‘Voltei a andar 5 anos após fazer uma cirurgia bariátrica’

Como manter uma alimentação balanceada sem carne, com preços em alta no Brasil
Sem conseguir se alimentar e com a deficiência de vitaminas do complexo B, Raquel perdeu o movimento das pernas e chegou a pesar menos de 40 kg. Cinco anos depois do procedimento, começou a dar os primeiros passos: 'Momento mais feliz da vida'. "Foi o momento mais feliz da vida": Raquel voltou a caminhar sozinha 5 anos após passar por uma cirurgia bariátrica
Arquivo pessoal/BBC
Pouco menos de dois anos após fazer uma cirurgia bariátrica, a estudante carioca Raquel Guimarães, então com 22 anos, já tinha perdido mais de 70 kg. Mas o que podia parecer uma história de recuperação bem sucedida, na verdade, era o início de um pesadelo que levou médicos a desenganá-la e a obrigou a reaprender a andar.
Raquel saiu dos seus 120 kg para um quadro de desnutrição grave, com menos de 40 kg. Sem conseguir se alimentar, sofreu deficiência das vitaminas B1 e B12 — e, com isso, perdeu o movimento das pernas, apresentou quadro de confusão mental e até problemas de visão.
O pai da estudante – que àquela altura, em 2016, via a filha sobreviver graças a transfusões de sangue e alimentação por sonda — ouviu dos médicos a pior notícia: que a filha "não teria mais jeito".
Em 2019, cinco anos após o procedimento em um hospital particular na zona oeste do Rio de Janeiro, a jovem voltou a dar os primeiros passos sozinha, compartilhando as conquistas nas redes sociais: "Foi o momento mais feliz da minha vida".
Médico explica a diferença entre os tipos de cirurgia bariátrica
Cirurgia bariátrica: quando é a hora de fazer?
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O procedimento a que Raquel foi submetida é conhecido como bypass gástrico, o tipo de cirurgia bariátrica mais comum no Brasil e que provoca uma grande alteração no sistema digestivo, com a redução do estômago e efeitos sobre os intestinos.
Com problemas para se alimentar no pós-operatório, Raquel acabou desenvolvendo a chamada encefalopatia de Wernicke, provocada pela deficiência grave de vitaminas do complexo B.
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O caso da jovem é considerado raro pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). O presidente da organização, o médico Marcos Vilas Bôas, diz que a evolução da paciente é algo totalmente "atípico" e mais raro até do que óbitos decorrentes do procedimento.
No Brasil, foram realizadas em 2018 cerca de 65 mil cirurgias bariátricas, segundo a SBCBM — e mais de 13 milhões de brasileiros são considerados "elegíveis" para o procedimento. O índice de mortalidade, segundo Vilas Bôas, é de cerca de 0,2% dos casos.
Mas o médico alerta para cuidados no pós-operatório. "Hoje a cirurgia é muito segura. Mas é extremamente importante que todos façam um acompanhamento com equipes multidisciplinares, com aconselhamento médico, nutricionistas. E precisam informar imediatamente se sentirem qualquer coisa que não esteja adequada com a recuperação", diz.
'Queria comprar a roupa que eu quisesse'
Para Raquel, que durante anos lutou com a balança, a decisão de realizar a cirurgia aconteceu naturalmente.
"Pagava personal (trainer), ia na academia certinho, ia para o endocrinologista. Quando começava a emagrecer, dava problema no tornozelo e precisava imobilizar. Sem ir à academia, engordava tudo de novo. Poxa, uma jovem de 20 anos, se esforçava tanto, mas o resultado não vinha."
Assim, a mãe de Raquel, a professora Valdinere Guimarães, explica por que o assunto da cirurgia bariátrica chegou à mesa de jantar da casa da família, em Bangu, zona oeste do Rio.
Os casos bem-sucedidos estavam por todos os lados. Na família e na vizinhança, os Guimarães tinham exemplos do bem que o procedimento poderia fazer a Raquel.
"Eu queria comprar não uma roupa que coubesse mim, mas a roupa que eu quisesse vestir", argumentava Raquel. "Por que não fazer, então?", concluiu Valdirene ao apoiar a filha, então com 20 anos e estudante de fisioterapia.
Raquel chegou a pesar menos de 40 kg e passou meses internada no hospital
Arquivo pessoal/BBC
De acordo com a SBCBM, pessoas entre 18 e 65 anos estão em uma faixa etária sem restrições para o procedimento.
Além da perda de peso, a cirurgia é indicada para a remissão de doenças associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão, e diminuição do risco de mortalidade. "Muitos não veem a obesidade como uma doença grave, mas é grave", alerta Vilas Bôas.
Com a decisão tomada, a família Guimarães conseguiu os R$ 22 mil necessários para o procedimento particular. Em setembro de 2014, a cirurgia foi feita, sem complicações iniciais. Mas tudo mudou dois meses depois.
"Eu não conseguia comer nada, com vômitos e diarreia. Comecei a ter formigamentos, cãibras, dormência nas pernas. Esquecia das coisas, falava coisas confusas. Os médicos chegaram a dizer que era falta de potássio e que não tinha a ver com cirurgia. Então, voltei para casa", conta Raquel.
Os sintomas que a estudante sentia já eram sinais de que algo não ia bem na recuperação. Faltava a Raquel, segundo os relatos da família e de um médico que a acompanhou o caso consultado pela BBC News Brasil, tiamina (a vitamina B1) e vitamina B12.
A deficiência vitamínica havia evoluído para um caso de encefalopatia de Wernicke, frequentemente causada pela má alimentação ou pelo consumo excessivo de álcool, e para uma polineuropatia, um distúrbio simultâneo de nervos periféricos em todo o organismo que pode ser causado pela falta desses nutrientes.
Em dezembro de 2014, Raquel estava em casa, em pé, quando desabou, sem força nas pernas. Levada ao hospital, foi identificada a falta de vitaminas, segundo a família. A jovem foi internada no CTI para repor os nutrientes, mas recebeu um diagnóstico que assustou: já não voltaria a andar.
"Esse foi o começo da nossa luta", conta Raquel.
Após um mês internada, mas ainda sem andar, a jovem teve alta. Em casa, não conseguia se alimentar. O que comia, vomitava. E chegou a pesar menos de 40kg no momento mais crítico. "Eu olhava para ela e pensava: "minha filha não está viva. Eu estava vendo uma caveira na cama", relata a mãe.
O quadro se agravou para anemia grave e desnutrição. Em dezembro de 2015, Raquel foi novamente internada para receber transfusões de sangue e passou a se alimentar por meio de sonda. Ao pai da estudante, os médicos chegaram a pedir que reunisse a família porque a jovem "não teria mais jeito".
"Eu ouvi uma voz dizer 'vai salvar sua filha'. Eu obedeci e me prometi que faria de tudo para salvá-la", contou a mãe, Valdirene.
Novo pai, nova filha
Foram incontáveis os exames realizados em Raquel para tentar descobrir por que ela não conseguia se alimentar, mesmo mais de um ano após a cirurgia.
A jovem definhava na cama do hospital, ao ponto de não conseguir mais levantar o braço. A mãe dormia todos os dias num sofá, ao lado do leito, vivendo à base de analgésicos para dores causadas por noites mal dormidas.
"Quando vi uma menina tão nova com um quadro daquele, numa cama, vi que algo não batia. Aquela complicação não era normal. Muitos exames foram feitos, a anatomia da cirurgia estava correta. Mas eu resolvi insistir", relata o clínico médico Edward Pinto de Lima Júnior, que até hoje chama Raquel de "filha" e é chamado por ela de "pai".
Contrariando sugestões de outros colegas, que falavam que não havia mais nada a ser feito, o clínico resolveu investigar. As idas ao hospital passaram e ser diárias, e a relação com os Guimarães virou quase familiar. "É algo muito raro de acontecer na profissão, mas eu passei a amar essa menina. Eu apenas não podia perder ela", conta Lima Júnior.
Um exame chamado enterografia mostrou que Raquel havia tido uma resposta de estenose exacerbada — quando ocorre um estreitamento do trato digestivo no momento da cicatrização interna da cirurgia. No caso da jovem, o problema, que é como se fosse a formação de uma "queloide" interna que impedia a passagem de alimentos, estava no intestino delgado.
O estudante compartilha o 'antes e depois' da cirurgia nas redes sociais
Arquivo pessoal/BBC
"A estenose não é fixa, ela vai acontecendo. Os outros exames não identificaram esse problema e, infelizmente, não dá para saber se a estenose não existia na ocasião ou se apenas as imagens não mostraram", explica Lima Júnior. Segundo o presidente da SBCBM, o médico Marcos Vilas Bôas, quando identificada uma estenose, procedimentos simples de dilatação da região costumam resolver o problema.
Para Raquel, o procedimento foi o início de uma nova fase. Ela voltou a se alimentar pela boca, tomar água e, finalmente, iniciou a recuperação. Ganhou peso e voltou a sentir as pernas. ""Eu achava que não ia conseguir, estava exausta. Pensava: 'não vou andar mesmo, não adianta nem fazer fisioterapia'. A virada foi quando comecei a sentir as pernas. Eu pensei: 'espera aí, tem chance sim de eu começar a voltar a andar'", conta.
Apesar de sentir os membros inferiores, Raquel não conseguia mais andar. Sem movimento e sem fisioterapia durante o período de internação no hospital e da recuperação, as pernas ficaram atrofiadas. "Primeiro cuidamos de uma coisa e aí passamos a precisar cuidar de outra", conta Valdirene.
Dos clínicos e nutricionistas, a jovem passou a frequentar mais agora consultórios de ortopedistas. Até que, em setembro de 2017, passou por um procedimento cirúgico para colocar um fixador externo na perna direita. Um ano depois, foi a vez da perna esquerda.
A fisioterapia virou rotina em casa. Movimentos na cama, na piscina, com um andador… Com o tratamento, em julho de 2019, Raquel conseguiu se soltar do apoio e ficar em pé sozinha, pela primeira vez desde o dia em que caiu no meio de casa — quase 5 anos depois de passar pela cirurgia e pelo "martírio" que se seguiu.
"Depois de cinco anos sem abraçar minha filha em pé, eu consegui. Foi a coisa mais emocionante. Eu não queria soltar. Fiquei agarrada com ela, uma sensação maravilhosa", relembra Valdirene.
Um dos primeiros a receber o vídeo com a conquista foi o "pai" Edward Júnior, que recebe até hoje frequentemente mensagens sobre a evolução de sua "filha". "Foi um espetáculo de obstinação, não só dela mas de toda família. Ela ensinou todo mundo, mesmo quando fraquejava."
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Nas redes sociais, Raquel hoje mostra, além de sua recuperação, aquilo que muitos jovens que se submetem ao tipo de procedimento costumam fazer: o "antes e depois". Não só da perda de peso, mas também o antes e depois de "dar ruim", como ela mesma se refere às complicações.
"Parece que eu bebi a noite inteira? Sim… porém, são cinco anos sem saber como é andar, então peguem leve", escreveu num vídeo em que mostra os primeiros passos sozinha.
Aos 25 anos, com 1,72 meto e 58 kg, Raquel prepara um livro de memórias, com o título Caminhando nas Estrelas. Nele, vai relatar o momento do qual poucos podem se lembrar: qual é a sensação de aprender a andar? "Um passo de cada vez e a gente chega lá."

Meteoros ‘carregados’ com açúcar podem ter sido fundamentais para o surgimento da vida na Terra

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Ilustração artística de como teria sido a Terra na época do 'Grande Bombardeio'
Nasa
Mas como é? Sim, é mais ou menos isso, de acordo com pesquisadores da Universidade Tohoku no Japão e da Nasa.
No fim da semana passada, pesquisadores das duas instituições publicaram os resultados de um estudo que afirma ter encontrado um tipo de açúcar essencial para a criação de vida em fragmentos de meteoritos. Os meteoritos foram recolhidos em diversos lugares da Terra e o açúcar em questão é a ribose, um constituinte essencial do ácido ribonucleico, ou RNA.
O RNA é um tipo de ácido nucleico formado por unidades menores chamadas nucleotídeos. Mas o mais importante é que o RNA participa de várias funções biológicas, como a codificação genética e a o reconhecimento de proteínas.
O RNA é uma das macromoléculas essenciais à vida, como é o ácido desoxirribonucleico (DNA), as proteínas, os lipídeos e os carboidratos. O RNA “informa” ao DNA como os organismos devem produzir as proteínas, por exemplo.
Estrutura de uma molécula de ribose e um meteorito estudado
Yoshihiro Furukawa/Arquivo Pessoal
De acordo com Yoshihiro Furukawa, o líder desse estudo, o RNA deve ter sido o responsável pelo surgimento e desenvolvimento inicial da vida na Terra: ele tem uma molécula muito mais simples e que tem a capacidade de se replicar sem a ajuda de outras moléculas, ao contrário do DNA.
Além disso, os açúcares que compõem o DNA ainda não foram encontrados em meteoritos. Ou seja, muito antes da formação da molécula de DNA, já havia condições para a formação da molécula de RNA.
Uma das consequências deste estudo é que a química essencial à vida tem condições de ser processada em asteroides e meteoros ao longo de bilhões de anos. Os asteroides e meteoros, assim como cometas também, poderiam transportar esses ingredientes pelo espaço e ao atingir um planeta com condições favoráveis, fazer com que a vida surja, ou se desenvolva mais rápido.
No início do Sistema Solar, havia muitos objetos como meteoros e asteroides vagando por entre os planetas ainda em formação. Nessa época a Terra passou por um período de intenso bombardeio sendo alvo desses asteroides de diversos tamanhos.
Concepção artística de um asteroide no cinturão de Kuiper, no limite do nosso Sistema Solar
NASA
Por essa época a vida pode ter surgido na Terra, ou mesmo ter sido trazida de fora, mas a frequência e a violência desses impactos impediram que ela florescesse. A isso soma-se o fato de não haver, ainda, uma substância essencial à vida: a água.
A própria água deve ter sido trazida de carona em cometas na época do ‘Grande Bombardeio’, de acordo com as teorias mais aceitas. Assim que a frequência e a violência dos impactos se reduziram, a água pode se condensar formando lagos e oceanos. Com a entrega da ribose através de asteroides, teria sido possível formar RNA numa época pré biótica na Terra e a partir disso a vida pode surgir e evoluir.
Essa é uma questão fundamental da astrobiologia, se a vida surgiu na Terra a partir de elementos disponíveis, digamos, naturalmente, ou surgiu com a contaminação de substâncias vindas de fora.
Ainda vai demorar muito tempo até que se tenha certeza de qual situação deve ter prevalecido, mas ao que tudo indica, tivemos uma ajudinha de um açúcar extraterrestre!
Cientistas anunciam descoberta de água na atmosfera de um planeta fora do sistema solar

Provou, já era: como identificar os alimentos hiperpalatáveis, dos quais é (quase) impossível fugir

Como manter uma alimentação balanceada sem carne, com preços em alta no Brasil
Objeto de dezenas de estudos na nutrição, estes produtos ganharam agora uma 'receita' feita por pesquisadores para melhor identificá-los através das informações nutricionais. Diante deles, não há dúvidas: são alimentos difíceis de resistir. Mas como classificar os alimentos hiperpalatáveis com maior exatidão?
Getty Images (Via BBC)
Você vai ao cinema e pede uma pipoca. Enquanto o filme dura duas horas, o petisco não dura nem dez minutos.
É um exemplo de como ficamos diante dos alimentos chamados "hiperpalatáveis", cuja composição ativa mecanismos nos cérebro que postergam a sensação de saciedade — fazendo com que simplesmente não consigamos parar de comê-los.
Já foram feitos muitos artigos científicos e documentários sobre eles, mas um novo estudo publicado no periódico científico Obesity destaca que estes alimentos "têm sido definidos com termos descritivos, mas sem uma definição padrão".
Enquanto isso, no mundo dos leigos, é fácil identificar alguns alimentos com esse poder: batatas fritas, pizzas, hambúrgueres e sorvetes, entre muitos outros.
De 2000 a 2018, segundo o artigo na Obesity, o número anual de publicações sobre os alimentos palatáveis aumentou 550%, demonstrando o alto interesse pelo tema nas pesquisas sobre nutrição.
Os autores do estudo, da Universidade do Kansas, nos EUA, propõem agora um método mais certeiro para identificação dos hiperpalatáveis, focando nas informações nutricionais que podem ser observadas durante a compra.
Pipoqueiro faz sucesso ao vender pipoca no mesmo lugar há 45 anos
Afinal, como identificar esses alimentos?
"As descrições das comidas hiperpalatáveis são ao mesmo tempo muito genéricas ou muito restritivas. Por exemplo, uma descrição sugere que se trata de qualquer alimento adquirido em uma rede de fast food. No entanto, alguns desses lugares também vendem saladas ou alimentos grelhados, que não são o mesmo que um hambúrguer com queijo", diz um trecho da publicação.
Assim, com definições tão genéricas, há alimentos hiperpalatáveis que acabam não entrando na categoria de perigosos ou viciantes porque não estão em redes de fast food.
Os autores criaram três categorias combinando informações sobre a presença de gorduras, açúcares e sódio. Assim, alimentos hiperpalatáveis são aqueles com:
Os alimentos ricos em sódio, açúcar e gorduras aumentam a propensão a obesidade, hipertensão arterial e diabetes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com a categorização, os pesquisadores analisaram mais de 8 mil alimentos vendidos nos Estados Unidos. Destes, 62% preenchiam os requisitos destas categorias, como pizzas, alimentos fritos e doces.
Os pesquisadores também destacaram que alimentos pouco gordurosos também podem ser hiperpalatáveis, como os vegetais preparados em molhos ou cremes.
"Os resultados sugerem que o método de preparação e processamento da comida é chave para determinar sua hiperpalatabilidade, e não apenas o produto em si", diz o estudo.
Nesse sentido, os autores advertem para o uso do sal como realçador de sabor, mas que tem como consequência a provável maior dependência disso. Eles também apontam que a combinação de ingredientes é o que muitas vezes determina a hiperpalatabilidade de um produto.
O estudo reconhece algumas de suas limitações, como a concentração em alimentos sólidos, mas desta que serve para que "as pesquisas validem uma definição específica e quantitativa dos hiperpalatáveis".
Conheça o segredo da batata frita perfeita, uma paixão belga

‘É só ter força de vontade’ e outros 6 mitos que atrapalham a luta contra a obesidade

Como manter uma alimentação balanceada sem carne, com preços em alta no Brasil
De 'obesidade é uma escolha' a 'gordura é sinônimo de doença', os esforços para lidar com a condição esbarram em uma série de ideias equivocadas e preconceitos. Número de obesos no mundo quase triplicou desde 1975
Getty Images/BBC
A obesidade quase triplicou no mundo desde 1975, de acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A agência da ONU estima que mais de 1,9 bilhão de adultos estavam acima do peso em 2016. Deste total, mais de 650 milhões eram obesos.
Esses números ajudam a entender por que autoridades de várias áreas alertam sobre uma "epidemia de obesidade", que a OMS afirma estar matando quase três milhões de pessoas todos os anos — e cujo custo econômico anual pode chegar a US$ 2 trilhões, de acordo com uma estimativa de 2014 da consultoria americana McKinsey.
Cientistas e formuladores de políticas públicas alertam que os esforços para combater a obesidade têm sido prejudicados por ideias equivocadas e preconceitos.
Mas, afinal, o que é mito ou verdade na luta contra a obesidade?
Você pode ficar surpreso com as respostas.
'A obesidade é uma escolha, e não uma doença'
Os Estados Unidos são um dos países mais afetados pela epidemia de obesidade. As autoridades de saúde americanas estimam que mais de 36% da população seja obesa.
Desde 2013, a obesidade é considerada uma doença pela American Medical Association.
A 'força de vontade' pode não ter qualquer relação com a obesidade, como indicam evidências científicas
Getty Images/BBC
Ainda assim, uma pesquisa de 2018 realizada pelo Medscape, site de notícias voltado para profissionais de saúde, revelou que 36% dos médicos e 46% dos enfermeiros do país pensavam o contrário.
E 80% dos médicos responderam que as escolhas de estilo de vida eram "sempre ou frequentemente" a causa básica da obesidade.
Mas um relatório divulgado no fim de setembro pela British Psychological Society declarou veementemente que "a obesidade não é uma 'escolha'".
"As pessoas ficam acima do peso ou obesas como resultado de uma combinação complexa de fatores biológicos e psicológicos combinados com influências ambientais e sociais", diz o relatório.
"A obesidade não se deve simplesmente à falta de 'força de vontade' de um indivíduo."
'Não é uma questão genética'
Pesquisas científicas identificaram uma relação entre genética e obesidade desde os anos 1990.
Em julho, uma equipe de pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia mostrou que pessoas predispostas geneticamente correm um risco maior de ter um índice de massa corporal (IMC) elevado.
Pesquisa mostrou ligação entre genética e obesidade nos anos 1990
Getty Images/BBC
O IMC, calculado com base na nossa altura e no peso, é um dos indicadores mais comuns para avaliar se nosso peso é saudável.
Os cientistas analisaram uma amostra de quase 119 mil pessoas que tiveram seus IMCs medidos repetidas vezes. E descobriram que o IMC da população norueguesa, de uma maneira geral, aumentou substancialmente ao longo das décadas, mas a genética contribuiu para alguns noruegueses ganharem mais peso.
"Hoje, a predisposição genética faz com que, em média, um homem norueguês de 35 anos e altura mediana tenha 6,8 kg a mais que seus pares (protegidos geneticamente)", afirmou Maria Brandkvist, uma das pesquisadoras, à BBC.
'Estar acima do peso nunca é saudável'
A correlação entre excesso de peso e complicações de saúde é bem conhecida e comprovada.
Mas há uma linha de pesquisa em ascensão que está questionando se o excesso de peso/obesidade é sempre perigoso para a saúde de alguém.
Em 2012, a Sociedade Europeia de Cardiologia publicou o maior estudo sobre o tema realizado até o momento — e revelou um "paradoxo da obesidade".
A pesquisa mostrou que algumas pessoas podem ser obesas, mas metabolicamente saudáveis, sem apresentar um risco maior de desenvolver ou morrer de doenças cardiovasculares e câncer do que indivíduos com peso normal — elas não sofrem de condições como colesterol alto ou hipertensão, além de ter um condicionamento físico melhor que o de outras pessoas obesas.
"É sabido que a obesidade está ligada a um grande número de doenças crônicas, como problemas cardiovasculares e câncer. No entanto, parece haver um subconjunto de pessoas obesas que parecem estar protegidas de complicações metabólicas relacionadas à obesidade", escreveu Francisco Ortega, da Universidade de Granada, na Espanha, principal autor do estudo.
"Os médicos devem levar em consideração que nem todas as pessoas obesas têm o mesmo prognóstico."
'Todas as calorias são iguais'
Não comer demais é uma regra básica para o controle de peso, mas o foco de uma dieta não deveria ser a qualidade das calorias, em vez da quantidade?
Em sua definição de dieta saudável, a OMS sugere uma ingestão diária de 2 mil calorias para adultos. Mas há algumas ressalvas — a agência recomenda, por exemplo, que menos de 30% da ingestão total de calorias seja proveniente de gorduras.
Um estudo de 2011 da Universidade de Harvard, nos EUA, mostrou que "uma caloria não é uma caloria", e que certos alimentos têm maior probabilidade de promover ganho de peso no longo prazo.
Os pesquisadores acompanharam mais de 120 mil homens e mulheres saudáveis ​​por até 20 anos.
Em média, os participantes ganharam 1,52 kg a cada quatro anos, acumulando ganho de peso total de 7,6 kg em 20 anos.
O consumo de alimentos processados ​​ricos em amido, grãos refinados, gorduras e açúcares aumentou o ganho de peso: só comer batatas fritas resultou em ganho de peso médio de cerca de 1,5 kg a cada quatro anos, enquanto consumir mais legumes e verduras levou a uma perda de peso de 0,09 kg .
"Estratégias para ajudar as pessoas a consumirem menos calorias podem ser mais eficazes quando há o consumo reduzido (ou maior) de determinados alimentos e bebidas", diz o estudo.
'Devemos ter metas realistas de perda de peso para evitar frustrações'
Evitar criar muita expectativa pode ser um princípio básico para a vida.
No entanto, estudos indicam que não há uma associação negativa entre metas ambiciosas e perda de peso.
De acordo com uma pesquisa de 2017 publicada no Journal of the American Academy of Nutrition and Dietetics, quem tinha as expectativas mais altas em relação à perda de peso obteve os melhores resultados em um grupo de 88 pessoas com obesidade severa.
'A obesidade é um problema apenas nos países ricos'
Embora muitas nações desenvolvidas apresentem de fato altas taxas de obesidade, você pode ficar surpreso se der uma olhada no ranking mundial.
Em termos de incidência, os países mais afetados pela obesidade são as Ilhas do Pacífico — na Samoa Americana, quase 75% da população é considerada obesa.
O preço mais baixo de alimentos que não são saudáveis está associado a um risco maior de obesidade para os mais pobres
Getty Images/BBC
É verdade que essas nações insulares têm populações muito pequenas, mas os países em desenvolvimento com populações maiores também apresentam problemas crescentes de obesidade — no Egito e na Turquia, 32% da população é obesa, segundo dados da OMS de 2016.
Na verdade, estudos mostram que indivíduos com renda mais baixa são os mais vulneráveis ​​à obesidade.
"A obesidade é um produto da desigualdade social. Nos EUA, o estado mais 'obeso', o Arkansas, também é o quarto estado mais pobre, e o estado mais pobre, o Mississippi, também é o terceiro com mais sobrepeso", diz Martin Cohen, autor do livro I Think Therefore I Eat ("Penso, logo como", em tradução livre), sobre a sociologia da alimentação.
No Reino Unido, dados do sistema público de saúde (NHS, na sigla em inglês) de 2015 a 2016 mostram que a incidência da obesidade em crianças que vivem em áreas mais carentes é mais que o dobro daquelas que vivem em regiões menos desfavorecidas.
Especialistas afirmam que o principal motivo dessa disparidade está relacionado ao fato de que alimentos mais saudáveis ​​são mais caros.
'A amamentação não está relacionada à obesidade'
Nas últimas décadas, as fórmulas infantis têm sido ativamente anunciadas como complemento ao leite materno.
No entanto, dados de um amplo estudo da OMS publicado em abril mostram que a amamentação também pode reduzir as chances de a criança ficar obesa.
Após analisar 30 mil crianças em 16 países europeus, os cientistas constataram que crianças que nunca foram amamentadas tinham 22% mais chances de serem obesas.
Especialistas foram rápidos em apontar, no entanto, que fatores como um estilo de vida mais saudável nas famílias em que as mulheres amamentavam também podem ter tido um papel importante na proteção contra a obesidade.
João Breda, autor sênior do estudo, afirma que os benefícios do leite materno contra a obesidade são irrefutáveis.
"A amamentação tem um efeito protetor muito forte. As evidências estão aí. O benefício é excepcional, devemos informar isso às pessoas."
Obesidade atinge uma em cada três crianças de 5 a 9 anos, aponta relatório

Como manter uma alimentação balanceada sem carne, com preços em alta no Brasil

Como manter uma alimentação balanceada sem carne, com preços em alta no Brasil
Combinadas, proteínas de origem vegetal podem nos fornecer a quantidade ideal de nutrientes para o corpo funcionar bem. Legumes e verduras à venda em um supermercado de Sâo Paulo
Celso Tavares/G1
No típico prato feito do brasileiro temos arroz, feijão, carne, farofa, às vezes ovo, às vezes batata frita. Mas o que fazer se esse prato estiver ameaçado?
Ele pode estar, e a culpa é da carne.
O produto sofreu um forte reajuste nas últimas semanas e, em menos de três meses, o custo do contra-filé subiu 50% para os supermercados e o do coxão mole, 46%, segundo a a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Praro de comida inclui arroz, feijão, legumes e vegetais
Victória Cócolo/G1 Campinas e Região
O aumento foi repassado aos consumidores, que podem se preparar para uma continuidade da alta desses preços em 2020.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que os preços mais altos vieram para ficar, enquanto o presidente Jair Bolsonaro disse achar que o preço da carne bovina diminuirá no futuro.
Diante do cenário de dificuldade, muitos brasileiros devem estar se perguntando como vão conseguir manter um mínimo de equilíbrio no prato com a alta no preço de uma das principais proteínas animais consumidas no país.
Mesmo quem não esteja pensando em adotar de vez uma dieta vegetariana ou vegana (que exclui totalmente o consumo de produtos de origem animal) pode reduzir o consumo de carne acrescentando outros elementos na composição das refeições.
As proteínas são substâncias importantes para quase todas as funções do nosso organismo.
"Formam nossa massa muscular, fazem parte dos nossos tecidos corporais, da pele, ajudam a manter sua elasticidade. É importante para o crescimento, para a reparação de tecidos. Fazem parte de algumas enzimas que usamos para a digestão, e os hormônios também são formados por proteínas", enumera a nutricionista Lara Natacci, mestre e doutora pela Faculdade de Medicina da USP e integrante da Comissão de Comunicação da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição.
Rick Miller, nutricionista clínico e especializado em esportes do King Edward VII's Hospital, em Londres, observa que, quanto mais velhos formos, mais precisamos de proteínas. "Nós diminuimos o ritmo e perdemos massa muscular. Acabamos ficando mais frágeis. Além disso, nossos músculos não respondem às proteínas da mesma maneira", diz. Por isso, brinca ele, são as avós, e não os netos, que provavelmente precisam mais daquele shake de proteínas.
Veja dicas para substituir a carne nas refeições
Natacci explica como funciona a ingestão de proteínas no corpo. "O que acontece é o seguinte: a gente ingere a proteína e no nosso estômago ela começa a ser quebrada. Então, ela é transformada em porções menores que são os aminoácidos, que se juntam para formar novas proteínas e que então vão para diferentes partes do nosso organismo, dependendo da nossa necessidade."
Normalmente, diz ela, uma pessoa deve consumir cerca de 0,8g a 1g de proteína para cada quilo de seu peso em sua alimentação diária. Ou seja, uma pessoa que pese 70kg deve consumir cerca de 70 gramas de proteína por dia. Com uma dieta balanceada e variada, "não é difícil atingir isso", diz ela.
"A carne era vista como status na mesa. É um alimento que antes era muito mais caro. Com o tempo, ficou mais barata. Mas agora com o aumento do preço talvez seja inviável manter. É complicado ter carne todos os dias", afirma.
O gasto com carnes, vísceras e pescados pesa no bolso do brasileiro. A Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017 e 2018 realizada pelo IBGE e publicada neste ano mostra que é o grupo com que os brasileiros mais gastam seu dinheiro dentro do orçamento para a alimentação em casa. Do total gasto, 20,2% vai para essas carnes. Para a região Norte, pesa mais: 27,1% do orçamento para alimentação vai para carnes, vísceras e pescados. Para o Nordeste, 22,3%. A pesquisa foi feita em 58 mil domicílios brasileiros em 1,9 mil cidades durante um ano.
Segundo um estudo conjunto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o brasileiro consumiu 24,5 kg de carne vermelha em 2018. O consumo de frango, uma carne muito mais barata que a bovina, foi be, maior: 39,8 kg. Não há distinção por região.
"Mas temos uma variedade de produtos muito grande", observa Natacci. "A gente pode lançar mão dessas alternativas."
E quais são elas?
Ovo
Ovo frito é fonte de proteínas na alimentação vegetariana
Unsplash
"A proteína de origem animal é chamada de proteína completa porque contém todos os aminoácidos que nossos organismos não têm a capacidade de produzir e na quantidade que a gente precisa", explica Natacci. Ou seja, um só alimento contém os aminoácidos essenciais para nosso organismo.
O ovo, bastante falado quando se pensa em substitutos para a carne, também é uma proteína completa — embora não faça parte do cardápio de quem segue uma dieta vegana, já que também é de origem animal.
Um filé de carne de 100 gramas tem entre 22 a 25 gramas de proteína. Um ovo, por sua vez, tem entre 6 e 7 gramas de proteína. Ou seja, mais ou menos três ovos podem substituir um filé de carne.
Segundo a nutricionista, uma pessoa sem contraindicações, com boa saúde e sem tendência ou histórico familiar de colesterol mais alto pode comer três ovos por dia sem problema nenhum. No entanto, diante de um quadro de colestoral alto, esse consumo precisa ser avaliado individualmente.
"É importante verificar se ela toma algum medicamento, quão alto está esse colesterol, e consultar um cardiologista", aponta Natacci, agregando que é preciso levar em conta o resto da alimentação — ou seja, se a pessoa está ingerindo muita quantidade de gordura saturada e trans. "Se a gente controlar a alimentação, pode ser que até uma pessoa com o colesterol mais alto consiga consumir essa quantidade (de ovo) por dia, mas vai depender da adaptação individual."
Soja
Soja é um alimento fonte de proteína na alimentação
Ouro Safra/Divulgação
Proteínas estão presentes predominantemente em alimentos de origem animal: podemos citar carnes, laticínios como queijos e iogurtes etc. Mas também podem ser encontradas em alimentos de origem vegetal.
Uma delas é uma leguminosa: a soja.
"A soja é única", diz Miller, "porque contém todos os aminoácidos de que precisamos, assim como a carne". Ele lembra que esse também é o caso da chia, "mas realisticamente, ninguém vai comer 100 gramas de chia, e nem isso será suficiente".
A soja, seja em grãos ou a proteína de soja, ou então o tofu, que é um alimento produzido a partir da soja, são perfeitos substitutos para a carne. Em 100 gramas de soja, há 36 gramas de proteína.
Combinação entre cereais e leguminosas
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Outras leguminosas, como o feijão, a lentilha e o grão de bico, entre outros, também contêm bastante proteína.
E o segredo para driblar aquela "proteína completa" do alimento de origem animal que contém todos os aminoácidos de que nosso corpo precisa é combinar leguminosas — que são grãos ou sementes que crescem em vagens — com cereais, como quinoa ou arroz. Essa combinação também providencia uma "proteína completa".
"O que acontece é uma complementação. Quando a gente ingere os dois, não tem diferença entre consumir isso ou carne para a ingestão de proteínas", afirma Natacci.
Segundo Miller, nosso fígado guarda aminoácidos, então caso um dos alimentos seja consumido sozinho, o fígado pode providenciar os aminoácidos, sem problemas. Ou seja, a combinação entre os dois alimentos é perfeita para nos dar as proteínas de que precisamos, mas também não tem problema consumir só um deles ocasionalmente.
Alguns exemplos da proteína presente nas leguminosas, lembrando da quantidade de proteínas que precisamos por dia (0,8g e 1g de proteína para cada quilo): uma xícara de ervilha tem 8 gramas de proteína, uma xícara de tremoço tem 11 gramas de proteína, uma concha de feijão tem 8 gramas de proteína e uma uma concha de soja cozida tem 12 gramas de proteína.
Em menor grau, os cereais também são ricos em proteínas. Em uma xícara de quinoa, um cereal muito rico em nutrientes e proteínas, há cerca de 8 gramas de proteína.
O cereal, no entanto, não é barato como o ovo, por exemplo, ou outros produtos proteicos. Um quilo de quinoa pode variar entre R$ 20 e R$ 45, o que signfica que, ainda que com preços altos, a carne pode compensar mais para o bolso do brasileiro, considerando a quantidade de proteína que um pedaço de 100 gramas fornece (22 a 25 gramas) e seu preço atual.
"Muita gente não vai ter acesso a esses substitutos, mas vai ter acesso a outros produtos, como o feijão, por exemplo", sugere Natacci.
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Por fim, oleaginosas como castanhas do caju, castanhas do Pará, amendoim, entre outras, embora também às vezes mais caras, contêm uma boa quantidade de proteína e podem ajudar complementando a dieta alimentar.
Miller destaca que todos os alimentos têm proteínas, em menor ou maior grau. É o caso de verduras como brócolis e couve, por exemplo. Mas nesses alimentos há mais fibra e água e menos proteína.
O ideal, no final das contas, é seguir uma dieta balanceada e equilibrada. E um prato bastante equilibrado, segundo Natacci, é um cuja metade seja de verduras e legumes e a outra metade de carboidrato e proteínas — um quarto pode ser uma proteína de origem vegetal ou ovos e outro quarto pode ser de quinoa ou de um tubérculo, como batata.
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