Pesquisa da USP analisa impacto da inatividade física em mulheres durante a pandemia

‘Escolhi esperar’: por que só campanha de abstinência sexual não evita gravidez na adolescência
Os resultados mais preocupantes se referem aos exames clínicos: aumento médio de 39,8% na taxa de insulina e de 8% nos níveis de colesterol no sangue. De acordo com estudo, mulheres entre 50 e 70 anos que pararam suas atividades durante a pandemia tiveram piora na saúde.
Marcos Serra Lima/G1
Estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP) mostra que, em um intervalo de apenas 16 semanas durante a pandemia, mulheres de 50 a 70 anos que pararam com suas atividades externas diárias apresentaram piora no estado geral de saúde.
A Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) avaliou na pesquisa os impactos da inatividade física no envelhecimento da população não infectada pelo vírus. Os resultados foram publicados na revista científica "Experimental Gerontology".
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Ao todo, os pesquisadores acompanharam 34 mulheres cujo ritmo de atividade física já era considerado baixo e com a pandemia se agravou. As primeiras amostras foram colhidas em fevereiro de 2020, antes do começo da pandemia de Covid-19. Depois foi feito um novo levantamento em junho.
Embora os testes feitos após o período de confinamento não tenham mostrado alterações significativas no peso, IMC, percentual de gordura corporal e circunferência abdominal, houve piora no quadro geral de saúde das participantes.
Os resultados mais preocupantes se referem aos exames clínicos: aumento médio de 39,8% na taxa de insulina e de 8% nos níveis de colesterol no sangue.
A longo prazo, o aumento nos níveis de insulina pode levar ao aparecimento de diabetes, enquanto as alterações nas taxas de triglicérides podem levar ao aumento de riscos cardiovasculares.
Os exames também revelaram aumento de 9,7% de hemoglobina glicada, 1,3% de glicemia (valor considerado não significativo) e queda de 10% na porcentagem de plaquetas no sangue.
Como o estudo foi feito
Para compor o estudo, os pesquisadores compararam alterações no peso, índice de massa corporal (IMC), percentual de gordura corporal, circunferência abdominal, pressão arterial, força de preensão manual (medida com um dinamômetro, aparelho que se aperta com as mãos) e perfil alimentar no período avaliado.
As participantes também fizeram exames de sangue e uma avaliação de capacidade cardiorrespiratória após uma caminhada de seis minutos.
“Escolhemos estudar o impacto da inatividade física durante a pandemia de Covid-19 em mulheres entre 50 e 70 anos porque nessa faixa etária as doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e hipertensão são mais frequentes”, explicou Carlos Bueno Junior, professor da EEFERP na área de envelhecimento e um dos autores do artigo.
Os homens não foram avaliados na investigação por falta de participantes interessados em integrar o estudo. “Isso está relacionado a questões culturais de que mulheres tendem a procurar mais por serviços de saúde”, afirma Bueno.
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Segundo os resultados, as mulheres observadas apresentaram perda de 5,6% na força muscular e de 4,4% no condicionamento aeróbico.
Pessoa realiza teste de glicemia para medir os níveis de açúcar no sangue.
Wikimedia
“Apenas um período de16 semanas já causou efeitos estatisticamente significativos na saúde das pessoas. Imagine agora, após mais de um ano de pandemia? Não fizemos estudos, mas provavelmente os impactos negativos são ainda maiores”, afirmou Bueno.
Além de Bueno, também participaram do estudo Ellen de Freitas, professora da EEFERP-USP, e dos estudantes de mestrado João Ribeiro de Lima e Gabriela Abud.
Comprometimentos a longo prazo
Os pesquisadores colheram as últimas amostras das participantes há quase um ano. De lá para cá, a pandemia de Covid-19 só se agravou, exigindo que a quarentena fosse estendida.
Bueno não descarta a realização de uma nova pesquisa com o intuito de investigar os efeitos da inatividade física por períodos que superem os 12 meses de quarentena. Para ele, o período após a pandemia poderá revelar aumento de doenças e na procura de tratamento nos serviços de saúde.
“A pandemia irá refletir em resultados a longo prazo. Após a pandemia haverá impactos grandes em todo o sistema de saúde que podem durar anos, e não só entre os que foram infectados. Haverá aumento de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, hipertensão e mesmo doenças mentais”, afirma Bueno.
A prática de exercício físico, defende o pesquisador, é fundamental, ainda que na pandemia. Enquanto parques e academias estão fechadas, o pesquisador recomenda que as atividades sejam feitas em casa, seguindo as indicações de profissionais que atendam on-line. No caso dos idosos, o risco de lesões é maior e necessita de acompanhamento.
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Estudo que durou 9 anos liga atividade física ao fortalecimento de propósito e à vontade de viver

‘Escolhi esperar’: por que só campanha de abstinência sexual não evita gravidez na adolescência
Investigação de pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA, e da Universidade de Warwick, no Reino Unido, contou com a participação de 18 mil homens e mulheres a partir dos 50 anos. Silvania Dutra (de boné) começou a correr para superar a morte da irmã e da mãe
Arquivo pessoal
A prática frequente de atividade física pode estar relacionada com a capacidade do ser humano de encontrar propósito na vida, aponta um estudo americano. Pesquisas anteriores já haviam comprovado os benefícios da prática esportiva no controle de doenças e no aumento da expectativa de vida.
Após nove anos de observações e mais de 18 mil participantes, entre homens e mulheres a partir dos 50 anos, a investigação mostrou que quanto mais forte o senso de propósito na vida, mais ativas as pessoas são – e vice-versa.
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O estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e da Universidade de Warwick, no Reino Unido, foi publicado no periódico científico americano "Journal of Behavioral Medicine".
Os pesquisadores definem propósito na vida como a habilidade de desenvolver “metas e objetivos que dão direção e significado à vida.”
Silvania Dutra, de 49 anos, é professora de ensino básico em Munhuaçu (MG). Após perder a irmã mais velha e a mãe em um intervalo de apenas seis meses em 2017, ela se voltou para as corridas.
“No começo eu perdi meu chão. Depois, busquei outros estímulos para continuar vivendo. No meu trabalho, o pessoal começou a me chamar de fênix, falando que eu ressurgi das cinzas”, comenta Dutra.
"Quando mais a gente corre, mais dá vontade de correr"
Ela revela que os primeiros meses após a morte da irmã, Maria Lúcia, foram os mais difíceis. Além de irmãs, as duas eram muito amigas, trabalhavam juntas e passavam muito tempo uma na companhia da outra.
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“Apesar de sermos de uma família grande, nós duas éramos confidentes e estávamos sempre juntas. Eu sou viúva há 17 anos e ela era separada. Vivíamos uma para a outra e para nossos filhos”, revela Silvania.
Seis meses depois, quando se preparava para correr sua primeira grande prova, a mãe faleceu em decorrência de uma cirurgia cardíaca. Dessa vez, entretanto, ao invés de ceder para a depressão, resolveu expurgar o sentimento de dor e tristeza na prática esportiva.
Por incentivo de colegas, aceitou o convite para ir a um treino de corrida. Em sua primeira experiência, conseguiu percorrer 5 km – a distância é considerada um marco para corredores amadores.
" Quando eu corri a minha primeira prova, eu senti que tinha que correr por elas também. Eu estava ali por nós três. Eu tinha a oportunidade de viver – e isso é uma dádiva. No começo eu corria para não pensar nas coisas ruins, e hoje eu gosto. Quanto mais a gente corre, mais dá vontade de correr", afirma.
Silvania Dutra encontrou no esporte uma forma de superar a morte da irmã e da mãe.
Arquivo pessoal
Atividade física e bem-estar
Embora a prática da atividade física esteja relacionada à melhora da qualidade de vida, estatísticas globais mostram que muitas pessoas, especialmente a população de meia-idade ou mais velha, não são adeptas ao hábito de se exercitar.
Interessados em observar os impactos da atividade física ao longo do envelhecimento humano, os pesquisadores se debruçaram sobre o tema do propósito na vida dentro dessa rotina.
“Os psicólogos há muito tempo argumentam que ter um senso de propósito estimula a vontade de viver e a motivação para realizar ações que prolonguem a vida”, afirmam os pesquisadores .
Para chegar às conclusões, os pesquisadores utilizaram a base de dados do projeto Health and Retirement Study para entrevistar homens e mulheres a partir dos 50 anos. Poucos anos depois, as entrevistas foram feitas novamente para verificar se as respostas haviam mudado ou não.
As respostas coletadas foram analisadas e comparadas para verificar quanto e com que frequência as pessoas se movimentaram ao longo dos anos e quão forte estava a percepção de senso de propósito na vida em cada um desses momentos.
Os resultados revelaram uma relação bilateral. Pessoas com vidas ativas apresentaram um senso de propósito crescente ao longo dos anos, enquanto que, paralelamente, aqueles cujo senso de propósito era mais forte, desenvolveram o hábito da atividade física.
"Pessoas com forte senso de propósito na vida são mais propensas a cuidar de suas vidas, o que pode incluir ser fisicamente ativo", afirmam os pesquisadores do estudo.
Compreender a solidão
Silvania em sua primeira prova de corrida após a morte da mãe, em setembro de 2017
Arquivo pessoal
Silvania Dutra conta que a corrida a ajudou a compreender a solidão e ter uma relação positiva consigo mesma. Viúva há 17 anos, ela mora sozinha desde que a sua filha única se casou.
"A corrida me ensinou que, por mais que você esteja com um grupo, se não for pelas suas pernas você não chega a lugar nenhum. Hoje eu aprendi a viver comigo mesma. Eu passei a ver a minha situação como liberdade, e não como solidão", conta.
Agora Silvania se prepara para correr 42 km de uma maratona completa.
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Quanto tempo leva para ficar fora de forma ao parar de se exercitar?

‘Escolhi esperar’: por que só campanha de abstinência sexual não evita gravidez na adolescência
Pode levar meses para alcançar um bom condicionamento físico, mas os resultados podem diminuir rapidamente se você parar de se exercitar — a boa notícia é que talvez não seja necessário recomeçar do zero. Se deixam de treinar, os corredores começam a perder condicionamento cardiovascular dentro de algumas semanas`
Getty Images via BBC
Entrar em forma não é fácil. Mas depois de todo esse trabalho árduo, por quanto tempo podemos manter esses resultados?
A verdade é que mesmo depois de dedicar um enorme esforço ao treinamento, dar um tempo na rotina de exercícios pode significar ficar fora de forma muito mais rápido do que o tempo que levamos para entrar em forma.
Para entender como podemos perder o que ganhamos com tanta facilidade, primeiro precisamos compreender como conseguimos entrar em forma.
O segredo para isso — seja melhorar o condicionamento cardiovascular ou a força muscular — é exceder a "carga habitual".
Isso significa fazer mais do que o nosso corpo está acostumado.
O esforço que isto implica faz com que o corpo se adapte à exigência e fique mais tolerante, levando a níveis mais elevados de resistência física.
Agora, o tempo que leva para alguém entrar em forma depende de vários fatores, incluindo o nível de condicionamento físico da pessoa, a idade, o quão duro ela treina e até mesmo o ambiente em que se exercita — o calor e a poluição podem afetar a resposta fisiológica ao exercício, por exemplo.
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Mas alguns estudos sugerem que apenas seis sessões de treinamento intervalado podem aumentar o consumo máximo de oxigênio (VO2 max), uma medida do condicionamento físico geral, e melhorar a eficiência com que nosso corpo é capaz de se abastecer, usando o açúcar armazenado em nossas células durante o exercício.
No caso do treinamento de força, é possível observar um aumento na força muscular em apenas duas semanas, mas as mudanças no tamanho dos músculos não serão vistas até de oito a 12 semanas.
Capacidade cardiovascular
Acostumar o corpo a ter um bom condicionamento físico pode levar anos
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Quando paramos de treinar, a rapidez com que perdemos a forma também depende de muitos fatores, incluindo o tipo de condicionamento de que estamos falando (como força ou condicionamento cardiovascular).
Vejamos o caso de um corredor de maratona, por exemplo, que está no auge da sua forma atlética e pode correr uma maratona em duas horas e 30 minutos.
Esta pessoa passa de cinco a seis dias por semana treinando, correndo um total de 90 km.
Além disso, passou os últimos 15 anos de sua vida desenvolvendo esse nível de preparação física.
Agora, digamos que ela pare de treinar completamente. Como o corpo não tem mais a pressão do treinamento forçando-o a permanecer em forma, o maratonista vai começar a perder a forma em algumas semanas.
Estudo que durou 9 anos liga atividade física ao fortalecimento de propósito e à vontade de viver
A capacidade cardiorrespiratória — indicada pelo VO2 máximo de uma pessoa (a capacidade máxima de oxigênio que alguém pode usar durante o exercício) — diminuirá cerca de 10% nas primeiras quatro semanas após a pessoa parar de treinar.
Esta taxa vai continuar caindo, num ritmo mais lento durante períodos mais longos.
Curiosamente, embora os atletas de alto rendimento (como, por exemplo, o maratonista) tenham um declínio acentuado no VO2 máximo nas primeiras quatro semanas, essa queda acaba se estabilizando e eles conseguem manter um VO2 mais alto do que a média.
Mas no caso das pessoas comuns que deixam de se exercitar, o VO2 máximo cai drasticamente, de volta aos níveis pré-treinamento, em menos de oito semanas.
A razão pela qual o VO2 máximo diminui se deve às reduções nos volumes de sangue e plasma, que diminuem em até 12% nas primeiras quatro semanas após a pessoa parar de treinar.
E os volumes de plasma e sangue caem devido à falta de pressão exercida sobre o coração e os músculos.
O volume de plasma pode diminuir em até cerca de 5% nas primeiras 48 horas após a interrupção do treinamento.
O efeito da diminuição dos volumes de sangue e plasma é que haverá menos sangue sendo bombeado pelo corpo a cada batimento cardíaco. Mas esses níveis caem apenas até o ponto de partida — o que significa que não vão piorar.
Claro, a maioria de nós não é maratonista, mas tampouco está imune a esses efeitos.
No momento em que deixamos de nos exercitar, o corpo começará a perder essas adaptações cardiovasculares a um ritmo muito semelhante ao dos atletas de alto rendimento.
Treinamento de força
Doze semanas sem treinamento causam uma diminuição significativa na quantidade de peso que você consegue levantar
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Quando se trata de força, as evidências mostram que, em média, 12 semanas sem treinar causam uma diminuição significativa na quantidade de peso que somos capazes de levantar.
Felizmente, pesquisas sugerem que você mantém um pouco da força que ganhou antes de parar de se exercitar.
O que é intrigante é que, apesar da diminuição significativa da força, há apenas uma redução mínima no tamanho das fibras musculares.
A razão pela qual perdemos força muscular tem a ver, em grande parte, com o fato de que não estamos mais colocando nossos músculos sob pressão.
Por isso, quando não estamos mais trabalhando nossos músculos com força, eles se tornam "preguiçosos", fazendo com que o número de fibras musculares diminua, e menos músculos sejam recrutados durante uma atividade.
E isto faz com que sejamos menos capazes de levantar o peso que costumávamos levantar.
O número de fibras musculares usadas durante o exercício diminui em cerca de 13% após apenas duas semanas sem treinamento — embora isso pareça não ser acompanhado por um declínio na força muscular.
Isso sugere que as perdas observadas durante os períodos mais longos sem exercício são uma combinação desta diminuição inicial na quantidade de fibras musculares que usamos, mas também do declínio mais lento na massa muscular.
O frequentador assíduo de academia médio que levanta pesos sentirá uma diminuição no tamanho de seus músculos e, com o tempo, achará mais difícil levantar cargas pesadas, já que terá menos fibras musculares sendo recrutadas.
Por isso, mesmo depois de todo esforço para entrar em forma, começamos a perder condicionamento cardiovascular e força dentro de 48 horas após a interrupção do exercício.
Mas não começamos a sentir estes efeitos por pelo menos duas a três semanas no que se refere ao aspecto cardiovascular, e de cerca de seis a 10 semanas no caso da força muscular.
As taxas de "destreinamento" são semelhantes para homens e mulheres, e até mesmo para atletas mais velhos.
Mas quanto mais em forma você estiver, mais devagar perderá o que ganhou.
*Dan Gordon é professor associado de fisiologia na Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido.
Justin Roberts é professor associado de saúde e nutrição física na mesma universidade.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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Gravidez com DIU? Entenda por que foto de bebê com dispositivo na mão não deve abalar eficácia do método

‘Escolhi esperar’: por que só campanha de abstinência sexual não evita gravidez na adolescência
Método contraceptivo é 99% eficaz na prevenção da gravidez e é um dos mais utilizados no mundo. Paula com o filho Bernardo segurando o DIU da mãe
Michelle Oliveira/Divulgação
O caso de uma mãe que teve um bebê mesmo usando o DIU (dispositivo intrauterino) é razão para colocar em dúvida a eficácia do método contraceptivo?
O G1 conversou com especialistas e explica em 8 pontos por que o caso é raridade, qual o ranking dos métodos e o que você mais precisa saber de essencial sobre o DIU.
DIU no SUS: 5 passos para conseguir colocar o dispositivo de graça
1. Como o DIU funciona?
O DIU (dispositivo intrauterino) é um dispositivo no formato de 'T' que é inserido no útero para evitar a gravidez. Atualmente, há modelos de DIU de cobre, de prata, de ouro ou hormonal.
O DIU impede a gestação através de dois processos simultâneos: uma inflamação no interior do útero, resultado da inserção do dispositivo no corpo da mulher, e também pela liberação de íons ou hormônios.
A liberação de íons acontece no uso de DIU de cobre, prata ou ouro. Quando inseridos no útero, esses dispositivos soltam íons que tornam os fluidos das tubas uterinas inóspitos aos espermatozoides — quando eles chegam a essa região, não conseguem fecundar os óvulos.
Já no caso do DIU hormonal, a liberação torna o muco cervical mais grosso, impedindo que o espermatozoide consiga penetrar o útero; dificulta a passagem do óvulo para o útero e também pode afetar o desenvolvimento do espermatozoide, fazendo com que eles não consigam sobreviver.
Efetividade de métodos contraceptivos
Wagner Magalhães/Arte G1
2. Raridade da gravidez com DIU
O caso de Paula é uma raridade e não traduz a realidade das usuárias do método, explica Ana Lúcia Beltrame, ginecologista e obstetra especializada em reprodução humana pela Universidade de São Paulo (USP).
"Gestações em mulheres que usam o DIU não são frequentes, são casos isolados", afirma Beltrame.
Segundo Fabia Vilarino, ginecologista especialista em reprodução humana e professora de medicina da faculdade São Camilo, o caso de Paula não deve ser avaliado como regra para todas as usuárias do método contraceptivo.
"O DIU tem falha como todos os métodos anticoncepcionais, mas ainda assim ele é um dos mais seguros que existem. Quando uma criança nasce de uma gestação que aconteceu apesar do DIU é uma coisa relativamente rara", explica Vilarino.
3. Método está entre os mais eficazes
Em relação à eficácia do DIU e também à dos demais contraceptivos é importante salientar que não existe nenhum método infalível.
"Todos os métodos têm eficácia menor que 100%, mas o DIU, seja hormonal ou não-hormonal, tem uma eficácia muito boa porque não depende da usuária se lembrar de tomar o medicamento, como acontece com a pílula", explica Beltrame.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o DIU está entre os métodos contraceptivos mais eficazes, ficando atrás apenas dos métodos definitivos, como vasectomia e laqueadura.
"Ele tem taxa de eficácia de 99,4%. Ou seja, a cada 100 mulheres que usam o DIU, mais de 99 não irão engravidar usando o método, mas a taxa de falha existe", afirma Flavia Fairbanks, ginecologista, obstetra e membro do Comitê Nacional de Sexualidade da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
4. Por que o DIU falha?
De acordo com Beltrame, as mulheres que possuem o DIU devem realizar ao menos uma avaliação com o ginecologista por ano para avaliar se o dispositivo está posicionado corretamente, uma vez que a taxa de falha está relacionado ao deslocamento do dispositivo.
"Caso o DIU esteja fora da posição, ele pode ser alocado para a posição correta novamente. É possível realizar o ajuste na posição do dispositivo ou também a sua completa retirada seguida da recolocação", afirma Beltrame.
A médica ainda recomenda que após a inserção do dispositivo, caso não tenha sido feita com o auxílio da visão ultrassonográfica, que a paciente faça um ultrassom para garantir que o DIU está dentro da cavidade uterina.
5. O DIU se desloca. Por quê?
Segundo Vilarino, o DIU pode se deslocar naturalmente, mas também pode acontecer do corpo da mulher rejeitar o dispositivo.
"Isso acontece quando o útero da mulher começa a se contrair tanto a ponto de quase expulsar o dispositivo. Nesses casos, as mulheres normalmente procuram um médico por conta das cólicas intensas e identificam o problema", explica Vilarino.
6. Sinais de deslocamento do DIU
De acordo com as especialistas, é importante procurar atendimento médico em caso de sangramento, cólica intensa, dor ou algum outro sintoma diferente para ver se há alguma alteração no posicionamento do dispositivo intrauterino que possa prejudicar a eficácia do contraceptivo.
7. Bebê + DIU: foto é montagem
A carioca Paula dos Santos Escudero Alvarez, de 32 anos, engravidou usando o DIU e realizou o parto do seu segundo filho, Bernardo, no domingo (4). O nascimento ganhou divulgação pelas redes sociais e foi registrado pela fotógrafa Mi Oliveira, que colocou intencionalmente o dispositivo na mão do bebê para registrar o fato raro.
Vilarino explica que o bebê não tem contato com o DIU durante a gestação. Embora os dois estejam dentro do útero materno, o bebê está envolvo do saco amniótico.
"Quando a mulher está com o DIU e acontece uma gravidez, a mulher pode, nos primeiros meses de gestação, retirar o DIU ou deixar a gestação evoluir. Deixar o DIU não irá causar uma má formação no bebê ou causar alguma lesão ao bebê", explica Vilarino.
8. SUS coloca o DIU de graça
O DIU de cobre está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e está disponível em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e hospitais com atendimento ginecológico. É importante pesquisar na internet a UBS mais próxima da sua casa e ligar para descobrir se o procedimento está disponível.
O dispositivo pode ser colocado em mulheres de diferentes idades, desde a adolescência até a menopausa.
G1 estreia no Youtube

‘Escolhi esperar’: por que só campanha de abstinência sexual não evita gravidez na adolescência

‘Escolhi esperar’: por que só campanha de abstinência sexual não evita gravidez na adolescência
Nos últimos anos, campanhas e projetos que incentivam os jovens a atrasarem a primeira relação foram avaliados por cidades, estados e até pelo Governo Federal. Entenda porque essa estratégia sozinha não é eficiente e pode piorar ainda mais a situação. As estatísticas sobre casos de gestação durante a adolescência no Brasil revelam uma realidade assustadora e pouco divulgada
Getty Images via BBC
O raciocínio parece ter uma lógica irrefutável: o melhor método para evitar uma gestação é não fazer sexo.
Na prática, porém, essa questão é muito mais complicada, especialmente quando falamos de adolescentes.
Entre os especialistas, já é consenso que a prevenção da gravidez em meninas de 10 a 19 anos passa necessariamente por uma série de fatores, que envolvem a educação, a disponibilidade de métodos contraceptivos e a existência de perspectivas profissionais e sociais.
Mas as políticas públicas brasileiras nessa área parecem querer ir na contramão das evidências científicas. Prova disso é a recente discussão que aconteceu na cidade de São Paulo, em que o vereador Rinaldi Digilio (PSL) propôs a criação da "Semana Escolhi Esperar".
A ideia é instituir datas para que o tema da prevenção da gravidez na adolescência seja discutido nas escolas da capital paulista.
O projeto ganhou aval da própria Prefeitura de São Paulo, comandada por Ricardo Nunes (MDB).
Embora não cite diretamente a abstinência sexual, a escolha do nome "Escolhi Esperar" para a iniciativa chamou atenção por ser o mesmo mote usado em campanhas de grupos religiosos cristãos, que entendem que a relação sexual só pode acontecer após o casamento.
O debate na Câmara Municipal paulista pode até ser o mais recente, mas não é o único: em outras cidades e estados, vereadores, deputados, prefeitos e governadores também abraçaram a ideia e já lançaram emendas e projetos de lei similares, que tentam até promover a abstinência sexual como método contraceptivo para os jovens brasileiros.
No Governo Federal, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos chegou a lançar, com apoio do Ministério da Saúde, uma campanha no início de 2020 que abordava o tema e tentava retardar a idade da primeira transa.
Em fevereiro de 2020, Damares Alves (à esquerda), ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e Luiz Henrique Mandetta (à direita), então ministro da Saúde, lançaram um programa para diminuir as gestações entre os mais jovens com o lema 'Adolescência primeiro, gravidez depois – tudo tem o seu tempo'. Campanha foi criticada e acabou saindo do foco com a chegada da pandemia
Getty Images via BBC
Numa série de coletivas e notas à imprensa, representantes dos ministérios prometiam que o objetivo era colocar a abstinência como um método complementar, e que a distribuição de camisinhas e outros contraceptivos não seria prejudicada ou ignorada.
À época, a abordagem foi muito criticada por especialistas em políticas públicas. O tema, porém, acabou ficando em segundo plano com a chegada e o agravamento da Covid-19 ao país.
Um sério problema de saúde pública
As estatísticas sobre casos de gestação durante a adolescência no Brasil revelam uma realidade assustadora e pouco divulgada.
Segundo um relatório feito pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a taxa anual de gravidez precoce no mundo é de 44 nascimentos a cada mil adolescentes de 15 a 19 anos.
No Brasil, esse índice sobe para 62 nascimentos a cada mil adolescentes.
O Brasil, inclusive, faz parte do grupo de sete nações que respondem por metade de todas as gestações precoces registradas no planeta (os outros são Bangladesh, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Nigéria e Estados Unidos).
Olhando para a situação interna, de cada seis crianças que nascem em solo brasileiro, uma é filha de mãe adolescente.
Para piorar, um terço das meninas brasileiras que tem um bebê ficam grávidas novamente após 12 meses, enquanto o tempo mínimo recomendado entre uma gestação e outra é de 18 meses.
Outro dado que chama a atenção: 65% dos partos de adolescentes brasileiras não foram planejados.
Vale ressaltar que a maioria desses dados leva em conta a faixa etária que vai dos 15 aos 19 anos — quando a gravidez ocorre antes disso (dos 10 aos 14 anos), esses casos são geralmente considerados "estupros presumidos".
E mesmo nessas idades ainda mais precoces a situação também é assustadora: um artigo de especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de outras quatro instituições revela que o Brasil registrou, entre 2006 e 2015, mais de 278 mil nascimentos de bebês cujas mães haviam acabado de sair da infância e entrado na adolescência.
Embora a taxa de gestações entre garotas de 10 a 14 anos tenha caído ano após ano em boa parte do país, houve um crescimento de mais de 20% dos partos nesta faixa etária entre residentes da região Norte.
Em seu parecer, a Febrasgo ainda aponta que essas estatísticas brasileiras tão altas e díspares estão relacionadas a "uma série de fatores que interagem entre si".
Entre eles, a entidade destaca o início precoce da vida sexual, a pobreza, a baixa escolaridade, ter a maternidade como a única opção de vida, relações familiares conflituosas, falta de diálogo, o não uso (ou o uso inadequado) de métodos contraceptivos, a violência sexual, o casamento precoce, a falta de informação, a ausência de educação sexual nas escolas, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e a pressão dos colegas.
"Estamos falando, portanto, de um problema multifatorial, que vai interferir significativamente na vida da adolescente dali em diante", assinala o ginecologista Agnaldo Lopes, presidente da Febrasgo.
Futuro em xeque
É de se esperar, portanto, que um cenário tão complicado como esse tenha as mais diversas repercussões para a adolescente, o bebê, a família e toda a sociedade.
O relatório da Febrasgo destaca que gestações em idades tão tenras estão associadas com maior risco de parto prematuro, recém-nascido com baixo peso, o aparecimento de transtornos mentais (como depressão) na adolescente e até morte por complicações na hora de fazer um aborto inseguro ou durante o parto.
A necessidade de cuidar do filho também está diretamente relacionada com o abandono escolar e a perda de oportunidades de empregos, o que, segundo o texto da Febrasgo, "perpetua o ciclo da pobreza".
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que seis em cada dez adolescentes grávidas no país não trabalham e nem estudam.
E isso repercute na vida delas e também na economia como um todo: um estudo assinado pelo Banco Mundial revela que o Brasil teria um incremento de 3,5 bilhões de dólares (R$18 bilhões) em produtividade anual se essas meninas tivessem a gestação só após os 20 anos.
Como combater
Mas, diante de tal problema, como é possível resolvê-lo?
E a ciência já tem bons caminhos a oferecer: a ginecologista Carolina Sales Vieira, chefe do Serviço de Anticoncepção da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), explica que as abordagens mais bem-sucedidas combinam uma série de estratégias.
"E isso inclui projetos de transferência de renda, não incentivar o casamento precoce, melhorar a educação sexual nas escolas, aprimorar o acesso aos métodos anticoncepcionais…", enumera a médica.
A especialista também defende a necessidade de dar perspectivas futuras para as meninas brasileiras, especialmente das camadas mais pobres.
"Se elas não têm razão para estudar, se não possuem algum objetivo de carreira, por que atrasariam uma gestação para outro momento da vida?", questiona.
E, ao contrário do que se pensa, falar mais sobre saúde sexual nas escolas não estimula os jovens a transarem de forma desenfreada.
"As aulas precisam falar sobre o autocuidado, os problemas de ser mãe precocemente, o que fazer se estiver em risco de abuso e, claro, como se proteger durante a relação para não apenas evitar um filho, mas também uma infecção sexualmente transmissível (IST)", exemplifica Vieira.
E essas aulas não devem focar apenas no sexo feminino, segundo a especialista. Os meninos também precisam saber de suas responsabilidades e entender todos os aspectos da reprodução, do prazer e todos os aspectos relacionados ao tema.
O problema está justamente na falta de informações: quando os jovens não conhecem o próprio corpo, o que acontece durante o sexo e como se resguardar adequadamente, eles acabam se colocando em situações de risco.
Segundo a ginecologista, tratar da sexualidade de forma aberta e sem tabus, respeitando os limites de cada faixa etária, está relacionado, inclusive, a um início sexual mais tardio, pois os jovens se sentem mais empoderados para tomar uma decisão consciente e sabem reconhecer melhor possíveis abusos.
Focar só em abstinência também não ajuda em nada, aponta a médica.
"Os estudos nos mostram que os jovens acabam tendo relação sexual do mesmo jeito e ainda ficam mais vulneráveis à gravidez e às ISTs", resume Vieira.
"Não basta dizer para não ter relação sexual. É preciso instruir os jovens a escolher o momento oportuno, em que as coisas são feitas de forma consciente e segura", entende Lopes.
"Fora que essa abordagem do 'escolhi esperar' não reconhece o papel da violência sexual na gravidez durante a adolescência: uma gestação dos 10 aos 14 anos muitas vezes é fruto de um estupro presumido. Será que essas meninas só engravidam porque não falaram 'eu escolhi esperar'?", aponta a especialista.
"Muitas vezes, a questão não é querer fazer sexo. Elas são obrigadas", completa.
Para que espermatozoide e óvulo não se encontrem
Somado à educação sexual e o combate às mais variadas formas de violência, especialistas argumentam ser necessário ampliar o acesso aos métodos contraceptivos no sistema público de saúde brasileiro.
Segundo eles, não se trata apenas dos preservativos, mas de alternativas de longa duração que prescindem da memória e da ação direta dos adolescentes na hora do sexo, como é o caso dos dispositivos intrauterinos (conhecidos pela sigla DIU), dos implantes hormonais e das injeções mensais ou trimestrais.
Gravidez com DIU? Entenda por que foto de bebê com dispositivo na mão não deve abalar eficácia do método
Embora não atuem contra as ISTs como Aids, sífilis e gonorreia, as pesquisas mostram que essas ferramentas têm uma alta eficácia na prevenção da gravidez.
Nesse sentido, uma das experiências mais bem-sucedidas de redução nos casos de gestação na adolescência aconteceu no Reino Unido. Seis anos após a implementação de um programa amplo, que envolveu os métodos contraceptivos e a educação sexual, foi registrada uma queda de 42% na taxa de meninas grávidas por lá.
Em comparação, o Brasil não realizou nenhuma mudança significativa nas políticas públicas de sexualidade entre os mais jovens. O resultado foi uma queda de apenas 13,5% nos números de adolescentes que esperavam um filho entre 2006 e 2015.
Seguindo as evidências, portanto, pensar que a abstinência será a solução para todos os problemas soa, no mínimo, estranho, na opinião de especialistas.
"Na verdade, quando a gente não usa as evidências científicas disponíveis para criar políticas de saúde pública realmente efetivas, corremos o risco de gastar dinheiro e não alcançar o resultado desejado, a não ser atender os anseios de uma base eleitoral ou perpetuar candidatos no poder", critica Vieira.
"Quando nós temos a evidência de que algo funciona e seguimos por outro caminho com motivações religiosas ou morais, estamos correndo o risco de desperdiçar dinheiro público, que é um de nossos grandes males junto da corrupção", completa a ginecologista.
Respostas, versões e posicionamentos
A BBC News Brasil procurou diversas entidades, representantes políticos e instâncias governamentais que foram citados ao longo desta reportagem.
A Prefeitura de São Paulo respondeu por meio de uma nota de esclarecimento, enviada pela assessoria de imprensa.
Nela, os responsáveis pela capital paulista informam que o parecer da Secretaria Municipal de Saúde, que deu uma sinalização positiva ao projeto da "Semana Escolhi Esperar", "é técnico, portanto não autoriza nenhuma ilação político-ideológica".
A proposta segue em discussão na Câmara Municipal da cidade.
"A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ressalta que as ações de prevenção da gravidez na adolescência desenvolvidas pela rede municipal são baseadas na autonomia do adolescente, preconizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e também no direito à informação e acesso a métodos contraceptivos, inclusive para redução da incidência de segunda gravidez na adolescência", continua a nota, que informa uma queda de 9,2% na taxa de gestações entre paulistanas de 10 a 20 anos ao longo do ano passado.
Procurados pela BBC News Brasil, nem o vereador Rinaldi Digilio, autor do projeto, nem o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, se manifestaram.
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