Entenda por que é preciso cuidado ao usar fones de ouvido

Volume muito alto pode levar a perda auditiva. Veja dicas de como identificar se seu ouvido já apresenta perda e como evitar novos danos. Entenda por que é preciso cuidado ao usar fones de ouvido
Os fones de ouvido são acessórios atualmente utilizados por praticamente todo mundo. Apesar de muito úteis, podem ser prejudiciais se usados de forma inadequada. No vídeo acima, a fonoaudióloga Marcella Vidal e o otorrinolaringologista Felippe Felix explicam os sintomas da perda auditiva e o que fazer para se precaver.
Após assistir, responda o QUIZ e teste seus conhecimentos.

Como o isolamento na pandemia pode estar afetando nossa memória

Como linguagem do dia a dia pode ofender pessoas com deficiência
Fadiga, ansiedade, falta de pistas e de interação social são alguns fatores que explicam por que nossas memórias estão nos deixando na mão. Muita gente desenvolveu uma rotina de isolamento durante a pandemia — e, ao que parece, isso não é muito bom para nossa memória
Sean Gladwell/Getty Images
Se, desde o lockdown, você tem sentido dificuldade de lembrar de enviar e-mails, de encontrar a palavra certa ou, mais uma vez, se esqueceu de comprar leite — você não está sozinho. Perdi a conta do número de vezes que ouvi amigos reclamando recentemente de como suas memórias pioraram.
É claro que isso não é evidência científica, e é cedo demais para uma pesquisa comparando nossa capacidade de memória antes e depois da pandemia de covid-19.
Mas em um questionário conduzido pela Alzheimer's Society, metade dos familiares afirmou que a memória de seus entes queridos piorou depois que eles começaram a viver mais isolados.
As restrições de socialização em lares de idosos e, em alguns casos, a proibição de qualquer visitante por vários meses parecem ter cobrado um preço alto.
A Universidade da Califórnia em Irvine, nos EUA, está começando a fazer uma pesquisa sobre como o lockdown afetou a memória das pessoas.
Há relatos de que mesmo aquelas que costumam se lembrar de eventos como comprar um ingresso de cinema 20 anos atrás, porque têm uma memória autobiográfica mais ativa, estão descobrindo que estão esquecendo coisas.
Existem, é claro, vários tipos diferentes de memória. Esquecer o que você pretendia comprar é diferente de esquecer o nome de alguém ou o que você fez na quarta-feira passada.
Mas pesquisas sobre como a memória funciona apontam várias maneiras pelas quais o ambiente restrito imposto pela pandemia poderia estar impactando-a.
O fator mais óbvio é o isolamento. Sabemos que a falta de contato social pode afetar negativamente o cérebro, e que o efeito é mais sério em quem já tem problema de memória. Para aqueles com doença de Alzheimer, os níveis de solidão podem até afetar o curso da doença.
É claro que nem todo mundo se sentiu sozinho durante a pandemia, e os resultados de alguns estudos mostraram que os níveis de sensação de solidão se estabilizaram com o tempo.
Mas mesmo que a gente não se sinta angustiado com a redução do contato humano, muitos de nós ainda estamos vendo menos pessoas do que o normal. Estamos perdendo aquelas conversas no café do escritório ou em festas onde podemos bater papo com dezenas de pessoas em uma noite, trocando ideias sobre o que temos feito.
A repetição de histórias nos ajuda a consolidar nossas memórias do que aconteceu — as chamadas memórias episódicas. Se não podemos nos socializar tanto, talvez não seja surpreendente que essas memórias não pareçam tão claras como de costume.
Quando temos a chance de conversar, também temos menos histórias para contar. Como viagens são canceladas, casamentos são adiados, shows e eventos esportivos acontecem sem a presença do público, temos menos sobre o que falar. E as lamúrias no trabalho são principalmente sobre as frustrações da tecnologia nos deixando na mão.
É verdade que você pode compensar socializando mais online. Mas essas conversas não são exatamente as mesmas. É menos provável que você mencione fatos "irrelevantes".
Para valer a pena preservá-la, sua história precisa valer a pena ser contada. Se o seu nível de exigência para o que é considerado interessante o suficiente para ser dito aumentou, então, mais uma vez, você deixa de enfatizar essas memórias.
Mas há algo além da falta de socialização. Muitas pessoas mencionam agora uma sensação de ansiedade. Mesmo que você agradeça a sorte que tem, já que outros estão em situação pior, pode ser difícil se livrar da sensação de que o mundo se tornou um lugar mais incerto.
Na University College London (UCL), a psicobióloga Daisy Fancourt e sua equipe têm realizado pesquisas sobre como as pessoas se sentem durante a pandemia no Reino Unido.
Embora os níveis de ansiedade tenham atingido o pico quando o lockdown começou e tenham diminuído gradualmente, a média permaneceu mais alta do que em tempos normais, especialmente em pessoas que são jovens, moram sozinhas, vivem com filhos, se mantém com baixa renda ou habitam áreas urbanas.
Enquanto isso, o Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido identificou que as taxas de depressão dobraram.
Sabe-se que tanto a depressão quanto a ansiedade têm impacto na memória. As preocupações sobrecarregam nossa memória de trabalho, nos deixando com menos capacidade disponível para lembrar de listas de compras ou do que precisamos fazer no trabalho.
Tudo isso se torna ainda mais difícil devido à falta de pistas para auxiliar nossas memórias. Se você sai para trabalhar, sua jornada, a mudança de cenário e as pausas que você faz pontuam o dia, dando a você marcações no tempo para ancorar suas memórias.
Mas, quando você trabalha de casa, cada reunião online é muito semelhante às demais, porque você tende a se sentar exatamente no mesmo lugar, em frente à mesma tela. Há menos coisas para marcar suas memórias e ajudá-lo a distingui-las.
"Tentar lembrar o que aconteceu com você quando há pouca distinção entre os diferentes dias, é como tentar tocar um piano em que não há teclas pretas para ajudá-lo a se encontrar", afirma Catherine Loveday, professora de neurociência cognitiva da Universidade de Westminster, em Londres.
Assim como os dias se fundem em um, as coisas que você faz nesses dias também.
No escritório, você pode passar por uma sala onde teve uma reunião específica, que te faz lembrar que precisava enviar um e-mail para alguém sobre aquilo.
Em casa, não há pistas para ajudar você a lembrar as diferentes partes do trabalho. Cada memória é marcada para ficar no seu computador. No escritório, você pode se lembrar exatamente onde teve determinada conversa — no elevador ou na cafeteria — e isso ajuda a não esquecer.
Há ainda uma fadiga generalizada, que também não ajuda nossas memórias. As reuniões do Zoom são cansativas, alguns trabalhos são muito mais difíceis de fazer de casa, e viagens de férias estão sendo canceladas. A falta de rotina e a ansiedade em relação à pandemia podem perturbar nosso sono. Junte tudo isso — e basicamente estamos constantemente cansados.
Portanto, com essa combinação de fadiga, ansiedade, falta de pistas e menos interações sociais, não é de se espantar que alguns de nós sintam que nossas memórias estão nos deixando na mão.
E Loveday acredita que há um fator adicional envolvido — que talvez nem tenhamos notado. Diz respeito ao impacto em nossos cérebros e em nossas memórias em particular, de passar o tempo em diferentes localizações geográficas.
Encontrar o caminho de volta para casa sempre foi importante para nossa sobrevivência. Assim que saímos de casa, começamos a prestar atenção. Quer estejamos caminhando em uma floresta ou pela cidade, usamos mais a região do cérebro conhecida como hipocampo.
Você se lembra dos estudos que mostram que motoristas de táxi em Londres conhecem todas as ruas? Esses motoristas acabam com um hipocampo maior.
Precisamos envolver o hipocampo para lembrar informações novas, mas Veronique Bohbot, neurocientista da McGill University, no Canadá, descobriu que, se a vida das pessoas se torna mais confinada e repetitiva à medida que envelhecem, o uso do hipocampo diminui.
Da mesma forma, ela constatou que motoristas que dependem de sistemas de navegação por satélite, em vez de encontrar o caminho por conta própria, geram menos memórias espaciais, o tipo de memória que depende principalmente do hipocampo.
Se ficamos em casa a maior parte do tempo por vários meses devido à pandemia, perdemos aquele estímulo extra que vem de encontrar nosso caminho.
A boa notícia é que há coisas que podemos fazer a respeito. Dar uma caminhada, especialmente em ruas que não nos são familiares, vai trazer a atenção de volta ao cérebro. E até mesmo se mexer faz diferença. Você precisa estar sentado à sua mesa em todas as reuniões? Se for um telefonema, será que você não pode andar pela rua conversando?
Garantir que os dias da semana e os fins de semana sejam diferentes o suficiente para não se fundirem em um só, pode ajudar com as distorções que nossa nova vida pode ter em nossa percepção do tempo.
Loveday aconselha adicionar mais diversidade às nossas vidas, o que pode envolver alguma criatividade. Se você não puder sair, ela sugere encontrar uma atividade completamente nova dentro de casa, e depois contar a alguém sobre ela para ajudá-lo a se lembrar melhor.
Refletir deliberadamente sobre o seu dia todas as noites também pode contribuir para consolidar suas memórias. Você pode até escrever um diário. É verdade que acontece menos coisas dignas de registro atualmente, mas ainda assim pode ser interessante fazer a retrospectiva do dia. Pode ajudar sua memória.
E, se você está se esquecendo de fazer alguma coisa, então criar listas e botar alertas no celular pode fazer mais diferença do que você imagina.
Você também pode aproveitar sua própria imaginação. Se quiser se lembrar de comprar leite, pão e ovos, antes de sair de casa, se imagine visitando cada um dos corredores do mercado onde estão os produtos da lista.
Quando chegar lá, essa ida ao mercado imaginária voltará à sua cabeça — e você terá mais chances de se lembrar de tudo que precisa.

Os exercícios que ajudam a viver melhor depois dos 30 anos

Como linguagem do dia a dia pode ofender pessoas com deficiência
Fazer atividades aeróbicas que aumentam a resistência do coração e dos pulmões é importante, mas não se esqueça de outros tipos de exercícios menos intenso que são fundamentais para a sua saúde. A partir dos 30 anos, começa o declínio natural de nossa força muscular e óssea
Getty Images via BBC
Os exercícios ajudam a manter a forma e a evitar doenças cardiovasculares, mas há um tipo de atividades-chave que nos ajudam a envelhecer melhor que parecem ter sido esquecidas. São os exercícios para fortalecer os músculos e ossos e atividades que melhoram nosso equilíbrio.
Há muitos benefícios para a manutenção e melhoria da saúde que esse tipo de exercício produzem em todos os adultos, não apenas nos idosos, e recomenda-se incorporá-los à rotina pelo menos duas vezes por semana.
"Além de exercícios aeróbicos, como caminhada rápida, todos os adultos devem tentar fazer atividades de equilíbrio e fortalecimento duas vezes por semana", diz Alison Tedstone, diretor do Departamento de Dieta, Obesidade e Atividade Física da Agência de Saúde Pública da Inglaterra.
"Em média, todos vivemos mais tempo, e esta combinação de atividades físicas nos ajudará a estar bem na juventude e a permanecer independentes à medida que envelhecemos."
Músculos, ossos e equilíbrio
Muitas pessoas não têm clareza sobre a importância de cuidar da força do corpo, em particular dos músculos e ossos, para uma saúde geral. De acordo com especialistas, a massa óssea e a massa muscular tendem a atingir o pico antes de chegarmos aos 30 anos.
Os exercícios de força e equilíbrio ajudam a melhorar o humor, os padrões de sono, aumentar os níveis de energia e reduzir o risco de morte prematura
Getty Images via BBC
A partir dessa idade começa um declínio natural. Entre as idades de 18 e 30 anos, esse tipo de exercício aumenta a força muscular e óssea. Entre 30 e 60 anos, eles mantêm a força e reduzem o declínio natural. A partir dos 65 anos, eles preservam nossa força e independência.
Além disso, os exercícios de força e equilíbrio também podem melhorar os resultados futuros após momentos importantes em nossas vidas, como gravidez, menopausa, diagnóstico de doenças, aposentadoria ou período pós-operatório.
Por outro lado, essas atividades ajudam a melhorar o humor, os padrões de sono, aumentam os níveis de energia e reduzem o risco de morte prematura.
Em que consistem esses exercícios?
São recomendados:
exercícios de resistência, como levantamento de peso ou usando o próprio peso corporal;
jogos com raquetes, como tênis, pingue-pongue ou badminton;
dança;
jogos com bola;
fazer trilhas.
Os exercícios específicos e sua intensidade devem ser adaptados à saúde e à condição física de cada indivíduo.
Além disso, os especialistas afirmam que atividades como ioga ou tai chi são boas para os ossos, músculos e equilíbrio. Isso pode prevenir quedas, que causam 95% das fraturas de quadril, de acordo com dados do governo britânico.
Por outro lado, a fraqueza muscular aumenta o risco de quedas em 76%, e aqueles que já caíram uma vez têm três vezes mais chances de cair novamente.

O bebê prematuro que teve ‘sorte’ de nascer em avião com médico e enfermeiras de UTI neonatal

Como linguagem do dia a dia pode ofender pessoas com deficiência
Lavinia “Lavi” Mounga estava em um voo de Salt Lake City, nos EUA, para o Havaí, quando entrou em trabalho de parto. Lavinia "Lavi" Mounga, seu bebê Raymond e o médico Dale Glenn
Carissa Glenn
Um bebê que já nasceu com a sorte grande. Lavinia "Lavi" Mounga estava em um voo de Salt Lake City, nos EUA, para o Havaí, quando entrou em trabalho de parto.
Para a sorte dela e de seu bebê, havia três enfermeiras de unidade de terapia intensiva neonatal estavam no avião, além de um médico de família. Raymond, seu bebê, nasceu com apenas 29 semanas, e ainda restava três horas de voo.
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"Cheguei no banheiro e lá estava Lavi segurando o bebê. Ela tinha dado à luz provavelmente um ou dois segundos antes", conta a enfermeira Lani Bamfield ao Newshour, programa de rádio de notícias da BBC. Ela viu que o bebê era muito pequeno. Imediatamente, diz, começou a agir.
"Comecei a fazer estímulos nele com um cobertor, para tentar fazê-lo chorar e respirar fundo. Também o sequei, porque o controle de temperatura é muito importante."
As enfermeiras de UTI neonatal que cuidaram de Lavi e Raymond
Hawaii Pacific Health
Outra enfermeira, Amanda Beeding, cuidou da mãe, que ainda não havia parido a placenta. Além disso, um passageiro do voo lhe deu um cadarço, que ela usou para amarrar o cordão umbilical e cortá-lo. A equipe trabalhou no chão, em frente ao banheiro.
O grupo teve ajuda de mais uma enfermeira e de um médico de família, Dale Glenn. "Minha filha me disse: 'pai, eles acabaram de pedir por um médico'", lembra Glenn à BBC. Ele dirigiu-se ao banheiro do avião e viu a equipe de enfermeiras já trabalhando com o bebê, que pesava menos de 1,5 quilos. "Era muito prematuro."
"O bebê Raymond não estava respirando muito bem e tentávamos ressuscitá-lo." Os comissários de bordo forneceram equipamentos de oxigênio que a equipe usou, embora fossem muito grandes para um bebê tão pequeno.
A equipe também improvisou para avaliar seus batimentos cardíacos, usando um relógio de pulso para medi-los.
Depois de quase três horas trabalhando sem parar no bebê e na mãe, o avião pousou. E foi aí que se ouviu, pela primeira vez, o choro do bebê.
Irmãs fizeram 'vaquinha' para custear gastos com hospital em Honolulu, já que Raymond deve ficar internado até fim de maio/junho
Hawaii Pacific Health
O caso viralizou com um vídeo gravado por uma das passageiras e publicado no TikTok. Ele mostra o capitão do avião anunciando que um bebê nasceu no avião e pedindo aplausos para a mãe – os passageiros respondem com palmas e gritos para celebrar o nascimento de Raymond.
Quando o avião pousa, uma equipe médica entra para buscar Lavi e Raymond. É possível ouvir seu choro.
As irmãs de Lavi fizeram uma vaquinha online para levantar dinheiro e cobrir gastos da hospitalização de Raymond que, segundo elas, ficará internado até o fim de maio/junho. "Nós estávamos no avião quando Lavi deu à luz. Nosso sobrinho milagroso nasceu com 29 semanas e foi muito forte", escreveram no site da campanha.
O médico e as enfermeiras de UTI neonatal improvisaram para cuidar do bebê no voo: usaram um cadarço para cortar o cordão umbilical e um relógio de pulso para medir os batimentos do bebê
Hawaii Pacific Health
"Nossa irmã não sabia que estava grávida, então ela estava tão chocada quanto a gente quando nosso sobrinho nasceu. Ele está na UTI neonatal se fortalecendo mais a cada dia que passa."
Segundo o jornal The Guardian, as enfermeiras visitaram Lavi e o bebê no hospital em Honolulu e disseram que foi um reencontro "emotivo".
"Ficamos com lágrimas nos olhos. Ela nos chamou de família e disse que somos todas suas tias", disse ao jornal a terceira enfermeira que cuidou de Lavi e Raymond, Mimi Ho.

Como linguagem do dia a dia pode ofender pessoas com deficiência

Como linguagem do dia a dia pode ofender pessoas com deficiência
Perguntar se alguém 'está cego' porque não viu algo, dizer que 'deu uma de João sem braço' ou que fulano tem 'problema mental' para ofender, são alguns exemplos. Algumas expressões que usamos no dia a dia discriminam as pessoas com deficiência
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Gosto de ser surda. Gosto do silêncio, assim como da rica cultura e da língua que a surdez me proporciona.
Quando vejo a palavra 'surdo' publicada, me vem à tona um sentimento de orgulho pela minha comunidade. É algo que fala comigo, como se eu estivesse sendo abordada diretamente, como se chamassem meu nome.
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Então, sempre dói quando sou lembrada de que, para muitos, a palavra 'surdo' tem pouco a ver com o que eu mais amo — na verdade, suas conotações são quase sempre negativas.
Por exemplo, na imprensa do mundo todo não é raro ler que determinado governo ou autoridade "se fez de surdo".
Este tipo de linguagem "capacitista" (que discrimina pessoas com deficiência) é onipresente em bate-papos.
Perguntar se alguém "está cego" porque não viu algo, dizer que "deu uma de João sem braço" ou que fulano tem "problema mental" para ofender, chamar um chefe de "psicopata" ou "bipolar", falar para alguém "deixar de ser retardado" — são apenas alguns exemplos.
E, na maioria das vezes, as pessoas que proferem essas frases não têm a intenção de machucar ninguém — em geral, elas não têm a menor ideia de que estão fazendo algo nocivo.
No entanto, para pessoas com deficiência como eu, essas expressões comuns podem ser microagressões.
Por exemplo, "se fazer de surdo" mostra que a maioria das pessoas associa a surdez com a ignorância intencional (mesmo que não seja conscientemente).
Porém, muito mais do que insultos isolados, expressões como essas podem causar danos reais e duradouros às pessoas que se sentem desconsideradas por essas palavras e expressões — e até mesmo para quem as utiliza em conversas diárias.
Não é um problema pequeno
Cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo — 15% da população global — tem algum tipo de deficiência documentada. No Brasil, segundo o Censo 2010 do IBGE, quase um quarto da população declarou ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus) ou possuir deficiência mental/intelectual. A incidência é semelhante nos EUA e no Reino Unido.
Apesar desses números, as pessoas com deficiência sofrem discriminação generalizada em quase todos os níveis da sociedade. Esse fenômeno, conhecido como 'capacitismo' — discriminação com base na deficiência — pode assumir várias formas.
O capacitismo pessoal pode ser um xingamento ou ato de violência contra uma pessoa com deficiência, enquanto a capacitismo sistêmico se refere à desigualdade que as pessoas com deficiência vivenciam como resultado de leis e políticas.
Mas o capacitismo também pode ser indireto, até mesmo não intencional, na forma de microagressões linguísticas.
Por mais que a gente goste de pensar que é cuidadoso na hora de escolher as palavras, o capacitismo linguístico está difundido no nosso vocabulário.
Os exemplos estão por toda parte na cultura popular, e provavelmente você mesmo já usou algumas expressões.
Muitas vezes, o capacitismo linguístico surge nas gírias que usamos, como falar para alguém "deixar de ser retardado" ou dizer que "fulano tem TOC" (transtorno obsessivo-compulsivo).
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SARA NOVIĆ
Embora possam parecer insultos ou exclamações casuais, ainda assim causam danos.
Jamie Hale, CEO da Pathfinders Neuromuscular Alliance, instituição de caridade do Reino Unido voltada e dirigida por pessoas com doenças neuromusculares, observa que o potencial de dano existe mesmo se as palavras não forem usadas contra uma pessoa com deficiência especificamente.
"Há uma sensação de que, quando as pessoas usam a linguagem capacitista, estão buscando maneiras de inferiorizar", diz Hale.
"Muitas vezes não é uma tentativa consciente de prejudicar as pessoas com deficiência, mas ajuda a construir uma visão de mundo na qual ser uma pessoa com deficiência é [negativo]."
Usar uma linguagem que equipara a deficiência a algo negativo pode ser problemático de várias maneiras. Em primeiro lugar, essas palavras oferecem uma imagem imprecisa do que realmente significa ser deficiente.
"Descrever alguém como 'aleijado', 'incapacitado' é dizer que ele está 'limitado' [ou] talvez 'aprisionado'", afirma Hale.
"Mas não é assim que eu me sinto."
Usar a deficiência como metáfora também é uma forma imprecisa de expressar o que realmente queremos dizer.
A frase 'se fazer de surdo', por exemplo, perpetua estereótipos e, ao mesmo tempo, mascara a realidade da situação que descreve.
Ser surdo é um estado involuntário, ao passo que as pessoas que "se fazem de surdas" diante de determinados apelos estão fazendo uma escolha consciente de ignorar essas solicitações.
Rotulá-las como 'surdas' as enquadra como passivas, ao invés de pessoas ativamente responsáveis ​​por suas próprias decisões.
Hale acrescenta que usar a deficiência para designar algo negativo ou inferior reforça atitudes e ações negativas e alimenta os sistemas mais amplos de opressão existentes.
"Construímos um mundo com a linguagem que usamos e, enquanto nos sentirmos confortáveis ​​com essa linguagem, continuaremos a construir e reforçar estruturas capacitistas", diz.
O que isso quer dizer?
Se o capacitismo linguístico é tão prejudicial, por que é tão comum?
Por que alguém que nunca insultaria propositalmente uma pessoa com deficiência diretamente ainda encontra expressões capacitistas em seu vocabulário?
O capacitismo linguístico, como o coloquialismo, funciona como qualquer outra gíria: as pessoas a repetem porque ouvem outras dizerem, uma imitação que aparentemente sugere um uso sem discernimento.
Porém, de acordo com DW Maurer, professor de linguística da Universidade de Louisville, nos EUA, embora qualquer pessoa possa criar uma gíria, a expressão só "ganhará popularidade conforme a unanimidade de atitude dentro do grupo".
Isso sugere que os jargões capacitistas são onipresentes porque, em algum nível, aqueles que falam acreditam que seja verdade.
É possível que as pessoas realmente não tenham consciência desses preconceitos dentro de si mesmas, tampouco do capacitismo que expressam no dia a dia.
Mas o fato é que as discussões sobre o efeito negativo de palavras como "surdo-mudo", por exemplo, vêm acontecendo em círculos de pessoas surdas e com deficiência há séculos.
Uma das maneiras mais eficazes de deixar para trás a linguagem capacitista é entendendo a comunidade com deficiência, conversando e ouvindo suas preocupações
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De acordo com Rosa Lee Timm, chefe de marketing da organização sem fins lucrativos Communication Service for the Deaf, em Maryland, nos EUA, essas discussões passaram batido pela maior parte da sociedade porque as pessoas sem deficiência acreditam que o capacitismo não as afeta, e a linguagem capacitista perpetua e justifica essa crença.
"A linguagem capacitista incentiva uma cultura de segregação. Ela define, exclui e marginaliza as pessoas", explica Timm.
Efeito bumerangue
Embora essas palavras e expressões sejam obviamente prejudiciais aos grupos que marginalizam, as pessoas sem deficiência que casualmente usam a linguagem capacitista podem estar impactando negativamente a si mesmas.
"O que vai acontecer com esse grupo de pessoas sem deficiência quando mais tarde na vida — seja por uma perda auditiva, um acidente, um problema de saúde, o próprio envelhecimento ou qualquer outra coisa —, eles passarem para a comunidade com deficiência?", questiona Timm.
"A linguagem capacitista que eles usaram cria um ambiente opressor."
Timm observa que esse 'ambiente' inclui um impacto na própria autoestima.
"Os padrões de beleza são uma boa comparação, em termos do poder psicológico da linguagem", diz ela.
"Como mãe, se eu digo, 'uau, isso é lindo' ou 'isso é feio', meus filhos observam e internalizam… Isso pode ter um impacto profundo, especialmente se eles olharem para si mesmos e sentirem que não correspondem aos padrões… O mesmo vale para habilidades."
Hale também acredita que as pessoas sem deficiência que vivenciarem a deficiência mais tarde na vida serão prejudicadas pela retórica que usam hoje.
E observa que a natureza divisiva do capacitismo linguístico pode até ter um impacto negativo sobre as pessoas que nunca vão ter deficiência.
"Machuca a todos nós quando desumanizamos formas de ser, e as construímos totalmente no negativo", afirma.
Desconstruindo estruturas capacitistas
Dado o quão arraigado é o capacitismo em nossa sociedade, erradicá-lo pode parecer uma tarefa árdua. Estar ciente das palavras que você usa no dia a dia é uma etapa necessária no processo.
"Desmantelar estruturas capacitistas não começa com a linguagem, mas construir um mundo sem elas requer que mudemos nossa linguagem", diz Hale.
Analisar as próprias expressões e tentar substituí-las por sinônimos menos problemáticos é um bom começo.
"Pense no que você quer dizer. Não repita uma expressão apenas porque a ouviu, pense no que você está tentando transmitir", sugere Hale.
Muitas vezes, evitar eufemismos capacitistas significa apenas escolher uma linguagem mais direta e literal — ao invés de dizer que fulano "se fez de surdo", você poderia falar que ele "ignorou" ou "decidiu não se envolver".
A linguagem está em constante mudança, portanto, eliminar o capacitismo do seu vocabulário será um processo contínuo, e não algo pontual.
Você pode tropeçar no início, mas conversar com pessoas com deficiência é uma maneira eficaz de encontrar o equilíbrio e continuar a construir um vocabulário mais inclusivo.
"Meu conselho é sempre ouvir", diz Timm.
"Faça perguntas, evite suposições e comece escutando as pessoas que são mais impactadas. Reflita se a sua escolha de palavras está contribuindo para a opressão delas."
Pode parecer desconfortável, mas o desconforto e a vulnerabilidade exigem introspecção, o que Hale aponta como chave para desmantelar atitudes capacitistas.
"De acordo com a Scope [instituição voltada para deficiência e igualdade], dois terços da população britânica se sentem desconfortáveis ao falar com uma pessoa com deficiência", afirma Hale.
"Por quê? Se você conseguir entender por que se sente desconfortável, você está no caminho certo para mudar isso."