabalhadores e de pessoas de baixa renda.
"Para a doutora Iracema, a questão era que os negros não estavam em posições de poder", diz a historiadora Cassie Osei, professora da Bucknell University, que estudou a médica brasileira em um dos capítulos de sua dissertação de doutorado.
"Então ela, como uma médica, alguém que tinha um status de privilégio de classe, tentou usar seus recursos financeiros, seus recursos políticos e relacionamentos para criar um ambiente para a construção de uma base de poder para as pessoas negras em São Paulo."
Osei cita como exemplos desse uso de recursos o fato de Iracema ter ajudado o jornalista Hamilton Cardoso (1953-1999), importante ativista do movimento negro, a pagar a matrícula da faculdade — conforme relatado pelo próprio Cardoso em um texto.
A médica também era proprietária da que era considerada a mais completa biblioteca sobre África da São Paulo dos anos 1970, que serviu de base de estudos para muitas ativistas e intelectuais negros da época, conforme relato do professor e ativista Henrique Cunha Jr.
Por fim, Osei lembra do relato do campeão olímpico negro Adhemar Ferreira da Silva sobre o empenho de Iracema para colocar negros no Itamaraty.
"Ela facilitava, do seu próprio bolso, os estudos para que os negros pudessem galgar posições diplomáticas. E ela sempre foi combatida", disse Silva em uma entrevista recuperada por Rafael Trapp.
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Candidatura pela Arena e alinhamento ao regime militar
Mas, para realizar seus objetivos em meio aos anos de chumbo, Iracema e o GTPLUN adotaram uma postura de alinhamento ao regime militar, diz Petrônio Domingues, da UFS.
Segundo o historiador, os parâmetros ideológicos do grupo presidido pela médica eram "francamente integracionistas e nacionalistas".
"O grupo era alinhado à direita e o perfil da direita no período era de defesa de um projeto nacionalista, patriótico, ufanista e o grupo embarcou nesse ufanismo, disso não tenho dúvida", diz Domingues.
"E 'integracionista' porque o grupo buscava promover a população negra pela via do diálogo, da inserção na base da conciliação — em nenhum instante o grupo ventilou a possibilidade de enfrentamento, de conflito, nada disso", observa, acrescentando que essa postura "pacífica" difere o GTPLUN, por exemplo, da geração seguinte do movimento negro, que viria a formar o Movimento Negro Unficiado (MNU), ao fim da década de 1970.
Iracema de Almeida em encontro com o general Emílio Garrastazu Médici em 1975
Arquivo pessoal/Raphaella Reis
O pesquisador lembra que, em 1968, Iracema chegou a lançar-se candidata a vereadora de São Paulo pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que servia de base de apoio à ditadura militar — embora sua candidatura tenha sido impugnada pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), legenda de oposição ao regime, por motivo desconhecido.
Em 1969, Iracema também fez o curso da Escola Superior de Guerra (ESG), conforme relatado por ela mesma em perfil publicado sobre ela naquele ano pela revista mensal Realidade.
"Para mim é complexo ler artigos de pesquisadores que tratam minha vó como uma simples pessoa preta de direita", diz Raphaella Reis.
"Ela foi alguém que, dentro de uma ditadura, navegou uma série de estruturas opressoras e que podiam colocar a vida dela, de seus amigos e de sua família em risco, para conseguir avançar as pautas da população negra no Brasil", defende a neta de Iracema.
Independentemente de seu alinhamento, Iracema também sofreu as consequências da vida sob a ditadura, observa Domingues.
Convite para confraternização de fim de ano do GTPLUN, parte dos arquivos do Deops sobre o grupo, hoje disponíveis no Arquivo Público do Estado de São Paulo
Reprodução/Apesp
Em 1977, por exemplo, o GTPLUN iria receber uma verba de US$ 40 mil da Fundação Interamericana (IAF, na sigla em inglês), órgão financiado pelo governo dos EUA, para aquisição de uma sede permanente.
Mas a doação foi barrada e as atividades do IAF foram suspensas no Brasil pelo governo de Ernesto Geisel (1907-1996), pois, ao fazer a doação, a fundação reconhecia a existência de um "problema racial" no Brasil, o que era rechaçado pelos militares.
Cassie Osei, da Bucknell University, observa ainda que o GTPLUN, como outros grupos ativistas negros da época, foi vigiado pela ditadura.
Isso fica evidente pelo fato de o estudo de Domingues ser baseado principalmente em documentos produzidos pelo Departamento de Ordem Política e Social (Deops) de São Paulo, polícia política do regime, disponibilizados atualmente para consulta pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo (Apesp).
"Para a ditadura, o movimento negro tinha potencial subversivo, porque atentava contra o mito da 'democracia racial', que preconizava a ideia de que não existia racismo no Brasil", explica Domingues, sobre a origem dos documentos que serviram de base para seu estudo.
"O temor era que os protestos e a radicalização que estavam acontecendo nos Estados Unidos [com o movimento de direitos civis] chegassem no Brasil. Esse era o grande temor: que os negros do Brasil se insurgissem, como estava acontecendo lá, daí a necessidade de policiar a movimentação desses militantes aqui."
Anemia falciforme
Nos anos 1980, Iracema de Almeida se dedica a um outro projeto: o estudo da anemia falciforme.
Predominante entre indivíduos negros, a doença atinge cerca de 8% da população negra no Brasil, segundo dado do Ministério da Saúde de 2021.
Hereditária, a doença falciforme se caracteriza pela mudança na estrutura dos glóbulos vermelhos, que assumem formato de foice ou meia lua. Com isso, há dificuldade no transporte de oxigênio entre as células.
O fenômeno provoca anemia e outros sintomas que vão desde dores nos ossos e nas articulações, até infecções e atraso no desenvolvimento.
"Então eu falei: mas eu preciso saber como fazer com a anemia falciforme. Eu não sei o que vou fazer com essa anemia falciforme. Então, vou estudar. Estudei", contou Iracema em uma entrevista feita em 1990, quando ela já estava com 70 anos.
"Fiz a localização aqui nas Américas. Na América do Norte [encontrei] muito, e isso eu senti quando estive lá. Queria sentir um lugar mais perto: Caribe. Depois fui para a Jamaica sozinha. Sozinha e com o meu dinheiro", acrescentou a médica.
Prospecto de palestra sobre 'Detecção de anemia falciforme em pacientes', com a participação de Iracema de Almeida, creditada como 'pesquisadora de anemia falciforme no Brasil, África, Jamaica, Caribe e Barbados'
Arquivo pessoal/Raphaella Reis
"Na época em que ela começou a pesquisa, aqui [no Brasil] não tinha nem diagnóstico, nem tratamento. Então ela viajou para outros lugares que já tinham isso", conta Raphaella.
"O objetivo dela era trazer esse conhecimento para cá, para o Inamps [Instituto de Assistência Médica da Previdência Social], porque na época não existia nem SUS [Sistema Único de Saúde]. E fazer capacitação de clínicos gerais para exames clínicos, para identificar os sinais básicos da anemia falciforme", conta a advogada.
Como trata-se de uma condição de saúde que afeta mais a população negra, ninguém ligava para essa doença, diz a neta de Iracema. E os sintomas — como dor, fraqueza, cansaço — eram muitas vezes considerados "frescura" ou "coisa de gente preguiçosa".
"Então ela foi viajar para basicamente trazer a noção da existência da anemia falciforme para a comunidade médica: como diagnosticar, como tratar, o que observar. Então o protocolo básico, foi ela que trouxe [para o Brasil]."
Memória e esquecimento
Apesar de todos esses feitos, a história de Iracema de Almeida é hoje pouco conhecida.
Em 2005, pouco depois de sua morte, a médica foi homenageada postumamente pela então Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Seppir), à época sob o comando da ministra Matilde Ribeiro.
"É importante que minha avó seja lembrada, porque sua história caiu no esquecimento. Apesar de ter dedicado sua vida à saúde e valorização da cultura e da história negra", disse Raphaella Reis à época da homenagem.
Falecida em 2004, Iracema deixou um filho, Anselmo (também já falecido, em 2012), e quatro netas: Raphaella, Gabriella, Larissa e uma caçula que Raphaella não conhece
Arquivo pessoal/Raphaella Reis
No ano passado, o nome de Iracema chegou a ser cotado entre personalidades negras que poderiam ser homenageadas com estátuas em espaços públicos, a serem instaladas pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Mas, numa escolha feita através de consulta pública, venceram a ialorixá Mãe Sylvia de Oxalá, a cantora Elza Soares, o soldado Chaguinhas (líder de uma revolta contra atrasos de salários), a intelectual e ativista Lélia Gonzalez e o geógrafo Milton Santos, informou a Secretaria Municipal de Cultura à BBC News Brasil.
A instalação dessas estátuas está em fase de estudo dos locais de instalação e o próximo passo serão as contratações, disse a pasta.
Em seu estudo, o historiador Rafael Trapp avalia que parte do ostracismo que cerca a história do GTPLUN talvez se deva às "suas ligações com o controverso mundo da política nos anos 1970" – isto é, ao suposto alinhamento do grupo ao regime militar.
"Hoje eu relativizo aquilo que coloquei lá, pois me parece que a doutora Iracema, assim como seus companheiros do GTPLUN, estavam jogando o jogo político que era possível e que estava ao alcance daquelas pessoas no contexto de classe específico em que eles se encontravam", afirma Trapp.
"Então eles se utilizavam de sua posição de classe para, a partir disso, tensionar de forma direta e indireta a estrutura social racista do Brasil."
Cassie Osei, por sua vez, vê outros dois possíveis motivos por trás do "esquecimento" de Iracema de Almeida.
O primeiro, diz ela, é que a médica era de uma geração mais velha do que os líderes do MNU, movimento que é mais lembrado quando se pensa na mobilização negra no Brasil dos anos 1970. O outro motivo, na visão da historiadora, é o machismo.
Ela observa, por exemplo, que Iracema é muitas vezes descrita dentro do próprio movimento negro como uma pessoa "complicada" ou "controversa", com quem era difícil de trabalhar e que frequentemente entrava em conflito com outras pessoas.
"Iracema foi punida por não personificar o que era esperado de uma mulher negra. Embora o feminismo negro desponte no Brasil naquela mesma época, figuras como Lélia Gonzalez tinham o respaldo, por exemplo, de Abdias Nascimento e de outros homens dentro do movimento negro, enquanto Iracema de Almeida não tinha um fiador masculino", diz a historiadora americana.
Autor de um dos poucos artigos acadêmicos sobre o GTPLUN, Petrônio Domingues destaca que ainda não há nenhum estudo de fôlego sobre a vida de Iracema de Almeida.
"A doutora Iracema é um ponto fora da curva em termos de protagonismo negro em São Paulo e no Brasil. É um caso a ser estudado", diz o historiador.
"Na atual fase, em que a luta do movimento de mulheres negras e as feministas negras estão pautando o debate da agenda nacional, é preciso urgentemente conheceremos melhor a origem dessas mulheres, que a partir de seu protagonismo ocuparam a esfera pública e, de uma maneira muito ousada para a época, defenderam seus ideais e buscaram defender a luta antirracista."
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E se fumaça e queimadas forem tema de redação do Enem? Veja o que escrever para um texto nota mil

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Professores ouvidos pelo g1 dão palpites sobre como esses tópicos podem aparecer no enunciado formulado pelo Inep. Confira modelos de texto escritos pelos docentes e aproveite para estudar. Queimadas atingem áreas de usina próximo à rodovia de Iracemápolis
Gustavo Nolasco/ EPTV
As queimadas históricas na Amazônia, a fumaça trazida de lá até a região Sudeste, a péssima qualidade do ar e o recorde de incêndios no interior de São Paulo nos últimos dias levantam uma dúvida entre os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): será que esses assuntos podem ser tema da redação em novembro?
LEIA REDAÇÕES NOTA MIL DO ENEM 2023
É importante lembrar que a prova não costuma abordar um episódio específico na dissertação, como a seca de um determinado ano ou a medida de um governo X no combate a um desastre ambiental.
🚨Mas isso não significa que você deva deixar de acompanhar o noticiário. Por mais que os assuntos sejam mais amplos, fatos atuais podem ser mencionados pelo candidato na argumentação. Demonstrar repertório é importante e vale até 200 pontos (do total de 1.000)!
Além disso, o que aconteceu na última semana no Brasil tem relação com tópicos abrangentes que, se detalhados, podem ser a cara do Enem: meio ambiente, mudanças climáticas, desmatamento, consequências sociais de eventos meteorológicos, impactos da poluição na nossa saúde…
✏️O g1 perguntou a professores de redação quais enunciados desse campo temático podem aparecer na prova. Aproveite a lista de palpites para treinar em casa. E, como inspiração, que tal conferir as redações-modelo escritas pelos docentes? Estão mais abaixo:
🔥Possíveis temas relacionados a queimadas
Daniela Toffoli, coordenadora de Linguagens e professora de redação de Curso Anglo:
Ação humana e emergência climática: desafios para a prevenção e o combate das tragédias ambientais no Brasil
Desafios para o enfrentamento das queimadas e seus impactos socioambientais no Brasil
Queimadas e Agropecuária: desafios para a garantia da sustentabilidade ambiental no Brasil
"Essas são apenas algumas possibilidades de como o assunto poderia aparecer em formato de tema Enem. O importante mesmo é o aluno compreender como surgem essas queimadas e quais são os seus impactos, causas e relação com os setores econômicos do Brasil", afirma Toffoli.
Mateus Leme, professor de Redação do Curso e Colégio Oficina do Estudante:
"Caminhos para combater o aumento das queimadas no Brasil"
"O Enem dificilmente faria menção especificamente aos episódios dos últimos dias, porque a prova é impressa com antecedência. Mas a Vunesp (Unesp) e a Fuvest (USP), que ocorrem só em dezembro, poderiam, sim, citar os problemas do interior de São Paulo, com enunciados como: 'O aumento das queimadas no Brasil: desastre natural ou crime ambiental?'", diz Leme.
Rui Caresi e Evaneide de Albuquerque, professores do Cursinho da Poli
Os desafios para mitigar os impactos das queimadas na sociobiodiversidade brasileira
Como desenvolver o tema: analisar como as queimadas afetam a biodiversidade no Brasil, discutindo as consequências para os ecossistemas e para a vida silvestre. Referir também às implicações econômicas e sociais da perda da biodiversidade, como a influência na agricultura e no turismo. Não esquecer de elaborar uma proposta de intervenção.
Queimadas e Mudanças Climáticas: um ciclo perigoso e o desafio para mitigar os seus efeitos no Brasil
“O aluno poderia discutir a relação entre as queimadas no Brasil e as mudanças climáticas globais, além de abordar como as práticas de desmatamento e de queimadas incorporadas no campo brasileiro contribuem para o aumento de emissões de gases de efeito estufa. Seria necessário também apresentar possíveis soluções para mitigar esse problema”, afirma Caresi.
Os desafios e o papel da sociedade civil e do governo no combate às queimadas
Vanessa Botasso, professora de redação e coordenadora de redação do Poliedro Curso Campinas e On-line
Caminhos para a garantia da proteção ambiental no Brasil
Desafios para o combate a crimes ambientais no Brasil
“A redação do Enem sempre apresenta como proposta uma discussão de questões muito atuais e de abrangência nacional. Nesse sentido, os episódios envolvendo as queimadas constituem um fato motivador claro para propostas desse padrão de prova, não apenas porque tiveram grande cobertura midiática, mas, principalmente, porque mobilizam a sociedade em torno de um problema comum a todos e que demanda resoluções em âmbito coletivo”, afirma Botasso.
LEIA TAMBÉM: 'Tirar nota mil na redação do Enem mudou a minha vida': alunos contam que conseguiram bolsas de estudo, estágios e #publis
🔥Modelos de redações que tirariam nota mil, segundo os professores
Exemplo para o tema “Queimadas e Agropecuária: desafios para a garantia da sustentabilidade ambiental no Brasil”, escrito pela professora Daniela Toffoli, do Anglo:
As queimadas são uma antiga prática da agropecuária que vê no fogo a forma mais rápida de abrir o terreno para o pasto ou de promover a limpeza do solo para o seu preparo antes do plantio. No entanto, a lógica capitalista faz com que essa técnica seja aplicada de maneira desenfreada. Ainda que o agronegócio seja importante para a economia do país, esses incêndios têm representado um desafio significativo para a sustentabilidade ambiental no Brasil. Sendo assim, é preciso analisar duas causas principais que contribuem para essa problemática: a expansão desordenada das fronteiras agrícolas e a falta de políticas públicas eficazes para o controle dessa difusão. A combinação desses fatores resulta em impactos ambientais severos, comprometendo a biodiversidade e a qualidade do solo, além de agravar as mudanças climáticas.
Primeiramente, é importante constatar como o crescimento irregular das fronteiras agropecuaristas é uma das principais razões que levam ao cenário de graves queimadas que vêm ocorrendo nos últimos tempos. Isso se deve à lógica capitalista, que busca lucro rápido a partir da maximização de ganhos financeiros em um curto período, o que faz, portanto, com que produtores rurais se utilizem do fogo como método rápido e barato para limpar áreas de vegetação nativa, visando ampliar suas terras cultiváveis – e, então, seu lucro. Não à toa, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), houve um aumento significativo nas áreas queimadas em regiões como a Amazônia e o Cerrado. Consequentemente, esse desmatamento por queimadas resulta na perda de biodiversidade e na degradação dos ecossistemas, além de liberar grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global.
Além disso, a falta de políticas públicas eficazes para o controle de todo esse processo agrava a situação das queimadas a partir do contexto agropecuário. Nesse sentido, a fiscalização ambiental é insuficiente, e isso permite que práticas ilegais de queima ocorram sem a devida punição. Soma-se a esse cenário o fato de que a ausência de incentivos para práticas agrícolas sustentáveis, por parte do Governo, desestimula produtores a adotarem métodos menos agressivos ao meio ambiente, de acordo com o jornal Valor Econômico. Dessa forma, perpetua-se um ciclo de degradação ambiental que ameaça a sustentabilidade dos recursos naturais e a saúde das populações locais.
Portanto, para enfrentar esses desafios, é fundamental implementar soluções efetivas. Com isso, cabe ao Governo Federal, em parceria com órgãos ambientais, intensificar a fiscalização e promover campanhas de conscientização sobre os impactos das queimadas. Isso pode ser realizado por meio do uso de tecnologias de monitoramento, a exemplo dos satélites, e da aplicação rigorosa de penalidades para infratores, com o objetivo de reduzir a prática de queimadas ilegais e de incentivar a preservação ambiental. Em segundo lugar, cabe às instituições de pesquisa e extensão rural desenvolver e disseminar técnicas agrícolas sustentáveis, visando substituir o uso do fogo por práticas que protejam o solo e a biodiversidade. Dessa forma, será possível promover um equilíbrio entre a produção agropecuária e a conservação ambiental, garantindo a sustentabilidade a longo prazo.
Exemplo para o tema “O Papel da Sociedade Civil e do Governo no Combate às Queimadas: Desafios e Responsabilidades”, escrito pelo professor Rui Calaresi, do Cursinho da Poli:
As queimadas têm se tornado um dos principais desafios ambientais do Brasil, especialmente na Amazônia e no Cerrado, com impactos que vão além da destruição da biodiversidade, afetando também o clima global e a saúde pública. Diante da gravidade dessa situação, torna-se indispensável a atuação conjunta da sociedade civil e do governo para mitigar os danos e promover a preservação ambiental. Contudo, essa cooperação enfrenta obstáculos significativos, exigindo uma análise aprofundada e a formulação de estratégias eficazes de intervenção.
O governo desempenha um papel crucial na prevenção e no combate às queimadas. A criação e a implementação de políticas públicas robustas, como o fortalecimento das leis ambientais, o monitoramento por satélite das áreas de risco e a aplicação rigorosa de sanções a quem pratica queimadas ilegais são essenciais para controlar o problema. No entanto, a efetividade dessas medidas enfrenta desafios como a falta de recursos e a pressão de setores econômicos que se beneficiam do desmatamento.
Por outro lado, a sociedade civil também possui um papel fundamental nesse contexto. A participação ativa de ONGs, movimentos sociais, empresas e cidadãos em campanhas de conscientização e em ações de denúncia de crimes ambientais pode pressionar o governo a adotar medidas mais efetivas. A mobilização social é vital para a criação de uma cultura de responsabilidade ambiental, que valorize práticas sustentáveis, ou seja, economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas. Para superar esses obstáculos, é necessário investir em educação ambiental desde o início da educação básica incentivando práticas conscientes e formando cidadãos mais engajados na preservação do meio ambiente.
Para enfrentar o problema das queimadas de forma eficaz, é necessário implementar um plano de ação que envolva governo, sociedade civil e iniciativa privada. Primeiramente, o governo federal deve destinar mais recursos aos órgãos de fiscalização ambiental, como o IBAMA, e investir em tecnologias de monitoramento, como drones e satélites, para identificar focos de queimadas em tempo real. Além disso, é crucial fortalecer as leis ambientais, aumentando as penalidades para quem realiza queimadas ilegais e incentivando práticas agrícolas sustentáveis, como a agroecologia.
Simultaneamente, a sociedade civil deve ser mobilizada através de campanhas de conscientização que utilizem meios de comunicação de massa e redes sociais para educar a população sobre os impactos das queimadas e a importância da preservação ambiental.
Por fim, é fundamental que a iniciativa privada seja engajada na causa, adotando práticas empresariais mais sustentáveis e investindo em tecnologias que reduzam a dependência de queimadas na produção agrícola.
Passo a passo da redação
Vanessa Botasso, professora do Poliedro, formulou o guia abaixo com o passo a passo para redigir um texto sobre as queimadas no Enem.
Introdução – primeiro parágrafo
Para introduzir uma redação em qualquer um desses temas, é importante lembrar que o objetivo do primeiro parágrafo da dissertação argumentativa é apresentar o tema de modo a contextualizá-lo no contexto brasileiro, direcionando o debate para uma análise crítica sobre a questão em foco.
No caso das propostas sugeridas acima, seria possível contextualizar o tema com uma citação de um pensador que suscite reflexões sobre os danos causados ao meio ambiente pelas ações humanas, como é o caso do intelectual indígena Ailton Krenak, já mencionado em outras redações do Enem. Ainda, seria possível apontar a descrição do quadro atual de queimadas, o qual envolve diferentes estados e biomas, como a Amazônia, o cerrado e o pantanal. Em seguida, é interessante que se destaque a complexidade do combate às queimadas, das crises ambientais ou a necessidade de proteção ambiental, a depender do tema em questão. Finalmente, o encerramento do parágrafo introdutório deve ser orientado para a apresentação de um ponto de vista claro sobre o tema (a tese), o qual pode sugerir, resumidamente, causas e/ou consequências do problema em análise. Mais especificamente, o aluno pode indicar duas causas, uma causa e uma consequência ou, ainda, duas consequências na argumentação para sustentação do posicionamento defendido.
Desenvolvimento 1 – indicação da primeira causa ou da primeira consequência
Na primeira parte do desenvolvimento (o segundo parágrafo do texto), é importante iniciar o detalhamento da análise do tema, conforme sugerido na tese.
Essa tarefa pode envolver a apresentação de uma primeira causa do problema analisado e, nos temas indicados acima, isso pode envolver críticas à corrupção, ao desinteresse político, à ineficiência da fiscalização ambiental, dentre outras possibilidades. É importante escolher uma causa para que seja possível expandi-la de forma coerente e consistente, o que envolve apresentar informações que possam oferecer sustentação para as afirmações feitas. Para isso, sugere-se o uso de dados ou exemplos concretos, o que pode ser feito com a apresentação de informações específicas ligadas a um dos casos de queimadas noticiados nos últimos dias.
Caso o aluno opte por um projeto de texto pautado pela análise das consequências ligadas ao tema, é possível ponderar as formas como as queimadas, os crimes ambientais ou a falta de proteção ambiental afetam a biodiversidade, a saúde humana, as populações nativas e indígenas, o clima, a economia, dentre outros aspectos. É importante salientar que a análise dos impactos da crise ambiental deve envolver uma perspectiva mais social do que individual, de modo que se torne compreensíveis as razões pelas quais esse problema é tão preocupante para todos nós.
Desenvolvimento 2 – indicação da segunda causa ou das consequências à primeira causa
A depender da estratégia escolhida no parágrafo de Desenvolvimento 1, o aluno poderá orientar as discussões deste terceiro parágrafo do texto:
Se o D1 apresentou uma primeira causa do problema, o D2 pode apresentar uma segunda causa ou, em vez disso, uma consequência.
Se o D1 apresentou uma primeira consequência do problema, o D2 pode apresentar uma segunda consequência.
Para desenvolver a ideia deste parágrafo, sugere-se também a atenção ao uso de dados e informações concretas, os quais podem envolver informações disponíveis na coletânea ou advindas do repertório de conhecimentos externos do aluno.
Conclusão – Proposta de Intervenção
O último parágrafo de uma redação para o Enem deve se dedicar à apresentação de medidas de solução para o problema abordado. Em geral, essa solução deve ter relação com os aspectos discutidos ao longo do texto como parte da análise da situação. Nesse sentido, é importante sintetizar de modo breve, no início da conclusão, as principais ideias apresentadas em cada argumento.
Em seguida, deve-se passar para o detalhamento da proposta de intervenção, o que requer a apresentação clara de um agente (quem?) que coloque em prática alguma ação (o quê?), com o modo ou meio de resolução claro (como?), bem como a finalidade dessa ação (para quê?). Além disso, é importante que algum desses elementos esteja mais detalhado que os anteriores, o que pode ser feito por meio da especificação ou exemplificação de informações a eles relacionadas.
No caso dos temas abordados aqui, seria possível indicar ações por parte de atores sociais ligados à proteção ambiental, como é o caso do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) ou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Tais instituições podem se responsabilizar por medidas mais efetivas de prevenção e combate às queimadas, aos crimes ambientais ou à proteção ambiental em geral. Além desses grupos, é possível lembrar da importância de outros setores sociais, como os produtores agropecuários e a própria população, principalmente no que se refere à prevenção a queimadas ilegais.
Cronograma do Enem 2024
Divulgação dos locais de prova: data a ser marcada
Aplicação do Enem: 3 e 10/11/2024
Divulgação do gabarito: 20/11/2024
Divulgação do resultado: 13/1/2025
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A surpreendente origem do ‘oxente’, segundo linguista

Fies do 2º semestre abre inscrições um mês após o início das aulas nas faculdades; veja datas e perfil de quem pode participar
No livro 'Assim Nasceu uma Língua', o linguista Fernando Venâncio afirma que a língua portuguesa nasceu galega e que essa origem foi apagada por questões de identidade nacional. Manifestante participa de ato na cidade de Santiago de Compostela, na Galícia, em defesa da promoção e preservação do galego.
GETTY IMAGES via BBC
No livro Assim Nasceu uma Língua, o linguista português Fernando Venâncio argumenta que o idioma português nasceu em um território do qual somente uma parte é atualmente Portugal: o Reino da Galiza, fundado no século 5 d.C., após a dissolução do Império Romano.
Hoje em dia, a parte principal do que foi esse reino é a Galícia, região que pertence à Espanha.
Venâncio explica nessa entrevista à BBC News Brasil como a origem da língua portuguesa foi apagada por questões da construção da identidade nacional lusitana.
Mas um mergulho nas características desse idioma indica que até "marcas registradas" do Brasil têm origem no galego.
O diminutivo -inho, de cafezinho ou Ronaldinho, é frequentemente associado a um traço da afetividade e da cordialidade brasileira.
Esse elemento, afirma Venâncio, é uma criação da língua galega, que passou pelo seu processo de formação, como visto, bem antes dos 1500 da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.
Já a origem da mais famosa expressão nordestina, oxente, "podemos dizer sossegadamente que é de influência galega", diz o linguista.
Não há um registro definitivo do surgimento de oxente no linguajar nordestino.
Na internet, até se encontra a tese de que é uma derivação da expressão do inglês "oh shit" ("que m…", em tradução livre), que teria chegado com militares americanos estacionados no Nordeste brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial.
Muamba, bunda, dengo: você usa palavras de línguas africanas sem perceber; faça 'quiz sonoro'
As evidências, no entanto, apontam para o noroeste da Península Ibérica.
"Xente" (gente) é uma palavra galega. O fonema do X no lugar dos sons de G e J no português, aliás, é um dos traços mais marcantes da língua galega (José vira Xosé na Galícia, por exemplo).
Não se pode ignorar que o termo "galego" — um povo com a genética norte-europeia dos celtas — seja usado amplamente no Nordeste brasileiro para designar "pessoa loira". A região, de fato, chegou a receber imigrantes oriundos da Galícia.
Venâncio explica em entrevista à BBC News Brasil sobre a gênese galega da língua portuguesa e também diz que até expressões e formas tipicamente ligadas ao Brasil nasceram na mesma região — como o diminutivo -inho de "cafezinho" e "Ronaldinho", por exemplo, e "oxente", palavra-símbolo do Nordeste brasileiro.
Para mostrar que, durante séculos, as línguas portuguesa e a galega foram as mesmas, Venâncio lista em seu livro palavras com igual estrutura, formação e significado que só existem nestes dois idiomas.
Por sinal, a clássica idealização de que a palavra saudade só existe na língua portuguesa cai por terra em uma simples consulta a um dicionário de galego.
Confira abaixo palavras que o português e o galego compartilham. Às vezes, há variação na grafia, demarcada entre parênteses sua versão em galego, porque as línguas se distanciaram ao longo dos séculos.
Para comparação, foram colocadas à direita, em itálico, a palavra em castelhano, a língua mais falada na Península Ibérica e que hoje em dia é mais corrente na Galícia do que o próprio galego.
Arrepio (arrepío) — escalofrío
Cachoeira — cascada
Cão (can) — perro
Cheiro — olor
Borboleta (bolboreta) — mariposa
Desabafo — desahogo
Desleixo — descuido
Enteado — hijastro
Enxurrada — torrente
Ervilha (ervella) — guisante
Espirro — estornudo
Esquecimento (esquecemento) — olvido
Escolha (escolla) — elección
Furo — agujero
Golfinho (golfiño) — delfín
Jeitoso (xeitoso) — de buena presencia
Lixo — basura
Maresia (marusía) — olor de mar
Mergulho (mergullo) — zambullida
Minhoca (miñoca) — lombriz
Namoro — noviazgo
Orvalho (orballo) — rocío
Pêssego (pexego) — melocotón
Rua (rúa) — calle
Saudade — añoranza
Trapalhada (trapallada) — desastre
Urro — rugido
Vadiar — holgazanear
Vagalume — luciérnaga
Dengo, xingar, moleque…Palavras do nosso dia a dia vieram de línguas africanas

Vídeo flagra 7 sóis no céu de cidade chinesa; entenda como a física explica o fenômeno raro

Fies do 2º semestre abre inscrições um mês após o início das aulas nas faculdades; veja datas e perfil de quem pode participar
Posição da Terra em relação ao Sol, quantidade de nuvens e quantidade de água na atmosfera são algumas variáveis que podem propiciar o fenômeno. Vídeo que mostra sete sóis viraliza nas redes
Imagina olhar pela janela e se deparar com sete sóis no céu. Pode parecer uma cena de ficção científica, mas foi exatamente o que aconteceu na cidade chinesa de Chengdu. O vídeo que registrou o momento foi feito por um cidadão local não identificado no domingo (18) e viralizou nas redes sociais. (Veja acima.)
Essas imagens incríveis foram possíveis graças a pelo menos dois fenômenos ópticos que causaram uma ilusão de ótica raríssima na atmosfera. São eles:
Refração: gera algumas características diferentes na luz a partir de um meio restringente, que altera as características de velocidade de propagação da luz, do comprimento de onda e altera a direção da propagação da luz.
“É um exemplo de refração quando enchemos um copo de vidro com água e colocamos um lápis dentro do copo. Olhando para esse lápis através da lateral do copo, parece que ele está quebrado. A água age como um meio restringente e altera características da imagem”, explica Victor Ávila, coordenador de física dos Colégios Matriz Educação.
O outro fenômeno é a dispersão: efeito muito comum que acontece com a separação da luz branca quando ela incide em um prisma (atmosfera). A alteração das cores nos sóis da imagem é resultado da dispersão. O arco-íris é uma outra ilusão de ótica que acontece por causa desse mesmo fenômeno.
☀️ Na prática, é como se o Sol fosse refletido várias vezes na atmosfera, causando projeções da própria imagem.
7 sóis são vistos no céu de uma cidade Chinesa. Entenda o fenômeno.
Reprodução/X
Mas, para que esse efeito fosse possível, eram necessários fatores específicos e condições climáticas ideais. Coisas como a posição da Terra em relação ao Sol, quantidade de nuvens e quantidade de água na atmosfera são algumas variáveis que podem propiciar ou não o fenômeno.
Além disso, especialistas que viram as imagens teorizam que pode haver ainda um terceiro efeito que cause outra reflexão que justifique a quantidade elevada de sóis na filmagem.
“É possível que, para além da refração que acontece na atmosfera, esteja acontecendo uma segunda refração em uma janela ou um vidro, que faz com que a quantidade de imagens seja multiplicada”, explica Patrícia Takahashi, professora de física do Centro Educacional Pioneiro.
Sendo esse o caso ou não, o fenômeno é raríssimo.
Outro fenômeno “multiplica” o Sol
Um efeito diferente também considerado raríssimo faz com que mais de um Sol apareça no céu. É o chamado “Parélio”, que significa “Sol falso”.
☀️☀️☀️ O Parélio é um fenômeno óptico atmosférico resultado da refração e reflexão dos raios solares que atingem cristais de gelo hexagonais minúsculos presentes nas nuvens.
Em geral, a refração cria outros dois sóis como reflexo do verdadeiro, originando dois parélios à 22º de cada lado do Sol. Além dos sóis falsos, a estrutura do fenômeno é circular e cria um anel de luz a partir do Sol.
Em novembro de 2023, um Parélio foi registrado no litoral do Piauí. (Vídeo abaixo.)
Litoral do Piauí fenômeno solar raro: entenda o que é o "Parélio"
VÍDEOS DE EDUCAÇÃO

Fies do 2º semestre abre inscrições um mês após o início das aulas nas faculdades; veja datas e perfil de quem pode participar

A partir da nota do Enem, programa seleciona alunos e concede um empréstimo para cobrir uma parcela de cada mensalidade em cursos superiores privados. Na modalidade Fies Social, o financiamento é de até 100%. Estudantes que dependem do Fies vão começar as aulas com atraso
As inscrições do Fundo de Financiamento Estudantil(Fies) do 2º semestre começaram nesta quinta-feira (22) e irão até 27 de agosto no site https://acessounico.mec.gov.br/fies. O programa não é uma bolsa de estudos, e sim um "empréstimo": os alunos de faculdades privadas têm de pagar, após a formatura, as parcelas que foram financiadas ao longo do curso.
Como os resultados só serão publicados em 9 de setembro, aqueles que forem aprovados terão perdido mais de um mês de aula, já que a maioria das instituições de ensino privadas voltou das férias no início de agosto. Essa é uma queixa recorrente dos candidatos do Fies, que se veem prejudicados pelo "atraso" na publicação dos editais do programa.
Nesta edição, pela 1ª vez, haverá reserva de vagas a candidatos com deficiência e/ou autodeclarados pretos, pardos, indígenas e quilombolas.
Tire suas dúvidas abaixo:
✏️Qual é o período de inscrição? De 22 a 27 de agosto, como afirmado no início da reportagem.
✏️Quem pode se inscrever no Fies? É preciso ter:
renda familiar mensal bruta per capita de até 3 salários mínimos (R$ 4.236);
participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir de 2010, com média aritmética das provas igual ou superior a 450. A redação não pode ter recebido nota zero.
✏️E quem pode participar do Fies Social? Metade das vagas estará reservada para o Fies Social, modalidade exclusiva para candidatos com renda familiar per capita de até meio salário mínimo e que estejam inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).
Nessa modalidade, é possível obter um financiamento de 100% da mensalidade (desde que abaixo do teto do programa, que é de R$ 42,9 mil por semestre e, apenas para medicina, de R$ 60 mil).
No Fies "comum", a parcela de "empréstimo" dependerá da renda (pode ser, por exemplo, de 70% dos encargos educacionais. O aluno paga os 30% todo mês, além das taxas, e quita o restante após concluir o curso).
Atenção: as cotas para pessoas com deficiência e/ou autodeclaradas pretos, pardas, indígenas e quilombolas existirão tanto no Fies comum quanto no Fies Social.
✏️Como fazer a inscrição? É preciso entrar em https://acessounico.mec.gov.br/fies, fazer o login com os dados da conta "gov.br", informar qual o seu perfil socioeconômico e selecionar até três opções de curso/turno/instituição de ensino, em ordem de prioridade.
Ao longo de todo o período de inscrição, é possível editar as escolhas. Valerá o que estiver selecionado às 23h59 de 27 de agosto.
Também será necessário informar os dados de todos do grupo familiar (CPF, data de nascimento e renda mensal, caso a pessoa tenha).
✏️De que forma é feita a seleção? Os candidato serão escolhidos a partir da média deles no Enem (no melhor desempenho que tenham apresentado desde 2010, no caso de quem fez mais de uma edição da prova). Haverá a seguinte ordem de prioridade:
candidatos que não tenham concluído o ensino superior e não tenham sido beneficiados pelo financiamento estudantil;
candidatos que não tenham concluído o ensino superior e tenham sido beneficiados pelo financiamento estudantil e o tenham quitado;
candidatos que já tenham concluído o ensino superior e não tenham sido beneficiados pelo financiamento estudantil; e
candidatos que já tenham concluído o ensino superior, tenham sido beneficiados pelo financiamento estudantil e o tenham quitado.
✏️Quando sairão os resultados da pré-seleção? Em 9 de setembro de 2024.
✏️O que fazer em seguida? Os candidatos pré-aprovados terão de 10 a 12 de setembro para complementar a inscrição com os documentos pedidos pelo Fies. Depois, haverá um prazo de 5 dias para comparecer à instituição de ensino.
Após a validação do processo na faculdade, o aluno deverá validar suas informações em um agente financeiro (como a Caixa Econômica Federal) em até 10 dias.
✏️Haverá lista de espera? Sim. A convocação para ocupar as vagas remanescentes acontecerá de 16 de setembro até 29 de outubro.
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