Fuga de cérebros dos EUA movimenta países enquanto pesquisadores vivem dilema entre ficar ou ‘fugir’ de Trump

Crise no Inep: servidores desmentem presidente do órgão em caso de dados de alfabetização escondidos pelo governo
Segundo uma consulta feita com mais de 1.600 pessoas e publicada no fim de março pela revista científica Nature, mais de 75% dos cientistas pensam em deixar os Estados Unidos devido às políticas de Trump. Estudantes realizam um protesto com abandono de aulas nos degraus da Low Library da Universidade Columbia
Reuters
Nos corredores de universidades e laboratórios dos Estados Unidos, a fuga para o exterior de nomes ilustres em várias áreas do conhecimento "está na boca de todos", diz um estudante, em um contexto de preocupação com o futuro da pesquisa no país.
Jason Stanley, professor de filosofia e especialista em fascismo na prestigiosa universidade de Yale, anunciou que vai se mudar para o Canadá.
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A decisão de Stanley expôs um dilema enfrentado por um número crescente de acadêmicos e cientistas do país: ficar ou partir.
"Tomei a decisão quando (a universidade de) Columbia se dobrou" às exigências do presidente Donald Trump para poder manter o financiamento federal, explicou o filósofo em entrevista à emissora CBS.
"Não é o momento de ter medo" e ficar nos Estados Unidos, "um país autoritário", afirmou.
Segundo uma consulta feita com mais de 1.600 pessoas e publicada no fim de março pela revista científica Nature, mais de 75% dos cientistas pensam em deixar os Estados Unidos devido às políticas de Trump.
Diante das ameaças de cancelamento do financiamento e o medo de sofrer censura, cada vez mais pesquisadores pensam em deixar os Estados Unidos, um país que até agora era considerado a meca desta atividade em muitas disciplinas.
"Esta tendência é especialmente alta entre os pesquisadores que estão no início da carreira", segundo a consulta, que aponta que grande parte dos estudantes de mestrado e doutorado avalia deixar o país.
"Surrealista"
"As pessoas estão muito preocupadas", explica à AFP Daniella Fodera, estudante de doutorado da Universidade de Columbia, que recentemente teve uma bolsa cancelada.
Várias universidades anunciaram o congelamento de contratações e a redução das vagas para estudantes, "o que está perturbando consideravelmente o sistema universitário", explica.
"É um momento um pouco surrealista para os cientistas porque simplesmente não sabemos o que vai acontecer", concorda Karen Sfanos, que dirige um programa de pesquisas na Universidade Johns Hopkins.
"É um momento difícil para a geração mais jovem porque muitos laboratórios (…) não sabem se vão poder mantê-los", acrescenta.
Fodera, que estuda os miomas uterinos – tumores benignos que afetam muitas mulheres -, afirma que começou a "procurar programas na Europa para continuar a formação de pós-doutorado".
"Está na boca de todos", diz J. P. Flores, estudante de pesquisa genética na Carolina do Norte, que também considera a possibilidade de emigrar.
Europa e Canadá
A fuga de cérebros atiça a cobiça de alguns países.
Várias universidades europeias e canadenses têm anunciado iniciativas para atrair estes talentos.
"Conheço pesquisadores que têm dupla nacionalidade ou que têm família em Canadá, França ou Alemanha e que começam a dizer, 'Acho que vou morar na Alemanha pelos próximos cinco anos e pesquisar lá'", relata Gwen Nichols, membro de uma associação dedicada à pesquisa de cânceres no sangue.
No entanto, a opção de partir não está ao alcance de todos. Os estudantes são os primeiros afetados pelos cortes orçamentários. Também são os menos experientes e, portanto, "os que têm menos possibilidades de se encaixar no perfil que as instituições da UE esperam atrair".
Para Nichols, existe o risco de os Estados Unidos perderem uma geração de cientistas em todos os campos, e inclusive de o país ceder o domínio na pesquisa. "Veremos o problema dentro de 10 anos, quando não tivermos as inovações de que necessitamos", adverte.
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‘Homeschooling’: STF mantém inconstitucionalidade de lei que permitia ensino domiciliar no DF

Crise no Inep: servidores desmentem presidente do órgão em caso de dados de alfabetização escondidos pelo governo
DF foi primeira unidade da federação a criar normas sobre tema. Decisão do Supremo diz que ensino domiciliar só pode ser criado e regulamentado por meio de lei federal. Crianças desenhando, em imagem de arquivo
Marcelo Camargo/Agência Brasil
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter a inconstitucionalidade da lei que permitia a educação domiciliar, o chamado "homeschooling", no Distrito Federal.
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A lei havia sido sancionada pelo governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB), em dezembro de 2020. O DF foi a primeira unidade da federação a criar normas sobre o tema.
No entanto, uma decisão do STF de 2018 diz que o ensino domiciliar só pode ser criado e regulamentado pelo Congresso Nacional, por meio de lei federal.
"Por isso, qualquer legislação municipal, estadual ou distrital que o adote será inconstitucional, por invadir a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação", informou o Supremo.
O g1 questionou o GDF sobre a decisão, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal(TJDFT) já havia declarado a norma do DF inconstitucional. No STF, o ministro Flávio Dino negou o recurso do governo do DF e disse que a decisão do TJDFT está alinhada à jurisprudência do Supremo. Os outros ministros da Primeira Turma seguiram a decisão do ministro por unanimidade.
A lei no DF
A lei aprovada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em 2020, e sancionada pelo governador Ibaneis Rocha previa que:
pais e responsáveis adeptos ao ensino domiciliar deverão se cadastrar junto à Secretaria de Educação, que vai avaliar os alunos periodicamente;
a adesão ou desistência do modelo pode ser feita a qualquer momento;
os responsáveis deverão provar a capacidade de transmitir os conhecimentos;
profissionais como assistente social, pedagogo e psicólogo deverão acompanhar o desenvolvimento do estudante cuja família optar pelo modelo de ensino domiciliar.
Homeschooling no Brasil
Atualmente, a prática de homeschooling não é permitida no país por uma decisão do STF. No entanto, um projeto de lei para regulamentar essa modalidade de ensino já foi aprovado pela Câmara dos Deputados. Agora, o texto está em tramitação no Senado.
O que diz o projeto aprovado
Para optar por esta modalidade de ensino, os responsáveis deverão formalizar a escolha junto a instituições de ensino credenciadas, fazer matrícula anual do estudante e apresentar os seguintes documentos:
comprovação de escolaridade de nível superior ou em educação profissional tecnológica, em curso reconhecido nos termos da legislação, por pelo menos um dos pais ou responsáveis legais pelo estudante;
certidões criminais da Justiça Federal e Estadual ou Distrital dos pais ou responsáveis;
relatórios trimestrais com a relação de atividades pedagógicas realizadas no período;
acompanhamento com um docente tutor da instituição em que a criança estiver matriculada e que sejam realizados encontros semestrais com o estudante e os responsáveis;
avaliações anuais de aprendizagem;
avaliação semestral do progresso do estudante com deficiência ou transtorno de desenvolvimento;
a proposta estabelece também um período de transição em relação à exigência de comprovação de escolaridade de nível superior, caso os responsáveis escolham "homeschooling" nos dois primeiros anos após a regulamentação entrar em vigor.
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Professor usa funk para ensinar gramática para alunos; ouça a música e teste seus conhecimentos

Crise no Inep: servidores desmentem presidente do órgão em caso de dados de alfabetização escondidos pelo governo
Anderson Ribeiro dá aulas na rede estadual de São Paulo, e viu na música uma oportunidade de engajar seus alunos e proporcionar uma experiência de aprendizado divertida e objetiva. Professor viraliza com paródia de funk sobre classes das palavras
Você lembra o que substantivos, numerais e verbos têm em comum? Se respondeu que todos são diferentes classes gramaticais, acertou!
É comum aprender sobre classes gramaticais, ou classes de palavras, ao longo do ensino fundamental, mas nem sempre nos lembramos da relação entre estes conteúdos, ou mesmo da explicação de cada um.
Pensando nisso, o professor Anderson Ribeiro, que leciona na rede estadual de ensino em São Paulo, fez paródia de um funk para ajudar os alunos a memorizar o conteúdo. O g1 conversou com ele para entender como isso aconteceu e qual o resultado desse trabalho.
Anderson Ribeiro, professor que fez parídia de funk para ensinar sobre classe de palavras.
Arquivo pessoal.
Mas, antes de contar essa história, que tal testar mais a fundo seu conhecimento sobre classes das palavras? É só responder as 5 perguntinhas abaixo:
Teste seu conhecimento sobre classe gramatical das palavras
Classes das palavras
As palavras da língua portuguesa podem ser organizadas em 10 diferentes grupos, que são chamadas classes gramaticais ou classes de palavras. São elas:
Substantivo
Artigo
Adjetivo
Numeral
Pronome
Verbo
Advérbio
Preposição
Conjunção
Interjeição
Todas as palavras utilizadas na língua portuguesa pertencem a alguma dessas classes, e possuem uma função específica na construção de frases e no significado das expressões, de acordo com seu grupo.
Por exemplo, na frase:
Pedro comprou um carro vermelho, apesar de querer duas motos pretas.
Pedro: substantivo próprio
comprou: verbo (pretérito perfeito do indicativo do verbo comprar)
um: artigo indefinido
carro: substantivo comum
vermelho: adjetivo (qualifica "carro")
apesar de: locução prepositiva (preposição)
querer: verbo (infinitivo do verbo querer)
duas: numeral cardinal (indica quantidade)
motos: substantivo comum (abreviação de "motocicletas")
pretas: adjetivo (qualifica "motos")
Funk "Português baby"
Anderson Ribeiro é professor da rede estadual de ensino em São Paulo, e atua em escolas da região do Grajaú, na Zona Sul da capital. Ele viralizou algumas vezes nas redes sociais com vídeos feitos em suas aulas, nos quais aparece cantando paródias de funks e RAPs com os alunos.
Em um dos vídeos, gravados na Escola Estadual Professora Juventina Marcondes Domingues de Castro, Anderson apresenta a música "Português baby: classe de palavras", na qual canta justamente sobre as classes gramaticais.
Nas estrofes da canção — que é uma paródia do funk "Let's Go 4", interpretada por DJ GBR, IG, Ryan SP, PH, Davi, Luki, Don Juan, Kadu, GH do 7, GP e TrapLaudo —, ele explica:
Tudo aquilo que tem nome chamo de substantivo.
O que antecede ele a gente chama de artigo.
Ação e estado já sei que é verbo.
Se indica circunstância é um advérbio.
Pronome substitui ou retoma algum nome.
Numeral indica o número, o dobro da fome.
O que une duas orações é a conjunção.
Pra ligar dois termos utilizamos preposição.
Psiu! Presta atenção na interjeição.
Adjetivo qualifica se tá boa a canção.
Agora que já aprendemos classificação.
Vem comigo e vamos cantar junto esse refrão.
Mas esse é só um dos exemplos de canções utilizadas por Anderson nas aulas. Em outros vídeos, ele canta sobre o alfabeto e as vogais e consoantes que o compõe, sobre a diferença entre frase, oração e período, e até mesmo sobre pontuação.
Professor faz paródia de funk para ensinar o alfabeto a alunos
MC e professor
Em conversa com o g1, Anderson relevou que, antes de ser professor, era apaixonado por RAP. Se encantou pelo ritmo na adolescência e entrou na cena com o nome de MN MC, mas nunca se dedicou exclusivamente a isso.
Com formação e experiência em Publicidade e Propaganda, só começou a considerar a licenciatura em 2021, aos 28 anos. Desde então, ele se formou Pedagogia, e possui licenciatura em Letras e Artes.
Hoje, aos 32, ele diz ver na docência a oportunidade de "fazer uma revolução de base, que é levar conhecimento para os jovens de conhecimento, ajudá-los a se inserir melhor na sociedade e mudar um pouco da realidade deles."
E foi em 2023, quando já atuava em salas de aula, que Anderson ele teve a ideia de juntar a paixão pela música com a missão da docência.
Eu decidi ser professor para ensinar, mas sei que essa é uma missão difícil. Os desafios já são grandes, é difícil até manter a atenção dos alunos. Mas os alunos consomem música, é algo presente na realidade deles. Então pensei: 'Por que não usar isso a meu favor?' Pensei que, se os alunos decoram letras de música, podem usar a mesma técnica para memorizar o conteúdo.
Professor Anderson Ribeiro apresenta uma de suas músicas aos alunos.
Arquivo pessoal.
A escolha pelo funk foi justamente por ser um estilo musical consumido pelos jovens, e pela identificação da realidade da periferia. Já o RAP foi utilizado por causa do repertório pessoal do professor.
"Eu componho a letra e a encaixo em uma música. Mas a música não é o ponto central da aula, ela só entra ao final do conteúdo. Então, eu dou as aulas sobre o conteúdo, dou a explicação completa, e só depois apresento a música para os alunos. A ideia é fazer os alunos lembrarem da explicação com mais facilidade, e não substituir o conteúdo", explica.
Anderson conta que a experiência como publicitário foi fundamental para essa empreitada. "Na publicidade, temos um público-alvo, definimos um objetivo e traçamos um plano de ação para alcança-lo. Então, os alunos são meu público, meu objetivo é fazê-los internalizar meu produto, que é a educação, e faço isso por meio das músicas".
Como resultado, o professor vê os alunos mais engajados, atentos e participativos, e com um desempenho melhor nas atividades e avaliações. Por isso, decidiu transformar sua ideia em um projeto que pode ajudar outros professores, produzindo vídeos animados com as paródias, e as disponibilizando em plataformas de áudio e vídeo.
"Fico muito feliz por ter dado certo, e fico mais feliz ainda de ver os alunos interessados em aprender. Sei que tem muitos professores engajados pelo país, e espero que, de alguma forma, isso possa ajudá-los em suas próprias missões", conclui.
VÍDEOS DE EDUCAÇÃO

Ainda vale a pena fazer medicina? Com 175 mil alunos só nas particulares, cursos viraram negócio no Brasil

Crise no Inep: servidores desmentem presidente do órgão em caso de dados de alfabetização escondidos pelo governo
Faculdades de medicina se multiplicaram pelo país nos últimos anos. Grande parte dos cursos foi criada em instituições particulares com mensalidades elevadas. Aula prática do curso de Medicina da Unifor
Ares Soares/Divulgação
A crítica de que a medicina se tornou um "negócio" é antiga, mas a grande expansão de cursos da área no Brasil nos últimos anos tem gerado preocupação entre especialistas e reguladores, que temem que a qualidade do ensino possa ser comprometida.
Desde 1990, a quantidade de faculdades de medicina no país quintuplicou, grande parte dessa ampliação ocorre no setor privado. Atualmente, há 390 faculdades de medicina no Brasil. Hoje, mais de 80% do ensino na área é privado, com vagas nos cursos avaliadas em milhões diante das altas mensalidades.
Em 2013, buscando ampliar a proporção de profissionais de saúde na população, o governo federal lançou o Mais Médicos, que tinha como um dos componentes incentivos para a abertura de vagas em instituições de ensino de medicina. O programa estimulou ainda mais o setor.
A forte concorrência para o ingresso nas faculdades públicas fez com que a demanda por vagas nas faculdades privadas fosse significativa. Atualmente, 175 mil estudantes estão matriculados em cursos particulares, que movimentam cerca de R$ 26,4 bilhões por ano, o equivalente a 40% do mercado de ensino superior.
Em relatório a clientes, os analistas do BTG Pactual Samuel Alves, Yan Cesquim e Marcel Zambello apontam que, historicamente, cada vaga aberta nestes cursos esteve avaliada entre R$ 2 e 3 milhões para o mercado, com a média das mensalidades cobradas dos alunos em R$ 10 mil.
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Gigantes do setor
As somas abriram espaço para o surgimento e a expansão de gigantes do setor como Ânima, YDUQS e Afya. A última, criada no Tocantins em 1997, abriu capital na bolsa nova-iorquina Nasdaq em 2019, e, desde então, fez aportes bilionários. Nos três anos seguintes, a companhia, hoje controlada pelo grupo alemão Bertelsmann, investiu R$ 3,2 bilhões na compra de dez faculdades de medicina, se consolidando como a maior do Brasil no ramo.
Enquanto outras áreas sofreram nos últimos anos com uma queda na demanda por cursos superiores, a medicina se manteve com forte procura. Na visão de Bruno Luciano de Oliveira, pesquisador da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e autor de uma série de estudos no tema, o status conferido pelo curso, um mercado de trabalho menos competitivo e a maior possibilidade de escolher seus rendimentos após a formação, ajudam a explicar o apelo.
Restrição e judicialização do ensino
Em 2018, o Ministério da Educação (MEC) suspendeu a publicação de novos editais para criação de cursos de medicina durante cinco anos e o pedido de aumento de vagas em cursos já existentes, argumentando que as metas para expansão já haviam sido atingidas. Além disso, o governo afirmou que a iniciativa visava garantir a qualidade do ensino.
Desde então, parte importante das decisões sobre a operação das faculdades passou ao âmbito judicial. Sem a autorização do Ministério, muitas instituições recorreram a tribunais para oferecer seus cursos, com liminares permitindo a atuação em uma série de casos.
Em 2024, o MEC chegou a notificar seis universidades pela oferta de cursos sem autorização, com as faculdades realizando vestibulares com base em decisões judiciais provisórias. No ano passado, 6,3 mil vagas foram criadas no país, sendo 3,5 mil por meio de liminares.
Mario Roberto Dal Poz, professor no Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), crítica a instância judicial como forma de determinar quais instituições podem operar. "Quando o tema chega à Justiça, muitas vezes se acaba permitindo a abertura", aponta, sem que necessariamente os melhores critérios para a qualidade do ensino sejam observados.
Procurado, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não se manifestou sobre o tema. Já a Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP) preferiu não se pronunciar devido ao fato de o julgamento da questão ainda estar em aberto.
Busca por melhores critérios
A expansão na rede privada no setor foi uma realidade nos últimos anos ao redor do mundo, ainda que em ritmo reduzido, apontam especialistas. A cobrança no caso brasileiro é por maior verificação na qualidade, afirma Oliveira. "Não é uma política contra o mercado, e sim por uma boa definição de critérios. Inclusive, há boas experiências na iniciativa privada no país", pontua.
A forma pela qual a operação nas faculdades é aprovada no país é fonte de grandes críticas no setor. "Falta transparência no caso do Brasil. Muitas vezes nos processos não se sabe muito sobre as tomadas de decisões", afirma Dal Poz.
Na última semana, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou que pretende mudar a forma como os cursos da área da saúde serão avaliados in loco. As primeiras propostas já foram finalizadas e incluem visitação de universidades por avaliadores para analisar as práticas de formação dos estudantes.
Atualmente, parte relevante da avaliação nos cursos é baseada no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), feito após o final da graduação. Especialistas avaliam que o ideal seria um acompanhamento por etapas, o que facilitaria eventuais correções durante o ensino.
Uma proposta frequente é a de que os formados no curso tenham que prestar uma espécie de exame de ordem para exercer a profissão, assim como ocorre no caso do direito com a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Por sua vez, Dal Poz vê a possibilidade como "muito limitante" para os que não conseguirem a aprovação.
Excesso de oferta?
O suposto excesso de oferta é uma questão que tem causado preocupação entre potenciais alunos e investidores do setor nos últimos anos.
Entre os futuros estudantes, a possibilidade de fazer um alto investimento, que com frequência ultrapassa os R$ 500 mil, e ter dificuldades de conseguir uma remuneração compatível vem fazendo muitos ponderarem. Em sites sobre o tema e no Youtube, há uma série de conteúdos respondendo se "ainda vale a pena fazer medicina".
Oliveira lembra que, muitas das vezes, os estudantes terminam o curso com dívidas consideráveis, algo que levanta ainda mais preocupação em um cenário de altas taxas de juros. Ele lembra que é possível que a "grande expansão na mão de obra interfira nas remunerações", algo que aconteceu em outros cursos superiores nos últimos anos.
No relatório do BTG Pactual, produzido no final de 2024, o tema já aparecia como uma potencial razão para investidores não se sentirem otimistas com o setor. Segundo a publicação, as vagas poderiam cair a uma valorização entre R$ 1 e 2 milhões, justamente com um possível aumento da oferta. No conteúdo, os autores citam as faculdades que estavam cobrando mensalidades de R$ 7 mil, uma queda em relação aos períodos anteriores, o que acende o alerta para a continuidade da expansão do negócio.
Alunos de medicina do Fies Social pagam mais de R$2 mil por mês: ‘De social, não tem nada'

Crise no Inep: servidores desmentem presidente do órgão em caso de dados de alfabetização escondidos pelo governo

Crise no Inep: servidores desmentem presidente do órgão em caso de dados de alfabetização escondidos pelo governo
Servidores do Inep criticam 'contradição dos argumentos' usados pelo presidente do órgão para explicar por que dados educacionais do Saeb foram divulgados com 8 meses de atraso. Educação infantil – criança na escola
Licia Rubinstein
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Os servidores do Instituto Nacional e Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicaram na última sexta-feira (4) uma carta aberta com críticas aos argumentos utilizados pelo presidente do órgão, Manuel Palácios, para justificar o atraso de 8 meses na divulgação de parte dos dados do Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) de 2023.
Os funcionários do Inep dizem que entregaram todos os resultados da avaliação no dia 14 de agosto de 2024, desconhecendo motivos que pudessem ter gerado o atraso.
"Na perspectiva do seu corpo técnico, não há nenhum erro ou inadequação que justifique a não divulgação dos resultados do Saeb 2023", dizem os pesquisadores do Inep no documento.
Os funcionários descrevem que, em reunião feita no dia 2 de abril de 2025, manifestaram inquietações à presidência do órgão sobre a demora na divulgação desta e de outras avaliações e levantamentos organizadas pelo instituto, como o ENADE e o Censo de Educação Básica de 2024.
Nessa reunião, Palácios teria justificado o atraso do Saeb 2023 em decorrência de um erro de amostragem, gerando um impasse que, conforme os servidores, deveria ter sido discutido de maneira interna.
"O Presidente trouxe à público suas argumentações, sem prévia discussão interna com servidores", colocam os servidores do Inep.
Os funcionários também usam o documento para defender o trabalho executado pelo instituto: "destacamos que o INEP conta com um corpo técnico de servidores altamente qualificado, que dialoga com diversos especialistas e está aberto para discutir o aprimoramento de seus processos".
A polêmica dos números omitidos
Depois de forte pressão política, Manuel Palácios convocou na última quinta-feira (3) uma coletiva de imprensa para explicar por que os dados do 2º ano no Saeb foram disponibilizados somente naquele dia.
Aplicada para alunos do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e estudantes do 3º do ensino médio, o Saeb é o principal instrumento de avaliação da educação básica brasileira e é bancado por recursos públicos. A avaliação mensura o conhecimento dos alunos em língua portuguesa e matemática.
Enquanto os dados de alfabetização do Saeb ficaram “escondidos” durante 8 meses, o governo Lula comemorou publicamente os resultados de um instrumento criado pela própria pasta na atual gestão: o Criança Alfabetizada.
Os números, comunicados em 31 de maio de 2024, a partir de avaliações estaduais, mostraram que 56% das crianças estavam alfabetizadas (porcentagem que, em teoria, revelava uma recuperação da aprendizagem no pós-pandemia).
Em compensação, os números finais do Saeb divulgados pelo Inep são menos entusiasmantes: indicam um nível de alfabetização de 49% para alunos do 2º ano, 6 pontos percentuais a menos do que o apontado pelo Criança Alfabetizada.
Em alguns estados, a diferença foi mais gritante: no Maranhão, o Criança Alfabetizada apontou que 56% dos alunos de 7-8 anos estavam alfabetizados; já o Saeb, 31%, com margem de erro de 5,9 pontos percentuais.
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