Caso Belorizontina: como distinguir uma intoxicação alimentar comum de algo mais grave?

Entenda como o estresse prejudica o coração
Se surgirem quaisquer sintomas é importante procurar um serviço de saúde para fazer uma avaliação do quadro. Apurações iniciais de autoridades de saúde apontam a cerveja Belorizontina como provável origem de síndrome que matou duas pessoas
Divulgação/Backer Cervejaria via BBC
Os relatos apontam que os primeiros sintomas começaram com dores abdominais, náuseas e vômitos. Eles poderiam ser facilmente associados a uma típica intoxicação alimentar entre alguns moradores de Minas Gerais. No entanto, trata-se de uma grave intoxicação que pode ter levado à síndrome nefroneural, caracterizada por sintomas como insuficiência renal e alterações neurológicas como paralisia da face e problemas na visão.
Ministério da Agricultura encontra água contaminada com dietilenoglicol na fábrica da Backer
Diretora de marketing da Backer: 'Não bebam a Belorizontina, qualquer que seja o lote'
Até o momento, existe a suspeita de que 17 pessoas — 16 homens e uma mulher — possam ter desenvolvido a síndrome. Desses casos, quatro foram confirmados — duas dessas pessoas morreram — e os outros estão sendo analisados.
As primeiras notificações sobre a síndrome ocorreram em 30 de dezembro passado, segundo a Secretaria de Saúde de Minas Gerais. Na data, foi relatado o caso de uma paciente com quadro de insuficiência renal aguda e alterações neurológicas. No dia seguinte, houve uma nova notificação sobre a enfermidade, até então desconhecida. A partir de então, logo surgiram outros casos suspeitos.
Depois das primeiras notificações, diversos exames foram solicitados e excluíram mazelas como arboviroses, febres hemorrágicas (febre amarela, hantavirose, leptospirose e riquetisioses), infecções bacterianas e fúngicas sistêmicas. O diagnóstico da síndrome veio dias depois dos primeiros registros.
As apurações iniciais feitas por equipes da Secretaria de Saúde de Minas Gerais e do Ministério da Saúde apontam que os pacientes tiveram problemas de saúde após consumir a cerveja Belorizontina, da Backer. Os sintomas apontaram intoxicação por dietilenoglicol, um solvente que é utilizado, por exemplo, como aditivo em radiadores.
Na tarde desta quarta-feira (15), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informou que análises apontaram que a água utilizada pela Backer na fabricação das cervejas estava contaminada – ao menos sete lotes, seis da Belorizontina e um de outra marca da empresa, a Capixaba, foram afetados.
O levantamento da pasta apontou que em quatro dos lotes havia, além do dietilenoglicol, a substância monoetilenoglicol, ou etilenoglicol – solvente usado em formulações de fluídos hidráulicos resistentes ao fogo. A principal suspeita é de que as substâncias levaram a quadros de síndrome nefroneural.
Especialistas consultados pela BBC News Brasil explicam que a síndrome, de fato, pode levar a quadros graves e até mesmo à morte.
Para tentar reduzir os danos, o ideal é que a doença seja descoberta cedo. Mas, afinal, como diferenciar uma intoxicação alimentar comum de algo mais grave?
Segundo especialistas, intoxicação alimentar comum passa em algumas horas
Getty images via BBC
Intoxicação
Há algumas características que podem mostrar uma típica intoxicação alimentar.
"Nesses casos, são algumas horas, entre três ou seis, em que a pessoa pode passar mal. É uma forma de o organismo se livrar daquilo que lhe faz mal, por meio de vômito ou diarreia", explica o médico toxicologista Eduardo Mello De Capitani, do Centro de Informações e Assistência Toxicológicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Capitani ressalta que é importante buscar ajuda médica se o paciente passar mal repetidas vezes. "É bom procurar um serviço de saúde para fazer uma avaliação e também para a pessoa não ficar desidratada. Principalmente quando a pessoa tem um sintoma como febre, é fundamental procurar ajuda médica", diz.
"Mas às vezes é apenas um caso em que a pessoa comeu algo que lhe fez mal. É uma situação que vai ser resolvida após ela vomitar e se hidratar corretamente", completa.
No caso específico da cervejaria, especialistas apontam que foi possível perceber que não se tratava de uma intoxicação alimentar simples, principalmente, quando apareceram sintomas como insuficiência renal grave — que pode aparecer em até 72 horas em casos da síndrome — e alterações neurológicas.
"Nesses casos como o de Minas, é possível notar problemas além do quadro gastrointestinal, habitual em casos de intoxicação alimentar. A síndrome nefroneural traz, junto com problemas no aparelho digestivo, dificuldades no sistema nervoso central e periférico, além da insuficiência renal", afirma o infectologista Rogério Valls de Souza, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
"No caso da intoxicação alimentar, como é popularmente conhecida, a infecção é causada por alguma bactéria. Mas no caso da intoxicação da cerveja, trata-se de substâncias químicas que não deveriam estar naquele ambiente ou alimento e não poderiam ser consumidos por seres humanos", diz Capitani.
O toxicologista lembra que pode ser difícil diagnosticar rapidamente casos de síndrome nefroneural.
"Os sintomas específicos da síndrome podem demorar a aparecer. O mal-estar pode, por exemplo, ser confundido com embriaguez. Pode ser difícil para o médico, a princípio, diferenciar. São quadros que podem ter diagnósticos difíceis, por isso é preciso uma avaliação mais aprofundada", declara Capitani.
Os médicos apontam que quanto antes houver o diagnóstico e o início do tratamento, mais chances de que a síndrome não traga graves consequências aos pacientes.
"Se demorar muito para haver uma intervenção, pode causar quadro de insuficiência renal prolongado, caso neurológico com sequela ou cegueira", diz Souza.
Polícia Civil de Minas Gerais encontrou dietilenoglicol em amostras da cerveja
Divulgação/Polícia Civil de MG via BBC
Cervejas recolhidas
Após o início das suspeitas sobre a contaminação das cervejas, o Ministério da Agricultura determinou o recolhimento de todos os produtos da Backer e a suspensão da fabricação das cervejas após apontar que outras marcas da empresa também podem estar contaminadas.
Uma força-tarefa foi criada para apurar o caso. Os processos de fabricação das bebidas estão sendo investigados. O ministério informou que há três hipóteses: sabotagem, vazamento ou uso inadequado das moléculas de monoetilenoglicol no processo de refrigeração do sistema de fabricação.
Ainda segundo a pasta, a fiscalização apontou um uso elevado de monoetilenoglicol no sistema de refrigeração da cervejaria — a substância é muito utilizada como anticongelante.
O levantamento mostrou que 15 toneladas do insumo foram comprados pela empresa desde 2018, com picos em novembro e dezembro passado. "Como a refrigeração é um sistema fechado, em princípio, não haveria justificativa para essa aquisição em grande escala", informou a pasta.
A Backer pediu na terça-feira (14), por meio de seus representantes, que os clientes não consumam as cervejas Belorizontina e Capixaba até que o caso seja apurado.
A empresa informou ainda que não sabe a origem das substâncias encontradas nos produtos e disse que aguarda as apurações do caso.
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Água usada na cervejaria Backer estava contaminada, diz Ministério da Agricultura

Nova técnica ‘devolve’ rosto a brasileira sobrevivente de câncer

Entenda como o estresse prejudica o coração
Denise perdeu um olho e parte da mandíbula por causa de um tumor facial, mas agora pode sorrir novamente. Nova técnica 'devolve' rosto a brasileira sobrevivente de câncer
BBC
Denise Vicentin perdeu um olho e parte da mandíbula por causa de um tumor facial que desenvolveu há 30 anos.
Veja o vídeo.
Graças a uma prótese de baixo custo, porém, ela voltou a sorrir. Cientistas brasileiros, da Universidade Paulista, usaram smartphones e impressoras 3D para produzir sua prótese facial de silicone.
Eles dizem que o método diminui os custos e corta pela metade o tempo de produção.
Agora, Denise quer voltar para sua vida normal.
“Já cheguei a lugares como um boliche e sentia olhares repugnantes, e uma pessoa acabou se retirando do local”, diz ela.
“Mas hoje eu posso dizer o quão melhor é andar na rua. Não tem comparação.”
O próximo passo é um tratamento para restaurar sua mandíbula e seu lábio superior.
Nova técnica 'devolve' rosto a brasileira sobrevivente de câncer
BBC
VÍDEOS SOBRE TRANSPLANTES
Trinta e cinco mil pessoas esperam por transplante de órgãos no Brasil
Gêmeos que fizeram transplante de coração se reencontram
Jovem com leucemia consegue doador, mas falta de leitos impede transplante

Como o bullying no trabalho pode afetar a sua saúde

Entenda como o estresse prejudica o coração
Novas descobertas sugerem que sofrer bullying no trabalho não apenas nos afeta emocionalmente, mas também pode ter sérias consequências para nossa saúde. Dados mostraram que humilhações no trabalho têm impacto também no lado físico
Getty Images/BBC
Em 2015, pouco depois de Soma Ghosh começar um novo emprego como consultora de carreiras, começou a sentir medo todos os dias no escritório.
Um colega criticava constantemente seu desempenho, culpando-a pelos erros dos outros e a humilhando. O bullying constante logo começou a pesar sobre ela.
Ghosh desenvolveu ansiedade e depressão, mas também houve efeitos em sua saúde física, incluindo problemas para dormir, sintomas recorrentes de gripes e resfriados, o surgimento de um caroço na axila e dores nos dedos, mãos e ombros, causadas pela pressão de trabalhar horas extras sem os intervalos adequados.
Pesquisadores sabem há muito tempo quais são os efeitos adversos à saúde mental do bullying no local de trabalho. Mas apenas recentemente — graças a estudos que utilizam os registros de saúde pública dos países escandinavos — eles começaram a fazer descobertas que indicam que esse bullying também pode ter efeitos sérios na saúde física.
Perigo para o coração
Um artigo de 2018, escrito por um grupo liderado por Tianwei Xu, da Universidade de Copenhague, analisou dados de quase 80 mil trabalhadores na Suécia e na Dinamarca.
Os pesquisadores acessaram relatórios para averiguar se os participantes sofreram bullying no trabalho e, em seguida, procuraram registros de saúde para ver se haviam desenvolvido alguma doença cardiovascular nos quatro anos seguintes.
Um padrão claro emergiu dos dados daqueles milhares de homens e mulheres. Os 8% a 13% dos entrevistados que disseram que sofreram bullying tiveram 1,59 vezes mais chances do que os outros participantes de desenvolver uma doença cardíaca ou ter um derrame.
A incidência de problemas relacionados ao coração aumentou em 59% nos que foram vítimas de bullying, em comparação com os que não haviam sido intimidados.
O coração não é a única parte do corpo que pode ser afetada pelo assédio moral no local de trabalho
Headway/Unsplash
Isso se manteve mesmo depois que os pesquisadores controlaram fatores que poderiam gerar confusão, como índice de massa corporal e tabagismo. Eles também descobriram uma relação dose-resposta: quanto mais os participantes disseram que haviam sido intimidados, maior o risco de desenvolver problemas cardíacos.
Ao traduzir suas descobertas para toda a população, Xu explica que, se houver um nexo de causalidade entre o assédio moral no trabalho e as doenças cardíacas, "a remoção do assédio moral no local de trabalho significaria que poderíamos evitar 5% de todos os casos de doenças cardiovasculares". Embora o estudo não prove isso, seria uma perspectiva impressionante.
O coração não é a única parte do corpo que pode ser afetada pelo assédio moral no local de trabalho. Em um estudo semelhante com participantes da Suécia, Dinamarca e Finlândia, os pesquisadores descobriram que um histórico recente de intimidação no trabalho estava associado a um risco 1,46 vezes maior de desenvolver diabetes tipo 2 na década seguinte.
É verdade que esses estudos observacionais não podem provar totalmente que o assédio moral no local de trabalho causa problemas cardíacos e diabetes. É possível, por exemplo, que vulnerabilidades preexistentes aumentem o risco de uma pessoa sofrer bullying e o risco de desenvolver problemas de saúde mais tarde.
No entanto, Xu e seus colegas acreditam que existem mecanismos plausíveis que poderiam explicar como o bullying leva diretamente a doenças físicas. Isso inclui níveis altos de hormônios do estresse e a reação de vítimas de bullying, que podem adotar comportamentos prejudiciais, como comer em excesso ou beber muito álcool.
Os pesquisadores planejam explorar essas possibilidades em trabalhos futuros.
Por enquanto, porém, Xu diz que "os empregadores devem estar cientes das consequências adversas para seus funcionários ao sofrerem bullying no local de trabalho".
Ela aconselha as vítimas de bullying a "procurar ajuda o mais rápido possível".
Consequências para testemunhas
Não é apenas para o bem da vítima que os empregadores criam programas e sistemas para impedir o assédio moral no local de trabalho. Os funcionários que testemunham bullying com outros colegas também podem sofrer efeitos adversos na saúde.
Pesquisadores do Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffield descobriram que, mesmo sem sofrer bullying direto, a equipe que observou o comportamento sofreu um declínio no seu bem-estar relacionado ao trabalho, se sentindo mais deprimida.
Pesquisas anteriores da Singapore Management University também concluíram que a estar em contato, mesmo que indireto, com o assédio moral afeta a saúde mental, o que, por sua vez, afeta sua saúde física.
Outra pesquisa da Universidade de Sheffield também mostra que testemunhar o bullying pode prejudicar funcionários que não têm apoio social ou que têm tendência ao pessimismo.
O professor Jeremy Dawson, coautor do estudo, aconselha que, se você observou o assédio moral no local de trabalho, deve falar a respeito.
"Isso pode ser com a vítima (por exemplo, perguntando como ela está) ou com outras pessoas (e as conversas podem ser sobre a formação de um plano para abordar o problema ou apenas uma troca de experiências)", ele escreve.
Ele também incentiva os funcionários a denunciar o bullying de todas as maneiras possíveis — por meio de canais oficiais, chefes ou outros colegas de confiança.
Dados os efeitos aparentemente amplos e prejudiciais do assédio moral no local de trabalho — tanto para vítimas quanto para testemunhas —, é mais importante do que nunca criar uma cultura colaborativa na qual o assédio moral seja eliminado antes de se enraizar.
Soma Ghosh, que desde então estabeleceu seu próprio negócio como consultora de carreira para mulheres, diz que os empregadores deveriam fazer mais para proteger seus funcionários do assédio moral no local de trabalho e que, se soubesse dessas descobertas, teria largado o emprego ainda mais cedo.
Ela incentiva qualquer pessoa que acredite estar passando por problemas de saúde mental ou física como resultado do bullying a falar com alguém, como um clínico geral ou um psicólogo.
"Não é algo que vai desaparecer", alerta ela.
Este artigo não foi escrito por um funcionário da BBC. Seu autor é o dr. Christian Jarrett, editor sênior da revista Aeon. Seu próximo livro, sobre mudança de personalidade, será publicado em 2021. Veja a versão original aqui, no site da BBC Worklife.
Psicóloga orienta pais, alunos e professores a lidarem com o bullying

Cesáreas são benéficas para mãe e para o bebê?

Entenda como o estresse prejudica o coração
Em muitos países industrializados, taxa de cesarianas aumentou drasticamente nos últimos 20 anos. Brasil ocupa o segundo lugar do mundo na frequência desse tipo de parto. SOS SUS: Maternidade
Gestantes devem estar cientes dos riscos e problemas. Na maior parte da Europa e Ásia, um quarto dos bebês nasce por cesariana. Na Alemanha, essa proporção é de um terço. Já o Brasil é o segundo país do mundo em número de cesáreas, com um percentual acima de 50%.
Como combater a epidemia de cesáreas no Brasil?
Bem Estar #7: Cesarianas e saúde da mulher
Quais são os riscos da cesariana para a criança?
Um estudo da operadora alemã de planos de saúde Barmer mostrou que, na Alemanha, muito poucas mulheres optam pela cesariana por esse parto ser mais fácil de planejar e se encaixar melhor no cronograma. A maioria está preocupada com o bem-estar da criança que vai nascer.
Elas dizem querer poupar o bebê do estresse de um parto normal. Mas as contrações e o processo do parto são até mesmo bons para o novo terráqueo, ajudando o bebê a adaptar seu metabolismo. No útero, os pulmões da criança estão cheios de água. Esse líquido é pressionado apenas durante o nascimento, e os pulmões passam a respirar.
A cesariana impede esse processo gradual, surpreendendo praticamente a criança com o nascimento e, em certo sentido, assustando-a. Por isso que os bebês costumam ter problemas após uma cesárea e precisam receber oxigênio ou até mesmo ir para a UTI. No longo prazo, o risco de asma, diabetes, alergias e outras doenças autoimunes aumenta em crianças nascidas por partos cesarianos.
Que riscos corre a mãe após uma cesariana?
A cesárea planejada do primeiro filho não é mais um problema em países com um bom sistema de saúde. As dificuldades surgem, geralmente, apenas após a cesariana. O risco de um deslocamento perigoso da placenta aumenta a cada intervenção desse tipo. Posteriormente pode haver também mais sangramentos, tromboses e aderências.
A cada cesariana, o parto se torna mais perigoso para a mãe. Isso é particularmente problemático em regiões onde as mulheres tradicionalmente têm muitos filhos.
Uma vez cesárea, sempre cesárea?
Mesmo que a gravidez transcorra sem dificuldades, problemas podem surgir após uma cesariana. A cicatriz pode se abrir devido aos esforços expulsivos durante um futuro parto normal. No entanto isso raramente acontece. Passados mais de dois anos entre os nascimentos, o risco é menor que 1%.
Após uma cesariana, um segundo parto normal é possível, desde que tudo esteja bem com a criança e a mãe.
Também gêmeos e crianças em apresentação pélvica (nádegas saindo primeiro) podem nascer por parto vaginal. O mais importante é uma boa equipe de médicos e os cuidados de uma parteira experiente.
A indução do parto é um problema?
Hoje as mulheres dispõem de menos tempo para o parto do que no passado. Sem um motivo válido elas frequentemente recebem uma infusão para provocar contrações imediatamente após a admissão no hospital. Se o colo do útero não dilata pelo menos um centímetro por hora, muitos obstetras ficam nervosos. O parto é então acelerado.
Além disso, o número de parteiras caiu drasticamente, pelo menos na Alemanha. Embora exista uma proporção vinculativa entre o número de enfermeiros e pacientes, no caso das parteiras, cada hospital pode decidir quantas contratar. A atenção individual que dá à mulher uma sensação de segurança durante o parto está se tornando cada vez mais rara.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também reconheceu essa tendência e está recomendando, em suas novas diretrizes para o parto, menos intervenções e melhores cuidados.
Um parto, caso seja traumático, pode vir a causar TEPT na mãe e até mesmo no pai da criança
Janko Ferlic/Unsplash
As maternidades têm vantagens financeiras com uma cesariana?
Na maioria dos países, as cesáreas custam mais do que os partos normais. Também na Alemanha, um médico pode cobrar cerca de mil euros a mais por uma cesariana do que por um parto vaginal. Mas, como intervenção também custa mais ao hospital, no fim das contas não vale a pena.
Por outro lado, as cesarianas são mais fáceis de planejar e, portanto, mais eficientes. Esse é um fator importante para os gestores de um hospital, que visam, acima de tudo, obter lucro.
Como na Alemanha a obstetrícia é, de forma geral, mal remunerada, rendendo muito pouco aos hospitais, quase metade das maternidades do país foi fechada desde os anos 1990. E essa tendência continua, apesar do aumento das taxas de natalidade.
Em quais países se realizam muitas cesarianas?
O Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de cesáreas, com uma taxa de acima de 55% do total de partos. Na América Latina, região com maior taxa de intervenções (44,3%) do mundo, o país perde somente para a República Dominicana (58,1%), segundo estudo de 2018.
Por outro lado, em muitos países da África Subsaariana essa taxa é extremamente baixa. Os Estados com os menores números de cesáreas são o Níger, Chade, Etiópia, Burkina Faso e Madagascar, abarcando menos de 2% do total de partos.
Qual taxa de cesáreas é "boa"?
A OMS recomenda uma taxa de cesáreas entre 10% e 15%. Em média, isso corresponde ao número de nascimentos em que há complicações que uma cesariana pode eliminar, salvando vidas.
Um estudo da Organização Mundial da Saúde comparou como bebês vêm ao mundo em 137 países. A pesquisa mostrou que apenas 14 dos países analisados atendem às diretrizes da OMS. Entre eles estão, por exemplo, Ucrânia, Namíbia, Guatemala e Arábia Saudita. Em todos os demais países, o bisturi é usado ou com frequência excessiva (por exemplo, na Alemanha, no Egito, na Turquia, nos EUA e no Brasil) ou insuficiente.
Uma das constatações mais dramáticas da pesquisa é que os países com as maiores taxas de natalidade apresentam os menores números de cesarianas. Isso se deve, principalmente, às condições financeiras: os Estados com as menores taxas de cesáreas também estão entre os mais pobres do mundo.
Organização Mundial da Saúde toma medidas para incentivar o parto natural

Entenda como o estresse prejudica o coração

Entenda como o estresse prejudica o coração
Liberação de hormônios pode alterar a pressão arterial e causar arritmias; saiba como prevenir Situações de estresse são naturais na rotina e precisam ser gerenciadas com prática de exercícios e alimentação adequada
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Você se considera uma pessoa estressada? Sai do trabalho de cabeça quente, não consegue dormir pensando nas tarefas do dia seguinte, costuma bater boca no churrasco da família? Mesmo que passar por essas situações seja normal e faça parte da vida, encarar os desafios de forma mais tranquila faz bem não só para a cabeça, mas também para o coração. Literalmente.
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Entenda diferenças entre burnout, estresse e depressão
Estresse: como funciona, sintomas e soluções
O estresse libera no corpo hormônios como adrenalina e noradrenalina, substâncias vasoconstritoras. Como diz o nome, elas constringem, isto é, estreitam os vasos, elevando a pressão arterial e levando a uma alta na frequência cardíaca.
Esse aumento pode também ser caracterizado por arritmias, batimentos descoordenados do coração, especialmente em quem já tem algum tipo de problema cardíaco.
Mas o estresse, por si só, não é o vilão. Ele é uma reação natural (e, em alguns casos, benéfica) a uma situação de risco.
“É uma necessidade de autoproteção da pessoa. Se você tentar, por exemplo, atravessar a Avenida Paulista e não tiver o mínimo de estresse, a chance de ser atropelado é enorme. É natural que, frente às mais diversas situações, ocorra algum nível de estresse saudável. O problema é quando o estímulo é permanente, passa do limite e começa a gerar dano à sua atividade normal”, explica o cardiologista, clínico geral do HCor e médico assistente da Unifesp, Abrão Cury.
Para não chegar a esse extremo, os médicos recomendam uma receita clássica: combinar uma alimentação saudável à prática regular de exercícios físicos.
“Um fator que diminui muito o estresse é a liberação de endorfina, que neutraliza a adrenalina. E a endorfina é secretada em exercícios mais intensos”, explica o cardiologista e coordenador da Diretriz de Prevenção 2019 da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Dalton Precoma.
Precoma esclarece que existe uma diferença entre atividade e exercício físico. “Uma caminhada até o trabalho, por exemplo, é uma atividade física. É útil, mas não caracteriza um exercício físico, que acontece quando você passa a frequentar uma praça, uma academia, uma aula com regularidade, como natação, caminhada ou bicicleta. O ideal é fazer 150 minutos de exercício semanais, divididos de três a cinco vezes por semana”, explica.
Além disso, o convívio social, a manutenção da qualidade do sono e o tratamento de doenças são outros hábitos que contribuem para a redução do estresse. “Sobretudo, deve haver uma mudança de estilo de vida, e o cardiologista deve orientar todos esses fatores”, afirma.
O diretor administrativo da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Pedro Spineti, acrescenta que estratégias de relaxamento e meditação têm mostrado benefícios em redução de níveis de pressão arterial e de arritmias. “Nem sempre a gente precisa medicalizar, mas a gente precisa aprender a lidar melhor com o que os tempos atuais nos impõem”, observa.
Coração partido
Embora seja uma doença mais rara, a síndrome do coração partido (também conhecida como síndrome de Takotsuba ou cardiopatia do estresse) provoca sintomas semelhantes aos de infarto, como dor no peito e falta de ar. Apesar disso, não se caracteriza como um infarto do miocárdio “tradicional”, aquele em que as artérias são entupidas por uma placa de gordura. No caso da síndrome, a artéria coronária sofre um fechamento abrupto e temporário por liberação de enzimas que dilatam o coração.
A síndrome do coração partido pode ocorrer em eventos de alto estresse, como falecimento de um familiar, catástrofes naturais e outras situações de grande choque para o indivíduo. “Do ponto de vista do estresse crônico, o efeito no coração está mais relacionado ao aumento da pressão arterial a longo prazo e aceleração da frequência cardíaca. Na síndrome de Takotsuba, o estresse é agudo e há um aumento das enzimas cardíacas que podem fazer o coração dilatar, mas em geral é uma condição reversível”, explica Spineti.
Se houver sintomas de infarto (dor no peito, falta de ar, fadiga, sensação de cansaço), o ideal é levar o paciente para a emergência mais próxima, pois apenas um cardiologista pode avaliar no cateterismo se se trata de um infarto do miocárdio (com entupimento da artéria) ou de uma condição como a Takotsuba.
VÍDEOS SOBRE ESTRESSE
Matérias de arquivo falam sobre a síndrome do coração partido e o estresse, confira nos vídeos abaixo:
Entenda a síndrome do coração partido
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Saiba quais os alimentos que podem ajudar a controlar os sintomas de estresse e ansiedade