Geração de jovens que quer beber menos impulsiona mercado de cervejas sem álcool

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No Reino Unido, multiplicam-se os estilos e cresce o número de cervejarias artesanais especializadas apenas nessa categoria. Becky Kean e o cunhado Andrew Keresey decidiram apostar nos rótulos sem álcool para que o pai dela, alcoólatra em recuperação, pudesse tomar uma boa cerveja
BBC
Se a britânica Becky Kean quiser algum dia organizar uma festa com álcool em sua cervejaria, ela vai ter que comprar bebidas em algum outro lugar.
Isso porque a empresa da jovem, a Nirvana Brewery, localizada em Londres, só produz cervejas sem álcool.
No cardápio há sete tipos deferentes da bebida, de pale ale a stout, até uma com chá verde. Nenhuma delas, entretanto, capaz de deixar os clientes bêbados.
Um década atrás, bares como o Nirvana talvez fossem incompreendidos ou ridicularizados. Sim, a cerveja sem álcool existe há bastante tempo – uma das pioneiras, a Kaliber, da cervejaria Guinness, foi lançada em 1986 -, mas costumavam vender pouco e, por isso, não chegavam a ganhar destaque no portfólio das marcas.
Em geral, elas eram do estilo pale lager, de um dourado pálido, e não muito agradáveis ao paladar dos bebedores – que quase sempre se restringiam ao motorista da rodada ou a grávidas.
Mas tudo isso mudou nos últimos anos, diante de um aumento expressivo no volume de cervejarias artesanais dos dois lados do Atlântico e do crescimento no número de pessoas que decidem beber menos ou eliminar completamente o álcool da vida.
Essa combinação permitiu que se multiplicassem nos últimos anos os rótulos de cervejas com baixo teor alcoólico ou sem álcool de diferentes estilos.
A tendência aparece nos indicadores de vendas. Segundo a consultoria britânica CGA, o comércio de cervejas com baixo teor alcoólico ou sem álcool no Reino Unido avançou 28% em volume nos 12 meses até fevereiro deste ano, na comparação com os 12 meses imediatamente anteriores.
A Alemanha também vive momento parecido, onde, de acordo com a Associação Alemã de Produtores de Cerveja (DBB), uma em cada 15 cervejas vendidas hoje no país não tem álcool.
Número cada vez maior de cervejarias no Reino Unido tem se especializado em cervejas de baixo teor alcoólico ou sem álcool
BBC
Não surpreende, portanto, que uma quantidade cada vez maior de cervejarias artesanais como a Nirvana venha optando por produzir apenas cervejas sem álcool ou com baixo teor alcoólico.
"Abrimos o negócio em 2017 e já estamos fabricando perto de meio milhão de garrafas por ano", diz Becky, de 29 anos.
"Há pouco tempo começamos a exportar para a Escandinávia e para a Suíça e estamos de olho nos mercados da Ásia e da América do Sul."
A jovem conta que o pai é alcoólatra em recuperação – e ela queria que ele também pudesse frequentar seu bar e beber uma boa cerveja. "Pra muitas cervejarias a bebida sem álcool é algo complementar, que vem depois, mas nós queríamos que este fosse nosso único foco."
Mas o que é exatamente uma cerveja sem álcool? A pergunta pode soar estúpida, mas no Reino Unido ela não tem uma resposta tão óbvia – é preciso olhar para dois percentuais que parecem semelhantes, mas são bem diferentes.
A cervejaria Big Drop Brewing hoje exporta cerca de 40% da produção
BBC
Em boa parte da União Europeia e nos Estados Unidos, uma cerveja é considerada sem álcool quando tem teor alcoólico igual ou menor que 0,5%.
Já no Reino Unido, esse percentual limite é menor, de 0,05%. Lá, uma cerveja com 0,5% de álcool só pode ser chamada de "desalcoolizada". Como a terminologia não é das mais simpáticas, a maior parte das cervejarias britânicas opta por classificar as bebidas como "de baixo teor alcoólico".
As cervejas estrangeiras com teor alcoólico entre 0,05% e 0,5%, entretanto, podem sem vendidas como "sem álcool" no Reino Unido – elas não precisam adaptar o rótulo às normas locais.
"Um sujeito não consegue ficar bêbado com uma cerveja com 0,5% de álcool não importa o quanto ele beba", diz Rob Fink, cofundador da Big Drop Brewing Company.
"Para você ter uma ideia, uma banana madura ou uma fatia de pão podem conter 0,5% de álcool."
"Isso é importante, porque é possível fazer cerveja de excelente qualidade com um teor alcoólico de 0,5%, mas é bem mais difícil fazer o mesmo com teor alcoólico de 0,05% – é preciso arrancar o álcool quase que completamente, o que acaba comprometendo muito do sabor", afirma o produtor.
Também baseada em Londres, a cervejaria de Fink só produz cervejas com baixo teor ou sem álcool – e exporta 40% da produção para Noruega, Dinamarca, Finlândia, Suécia e Canadá.
O cervejeiro Rob Fink (esq.) critica os critérios usados no Reino Unido para definir o que é cerveja sem álcool
BBC
Comparada à europeia, a indústria mundial de cerveja sem álcool ainda está engatinhando, diz Bill Shufelt, cofounder da cervejaria americana Athletic Brewing. Mas está expandindo rápido.
Quando montou sua empresa em Connecticut em 2017 com a proposta de produzir apenas bebida sem álcool, o cervejeiro ouviu de muita gente que estava louco.
"As pessoas faziam piada – mas isso sempre mudava quando elas experimentavam nossas cervejas."
Bill Shufelt, da Athletic Brewing, aposta no crescimento do mercado de cerveja sem álcool dos EUA
BBC
A Athletic vende hoje seus produtos em todo o país e recentemente começou a exportar também para o Reino Unido.
Lá, o aumento do consumo de cervejas com baixo teor ou sem álcool também vem sendo puxado pelas gerações mais jovens, diz o jornalista britânico Jeff Evans, especializado em cerveja.
"Bebedores mais jovens têm uma relação diferente com o álcool", afirma. "Eles bebem quando estão afim, mas muitas vezes não se importam de se divertir sem álcool"
"Eles também estão mais ligados à indústria de cervejas artesanais, marcada pela experimentação e pelo foco no sabor. Junte as duas coisas e a combinação é o que estamos vendo hoje: uma expansão do setor de bebidas de baixo teor alcoólico ou álcool zero."
A isso ele acrescenta ainda o fato de que as cervejarias têm cada vez mais conseguido desenvolver métodos de fabricação que preservam o sabor da bebida sem álcool e criar bebidas que são uma "excelente alternativa" às tradicionais.
A participação das cervejas sem álcool no Brasil ainda é pequena, mas o mercado também tem assistido à chegada de novos rótulos em paralelo ao crescimento das cervejarias artesanais – que saltaram de 70 para 700 no país nos últimos 10 anos, de acordo com a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva).

Por que alguns especialistas dizem que os EUA estão errados ao banir a soneca no trabalho

O inovador método de imunoterapia que traz esperanças para pacientes com câncer avançado na próstata
Agência americana emitiu norma vetando que se durma em prédios federais, mas médico afirma que ambientes profissionais devem levar em conta o aumento da privação de sono em toda a população – e o impacto disso na produtividade. Privação de sono tem impacto na produtividade
Getty Images/BBC
Sonecas durante o expediente já costumavam ser malvistas na maioria dos ambientes, mas agora são alvo de um veto explícito do governo americano para os funcionários da administração federal: "todas as pessoas estão proibidas de dormir em edifícios federais, exceto quando essa atividade for expressamente autorizada por um oficial", diz uma norma emitida no início deste mês pela Administração dos Serviços Gerais dos EUA.
Não está claro por que a norma foi editada, uma vez que a agência se recusou a comentá-la. E não é a primeira vez que autoridades americanas investem contra a soneca: em 2018, uma agência de auditoria do Estado da Califórnia apontou que uma funcionária passava até três horas por dia dormindo, forçando os colegas a cobrir sua ausência e gerando perdas de até US$ 40 mil em produtividade ao longo de quatro anos.
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Uma ressalva, porém: o supervisor da funcionária não quis puni-la pela soneca, uma vez que havia a preocupação de que ela tivesse um problema de saúde que causava a sonolência.
Uma segunda ressalva: embora cause preocupação em chefes a ideia de os funcionários passarem tempo de trabalho dormindo, alguns cientistas têm argumentado que a soneca aumenta sua produtividade, em vez de diminuir.
Momento em que a juíza da Corte Suprema dos EUA Ruth Ginsburg dorme durante discurso de Barack Obama em 2015
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O médico Lawrence Epstein, diretor da Clínica de Medicina do Sono no Brigham and Women's Hospital, em Boston (EUA), estima que cerca de 70 milhões de americanos sofram de distúrbios do sono. No Brasil, a estatística é semelhante: diferentes pesquisas estimam que cerca de um terço da população sofra de algum grau de insônia recorrente.
E tem crescido o número de pessoas se queixando de não dormir o suficiente, bem como as que sentem que seu sono é afetado pelo uso constante de telas de TV, celular e tablets.
"Algumas empresas estão mais atentas a isso e criando formas de lidar. Infelizmente, não acho que nossas agências governamentais estão na liderança desse movimento", disse Epstein à BBC.
"É algo que pode e precisa ser cuidado, mas infelizmente não costuma ser."
O argumento é de que a privação de sono cobra seu preço da saúde das pessoas — e, por consequência, de sua produtividade econômica.
Pesquisas apontam elos entre problemas de sono e males de saúde como obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares e derrames, além de ansiedade e depressão.
Em 2016, uma análise conduzida pela empresa de pesquisas Rand Corporation estimou em US$ 411 bilhões o impacto anual da privação de sono na economia americana, por problemas que vão desde acidentes de trânsito, acidentes industriais, erros médicos e baixa produtividade.
Sala de descanso da empresa Ben & Jerry's foi criada para sonecas de até 20 minutos
BIM/BBC
Por isso, Epstein e outros especialistas em sono têm defendido que funcionários possam tirar pequenas sonecas durante o expediente.
"Pessoas em privação de sono não trabalham em sua capacidade máxima e têm um risco maior de passar por acidentes de trabalho, custando mais caro às empresas porque têm mais problemas de saúde", diz o médico.
Existem, porém, algumas iniciativas em favor da soneca. No Japão (onde, por outro lado, existe uma preocupação com jornadas excessivamente longas e seu impacto na vida das pessoas), algumas empresas estão instalando cápsulas à prova de ruído para encorajar os funcionários a descansar.
E empresas americanas como a fabricante de sorvetes Ben & Jerry's têm criado salas de descanso simples, com uma cama e um leve cobertor.
Na Ben & Jerry's, as sonecas são limitadas a 20 minutos por pessoa, e funcionários que não estejam se sentindo bem e precisem de descanso adicional são orientados a voltar para casa.
Mas ainda existe um estigma, por parte dos próprios funcionários, quanto ao uso da sala, afirma Laura Peterson, porta-voz da empresa.
"Poucas pessoas admitem usar a sala", diz ela. "Eu às vezes a uso. Acho que é um bom intervalo (na jornada) e de fato me sinto mais produtiva."
Outro funcionário da Ben & Jerry's concorda. "Na primeira vez que usei a sala me senti estranho, mas o resultado foi tão sensacional que foi fácil deixar essa sensação de lado", diz Rob Michalak. "Na segunda vez, sabia que me sentiria renovado e pronto para mergulhar de volta na tela do computador e nos documentos em que estava trabalhando."
Em um estudo de 2002 publicado pela Nature Neuroscience, cientistas testaram o desempenho de pessoas quatro vezes ao longo do dia — e esse desempenho foi piorando a cada teste. No entanto, essa piora era interrompida depois de as pessoas tirarem uma soneca de 30 minutos, ou revertida depois de uma soneca maior, de 60 minutos.
Nesses casos, disse ao The New York Times Sara Mednick, coautora do estudo, "as sonecas tiveram a mesma magnitude de benefícios de uma noite de sono".
Governo do Japão recomenda que empresas ofereçam momento de soneca para os funcionários

‘Minha mãe tem síndrome de Down’

O inovador método de imunoterapia que traz esperanças para pacientes com câncer avançado na próstata
Hoje, quase 30 anos após Izabel Rodrigues ter se tornado mãe, os parentes ainda se surpreendem por ela ter conseguido criar a filha: 'Eles ficam admirados por ela ter dado conta de cuidar de mim'. Foto tirada na colação de grau da Cristinna, em fevereiro deste ano
Arquivo pessoal/BBC
Nas fotografias da colação de grau da atendente Cristinna Maria da Silva, o largo sorriso da mãe dela, a dona de casa Izabel Rodrigues, de 66 anos, se destaca. A alegria da idosa demonstra o orgulho que ela sentiu ao ver a única filha concluir o ensino superior.
Junto delas e com um sorriso tímido, o pai de Cristinna, o aposentado José Ribeiro, de 78 anos, também demonstrou felicidade com a conquista da filha, que se formou em Administração.
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A conclusão do ensino superior foi algo distante para os pais de Cristinna, que cresceram na região rural do pequeno município de Morrinhos (GO) — hoje a família vive na área urbana da cidade. Eles estudaram somente até as primeiras séries do ensino fundamental.
O diploma de Cristinna foi também uma conquista para a mãe dela. Izabel tem síndrome de Down e um dos principais desafios que enfrentou na vida foi provar para os parentes que seria capaz de criar a filha.
Muitos duvidavam que a mulher, que tinha amigos imaginários e parecia alheia a tudo, poderia cuidar de uma criança.
A síndrome de Down de Izabel foi descoberta somente quando ela tinha 35 anos. A idosa, que é a caçula de 19 filhos, passou parte da vida sendo considerada pelos familiares como alguém que vivia "no mundo da lua". No passado, parentes e conhecidos não desconfiavam que ela pudesse ter uma alteração genética. Para eles, tratava-se do jeito dela.
Para provar que conseguiria criar a filha, Izabel foi uma mãe extremamente cuidadosa. "Sempre que eu me sujava, ela corria para me limpar. Mesmo que estivesse perto da lama, com as outras crianças sujas, eu sempre estava limpa", diz Cristinna, hoje com 29 anos.
"Ela era a minha bonequinha. Cuidei muito bem dela. Ela era um xodó para mim", conta Izabel, que é de poucas palavras, mas sempre está sorridente.
Modelo brasileira com síndrome de Down é capa de revista australiana
Hoje, quase 30 anos após a dona de casa ter se tornado mãe, os parentes ainda se surpreendem por ela ter conseguido criar a filha. "Eles ficam admirados por ela ter dado conta de cuidar de mim", comenta Cristinna.
A síndrome de Down
Izabel nasceu por meio de uma parteira, que era responsável pelos nascimentos dos bebês da região rural de Morrinhos. Na infância, demorou mais que os outros irmãos para aprender a falar e a andar. "Percebiam que ela era mais lenta que os outros, mas achavam que não era nada. Pensavam que era preguiça dela", diz Cristinna.
Desde pequena, a idosa tem dificuldades de compreensão. Logo nos primeiros anos da escola, os pais decidiram retirá-la de lá, porque ela tinha extrema dificuldade de aprendizado. Izabel sabe ler e escrever muito pouco.
Desde o início do casamento, Izabel e José queriam ter filhos
Reprodução/Alex Duarte/BBC
Na adolescência e no início da vida adulta, os parentes notaram que Izabel tinha atitudes diferentes. "Por um período, a minha mãe trabalhou. Ela falava que ia ao banheiro, mas quando iam atrás dela, ela estava no pomar, brincando com amigos imaginários. Diziam que ela não era certa da cabeça", conta Cristinna.
Aos 25 anos, Izabel começou a namorar com José Ribeiro. Eles são primos de segundo grau e moravam em regiões próximas. Com cerca de seis meses de namoro, ele pediu permissão para se casar com ela. "Alguns dos meus tios não queriam deixar a minha mãe se casar, porque falavam que ela não era muito certa. Mas a minha avó permitiu."
Desde o início do casamento, Izabel e José queriam ter filhos. Dez anos depois, parentes do casal levaram a mulher ao médico, para descobrir o motivo de ela não conseguir, até então, engravidar. "Nessa consulta, o médico descobriu a síndrome de Down da minha mãe. Ele disse que ela nunca poderia ter filhos, porque pessoas assim são inférteis", diz Cristinna.
A síndrome de Down é uma alteração genética caracterizada pela presença de três cromossomos 21 nas células do indivíduo. Aqueles que possuem a síndrome têm, ao todo, 47 cromossomos nas células, enquanto a maior parte da população tem 46.
No Brasil, estima-se que haja cerca de 300 mil pessoas com a trissomia do cromossomo 21, como também é conhecida a síndrome de Down. Em todo o mundo, estudos apontam que um a cada 700 mil bebês nascidos vivos possui a característica genética.
Uma das características da síndrome é a infertilidade. Estudos apontam que metade das mulheres que possuem a alteração genética são inférteis. Entre os homens com a síndrome, a infertilidade chega a atingir 80% deles.
Apesar do prognóstico desanimador, Izabel conseguiu engravidar meses após descobrir a síndrome. "Foi uma grande felicidade descobrir que ela estava grávida", comenta José.
Há considerável possibilidade de que o bebê de uma pessoa com síndrome de Down nasça com a mesma característica genética. Em casos de mãe e pai com a síndrome, as chances de a criança ter a alteração genética chegam a 80%.
No caso de Izabel e José, como somente ela possui a síndrome de Down, as chances de a criança ter a mesma característica eram de 50%. Apesar da possibilidade considerável, Cristinna nasceu sem nenhuma alteração genética.
Casos de filhos de pai ou mãe com síndrome de Down que nascem sem a alteração genética são considerados incomuns.
O nascimento da filha
Desde o início da gravidez, os parentes de Izabel tinham receio sobre a capacidade dela para cuidar de um bebê. Em razão disso, logo após o nascimento de Cristinna, uma irmã da dona de casa a auxiliou nos cuidados com a recém-nascida.
"Os meus tios não queriam deixar a minha mãe sozinha comigo e decidiram que alguém precisava acompanhá-la nos primeiros dias, depois que ela saísse do hospital. Essa minha tia, que já tinha filhos, ficou na minha casa durante o meu primeiro mês de vida. Depois ela foi embora, porque a minha mãe já tinha aprendido o que tinha que aprender", relata Cristinna.
"Meu pai passava o dia trabalhando, então ficávamos eu e a minha mãe. Ela é muito determinada quando quer alguma coisa e sempre quis mostrar que poderia cuidar de mim. Ela teve muita capacidade para me criar", declara.
Casamento de Izabel e José
Reprodução/Alex Duarte/BBC
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelas pessoas com síndrome de Down é a crença de que são incapazes. Apesar da deficiência intelectual, que pode se manifestar em diferentes níveis, especialistas orientam que é importante estimular o desenvolvimento dessas pessoas para que elas possam se tornar cada vez mais independentes.
"Hoje, a deficiência intelectual e as dificuldades de desenvolvimento das pessoas com síndrome de Down são condições acolhidas de forma melhor pela sociedade. Mas a gente percebe que muitas pessoas não querem que o indivíduo com síndrome de Down se desenvolva, porque têm a crença de que serão eternas crianças", afirma a neuropsicóloga Karyny Ferro, que atua no Instituto Jô Clemente (antiga Apae de São Paulo).
"A deficiência intelectual é uma questão genética. Mas existe uma questão social. É importante que as pessoas tratem o indivíduo com Down conforme a idade cronológica dele, para que culturalmente ele consiga lidar com a autoimagem, porque querendo ou não, é uma pessoa que está envelhecendo", acrescenta.
Especialistas frisam que uma pessoa com síndrome de Down pode ser capaz de criar um filho. Em alguns casos, pode necessitar de maior apoio externo, mas é fundamental que não menosprezem a capacidade daquele indivíduo e estimulem a independência.
Questões referentes à autonomia e desenvolvimento de uma pessoa com síndrome de Down tornam-se ainda mais importantes atualmente. Isso porque a expectativa de vida deles, que em décadas atrás era de 35 anos, hoje corresponde a, aproximadamente, 63 anos.
Entre os pontos de desenvolvimento de pessoas com a síndrome de Down, o geneticista e pediatra Zan Mustacchi ressalta a importância de entender que esses indivíduos podem ter uma vida sexual comum. Ele afirma que é fundamental falar sobre sexualidade com eles.
"O problema é que a sociedade não assumiu esse tipo de abertura. Dizem que por eles terem dificuldades intelectuais, não podem ter uma vida sexual. Isso faz com que esse indivíduo seja despreparado e, consequentemente, possa até sofrer abusos. A sexualidade deles é comum, como qualquer outra", pontua Mustacchi.
Especialistas afirmam que para que o indivíduo com síndrome de Down tenha uma vida produtiva e inclusiva em todos os aspectos, é preciso haver apoio dos familiares e de diferentes profissionais, como fonoaudiólogo e psicólogo.
Uma mãe extremamente zelosa
Diferente do que costuma ser orientado por especialistas, Izabel nunca teve nenhum tipo de acompanhamento em razão da síndrome de Down. "Ela nunca procurou ajuda ou quis algum acompanhamento, até porque a gente mora em uma cidade pequena. Ela diz que esse diagnóstico não mudou em nada a vida dela", conta Cristinna.
A síndrome de Down não afetou a criação que recebeu da mãe, afirma Cristinna. "Ela sempre foi muito amorosa e cuidadosa. Muita gente me pergunta qual é a diferença em ter uma mãe com síndrome de Down, mas para mim isso nunca mudou nada."
Os pais e Cristinna quando era bebê
Reprodução/Alex Duarte/BBC
"Sempre cuidei muito bem da minha filha. Eu a levava e buscava na escola. Gostava muito de passear com ela", diz Izabel.
Um dos poucos momentos em que Cristinna se viu com medo em relação à alteração genética da mãe foi durante a adolescência. "Eu estava na sétima série. Estávamos estudando sobre cromossomos e uma professora explicou sobre a síndrome de Down. Na época, eu desconhecia sobre o assunto e disse que minha mãe tinha. Nisso, minha professora garantiu que a minha mãe não tinha, porque as pessoas com essa síndrome são inférteis."
"Eu fiquei abalada, porque comecei a pensar que pudesse ser adotada. Procurei meu tio, que tinha me falado sobre a síndrome, e ele me mostrou fotos da minha mãe grávida. Até falei com um médico da cidade e ele também me disse que, apesar de ser incomum uma pessoa com síndrome de Down ter filhos, eu era filha da minha mãe", relembra.
Os netos
Há alguns anos, Cristinna deixou a casa dos pais para morar com o marido. Hoje, ela é mãe de dois garotos, de seis e 10 anos, e está grávida de seis meses.
A atendente se recorda que o primeiro momento em que duvidou da capacidade da mãe, em razão da síndrome de Down, foi logo após o nascimento do primogênito. "Eu não deixei que ela desse banho no meu filho nos primeiros meses dele, porque fiquei pensando que ela não fosse capaz. Para que ela não ficasse magoada, também não deixei que a outra avó fizesse isso. Eu mesma dei os banhos nele", diz.
Cristinna confessa que se arrependeu da atitude. "Eu fiquei pensando: a minha mãe conseguiu cuidar de mim e me deu banho sozinha. Por que não conseguiria fazer isso com meu filho? Então, quando tive meu segundo filho, o primeiro banho, fora do hospital, foi dado por ela. Foi uma forma de me redimir", conta.
Atualmente, Izabel cuida dos netos durante o período da manhã, enquanto a filha trabalha. "Ela é uma avó muito carinhosa", comenta Cristinna.
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'Fiz questão de dar esse orgulho para eles'
Izabel e José moram na mesma casa, em um conjunto habitacional de Morrinhos, há mais de 30 anos. Hoje, vivem com a aposentadoria do idoso, que é um salário mínimo, e com a renda de tapetes que fazem para vender. "O dinheiro deles é escasso, mas nunca passaram necessidade. Eu ajudo quando eles precisam de algo. Como a família deles é muito grande, sempre ajuda também", conta Cristinna.
"Nós tentamos aposentar a minha mãe por invalidez, mas não conseguimos, porque a Justiça alega que o benefício só pode ser concedido se a renda familiar for inferior a 1/4 do salário mínimo por pessoa. Como ela é casada com o meu pai e eles têm o salário mínimo dele, o juiz entendeu que a renda dela é maior que 1/4", diz Cristinna. Segundo ela, o caso segue na Justiça.
A preocupação de Cristinna com Izabel e José é constante. Ela conta que desde criança soube que teria que ter muito cuidado com eles. "Os meus tios sempre falaram que vim ao mundo para ajudar os meus pais."
Ao relembrar tudo o que viveu com os pais até hoje, ela cita que um dos momentos mais importantes foi o dia da sua colação de grau, em fevereiro deste ano. Orgulhosos, Izabel e José posaram para diversas fotos ao lado da filha. O momento especial causou comoção em parentes ao ser compartilhado por Cristinna nas redes sociais.
"Uma prima, muito mais velha que eu, comentou que ninguém acreditava que meus pais dariam conta de cuidar de mim, muito menos de me formar. Ninguém nunca acreditou que eles fossem capazes. Mas fiz questão de dar esse orgulho para eles."

Como dormir melhor (e em menos tempo)

O inovador método de imunoterapia que traz esperanças para pacientes com câncer avançado na próstata
Você já ouviu falar nas técnicas de 'otimização do sono'? Existe todo um novo segmento de mercado investindo nisso. É comum o pouco tempo de sono ser usado como motivo de orgulho, como uma espécie de prova de que se leva uma vida extremamente agitada.
Personalidades como Thomas Edison, Margaret Thatcher, Martha Stewart e Donald Trump relataram dormir de quatro a cinco horas por noite — muito menos que o período de sete a nove horas de sono recomendado para adultos.
A gigante da eletrônica Philips também está entrando no jogo da assistência ao sono
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Muitos de nós estão seguindo o exemplo daquelas personalidades: de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, mais de um terço dos adultos americanos não conseguem dormir o suficiente regularmente.
As consequências disso, como problemas de memória e maior propensão a infecções e obesidade, são bem conhecidas — mas fáceis de ignorar. Quando há muito o que fazer durante o dia, o sono ainda é o principal sacrificado.
Mas e se pudéssemos simplesmente otimizar a experiência do sono para que desfrutássemos da maioria dos benefícios do sono profundo, só que em menos tempo?
Essa possibilidade pode estar mais próxima do que parece, graças a novas técnicas de "otimização do sono". Algumas experiências em diferentes partes do mundo mostraram que é possível aumentar a eficiência da atividade noturna do cérebro — acelerando a chegada ao sono profundo e melhorando o descanso quando chegamos lá.
Parece quase bom demais para ser verdade. Mas é isso mesmo?
Uma batida mais lenta
Em uma noite normal, o cérebro passa por estágios diferentes do sono, cada um com um padrão característico de ondas cerebrais, em que neurônios de diferentes regiões do cérebro atuam juntos, em sincronia, em um ritmo específico. É como uma multidão cantando ou tocando alguma batida em uníssono.
Durante a fase R.E.M., do "movimento rápido dos olhos" (tradução livre), esse ritmo é bastante rápido. É também este o período mais provável em que sonhemos.
Mas, em certos momentos, nossos olhos deixam de se mover, nossos sonhos desaparecem e o ritmo das ondas cerebrais cai para menos de uma "batida" por segundo — momento em que entramos em nosso estado de inconsciência mais profundo, chamado "sono de ondas lentas".
É este estágio que tem sido de particular interesse para os cientistas que investigam a possibilidade da otimização do sono.
Algumas experiências já mostraram que é possível aumentar a eficiência da atividade noturna do cérebro
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Desde os anos 1980, pesquisas vêm mostrando que o sono de ondas lentas é essencial para a manutenção do cérebro. Ele permite que as regiões cerebrais transmitam nossas memórias do armazenamento de curto ao longo prazo — para que não esqueçamos o que aprendemos.
"As ondas lentas facilitam a transmissão de informações", diz Jan Born, diretor do Departamento de Psicologia Médica e Neurobiologia Comportamental da Universidade de Tübingen, Alemanha.
As ondas lentas também podem desencadear o fluxo de sangue e líquido cefalorraquidiano (material que circula entre o cérebro e a medula espinhal) pelo cérebro, liberando detritos potencialmente prejudiciais que poderiam causar danos neurais. Elas também reduzem o hormônio associado ao estresse, o cortisol, e ajudam a rejuvenescer o sistema imunológico.
Tais resultados levaram cientistas, incluindo Born, a considerar que aumentar a produção dessas ondas lentas poderia impulsionar os benefícios do sono e melhorar nossa atividade diurna.
Uma das técnicas mais promissoras para isso funciona um pouco como um metrônomo que conduz a atividade no cérebro ao ritmo certo. Em experimento, participantes dormem usando um dispositivo preso à cabeça que acompanha a atividade cerebral e é capaz de notar o início da produção de ondas lentas. Nesse momento, o dispositivo emite pulsos curtos de som suave em intervalos regulares durante a noite, em sincronia com as ondas lentas naturais do cérebro. Os sons são silenciosos o suficiente para evitar acordar o participante, mas altos o suficiente para serem registrados, inconscientemente, pelo cérebro.
Born liderou grande parte do trabalho experimental, descobrindo que esse estímulo auditivo suave é apenas o suficiente para reforçar os ritmos cerebrais necessários. Os participantes que usaram o dispositivo tiveram um desempenho melhor nos testes de memória, mostrando uma melhor capacidade de recordar o que haviam aprendido no dia anterior. Também foram observadas melhoras no equilíbrio hormonal, com redução nos níveis de cortisol; e no sistema imunológico.
Nos testes realizados até agora, os participantes ainda não relataram consequências indesejadas.
"Não podemos ter certeza, mas até agora não há efeitos colaterais óbvios", diz Born.
Dormir melhor em uma loja perto de você
A maioria dos estudos que tentam incrementar o sono de ondas lentas foi realizada em pequenos grupos de participantes jovens e saudáveis. Para ter certeza dos benefícios dessas técnicas, precisaríamos assistir a experimentos maiores em grupos mais diversos. Mas essas evidências já existentes permitiram à chegada ao mercado de um punhado de dispositivos para auxiliar o sono, principalmente na forma de faixas de cabeça para serem usadas durante a noite.
A start-up francesa Dreem, por exemplo, produziu uma faixa (disponível por cerca de € 400 ou R$ 1,8 mil) que também usa a estimulação auditiva para estimular o sono de ondas lentas, com uma configuração semelhante à dos experimentos científicos — que foram confirmados por outros estudos.
O Dreem também se conecta a um aplicativo que analisa os padrões de sono e oferece conselhos e exercícios práticos, como meditação, para favorecer uma melhor noite de sono.
A faixa de cabeça para sono profundo SmartSleep, da Philips, explicita buscar contornar os efeitos negativos da privação de sono — para pessoas "que, por qualquer que seja o motivo, simplesmente não estão se dando uma oportunidade adequada de sono", diz David White, diretor científico da Philips.
Esse produto foi lançado pela primeira vez em 2018 e, como o Dreem, trata-se de uma faixa para a cabeça que detecta a atividade elétrica do cérebro e reproduz periodicamente pequenos impulsos de som para estimular as oscilações lentas que são características do sono profundo. O dispositivo conta com um software que controla cuidadosamente o volume do som ao longo do tempo para garantir que ele dê o nível ideal de estímulo para cada usuário. Hoje, o produto está disponível apenas nos EUA por cerca de US$ 399 (cerca de R$ 1,6 mil).
Mais empresas estão buscando ferramentas para facilitar o acesso ao sono profundo, essencial para a manutenção da memória e do cérebro
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White concorda que o dispositivo não pode substituir completamente uma noite de sono, mas lembra que é notoriamente difícil convencer as pessoas que costumam dormir pouco a fazer as mudanças necessárias no estilo de vida. Ao ampliar os benefícios do sono, esse aparelho ao menos contribui para a atividade cotidiana. Nesse sentido, as próprias experiências da Philips confirmaram que o SmartSleep aumenta o sono de ondas lentas em pessoas privadas de sono e atenua alguns dos efeitos imediatos dessa situação, como uma pior consolidação da memória.
Pesquisas futuras podem sugerir ainda mais maneiras inovadoras de otimizar o sono. Aurore Perrault, da Universidade de Concordia, no Canadá, testou recentemente uma cama de balanço suave que oscilava para frente e para trás a cada quatro segundos.
Ela diz que a técnica foi inspirada no bebê recém-nascido de um colega sendo ninado para dormir, levando a equipe a se perguntar se os adultos também podem se beneficiar desses movimentos suaves. Eles descobriram que participantes de testes entravam mais rápido na fase das ondas lentas e passavam mais tempo nela quando as ondas cerebrais se sincronizavam com o movimento externo. Como era de se esperar, eles também relataram sentir-se mais relaxados no final da noite, e isso foi novamente acompanhado pelos benefícios esperados para sua memória e aprendizado.
Como diferenciar uma dificuldade para dormir e a insônia?
"Essa foi a cereja do bolo", diz Perrault.
Se uma cama desse tipo for lançada no mercado, ela deverá ter um propósito semelhante às faixas de cabeça que estimulam sons. Perrault está particularmente interessado em ajudar as pessoas mais velhas, já que a quantidade de tempo no sono profundo parece diminuir à medida que envelhecemos, contribuindo potencialmente para alguns problemas de memória relacionados à idade.
Ainda assim, procure dormir
Embora o campo ainda esteja em sua infância, esses estudos mostram que há muitas promessas no ramo da otimização do sono.
Perrault e Born são otimistas quanto ao potencial dos produtos comerciais que recorrem a pulsos sonoros para estimular essas ondas lentas regenerativas. Perrault enfatiza que ainda precisamos de estudos mais amplos para garantir sua eficácia fora das condições controladas do laboratório — mas ela comemora a perspectiva de beneficiar uma população maior.
No futuro, será interessante ver se a otimização do sono também pode trazer benefícios a longo prazo. Sabemos que a perda crônica de sono pode aumentar o risco de doenças como diabetes e até Alzheimer — mas não está claro se essas novas técnicas ajudarão a reduzir tais riscos.
Por enquanto, a única maneira garantida de colher todos os benefícios do sono — tanto a curto quanto a longo prazo — é garantir que você tenha o suficiente dele. Independentemente de você decidir experimentar esses dispositivos, é desejável ir dormir mais cedo e evitar álcool, cafeína e uso de telas antes de dormir, fatores esses conhecidos por prejudicar a qualidade do sono.
Nosso cérebro não pode funcionar sem recarga — e qualquer pessoa que deseje viver uma vida feliz, saudável e produtiva precisa acordar para esse fato.

O inovador método de imunoterapia que traz esperanças para pacientes com câncer avançado na próstata

O inovador método de imunoterapia que traz esperanças para pacientes com câncer avançado na próstata
Embora número de beneficiados seja relativamente pequeno, estudo constatou que alguns homens ganharam anos extras de vida. Um amplo estudo clínico para testar um medicamento de imunoterapia mostrou que a droga pode ser eficaz em alguns homens com câncer de próstata avançado.
Os pacientes que participaram da pesquisa tinham parado de responder às principais opções de tratamento.
E o estudo, publicado na revista científica "Journal of Clinical Oncology", mostrou que uma pequena parcela dos participantes permaneceu bem mesmo após o término dos testes, apesar de ter recebido um prognóstico pessimista antes do tratamento.
Na semana passada, foi divulgado que o mesmo medicamento se mostrou eficaz no tratamento de câncer de cabeça e pescoço avançado.
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Sebastião Santos/PMU
O que é imunoterapia?
A imunoterapia usa nosso próprio sistema imunológico para reconhecer e atacar células cancerígenas.
Já é usada como tratamento padrão para alguns tipos de câncer, como melanomas — e está sendo testada também como medicamento para muitas outras formas de câncer.
O tratamento parte da premissa de que o desenvolvimento de um câncer promove uma redução da atividade do sistema imunológico, uma vez que as células tumorais não são reconhecidas por ele e começam a crescer de forma descontrolada.
Para superar isso, pesquisadores descobriram maneiras de reverter o processo, ou seja, de ajudar o sistema imunológico a reconhecer as células tumorais e, ao mesmo tempo, aumentar sua resposta, causando a morte das "invasoras".
O que o estudo descobriu?
A pesquisa mostrou que um em cada 20 homens com câncer de próstata avançado respondeu ao medicamento pembrolizumabe — seus tumores diminuíram ou desapareceram por completo.
Embora o número seja relativamente pequeno, o estudo constatou que alguns pacientes ganharam anos extras de vida.
Outros 19% apresentaram alguma evidência de melhora.
Mas a maioria dos pacientes do estudo viveu em média oito meses usando o medicamento.
O ensaio clínico de fase II, conduzido pelo "Institute of Cancer Research" e pela fundação Royal Marsden, ambos no Reino Unido, contou com a participação de 258 homens com câncer de próstata avançado que não respondiam mais a outras opções de tratamento.
Qual o próximo passo?
As respostas mais satisfatórias foram observadas em pacientes cujos tumores apresentavam mutações nos genes envolvidos na reparação do DNA.
Os pesquisadores estão investigando agora se esse grupo pode se beneficiar mais da imunoterapia em um ensaio clínico mais amplo.
Mas, antes de tudo, será necessário realizar um teste para identificar que pacientes responderão melhor à medicação.
O que os especialistas dizem?
"A imunoterapia apresentou enormes benefícios para alguns pacientes com câncer, e é uma notícia fantástica saber que, até no caso do câncer de próstata, em que não vemos muita atividade imunológica, uma proporção de homens tenha respondido bem ao tratamento", diz o professor Paul Workman, diretor-executivo do Institute of Cancer Research.
"Uma limitação da imunoterapia é que não existe um teste ideal para selecionar aqueles com maior probabilidade de resposta (ao tratamento)."
"É encorajador saber que testes para mutações na reparação do DNA podem identificar pacientes com maior probabilidade de responder (ao tratamento). Estou ansioso para ver como será o estudo mais amplo que vai ser realizado com esse grupo de pacientes", acrescenta.
O professor Johann de Bono, oncologista da fundação Royal Marsden, do sistema de saúde público do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), foi um dos responsáveis ​​pelo estudo.
"Não vemos muita atividade do sistema imunológico em tumores da próstata, por isso muitos oncologistas pensavam que a imunoterapia não funcionaria para esse tipo de câncer", diz Bono.
"Mas nosso estudo mostra que uma pequena proporção de homens com câncer em estágio final responde (à imunoterapia) e, essencialmente, que alguns desses homens se saíram muito bem de fato."
"Descobrimos que homens com mutações nos genes de reparação do DNA respondem especialmente bem à imunoterapia, incluindo dois pacientes meus que agora estão tomando o medicamento há mais de dois anos", completa.
Na semana passada, um outro estudo mostrou que o mesmo medicamento manteve sob controle o câncer de cabeça e pescoço em estágio avançado de alguns pacientes por uma média de dois anos — cinco vezes mais que a quimioterapia.
Ambos os estudos fazem parte de um campo de pesquisa em ascensão que sugere que a imunoterapia pode oferecer esperança a um número cada vez maior de pacientes com câncer.
Especialista alerta sobre importância da prevenção do câncer de próstata
O que é a próstata?
A próstata é uma glândula do tamanho de uma bola de pingue-pongue, localizada dentro da virilha, entre a base do pênis e o reto.
Sua principal função é fornecer o líquido prostático ou seminal que se mistura com o esperma nos testículos, para que os espermatozoides possam sobreviver e serem expulsos durante a ejaculação.
E o câncer de próstata?
O câncer de próstata se desenvolve quando ocorre crescimento e reprodução anormais de células da glândula.
Uma vez que o tumor se desenvolve, se alimenta dos hormônios masculinos.
No Brasil, é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca) — ficando atrás apenas do câncer de pele não-melanoma.
O número de pessoas diagnosticadas com a doença tem crescido nos últimos anos.
Isso se deve parcialmente ao aumento da expectativa de vida e à evolução dos exames de rotina para diagnosticar o tumor.
Cerca de 30% dos homens com câncer de próstata avançado ou estágio 4 sobrevivem por cinco anos ou mais após o diagnóstico.
Exames de rotina
Ao se aproximar dos 50 anos — ou a partir dos 40, se houver histórico familiar da doença — todos os homens devem começar a fazer exames de rotina para a detecção de câncer de próstata.
De acordo com a Prostate Cancer Foundation, há dois tipos simples e relativamente indolores: o exame retal, em que o médico insere um dedo lubrificado e protegido por uma luva no reto para verificar se a glândula tem um crescimento ou forma irregular; e a coleta de sangue, usada para medir níveis de uma proteína produzida pela próstata — se estiverem elevados, pode ser um sinal de câncer.