2020 no espaço estará focado em Marte

De volta a Netuno: entenda os próximos passos na exploração do Sistema Solar exterior
Chegou a hora em que a coluna de astronomia passa pelo seu momento de prever o que vem adiante no próximo ano ou até mesmo um pouco além. Vamos então às previsões de assuntos que vão bombar na astronomia e no espaço!
Se 2019 foi o ano da reconquista da Lua, 2020 estará focado em Marte! Como acontece a cada 2 anos, Marte e Terra estarão em posições favoráveis para lançamento de sondas. Essas situações são conhecidas como "máximas aproximações" e fazem com que o tempo de viagem seja o mínimo possível (em torno de 6 meses), mas principalmente o combustível necessário para a viagem seja o mínimo possível também.
Missão CHEOPS
Telescópio espacial CHEOPS
ESA
CHEOPS é a sigla em inglês para Caracterização de Exoplanetas e é a primeira missão da Agência Espacial Europeia (ESA) para estudar planetas fora do nosso Sistema Solar. O satélite carrega um telescópio de 32 cm de diâmetro para observar exoplanetas a partir do método de trânsito planetário, quando o exoplaneta passa na frente da sua estrela causando uma diminuição do seu brilho total. A missão principal é de caracterizar ou melhorar os parâmetros já conhecidos de exoplanetas catalogados, mas também vai ter espaço para procurar novos exoplanetas em paralelo com a missão TESS da NASA. Se tudo correr como o previsto, ela deve durar pelo menos 3 anos e meio.
O jipe Rosalind Franklin
Jipe Rosalind Franklin
ESA
Até pouco tempo atrás, essa missão da ESA era conhecida por jipe ExoMars, mas, numa justa homenagem, foi rebatizada como Rosalind Franklin – uma química inglesa que teve papel fundamental na compreensão da estrutura das moléculas de DNA e RNA entre outras. A missão é uma parceria da ESA com a agência espacial russa Roscosmos na sequência da missão malsucedida Schiaparelli de 2016.
A missão era composta por um módulo de pouso, a Schiaparelli, e um satélite para medir gases na atmosfera de Marte – mas os gases que são minoria em sua composição, como o gás metano. O módulo funcionaria como uma estação meteorológica, mas principalmente testaria os procedimentos de pouso suave em Marte que a antiga União Soviética e a atual Rússia nunca conseguiram dominar. Os procedimentos falharam e a Schiaparelli virou uma cratera preenchida por metal retorcido.
Na missão atual, planejada para voar em julho, haverá também uma base fixa construída pela Roscosmos chamada Kozachok que deve liberar o jipe Rosalind Franklin para percorrer a superfície marciana. A base também deve funcionar como estação meteorológica, mas também deve efetuar estudos no solo ao seu redor. Já o jipe carrega um módulo de pesquisas batizado de Pasteur, em homenagem ao biólogo e microbiologista francês Louis Pasteur que, entre outras façanhas, criou a vacina antirrábica, o processo de pasteurização e atuou intensamente na prevenção de doenças infecciosas.
A homenagem a Pasteur não é à toa. O módulo possui equipamentos destinados justamente a estudar a possibilidade de vida em Marte. Entre outras coisas irá procurar por depósitos subterrâneos de gelo (com capacidade de perfuração e aquisição de amostras) e terá um laboratório para identificação de moléculas orgânicas, que podem denunciar a atividade de vida microbiana, nem que tenha sido em um passado remoto.
Se tudo correr como planejado, a sonda deve alcançar Marte bem no final do ano e nos resta torcer para que dessa vez a sorte dela seja melhor que a da Schiaparelli.
Mars 2020
Jipe Mars 2020
Nasa
A missão Mars 2020 se refere ao irmão gêmeo do jipe Curiosity que atualmente explora Marte. A história dele é bem peculiar. Quando o Curiosity foi lançado, seu nome era Laboratório de Ciências de Marte, ou MSL na sigla em inglês. Só depois ganhou o nome Curiosity. Mas, pelo grande peso do jipe, o seu procedimento de pouso teve de ser inteiramente revisado e um novo e inédito procedimento teve de ser desenvolvido. As etapas de pouso envolviam frenagem aerodinâmica, paraquedas, içamento por um guindaste e uma queda livre de poucos metros. Tudo isso em perfeita sincronia, tudo milimetricamente calculado. Essa etapa da missão ficou conhecida como “7 minutos de terror” de tão apavorante que ela se mostrava.
Ninguém tinha certeza de que tudo ia dar certo, e uma réplica do MSL foi construída para ser usada posteriormente, caso o jipe se perdesse nesse procedimento. Acontece que todos os sistemas funcionaram e o jipe fez um pouso perfeito em Marte e está até hoje trabalhando. Assim ficou a pergunta, o que fazer com o jipe reserva? A resposta foi "vamos mandá-lo para Marte!" e assim nasceu a missão Mars 2020, que em breve deve ser rebatizada através de um concurso público, como foi com a Curiosity.
Uma vez que a missão foi se concretizando, novos e melhores equipamentos foram sendo incorporados ao novo jipe, de modo que ele deve partir com novos objetivos. Um deles é estudar e coletar amostras de locais interessantes do ponto de vista astrobiológico para que num futuro próximo elas sejam enviadas à Terra. Outra curiosidade do Mars 2020 é que ele vai levar um "Martecóptero" de carona. Esse helicóptero marciano é um drone adaptado às condições de Marte, que exigem muito mais de suas hélices para decolar e se manter em voo, uma vez que a densidade da atmosfera do planeta vermelho é apenas 1% da densidade da atmosfera terrestre. O "Martecóptero" vai acompanhar o jipe de perto, mantendo-o como estação-base, sobrevoando a área estudada e fazendo imagens panorâmicas para auxiliar no mapeamento das regiões de interesse.
Vale destacar que tanto a missão Curiosity e a missão Mars 2020 contam com a participação fundamental do brasileiro Ivair Gontijo. Na primeira missão ele ficou responsável pelos equipamentos que mapeavam a superfície de Marte durante os 7 minutos de terror, de modo a escolher o melhor ponto de pouso. Agora na segunda missão, ele desenvolveu a integração entre vários dos equipamentos científicos, fazendo-os se comunicar com o sistema do jipe.
Huoxing-1
Maquete do orbitador e jipe marciano HX-1
CNSA
Quem também está de olho em Marte é a China, que deve lançar entre julho e agosto, sua ambiciosa missão de exploração do planeta vermelho. Ambiciosa no sentido que além de colocar um satélite em órbita de Marte, pretende também pousar um jipe em sua superfície logo na primeira tentativa. A missão tem o nome provisório de Huoxing-1 e vem na esteira da missão mal sucedida de 2012, quando seu orbitador Yinghuo-1 foi destruído com a falha da missão russa Fobos-Grunt. A partir de então a China decidiu por desenvolver seu próprio programa espacial marciano.
O orbitador irá carregar câmeras de média e alta resolução, capazes de identificar estruturas com 2 metros de tamanho e espectrógrafos para identificar a composição química elementar do terreno, além de um radar com capacidade de estudar o subsolo. O jipe também carregará um radar como esse, capaz de penetrar 100 metros abaixo da superfície, além de atuar como estação meteorológica e identificação de campos magnéticos.
Missão Al-Amal
Satélite da missão Al Hamal
Universidade do Colorado
Quem também quer estudar Marte são os Emirados Árabes Unidos, com seu orbitador Al-Amal, ou esperança em português. A missão, a primeira de um país árabe com destino a Marte, representa uma parceria entre o Centro Espacial Mohammed bin Rashid e as Universidades do Colorado e do Arizona, nos EUA. O orbitador deve ser lançado no meio do ano por um foguete do Japão. A chegada do satélite está prevista para o ano que vem para coincidir com as comemorações dos 50 anos da formação dos Emirados Árabes Unidos.
O objetivo da missão é estudar a atmosfera marciana, dando um panorama mais amplo e global. Todos os dados obtidos serão compartilhados entre 200 universidades e institutos de pesquisa do mundo inteiro e de forma gratuita! A missão faz parte do projeto de tornar o país uma nação com economia baseada em conhecimento.
Missão Chang’e 5
Módulo Chang'e 5
CNSA/CLEP
A missão Chang’e 5 é a sequência no programa espacial lunar da China e na verdade deveria ter começado em dezembro do ano passado. Vale lembrar que sua antecessora teve a proeza de pousar de forma segura no lado oculto da Lua e mantém um jipinho robótico operando durante os dias lunares, que representam 14 dias terrestres.
O próximo e ousado passo do programa espacial Chinês é lançar sua nova sonda equipada com um laboratório de análises de solo, incluindo um radar para estudar alguns metros abaixo da superfície e também um braço para coletar amostras a uma profundidade de 2 metros. E o melhor, o laboratório de análises também será responsável por separar as amostras, isolando-as em compartimentos para enviá-las à Terra para estudo! Sim, é isso mesmo! A principal inovação trazida pela Chang’e 5 será coletar aproximadamente 2 kg de amostras do subsolo lunar e enviar tudo para a Terra. A última vez que conseguimos fazer isso foi em 1976 com a missão Luna 24 da ex-URSS enviando 170 g do solo lunar em amostras.
A Chang’e 5 tem um módulo gêmeo, a Chang’e 6, com as mesmas capacidades e que deve ser lançada em 2023 ou 2024 com o objetivo de coletar amostras da região polar sul da Lua. A missão seguinte, a 7, vai estudar com mais detalhes a geologia e topografia do polo sul lunar, para que a missão Chang’e 8 encerre o programa testando tecnologias que serão usadas na futura base chinesa na Lua.
Eclipse solar
Fechando o ano, no dia 14 de dezembro, teremos um eclipse solar. Ele será total para quem estiver no sul do Chile e Argentina e para quem estiver no Brasil será apenas parcial. Nessa condição, quase todo o território brasileiro poderá ver o eclipse, com diferentes níveis de cobertura; quanto mais ao sul, melhor. Na totalidade serão 2 minutos e 9 segundos de escuridão e, se você pretende ir ao Chile ou Argentina para vivenciar essa experiência, é melhor correr. Já está difícil encontrar alojamento e as passagens estão bem caras. Eu estive no eclipse do ano passado no Chile e vou dizer: vale muito a pena!
As constelações de satélites de internet
Satélites da constelação Starlink inutilizam imagem do projeto DES
Johnson/Martinez-Vázquez/Delve
Infelizmente as minhas previsões também trazem más notícias. Desde o ano passado, os astrônomos estão às voltas com as iniciativas de colocar frotas de satélites em órbita da Terra para levar internet para regiões remotas do planeta. A intenção é muito boa e louvável, mas como minha avó dizia: “de boas intenções o inferno está cheio.”
Elon Musk veio com fama de quem ia salvar a humanidade dela mesma com seus modelos de carros elétricos não-poluentes e uma nave espacial capaz de levar duas centenas de colonizadores a Marte. Acontece que ele também teve a ideia de colocar em órbita baixa 12 mil satélites destinados a transmitir sinal de internet rápida para os rincões do planeta. Até o final do ano, estima-se que só a Space X, sua empresa espacial, coloque 700 desses satélites.
E qual o problema? No ano passado, já vimos os efeitos de “apenas” 120 deles em órbita. Durante alguns momentos da noite, os satélites refletem a luz do Sol, tornando-os brilhantes para observadores na Terra. Em alguns casos, os satélites chegam a ter um brilho equivalente a uma estrela de magnitude 3! Isso é mais brilhante que a estrela Intrometida da Constelação do Cruzeiro do Sul, ou seja, é bem fácil de se observar até em uma grande cidade.
Os efeitos já são percebidos pelos projetos de monitoramento do céu, inclusive nossa rede de vigilância contra asteroides e meteoros que possam atingir a Terra. A mais ambiciosa iniciativa de se compreender a energia escura, o projeto DES, também sofre com os satélites da rede Starlink cruzando as imagens. As imagens ficam inutilizadas para ciência e boa parte da noite está perdida.
E o problema só tende a piorar! Recentemente, a gigante Amazon anunciou que vai entrar nessa corrida lançando sua própria rede de satélites. Mais para frente eu pretendo escrever sobre essa grave ameaça em detalhes, mas, por ora, eu torço intensamente para que essa previsão ao menos esteja errada.
No mais, bons céus e feliz 2020!

Como os amigos podem fazer bem ou mal para sua saúde

De volta a Netuno: entenda os próximos passos na exploração do Sistema Solar exterior
Nós tendemos a copiar a forma como amigos e familiares se comportam, o que potencialmente pode nos levar a engordar demais ou até ao divórcio. Saiba o porquê! Abra-se para novas amizades
Pexels
No começo de um novo ano, várias pessoas adotam resoluções para ter um estilo de vida mais saudável. Muitas acham que fazer dieta ou se inscrever numa academia é mais fácil quando amigos e familiares adotam a mesma resolução.
Mas nem todas as decisões que afetam a nossa saúde são conscientes e intencionais, já que tendemos a copiar o comportamento de amigos, colegas e parentes que admiramos. Infelizmente, também imitamos os hábitos ruins para a nossa saúde, como fumar ou comer demais.
Como as amizades podem influenciar seus hábitos
Suécia, o país onde perder o emprego pode ser uma coisa boa
Esse fenômeno ajuda a explicar por que condições não contagiosas, como doenças do coração, derrames e câncer, parecem se espalhar de uma pessoa a outra como uma infecção.
Seus amigos podem te engordar?
Pessoas que valorizamos e com quem estamos em constante contato formam nossa rede social.
O Estudo Cardíaco de Framingham (Farmingham Heart Research), liderado por pesquisadores de universidades como Harvard e Cambridge, analisa o poder desses contatos sociais desde os anos 40, ao acompanhar três gerações de moradores de Framingham, em Massachusetts, nos Estados Unidos.
A pesquisa indica que temos mais chance de nos tornarmos obesos se alguém de nosso círculo íntimo for obeso. Conforme o estudo, uma pessoa é 57% mais propensa a se tornar obesa se tiver como amigo ou amiga uma pessoa muito acima do peso.
No caso de ter uma irmã ou irmão obeso, o percentual é de 40%. E uma pessoa que tem parceiro obeso tem chance 37% maior de ficar acima do peso.
Segundo estudo, há 57% mais propensão de se obeso aquele que tiver como amigo ou amiga uma pessoa muito acima do peso
PA Media
O impacto é maior se as duas pessoas forem do mesmo gênero e se a ligação emocional entre elas for grande.
O estudo de Framingham indica, por exemplo, que ter um vizinho obeso não afeta o seu peso, se vocês não tiverem um relacionamento próximo, mesmo que você o veja diariamente entrando e saindo de casa.
Em relacionamentos "desiguais", a pessoa que enxerga a amizade da outra como muito importante é mais propensa a engordar se o amigo ou a amiga ficar acima do peso.
O nível de divórcios e vício em cigarro e álcool também parece se espalhar entre amigos e parentes.
Embora nossa saúde seja afetada pelo envelhecimento e predisposições genéticas a certas condições, nosso risco de desenvolver doenças não infecciosas aumenta a depender de certos comportamentos: se você fuma, se adota uma dieta equilibrada, a quantidade de atividade física que faz semanalmente e o volume de álcool que ingere.
Doenças não infecciosas como de coração, pulmão, derrame, câncer e diabetes, causam sete a cada 10 mortes no mundo todo. No Reino Unido, são a causa de 90% das mortes.
Sentimentos contagiam
As conexões sociais também podem afetar nosso humor e comportamento. Não surpreende, portanto, que o fumo entre adolescentes seja influenciado pelo desejo de popularidade. Quando adolescentes considerados "populares" fumam, os níveis de dependência em cigarro aumentam e o número de jovens que desejam e conseguem parar de fumar cai.
Ao mesmo tempo, jovens cujos amigos são mais desanimados tendem a desenvolver esse tipo de humor também. No caso de depressão clínica, estudos não encontraram evidências de que ela possa se espalhar pelo convívio.
Mas desânimo e mau humor já são suficientes para afetar a qualidade de vida dos adolescentes e, em alguns casos, podem aumentar o risco de desenvolverem depressão clínica no futuro.
Desânimo e mau humor são suficientes para afetar a qualidade de vida
BBC
A ideia de que sentimentos contagiam é respaldada por um controverso experimento secreto conduzido em quase 700 mil usuários do Facebook. A pesquisa filtrou de maneira seletiva o que podia ser visto nos feeds de notícia, que usam algoritmos para mostrar postagens relevantes para o usuário da rede social.
Dois experimentos paralelos foram conduzidos. Um deles reduziu a exposição dos usuários a postagens associadas a emoções positivas, enquanto o outro reduziu a exposição a postagens que mostravam emoções negativas.
Os usuários alimentados com mais mensagens positivas se mostraram mais propensos a postarem eles próprios fotos e legendas positivas, enquanto os que passaram a ver mais postagens negativas aumentaram as suas publicações associadas a emoções ruins.
Isso sugere que os sentimentos podem se espalhar por nossas redes sociais, apesar da falta de interação face a face. Uma crítica comum a estudos sobre redes sociais é o fato de nos conectarmos na internet com pessoas que já demonstram adotar estilo de vida parecidos com os nossos ou ter gostos semelhantes.
Mas vários estudos reconhecem e adaptam seus achados a esse fenômeno, conhecido como contágio social.
Como tirar proveito do 'contágio social'
Se copiamos o comportamento de amigos e familiares, como aproveitar isso da melhor maneira possível?
Iniciativas como "janeiro sem álcool" (Dry January) ou "janeiro vegano" (Veganuary), que surgiram recentemente no Reino Unido, são exemplos de tentativas coletivas de implementar opções saudáveis de vida.
Também na Inglaterra houve a campanha "stopoctober" ou "pare em outubro", que encorajou pessoas a pararem de fumar naquele mês. Essa iniciativa, baseada em estudos que mostram o "contágio" de comportamentos por meio de conexões sociais, tem sido bem-sucedida desde que foi lançada em 2012.
Acredita-se que ela estimulou mais de um milhão de tentativas de parar de parar de fumar, o que sugere que um único empurrão coletivo pode ter mais eficácia do que campanhas constantes feitas ao longo do ano.
Campanhas coletivas que envolvem uma meta clara, para ser cumprida num mês específico, costumam ter mais efeito que mensagens contínuas em defesa de um estilo de vida mais saudável divulgadas ao longo do ano
Reprodução / EPTV
Um problema observado é que mensagens e campanhas tradicionais que visam incentivar comportamentos mais saudáveis tendem a aumentar a desigualdade, porque não conseguem alcançar todas as camadas sociais da população.
Essas mensagens costumam ter efeito maior entre os mais ricos— pessoas que costumam priorizar a saúde e que possuem situação educacional, econômica e social que lhes permite mudar de comportamento.
No entanto, até mesmo aqueles que não são "conscientes sobre a saúde" são influenciados pelo comportamento das pessoas com quem convivem, interagem e com quem se importam.
Se queremos melhorar a saúde de uma população inteira, talvez seja útil explorar o "contágio" social, principalmente por meio de pessoas capazes de influenciar muitos. Esses indivíduos influentes, que são peças centrais de suas redes sociais, costumam ser admirados por outros, mais propensos a compartilhar experiências e interagir com várias pessoas ao mesmo tempo.
Mais pesquisas precisam ser feitas sobre como o contágio de comportamento pode ser usado para dar eficácia a políticas públicas, sistemas públicos de saúde e para encorajar escolhas saudáveis que garantam uma redução de doenças não infecciosas.
Esse artigo foi escrito por uma especialista que não é funcionária da BBC. Dr. Oyinlola Oyebode é professora da Escola de Medicina da Universidade de Warwick, no Reino Unido.
VÍDEO SOBRE 'CONTÁGIO SOCIAL'
Na saúde, e também no trabalho, veja as manifestações do contágio social neste vídeo.
Veja como empresas devem lidar com contágio social de informações que circulam nas redes

Crianças tomam mais álcool do que leite em São Tomé e Príncipe, diz pesquisadora

De volta a Netuno: entenda os próximos passos na exploração do Sistema Solar exterior
Estudo do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade de Lisboa (FMUL) sobre o consumo de álcool e drogas pelos jovens do país mostra que pobreza, fome e falta de informação levam população a substituir comida por álcool. Pobreza e fome em São Tomé levam crianças a substituir comida por álcool
Ruth McDowall / AFP
A pesquisadora Isabel de Santiago, do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Universidade de Lisboa (FMUL), realizou um amplo estudo sobre o consumo de álcool e drogas pelos jovens do país. As conclusões serão publicadas em junho de 2020, na revista Acta Médica Portuguesa.
A especialista em saúde pública entrevistou mais de 16 mil alunos do ensino público e o estudo se baseou em uma mostra de 12%. A conclusão é que cerca de 58% dos meninos e 43% das meninas em idade escolar consomem álcool.
Não existe nível seguro de consumo de álcool, mostra pesquisa
Alcoolismo: como saber se você é dependente do álcool?
“Como viajo muito para o país, um dia decidi percorrer todas as comunidades para tirar fotos e investigar essa informação, de que os jovens de São Tomé e Príncipe bebiam muito”, contou ao repórter Marco Martins, da redação portuguesa da RFI.
As imagens se transformaram em uma exposição em Portugal, com renda revertida para a Casa dos Pequeninos, instituição que atende menores vítimas de alcoolismo em São Tomé e Princípe. “Muitas mães bebem durante a gravidez e as crianças nascem com síndrome de abstinência”, revela.
“Isso pode gerar graves problemas de saúde no futuro, como a cirrose hepática precoce”, diz. Essa triste realidade levou a portuguesa, em julho de 2003, a buscar mais informações sobre o tema e a ouvir diretamente os jovens.
“Os resultados foram alarmantes”, diz a pesquisadora, que analisou o conteúdo dos questionários 2003 a 2014. Eles foram publicados em uma conferência mundial que aconteceu na cidade de Curitiba (PR) e no CDC ("Centers for Disease Control and Prevention"), em Atlanta, nos EUA.
Álcool para matar lombriga
Uma das constatações de Isabel Santiago é a inexistência de uma política de comunicação e educação em saúde, de estudos sobre o consumo de álcool e drogas pelos jovens e uma pobreza extrema. Além disso, ressalta, o acesso às bebidas alcoólicas gera indiretamente um aumento do número de casos de abusos sexuais.
“Com essas informações busquei determinar a frequência do uso do álcool na população escolar e identificar a principal característica associada ao consumo deste tipo de bebida e discutir medidas de prevenção”, lembra a pesquisadora, que destaca o fato de que as bebidas consumidas na maior parte dos casos não passaram por nenhum tipo de controle industrial ou sanitário.
“Para nós capacitarmos as crianças, temos que ser divertidos no momento de passar a informação”, diz. “As pessoas não têm informação sobre os efeitos do álcool.
"Os homens pensam que é uma questão de virilidade e as mães, por ignorância, dão bebida às crianças de seis ou sete anos em jejum para matar as lombrigas”, conta a pesquisadora. “Além disso há a pobreza. As pessoas não têm dinheiro para comprar comida e preferem se alimentar de álcool, que é mais barato”, exemplifica.
Alcoolismo: como saber se você é dependente do álcool?
Soluções
Para a pesquisadora, uma das soluções para amenizar o problema é oferecer, por exemplo, atividades esportivas para as crianças, além, claro de criar hábitos de vida saudáveis e informar sobre os efeitos nocivos do álcool. Além, obviamente, de buscar soluções para fome.
Para isso, da ajuda da comunidade internacional é fundamental para intervir junto às comunidades. Esse trabalho deve ser feito, ressalta, com os líderes comunitários.
É importante também, ressalta, garantir a nutrição das crianças produzindo leite localmente, já que importar o produto é muito caro. A segunda medida é o controle e prevenção, diz. “Só consome álcool importado quem tem dinheiro.
Os pobres bebem os outros álcools, que não são controlados em termos de saúde pública pelas outras autoridades e não podem ser vendidos de maneira livre”, lembra.

Fumantes e ex-fumantes sentem mais dores que outras pessoas, indica estudo

De volta a Netuno: entenda os próximos passos na exploração do Sistema Solar exterior
Pesquisadora disse que a descoberta mais surpreendente foi a de que os níveis mais altos de dor foram encontrados nas faixas etárias mais jovens (entre 16 e 34 anos). Estudo mostra que fumantes e ex-fumantes relatam mais propensão a sentir dores
Getty Images/BBC
As pessoas que fumam e até as que deixaram de fumar relatam sentir mais dores do que aquelas que nunca adquiriram o hábito, indica um estudo.
As conclusões são baseadas em uma análise de dados de mais de 220 mil pessoas feita pela University College London (UCL).
Os pesquisadores dizem que o motivo é incerto, mas pode incluir o fato de que fumar causa mudanças permanentes no corpo.
O grupo de combate ao fumo Ash disse que as descobertas não devem ser vistas como surpresa.
Cigarro eletrônico é tão ruim quanto o tradicional
Mortes por doenças ligadas ao cigarro eletrônico são mais de 50 nos Estados Unidos
O estudo
Os cientistas analisaram dados de um conjunto de experimentos online no BBC Lab UK Study, no qual as pessoas foram analisadas entre 2009 e 2013.
Elas foram classificadas em três categorias: as que nunca fumaram, as que fumam diariamente e as que já fumaram, mas conseguiram deixar o hábito.
Foram, então, questionadas sobre a quantidade de dor que sentiam e isso foi convertido em uma escala de 0 a 100. Pontuações mais altas significavam mais dor.
Os fumantes e ex-fumantes obtiveram entre um a dois pontos a mais do que aqueles que nunca fumaram, mostrou o estudo da revista "Addictive Behaviors".
Em outras palavras, o tabagismo estava ligado a viver com mais dor — mesmo depois de parar de fumar.
"A principal descoberta é que os ex-fumantes ainda sentem o efeito da dor elevada", disse uma das pesquisadoras da UCL, Olga Perski, em entrevista à BBC.
Ela acrescentou: "É um conjunto de dados muito grande. Temos uma boa amostra para que possamos estar bastante confiantes de que algo está acontecendo."
"Mas não podemos dizer se isso é clinicamente significativo."
Perski disse que a descoberta mais surpreendente foi a de que os níveis mais altos de dor foram encontrados nas faixas etárias mais jovens (entre 16 e 34 anos).
Cigarro eletrônico aumenta risco de doença pulmonar, diz pesquisa
O que está acontecendo?
Não há explicação definitiva. Uma das hipóteses é a de que alguns dos milhares de produtos químicos contidos na fumaça do tabaco possam levar a danos permanentes nos tecidos, resultando em dor.
Uma outra é que fumar pode ter um efeito duradouro nos sistemas hormonais do corpo.
Essa possibilidade se concentra especificamente no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (eixo HPA), que está envolvido na maneira como reagimos à dor. Se o eixo HPA estiver desequilibrado, isso pode levar as pessoas a sentirem mais dor.
Mas permanece a possibilidade de que fumar seja um sintoma, não a causa.
Por exemplo, estudos associaram o traço de personalidade neurótico a uma dor mais intensa e a um maior risco de fumar.
Prova de que o tabagismo causa câncer de pulmão foi descoberta na década de 1950
Seciju/Divulgação
Assim, pode ser que, na média, o tipo de pessoa com maior probabilidade de relatar ter mais dor também seja o tipo de pessoa com maior probabilidade de começar a fumar.
"Esta é certamente uma questão que precisa ser investigada", disse Perski.
No entanto, ela disse que o último estudo se concentrou em pesquisas anteriores que vinculavam o tabagismo à dor crônica e à dor nas costas.
"Mesmo que você pare depois de fumar regularmente, isso pode ter efeitos duradouros na dor, é um incentivo muito bom parar o mais rápido possível", disse Perski à BBC.
A executiva-chefe da Ash, Deborah Arnott, disse que "a prova de que o tabagismo causou câncer de pulmão foi descoberta na década de 1950. Ao longo dos anos, cresceram as evidências de que quase todas as condições médicas podem ser causadas ou agravadas pelo fumo".
"Isso inclui câncer, doenças cardíacas e respiratórias, cegueira, surdez, diabetes, demência e infertilidade. Os fumantes também demoram mais para se recuperar das operações e é mais provável que o resultado seja um fracasso."
"Portanto, não é surpreendente que os fumantes também sintam mais dor do que aqueles que nunca fumaram."

De volta a Netuno: entenda os próximos passos na exploração do Sistema Solar exterior

De volta a Netuno: entenda os próximos passos na exploração do Sistema Solar exterior
Netuno visto pela Voyager 2
Divulgação/Nasa/JPL
Depois de mais de 40 anos “esquecidos”, os gigantes Urano e Netuno voltam à cena com a proposta de duas missões interplanetárias. E, como era de se esperar, a China marca presença.
Este ano – e certamente os próximos quatro ou cinco anos – será focado na reconquista da Lua, com os projetos de missões tripuladas e construção de bases. Mas também serão anos dedicados a estreitar a exploração científica de Marte. Por enquanto, nada mais ambicioso do que recolher amostras do solo para envio à Terra, mas com foco também em futuras missões tripuladas.
Enquanto isso, as ideias de explorar planetas mais distantes vão surgindo e algumas delas, felizmente, já estão se concretizando. Em especial nas fronteiras do Sistema Solar.
Nos planetas mais distantes
As sondas Pioneer 10 e 11 e as Voyagers 1 e 2 fizeram um tour pelo Sistema Solar, estudando os gigantes gasosos distantes. Em especial a Voyager 2, que além de Júpiter e Saturno, estudou os planetas mais distantes Urano e Netuno, no final da década de 1980.
Desde então, Júpiter e Saturno ganharam missões próprias, com sondas orbitando seus sistemas por anos a fio: Júpiter teve a sonda Galileo e, atualmente, a Juno e Saturno foi estudado pela sonda Cassini por mais de 10 anos. Mas parou nisso. Urano e Netuno ficaram esquecidos desde então.
As conversas para construir uma missão de reconhecimento de Netuno começaram a convergir nos últimos dois anos e, em julho do ano passado, surgiu uma proposta concreta. A missão Trident, em alusão ao tridente de Netuno, foi apresentada numa conferência de ciências planetárias nos EUA.
Mosaico de Tritão
Divulgação/Nasa/JPL
A proposta é que a agência espacial dos EUA (Nasa) financie uma missão da classe Discovery dentro dos preceitos de “melhor, mais rápida e mais barata” que tem a "New Horizons" como um recente sucesso.
A missão, aliás, seria nas mesmas bases da "New Horizons" que fez um sobrevoo em Plutão e Caronte em 2015: a Trident irá fazer um sobrevoo rápido por Netuno e Tritão, sua enigmática lua. Em geral, é assim que as missões evoluem, com uma missão de sobrevoo de reconhecimento inicial e um mapeamento preliminar, para depois partir para uma missão para orbitar e, quem sabe, pousar no objeto.
A missão Trident seria equipada com instrumentos muito parecidos com os que fazem parte da "New Horizons" para obter o máximo de informações no menor tempo possível.
E o sobrevoo promete ser ainda mais empolgante: depois de uma viagem de quase 10 bilhões de quilômetros, a nave vai fazer uma rasante de apenas 500 quilômetros sobre Tritão! Isso é o equivalente a acertar um alvo de meio milímetro de largura em Londres, disparando uma arma em Porto Alegre!
Um dos objetivos principais é estudar Tritão em detalhes. Quando a Voyager 2 passou, ela não foi capaz de mapear por inteiro o seu hemisfério norte e o que foi visto na parte sul deixou mais perguntas do que respostas.
Mais sobre Netuno e Tritão
Tritão tem as características de um planeta anão formado no Cinturão de Kuiper e que foi capturado por Netuno. Mas também tem características de um mundo composto de muito gelo que poderia ter se formado ali mesmo, junto com Netuno. Além disso, o mapa mostrou uma calota polar no hemisfério sul, mas nenhuma evidência de que exista uma calota semelhante no polo norte.
Mas o mais empolgante: Tritão poderia ter um oceano subterrâneo! Essa lua de Netuno foi incluída no rol de corpos celestes chamados de “Mundos Oceânicos” que são: Ganimedes, Europa, Titã, Encélado, Plutão e Caronte.
Isso foi novidade até para mim, mas, de acordo, com a equipe da missão Trident, proposta pelo Instituto Lunar e Planetário no Texas, Tritão tem todas as premissas para possuir muito gelo e, com sua composição geológica e proximidade de Netuno, o gelo poderia se transformar em água no subsolo, mantendo-se nessa condição se existir amônia misturada a ela.
O objetivo da rasante de 500 km acima da superfície de Tritão é atravessar sua tênue atmosfera para analisá-la.
Após o sobrevoo, a Trident vai poder passar pela sombra de Netuno e Tritão, para procurar plumas de vapor d’água no satélite, como as encontradas em Encélado e mais recentemente em Europa. Quem vai responder a questão sobre a existência ou não do oceano, entretanto, será uma séria de instrumentos que vão estudar o campo magnético de Tritão.
Participação chinesa e datas da Trident
Além da Nasa, quem está também se preparando para visitar Netuno é a China e, como sempre, com objetivos bem mais ambiciosos. Além de passar a uma distância de mil quilômetros de Netuno, a missão que tem o nome provisório de IHP-1, vai lançar uma sonda para penetrar sua atmosfera.
Depois disso a IHP-1 vai fazer um sobrevoo de um objeto do Cinturão de Kuiper para finalmente seguir para fora do Sistema Solar. A intenção é fazer como as Voyagers e manter a nave estudando a heliosfera, a bolha de plasma que envolve o Sistema Solar.
Apesar de as ideias estarem ainda no campo das propostas, elas têm data marcada para virarem realidade. Para que isso tudo seja possível, as missões precisam partir entre 2024-2026 para aproveitar um alinhamento planetário favorável, economizando-se combustível.
Por exemplo, sendo lançada entre 15/04 e 05/05, a Trident levaria 12 anos para chegar até Tritão, mas antes passaria de novo pela Terra por mais três vezes, uma vez perto de Vênus e uma vez por Júpiter. Nessa rápida escala em Júpiter, a configuração das órbitas seria muito ideal para estudar Io, sua lua vulcânica.
A Trident tem até data para chegar, se respeitar a janela de lançamentos: 28 de junho de 2038 e, tal qual a "New Horizons", passaria mais um ano transmitindo os dados para a Terra. Tomara que a Trident seja aprovada logo, pois seis anos para montar e lançar uma missão dessas não é muito tempo e eu gostaria muito de ver seus resultados.
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