Câmara aprova projeto que obriga escolas a instalarem ‘botão do pânico’ para acionar autoridades

Projeto prevê treinamento dos funcionários para acionamento do botão e destina recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública para as adaptações. A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (10) projeto que obriga escolas a instalarem um "botão do pânico", dispositivo que pode ser acionado emergencialmente para contatar autoridades diante de situação de violência em escolas. O projeto segue agora para o Senado.
O projeto também estabelece que as escolas devem oferecer treinamento aos seus funcionários para que saibam acionar corretamente o dispositivo, além de conduta adequada para lidar com situações de violência.
Desafios Municipais: mais da metade das escolas brasileiras não tem laboratórios
O projeto também estipula que, ao menos, 2% dos recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) para essas adaptações que buscam coibir a violência nas escolas.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) coloca o Brasil entre os de índices mais altos do mundo no ranking das agressões contra professores — índice que tem se mantido estável nos últimos anos.

Brasil gasta anualmente US$ 3,6 mil por aluno da rede pública; média de países da OCDE passa de US$ 11 mil

Alunos brasileiros leem muito devagar, não entendem frases e sentem vergonha, alertam professores; uso de telas agrava problema
Levantamento 'Education at a Glance' compara índices educacionais de países que são referência em desenvolvimento humano, como Luxemburgo, Suíça e Noruega. Brasil não integra o grupo, mas participa do estudo como parceiro. Gastos por aluno no Brasil são inferiores aos da OCDE
Wilson Dias/Agência Brasil
Quanto o governo investe, por ano, em cada aluno da rede pública na educação básica e nas universidades? No Brasil, a média é de US$ 3.668 (cerca de R$ 20,5 mil). Já entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que são referência em desenvolvimento humano, o patamar é mais do que o triplo disso: US$ 11.914 (R$ 66,5 mil).
É o que indica o relatório "Education at a Glance 2024", divulgado nesta terça-feira (10) para trazer as atualizações dos indicadores internacionais ligados à educação.
No topo do ranking, está Luxemburgo, que gasta mais de US$ 25 mil por aluno (R$ 139,5 mil), seguido por Suíça e Noruega.
Na lista de 40 países, o Brasil ficou à frente (por muito pouco) apenas da Romênia, da Turquia, da África do Sul, do México e do Peru.
Veja outros destaques:
💰Gastos com educação vêm caindo a cada ano (2016 a 2022)
Entre 2015 e 2021, durante os governos de Dilma Roussef (até agosto de 2016), Michel Temer (2016 -2018) e Jair Bolsonaro (2019 – 2022), o Brasil apresentou uma queda de 2,5% ao ano nos gastos com educação.
Na OCDE, a tendência foi oposta, com aumento anual de 2,1%, mesmo com todo o impacto econômico da pandemia.
Observação: Apesar de os gastos por estudante estarem muito abaixo dos registrados pelos demais países, houve uma melhora significativa nos investimentos relacionados à primeira infância: de 2015 a 2015, o Brasil teve um aumento de 29% no valor dedicado a cada aluno de 0 a 3 anos. Essa etapa da educação é vista por especialistas como fundamental para a redução das desigualdades sociais e econômicas.
🤷‍♀️Geração 'nem-nem' encolheu
Considerando os jovens de 18 a 24 anos no Brasil, a parcela dos que não trabalham nem estudam caiu de 29,4% (2016) para 24% (2023). Entre os países da OCDE, a redução foi de 15,8% para 13,8%.
É importante lembrar que não necessariamente são pessoas que "passam o dia olhando para o teto, mexendo em redes sociais" — entram na conta aqueles que trabalham informalmente, sem registro profissional, ou que precisam abandonar os estudos para cuidar dos irmãos mais novos.
🧑‍🎓Quem não tem formação superior é prejudicado na carreira
Segundo o relatório "Education at a Glance", os adultos de 25 a 34 anos que não têm ensino superior acabam enfrentando condições piores no mercado de trabalho:
No Brasil, 36% dos jovens sem diploma técnico ou universitário estão desempregados (na OCDE, são 25%).
Os salários de quem não tem qualificação também são mais baixos: entre os brasileiros de 25 a 64 anos que não terminaram o ensino médio, 59% ganham menos do que a média da população.
Os impactos negativos são mais sentidos entre as mulheres. Entre as brasileiras que não concluíram a educação básica, apenas 44% estão empregadas. Já entre os os homens, o patamar chega a 80%.
Em geral, entre os parceiros e membros da OCDE, mulheres que cursaram o ensino superior recebem salários menores do que homens que ocupam exatamente a mesma função que elas. No Brasil, elas ganham o equivalente a 75% do valor pago a eles (nas outras nações do grupo, a média é de 83%).
📚 O que é o relatório 'Education at a Glance 2023'?
Divulgado anualmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o relatório “Education at a Glance” reúne e compara os principais indicadores internacionais ligados à educação.
Os números mostram a realidade de quase 50 países, incluindo membros da OCDE e parceiros (como o Brasil).
Os dados são fornecidos pelos próprios países.
Vídeos

Como o celular agrava o problema de alunos que têm leitura lenta e não entendem os textos; ouça e compare

Alunos brasileiros leem muito devagar, não entendem frases e sentem vergonha, alertam professores; uso de telas agrava problema
Entenda por que falta de fluência na leitura pode atrapalhar autoestima e desempenho escolar dos estudantes. Problemas na alfabetização: o que é fluência leitora e por que ler devagar é preocupante
Sabe quando a criança está começando a ser alfabetizada e ainda não consegue ler com ritmo? Em voz alta, ela decifra sílaba por sílaba, bem vagarosamente: “A caaaaa-saaaa é boo-nniii-taa.”
É uma etapa natural do processo de aprendizagem. O problema é que, no Brasil, alunos estão chegando ao 4º ou 5º ano ainda com essa dificuldade, alertam acadêmicos, especialistas em educação e professores ouvidos pelo g1.
🚨E por que isso é preocupante? Os estudantes levam tanto tempo para chegar ao final de uma frase que esquecem o que estava escrito no comecinho da sentença. Resultado: não conseguem entender histórias, legendas de filmes ou placas de rua.
Ouça exemplos reais de dois alunos lendo o mesmo texto e perceba a diferença:

"No topo de uma montanha solitária, um lobo chamado Lúcio vivia em sua toca. Ele era conhecido por sua feroz natureza e pela solidão…"
➡️Com o tempo, esses estudantes como o do 1º áudio passam a ter dificuldade também nas outras disciplinas da escola – não conseguem ler e interpretar um enunciado de matemática, história ou ciências – e ficam com vergonha de pedir ajuda, sobretudo na adolescência. É uma "bola de neve".
“Na minha turma [de alunos de 9 anos], muitos ainda estão ‘silabando’. Se peço para explicarem o que acabaram de ler, não sabem responder”, conta Raquel Nascimento, professora da rede pública de Campinas (SP).
Depois da pandemia, com o uso ainda mais frequente de telas [leia mais abaixo], houve uma piora sensível também na questão da concentração, diz a docente. "Eles [alunos] perdem o foco antes do fim da frase. Como que lerão um capítulo inteiro?”
Esses podem ser sinais de problemas na fluência leitora, que considera:
velocidade (quantas palavras por minuto são lidas);
precisão (a criança lê corretamente ou acaba confundindo as sílabas e lendo “lua”, em vez de “rua”?);
e entonação (ela faz um tom de pergunta quando tem interrogação? Não dar a “melodia” correta também atrapalha o entendimento).
Os três fatores, aliados ao vocabulário e ao repertório do aluno, são essenciais para a habilidade de interpretação de texto.
“Ser fluente na leitura significa ver uma palavra e entender o sentido dela rapidamente. É preciso ler com expressividade, demonstrando estar compreendendo a frase”, explica Isabel Frade, presidente emérita da Associação Brasileira de Alfabetização e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
📖Nesta reportagem, você verá:
por que o problema da fluência é maior entre alunos de escolas públicas;
quais as origens dessas dificuldades (uso abusivo de telas, por exemplo é um dos inimigos);
o que fazer na escola e em casa para que a criança leia de forma adequada, na velocidade certa.
📚‘Poço sem fundo’: desempenho dos brasileiros em testes de leitura acende alerta
Nos exames oficiais, tanto brasileiros quanto internacionais, o Brasil vem registrando números preocupantes:
Em 2023, na estreia do país no Pirls (Progress in International Reading Literacy Study), 38% dos estudantes brasileiros do 4º ano do ensino fundamental não dominavam as habilidades básicas de leitura. Só 13% foram classificados, segundo a avaliação, como proficientes. Na 39ª posição entre 43 países, o Brasil ficou atrás de nações pobres, como Azerbaijão e Uzbequistão.
Microdados divulgados em 2023 a partir de dados do Pisa (outro exame internacional) mostraram que, em 2018, o texto mais longo lido por 66,3% dos alunos brasileiros de 15 e 16 anos não passava nem de 10 páginas.
No Ideb 2023 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que considera conhecimentos de matemática e leitura, o país não bateu a meta que era prevista ainda para 2021 nem no 9º ano do fundamental, nem no 3º do ensino médio.
O problema é que nenhuma dessas avaliações consegue mostrar exatamente qual é o ponto mais crítico: os alunos demoram muito para decifrar as sílabas? Falta vocabulário? Por que não estão entendendo nem conteúdos simples?
➡️Estudo detecta que alunos da rede pública leem mais devagar
Para ter mais pistas sobre a fluência leitora dos alunos brasileiros, pesquisadores de instituições americanas (Universidade Johns Hopkins, Universidade Virgínia, Universidade de Nova York e Quality Leadership) e brasileiras (Fundação Getúlio Vargas, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Instituto Ler+ e Escribo) organizaram o seguinte experimento:
gravaram mais de 14 mil alunos (do 2º ao 5º ano, em diferentes estados) lendo textos de 156 palavras (aproximadamente 13 linhas);
contaram quantas palavras eles liam por minuto, avaliaram se estavam dando a entonação correta às frases e testaram se cada um entendeu o conteúdo.
Os resultados do estudo científico, ainda em fase de revisão de pares, mostraram uma diferença significativa: enquanto os alunos de escolas públicas leram, em média, 72 palavras corretas por minuto, os de particulares atingiram a marca de 94.
“O Pisa, por exemplo, não avalia a fluência dos alunos, mas vimos que está tudo interligado: em geral, quando melhoro 10 pontos na fluência, subo 6 pontos na compreensão. Sabemos que investir na fluência não vai ser a salvação, porque é necessário trabalhar vocabulário e conhecimento de mundo, mas já seria uma grande ajuda”, afirma Américo Amorim, pesquisador afiliado da Universidade de Nova York.
Um elemento está associado ao outro: quanto mais a criança ler, mais palavras novas ela conhecerá, declara ao g1 Nuno Crato, economista e ex-ministro da Educação em Portugal.
“Saber ler bem é uma porta para o mundo. Nas nossas conversas à mesa ou no ônibus, temos diálogos limitados: ‘chega aí!”, ‘amanhã, falamos!’. A leitura é que vai nos apresentar a textos mais complexos que dão maior conhecimento do mundo”, diz. “A fluência é um passo essencial para isso.”
🧩Por que os alunos estão com tanta dificuldade?
Biblioteca da Escola Oscar de Castro, que recebe alunos do ensino infantil ao fundamental em tempo integral, em João Pessoa
Prefeitura de João Pessoa/Divulgação
Segundo os especialistas ouvidos pelo g1, os fatores determinantes são:
menor acesso a livros por famílias de baixa renda;
formação de professores, em geral, defasada, com cursos de pedagogia que não abordam a alfabetização em profundidade;
falta de atividades lúdicas que explorem relações fonêmicas ainda na educação infantil;
ausência de hábito de leitura por parte das pessoas que convivem com a criança;
período prolongado de fechamento das escolas durante a pandemia;
contato excessivo com telas.
“Em salas de 25 alunos, no 4º ano, a maioria consegue só identificar as letras, mas não as palavras. São diferentes explicações: algumas são neurodivergentes, mas nunca tiveram um diagnóstico. Outras não têm nenhum livro em casa”, conta a professora Rebeca Café, que trabalha em uma escola pública de São Paulo.
“Sinto que as tecnologias trazem tantas facilidades para as crianças que deixam o cérebro delas mais ‘preguiçoso’. Elas conseguem digitar, mas não sabem escrever a lápis.”
A própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em relatório divulgado em julho de 2023, alerta que os celulares estão prejudicando o foco dos estudantes.
Outro estudo, feito pela Universidade de Stavanger, na Noruega, em 2012, diz que apenas "scrollar" um site, em vez de virar a página de um livro físico, atrapalha a memória e prejudica a interpretação.
E a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostrou que esse excesso de tecnologia leva a prejuízos na comunicação, problemas no sono e atrasos no desenvolvimento cognitivo.
📙O que fazer para estimular a fluência?
Crianças devem ser estimuladas a ler
Pexels/Cottonbro Studio
Investir na formação de professores
Américo Amorim reforça a importância melhorar os cursos de licenciatura.
“Recebo muitos relatos de professores que se frustram porque não aprenderam adequadamente sobre alfabetização na faculdade. Alguns só vão conhecer as brincadeiras com sílabas na pós-graduação. Deveríamos investir em uma interdisciplinaridade maior das humanidades: fonoaudiologia, educação e psicologia precisam caminhar juntas”, diz.
Rebeca confirma que, no caso dela, foi preciso buscar outros recursos de formação por conta própria.
“Não se aprende direito a alfabetizar na universidade. A gente precisa procurar especialização – e, em geral, se não tiver poder aquisitivo, não vai receber nenhum estímulo financeiro para ajudar”, relata.
🥁Propiciar atividades lúdicas e repetidas
Se você não for advogado, vai ter um pouco de dificuldade para ler aqueles textos muito técnicos, cheios de “juridiquês”, certo? Ou, se não for religioso, talvez “empaque” em um trecho da Bíblia.
São exemplos para que você perceba como a familiaridade com determinado gênero textual pode nos ajudar a compreendê-lo mais facilmente.
“Se a criança já viu muitas vezes a estrutura de ‘era uma vez uma princesa que vivia em um castelo’, ela vai se apropriar disso. Quanto mais vezes ela vir uma palavra, mais rapidamente irá reconhecê-la”, esclarece Isabel Frade.
Não significa, claro, que os alunos devam fazer exercícios exaustivos e tediosos de repetição – tudo deve ser lúdico.
Por exemplo: o docente pode escolher uma história para aquela semana de aula. Em alguns momentos, quando for ler em voz alta um trechinho, pode retomar o que estava no começo da narrativa.
“Se forem 5 ou 10 minutos por dia de repetição, de 3 a 4 vezes por semana, já veremos os benefícios da repetição”, afirma Amorim. “Pode ler um parágrafo na 2ª feira e fazer uma roda de conversa, depois voltar ao mesmo trecho na 3ª feira e montar outra atividade divertida. Os circuitos neurais vão criando essa automatização da leitura."
😀Preocupar-se sempre com a entonação
Os professores (e os familiares, se puderem) devem sempre se atentar à entonação da leitura: pausas em pontos-finais e vírgulas, tom de pergunta quando há interrogação…
Atividades de teatrinho, por exemplo, ajudam as crianças a prestar atenção no conteúdo e detectar a “emoção” correta do que estão lendo.
🗨️Sempre monitorar a interpretação de texto
Um exercício comum, na fase inicial da alfabetização, é ir aumentando a frase aos poucos, sempre lendo tudo do começo.
“O gato
O gato tomou
O gato tomou muito
O gato tomou muito leite.”
Se a criança estiver com dificuldade na fluência, vai terminar de ler a última frase sem saber responder quem tomou o leite.
Cabe ao professor tentar descobrir se o problema é a baixa velocidade de leitura (que faz com que o aluno esqueça o que estava no começo da linha) ou a falta de vocabulário/repertório (ele pode nunca ter um visto um gato tomando leite, por exemplo, ou não saber o que uma das palavras significa).
📈Traçar diagnósticos constantes
Uma forma simples de avaliar a velocidade de leitura é ligar um cronômetro e contar quantas palavras o aluno lê corretamente por minuto.
No estudo citado mais acima, os estudantes fluentes do 4º ano, em escolas particulares, conseguiram ler 89 termos nesse tempo, e os avançados, 104. Na mesma faixa etária, uma criança iniciante da escola pública decifrou apenas 27 vocábulos.
É claro que não é viável fazer avaliações individuais diariamente, considerando o tempo que cada uma toma e o tamanho das turmas. Mas, com uma frequência bimestral, por exemplo, torna-se mais fácil detectar quais alunos precisam de reforço.
E importante: leituras em voz alta durante as aulas sempre darão pistas sobre o estágio em que a turma se encontra na alfabetização. As avaliações diagnósticas são instrumentos para nortear a dinâmica e o conteúdo do que será trabalhado em sala.
“Eu monto grupos de quatro alunos misturando, em cada um, crianças fluentes e crianças que estão ‘silabando’. Vejo muitos resultados, porque uma colabora com a outra. Quem termina primeiro fica ajudando os demais”, conta a professora Raquel.
👨‍👨‍👦‍👦Em casa, os pais podem ajudar?
Sim! Mesmo que você também tenha dificuldades em leitura, pode pedir dicas para a escola de como auxiliar a criança: um jogo educativo feito em casa, por exemplo, tem baixo custo e proporciona a todos um contato prazeroso com as palavras.
Veja outras sugestões:
ler em voz alta (pode ser a própria criança contando uma história ao irmãozinho ou aos pais);
explorar outdoors nas ruas;
buscar vídeos da internet que tenham legenda e conteúdo apropriado;
cantar uma música enquanto acompanha a letra escrita;
passear em livrarias e bibliotecas;
deixar livros ao alcance das crianças em casa e estimular o interesse por eles.
Outros vídeos

Uneb oferece mais de 6 mil vagas para vestibular de 2025; saiba como participar

Alunos brasileiros leem muito devagar, não entendem frases e sentem vergonha, alertam professores; uso de telas agrava problema
Interessados em garantir isenção na taxa de inscrição devem fazer solicitação entre esta segunda-feira (9) e terça (10). Provas serão aplicadas nos dias 15 e 16 de dezembro. UNEB abre inscrições para o vestibular de 2025
Estão abertas a partir desta segunda-feira (9) as inscrições para o vestibular da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) 2025, que oferece mais de 6 mil vagas para cursos presenciais e à distância, via sistema Universidade Aberta do Brasil (Uab).
O prazo para realizar o procedimento segue até 7 de outubro. As provas serão aplicadas nos dias 15 e 16 de dezembro. As inscrições podem ser feitas exclusivamente pelo site da Uneb. Na mesma página, é possível ter acesso ao edital, que detalha vagas, provas e documentação exigida, entre outras informações.
Interessados em garantir isenção na taxa de inscrição, que custa R$ 90, devem fazer a solicitação até terça-feira (10). O benefício pode ser concedido para concluintes ou egressos do ensino médio em escolas públicas da Bahia, ou servidores das universidades públicas estaduais e seus dependentes.
LEIA TAMBÉM:
Empresa produtora de resinas termoplásticas abre inscrições para programa de estágio 2025; há vagas para Salvador e Camaçari
Governo divulga 1.624 vagas temporárias para educadores na Bahia; confira oportunidades
Vagas e cursos
Campus da Uneb no bairro do Cabula, em Salvador
Divulgação/Uneb
Os cursos abrangem os departamentos de ciências humanas (direito, história, letras, geografia); educação (ciências sociais, pedagogia, filosofia, psicologia); ciências da vida (enfermagem, fisioterapia, medicina, nutrição); ciências exatas e da terra (engenharia, física, química, sistemas de informação).
Nesta edição do vestibular, a Uneb oferta 6.346 vagas disponíveis em 27 campus (contando os campis avançado de Lauro de Freitas, Jeremoabo e Canudos). Ao todo, serão admitidos mais de 4 mil alunos para aulas presenciais e outros 1.900 em atividades à distância.
Veja lista de cidades com campus da Uneb:
Salvador;
Alagoinhas;
Juazeiro;
Jacobina;
Santo Antônio de Jesus;
Caetité;
Senhor do Bonfim;
Paulo Afonso;
Barreiras;
Teixeira de Freitas;
Serrinha;
Guanambi;
Itaberaba;
Conceição do Coité;
Valença;
Irecê;
Bom Jesus da Lapa;
Eunápolis;
Camaçari;
Brumado;
Ipiaú;
Euclides da Cunha;
Seabra;
Xique-Xique
Veja mais notícias do estado no g1 Bahia.
Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻
c

Alunos brasileiros leem muito devagar, não entendem frases e sentem vergonha, alertam professores; uso de telas agrava problema

Alunos brasileiros leem muito devagar, não entendem frases e sentem vergonha, alertam professores; uso de telas agrava problema
Entenda por que falta de fluência na leitura pode atrapalhar autoestima e desempenho escolar dos estudantes. Problemas na alfabetização: o que é fluência leitora e por que ler devagar é preocupante
Sabe quando a criança está começando a ser alfabetizada e ainda não consegue ler com ritmo? Em voz alta, ela decifra sílaba por sílaba, bem vagarosamente: “A caaaaa-saaaa é boo-nniii-taa.”
É uma etapa natural do processo de aprendizagem. O problema é que, no Brasil, alunos estão chegando ao 4º ou 5º ano ainda com essa dificuldade, alertam acadêmicos, especialistas em educação e professores ouvidos pelo g1.
🚨E por que isso é preocupante? Os estudantes levam tanto tempo para chegar ao final de uma frase que esquecem o que estava escrito no comecinho da sentença. Resultado: não conseguem entender histórias, legendas de filmes ou placas de rua.
Ouça exemplos reais de dois alunos lendo o mesmo texto e perceba a diferença:

"No topo de uma montanha solitária, um lobo chamado Lúcio vivia em sua toca. Ele era conhecido por sua feroz natureza e pela solidão…"
➡️Com o tempo, esses estudantes como o do 1º áudio passam a ter dificuldade também nas outras disciplinas da escola – não conseguem ler e interpretar um enunciado de matemática, história ou ciências – e ficam com vergonha de pedir ajuda, sobretudo na adolescência. É uma "bola de neve".
“Na minha turma [de alunos de 9 anos], muitos ainda estão ‘silabando’. Se peço para explicarem o que acabaram de ler, não sabem responder”, conta Raquel Nascimento, professora da rede pública de Campinas (SP).
Depois da pandemia, com o uso ainda mais frequente de telas [leia mais abaixo], houve uma piora sensível também na questão da concentração, diz a docente. "Eles [alunos] perdem o foco antes do fim da frase. Como que lerão um capítulo inteiro?”
Esses podem ser sinais de problemas na fluência leitora, que considera:
velocidade (quantas palavras por minuto são lidas);
precisão (a criança lê corretamente ou acaba confundindo as sílabas e lendo “lua”, em vez de “rua”?);
e entonação (ela faz um tom de pergunta quando tem interrogação? Não dar a “melodia” correta também atrapalha o entendimento).
Os três fatores, aliados ao vocabulário e ao repertório do aluno, são essenciais para a habilidade de interpretação de texto.
“Ser fluente na leitura significa ver uma palavra e entender o sentido dela rapidamente. É preciso ler com expressividade, demonstrando estar compreendendo a frase”, explica Isabel Frade, presidente emérita da Associação Brasileira de Alfabetização e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
📖Nesta reportagem, você verá:
por que o problema da fluência é maior entre alunos de escolas públicas;
quais as origens dessas dificuldades (uso abusivo de telas, por exemplo é um dos inimigos);
o que fazer na escola e em casa para que a criança leia de forma adequada, na velocidade certa.
📚‘Poço sem fundo’: desempenho dos brasileiros em testes de leitura acende alerta
Nos exames oficiais, tanto brasileiros quanto internacionais, o Brasil vem registrando números preocupantes:
Em 2023, na estreia do país no Pirls (Progress in International Reading Literacy Study), 38% dos estudantes brasileiros do 4º ano do ensino fundamental não dominavam as habilidades básicas de leitura. Só 13% foram classificados, segundo a avaliação, como proficientes. Na 39ª posição entre 43 países, o Brasil ficou atrás de nações pobres, como Azerbaijão e Uzbequistão.
Microdados divulgados em 2023 a partir de dados do Pisa (outro exame internacional) mostraram que, em 2018, o texto mais longo lido por 66,3% dos alunos brasileiros de 15 e 16 anos não passava nem de 10 páginas.
No Ideb 2023 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que considera conhecimentos de matemática e leitura, o país não bateu a meta que era prevista ainda para 2021 nem no 9º ano do fundamental, nem no 3º do ensino médio.
O problema é que nenhuma dessas avaliações consegue mostrar exatamente qual é o ponto mais crítico: os alunos demoram muito para decifrar as sílabas? Falta vocabulário? Por que não estão entendendo nem conteúdos simples?
➡️Estudo detecta que alunos da rede pública leem mais devagar
Para ter mais pistas sobre a fluência leitora dos alunos brasileiros, pesquisadores de instituições americanas (Universidade Johns Hopkins, Universidade Virgínia, Universidade de Nova York e Quality Leadership) e brasileiras (Fundação Getúlio Vargas, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Instituto Ler+ e Escribo) organizaram o seguinte experimento:
gravaram mais de 14 mil alunos (do 2º ao 5º ano, em diferentes estados) lendo textos de 156 palavras (aproximadamente 13 linhas);
contaram quantas palavras eles liam por minuto, avaliaram se estavam dando a entonação correta às frases e testaram se cada um entendeu o conteúdo.
Os resultados do estudo científico, ainda em fase de revisão de pares, mostraram uma diferença significativa: enquanto os alunos de escolas públicas leram, em média, 72 palavras corretas por minuto, os de particulares atingiram a marca de 94.
“O Pisa, por exemplo, não avalia a fluência dos alunos, mas vimos que está tudo interligado: em geral, quando melhoro 10 pontos na fluência, subo 6 pontos na compreensão. Sabemos que investir na fluência não vai ser a salvação, porque é necessário trabalhar vocabulário e conhecimento de mundo, mas já seria uma grande ajuda”, afirma Américo Amorim, pesquisador afiliado da Universidade de Nova York.
Um elemento está associado ao outro: quanto mais a criança ler, mais palavras novas ela conhecerá, declara ao g1 Nuno Crato, economista e ex-ministro da Educação em Portugal.
“Saber ler bem é uma porta para o mundo. Nas nossas conversas à mesa ou no ônibus, temos diálogos limitados: ‘chega aí!”, ‘amanhã, falamos!’. A leitura é que vai nos apresentar a textos mais complexos que dão maior conhecimento do mundo”, diz. “A fluência é um passo essencial para isso.”
🧩Por que os alunos estão com tanta dificuldade?
Biblioteca da Escola Oscar de Castro, que recebe alunos do ensino infantil ao fundamental em tempo integral, em João Pessoa
Prefeitura de João Pessoa/Divulgação
Segundo os especialistas ouvidos pelo g1, os fatores determinantes são:
menor acesso a livros por famílias de baixa renda;
formação de professores, em geral, defasada, com cursos de pedagogia que não abordam a alfabetização em profundidade;
falta de atividades lúdicas que explorem relações fonêmicas ainda na educação infantil;
ausência de hábito de leitura por parte das pessoas que convivem com a criança;
período prolongado de fechamento das escolas durante a pandemia;
contato excessivo com telas.
“Em salas de 25 alunos, no 4º ano, a maioria consegue só identificar as letras, mas não as palavras. São diferentes explicações: algumas são neurodivergentes, mas nunca tiveram um diagnóstico. Outras não têm nenhum livro em casa”, conta a professora Rebeca Café, que trabalha em uma escola pública de São Paulo.
“Sinto que as tecnologias trazem tantas facilidades para as crianças que deixam o cérebro delas mais ‘preguiçoso’. Elas conseguem digitar, mas não sabem escrever a lápis.”
A própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em relatório divulgado em julho de 2023, alerta que os celulares estão prejudicando o foco dos estudantes.
Outro estudo, feito pela Universidade de Stavanger, na Noruega, em 2012, diz que apenas "scrollar" um site, em vez de virar a página de um livro físico, atrapalha a memória e prejudica a interpretação.
E a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostrou que esse excesso de tecnologia leva a prejuízos na comunicação, problemas no sono e atrasos no desenvolvimento cognitivo.
📙O que fazer para estimular a fluência?
Crianças devem ser estimuladas a ler
Pexels/Cottonbro Studio
Investir na formação de professores
Américo Amorim reforça a importância melhorar os cursos de licenciatura.
“Recebo muitos relatos de professores que se frustram porque não aprenderam adequadamente sobre alfabetização na faculdade. Alguns só vão conhecer as brincadeiras com sílabas na pós-graduação. Deveríamos investir em uma interdisciplinaridade maior das humanidades: fonoaudiologia, educação e psicologia precisam caminhar juntas”, diz.
Rebeca confirma que, no caso dela, foi preciso buscar outros recursos de formação por conta própria.
“Não se aprende direito a alfabetizar na universidade. A gente precisa procurar especialização – e, em geral, se não tiver poder aquisitivo, não vai receber nenhum estímulo financeiro para ajudar”, relata.
🥁Propiciar atividades lúdicas e repetidas
Se você não for advogado, vai ter um pouco de dificuldade para ler aqueles textos muito técnicos, cheios de “juridiquês”, certo? Ou, se não for religioso, talvez “empaque” em um trecho da Bíblia.
São exemplos para que você perceba como a familiaridade com determinado gênero textual pode nos ajudar a compreendê-lo mais facilmente.
“Se a criança já viu muitas vezes a estrutura de ‘era uma vez uma princesa que vivia em um castelo’, ela vai se apropriar disso. Quanto mais vezes ela vir uma palavra, mais rapidamente irá reconhecê-la”, esclarece Isabel Frade.
Não significa, claro, que os alunos devam fazer exercícios exaustivos e tediosos de repetição – tudo deve ser lúdico.
Por exemplo: o docente pode escolher uma história para aquela semana de aula. Em alguns momentos, quando for ler em voz alta um trechinho, pode retomar o que estava no começo da narrativa.
“Se forem 5 ou 10 minutos por dia de repetição, de 3 a 4 vezes por semana, já veremos os benefícios da repetição”, afirma Amorim. “Pode ler um parágrafo na 2ª feira e fazer uma roda de conversa, depois voltar ao mesmo trecho na 3ª feira e montar outra atividade divertida. Os circuitos neurais vão criando essa automatização da leitura."
😀Preocupar-se sempre com a entonação
Os professores (e os familiares, se puderem) devem sempre se atentar à entonação da leitura: pausas em pontos-finais e vírgulas, tom de pergunta quando há interrogação…
Atividades de teatrinho, por exemplo, ajudam as crianças a prestar atenção no conteúdo e detectar a “emoção” correta do que estão lendo.
🗨️Sempre monitorar a interpretação de texto
Um exercício comum, na fase inicial da alfabetização, é ir aumentando a frase aos poucos, sempre lendo tudo do começo.
“O gato
O gato tomou
O gato tomou muito
O gato tomou muito leite.”
Se a criança estiver com dificuldade na fluência, vai terminar de ler a última frase sem saber responder quem tomou o leite.
Cabe ao professor tentar descobrir se o problema é a baixa velocidade de leitura (que faz com que o aluno esqueça o que estava no começo da linha) ou a falta de vocabulário/repertório (ele pode nunca ter um visto um gato tomando leite, por exemplo, ou não saber o que uma das palavras significa).
📈Traçar diagnósticos constantes
Uma forma simples de avaliar a velocidade de leitura é ligar um cronômetro e contar quantas palavras o aluno lê corretamente por minuto.
No estudo citado mais acima, os estudantes fluentes do 4º ano, em escolas particulares, conseguiram ler 89 termos nesse tempo, e os avançados, 104. Na mesma faixa etária, uma criança iniciante da escola pública decifrou apenas 27 vocábulos.
É claro que não é viável fazer avaliações individuais diariamente, considerando o tempo que cada uma toma e o tamanho das turmas. Mas, com uma frequência bimestral, por exemplo, torna-se mais fácil detectar quais alunos precisam de reforço.
E importante: leituras em voz alta durante as aulas sempre darão pistas sobre o estágio em que a turma se encontra na alfabetização. As avaliações diagnósticas são instrumentos para nortear a dinâmica e o conteúdo do que será trabalhado em sala.
“Eu monto grupos de quatro alunos misturando, em cada um, crianças fluentes e crianças que estão ‘silabando’. Vejo muitos resultados, porque uma colabora com a outra. Quem termina primeiro fica ajudando os demais”, conta a professora Raquel.
👨‍👨‍👦‍👦Em casa, os pais podem ajudar?
Sim! Mesmo que você também tenha dificuldades em leitura, pode pedir dicas para a escola de como auxiliar a criança: um jogo educativo feito em casa, por exemplo, tem baixo custo e proporciona a todos um contato prazeroso com as palavras.
Veja outras sugestões:
ler em voz alta (pode ser a própria criança contando uma história ao irmãozinho ou aos pais);
explorar outdoors nas ruas;
buscar vídeos da internet que tenham legenda e conteúdo apropriado;
cantar uma música enquanto acompanha a letra escrita;
passear em livrarias e bibliotecas;
deixar livros ao alcance das crianças em casa e estimular o interesse por eles.
Outros vídeos