Cidade de MT diz ter 83% de alunos alfabetizados com ‘método rápido alemão’; dados do MEC divergem

Banco Imobiliário: a história ‘idealista’ de um jogo roubado
Essência do método é a repetição: alunos devem reproduzir o som de 4 letras ao longo de 21 dias. Segundo defensores, crianças tornam-se leitoras fluentes em 4 meses. Críticos dizem que a falta de contexto prejudica habilidades de interpretação. Sala de aula com alfabeto na parede
Prefeitura de Uberaba/Divulgação
Os defensores de um método de alfabetização desenvolvido na Alemanha e vendido no Brasil usam a experiência observada no município de Alta Floresta (MT) para atestar que, com uma técnica de repetição de sons, é possível ensinar crianças a ler e a escrever em apenas 4 meses. O que é divulgado como "sucesso absoluto" e difundido para outras redes de ensino, no entanto, não foi verificado por índices oficiais do Ministério da Educação (MEC).
De acordo com a Secretaria de Educação de Alta Floresta, em 2022, após um ano de implementação do chamado "IntraAct Brasil", a porcentagem de crianças do 2º ano alfabetizadas teria saltado de 35% para 83%.
A avaliação do MEC mais próxima disso é o indicador Criança Alfabetizada, que usa dados de 2023. Ele foca na mesma faixa etária e mensura os conhecimentos dos alunos em língua portuguesa. O resultado é bem diferente: Alta Floresta teve apenas 53,5% dos alunos da rede pública com conhecimentos adequados na disciplina. É uma taxa ainda menor do que a média nacional (56%). Entenda mais abaixo.
✏️Abaixo, nesta reportagem, entenda os seguintes pontos:
por que a técnica gera embate entre as diferentes correntes da educação;
os detalhes do método e os resultados já registrados;
os pontos fortes apresentados pelos defensores;
e as críticas feitas por pesquisadores, principalmente a respeito da suposta limitação da criatividade e da "robotização" da aprendizagem.
📝Por que é uma técnica 'polêmica'?
🔊O método baseia-se na neurociência para defender que a chave da aprendizagem é a repetição (veja mais detalhes na próxima seção do texto). E é justamente esse princípio de "automatizar" a aquisição de conhecimentos que virou alvo de críticas. No IntraAct, as crianças precisam reproduzir os sons de 4 letras por 15 minutos, três vezes ao dia, ao longo de 3 semanas. Só depois disso, a turma é apresentada a uma outra pequena parte do alfabeto.
Para educadores consultados pelo g1, há as seguintes fragilidades:
A técnica ensina a decifrar códigos, mas, por apresentar aos alunos palavras fora de contexto, pode não desenvolver a capacidade de interpretação de texto e a criatividade das crianças.
No Brasil, o passo a passo a ser seguido pelo professor só é divulgado mediante a compra do "pacote" de materiais didáticos (mais de R$ 600 por aluno).
A crença de que mudar o método das escolas seria a solução para os problemas de leitura e escrita no Brasil é ilusória, já que há outros fatores que determinam o fracasso na educação atual, como a formação de professores deficitária, a falta de incentivo à carreira docente e as falhas na estrutura dos colégios.
“De tempos em tempos, aparece um método que promete mundos e fundos, como se a solução [para o nosso problema] fosse milagrosa. Mas é preciso olhar o contexto maior e investir principalmente na formação dos professores”, defende Elaine Vidal, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
➡️Segundo ela, o que está sendo vendido como uma técnica revolucionária parece ser apenas uma “nova roupagem” do método fônico (defendido pelo Ministério da Educação durante o governo Bolsonaro).
“Não há nada de inovador nisso. Os métodos sintéticos [entenda mais abaixo] existem desde o século XIX. A alfabetização baseada na memorização pode, de fato, tirar uma criança do analfabetismo total, porque ela vai decifrar sons e palavras. Mas é preciso analisar: ela vai saber interpretar o texto que acabou de ler? Vai atribuir sentido a ele?”, questiona Vidal.
Irene Duarte, professora responsável por trazer o IntraAct para o Brasil, diz que, de fato, "há críticas, mas que elas podem ser derrubadas".
"O método foi criado para pessoas com transtornos de aprendizagem [como dislexia e TDAH], mas a gente recomenda para todas. É uma forma de aprender muito rapidamente a ler. E sem gaguejar”, afirma.
De acordo com ela, os resultados das turmas após a aplicação do IntraAct foram muito positivos. "Testei em uma escola pública de Alta Floresta e foi lindo. No fim de 2021, mesmo com a pandemia, eu tinha as 33 crianças lendo, inclusive uma indígena que não falava português e uma menina com deficiência intelectual", conta Irene.
⛔É mais um capítulo da guerra entre métodos de alfabetização – conflito antigo que nunca definiu um vencedor.
📖Como funciona o IntraAct?
O método, baseado na neurociência, foi fundado pelos alemães Uta Streit e Fritz Jansen há mais de 30 anos. O objetivo inicial, como já explicado mais acima, era alfabetizar pessoas com dislexia, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou autismo.
Veja como funciona:
O professor apresenta aos alunos um grupo de 4 letras de cada vez, começando pelas que são pronunciadas mais facilmente (A, M, L, O). Ao longo de 3 semanas, a turma repetirá o som de cada um desses caracteres.
O objetivo é tornar automática a associação do “M” ao som de “mmmm”, por exemplo. Aos poucos, o aluno formará palavras e pseudopalavras usando essas 4 letras: lama, loma, amo etc.
“A aula tem 4 horas. Em 3 tempos de 15 minutos, a gente repete os sons das letras. Esse processo [de aprendizagem] precisa ser de fora pra dentro, precisa ser colocado na cabeça das crianças. A gente vai instalar as 26 letras do sistema alfabético na região occipital do cérebro [responsável pelo processamento visual das informações]”, explica Irene Duarte.
A orientação é que palavras escritas com outras letras ainda não sejam apresentadas para as crianças, segundo a cartilha de Streit e Jansen.
Depois de 21 dias, outras 4 letras são ensinadas: F, S, I e N. O aluno passa a escrever “nana”, “lona”, “fama” e termos que não existem, mas que usam essas sílabas.
Após cerca de 4 meses, todo o alfabeto terá sido mostrado. Em tese, a criança terá desenvolvido consciência fonológica e saberá ler e escrever com fluência.
O processo é focado na memorização. As crianças veem a letra “A”, por exemplo, 5 vezes, por meio de um papel recortado que forma uma espécie de “janelinha”— ela é deslizada da esquerda para a direita, na intenção de condicionar o cérebro a ler sempre nesse sentido (veja a imagem abaixo). No meio das sequências, aparecem outros elementos, como um quadrado roxo, para só depois voltar à letra “A”. Assim, é possível exercitar a memória e fixar o que foi aprendido mesmo após "interrupções".
Exemplo de 'janelinha' que revela as letras
Reprodução/IntraAct
📖O que os números dizem sobre o IntraAct?
Professora ensina aluno a ler por meio de método alemão
Reprodução/IntraAct
A Secretaria de Educação de Alta Floresta, cidade onde Irene aplicou pela primeira vez o IntraAct, alega que, antes de adotar o método, apenas 35% das crianças eram alfabetizadas até o fim do 2º ano do ensino fundamental. No fim de 2022, após um ano da implementação da técnica, o índice teria subido para 83%.
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Educação do município para saber qual foi a metodologia usada na avaliação, já que, nos materiais públicos de divulgação, não há nenhum detalhamento. Em resposta, o órgão afirmou que foram utilizadas "ferramentas como avaliação municipal e avaliação estadual, dentro do programa Alfabetiza Mato Grosso".
🔔São números que destoam dos apresentados pelo MEC, como mostrado no início da reportagem. O Indicador Criança Alfabetizada indica que apenas 53,5% das crianças de Alta Floresta, do 2º ano do ensino fundamental, demonstraram ter conhecimentos adequados em língua portuguesa em 2023.
Segundo a secretaria estadual, os dados do MEC foram baseados apenas em escolas da rede particular de ensino. Mas, quando consultada pelo g1, a pasta reforçou que são números censitários, colhidos em escolas públicas pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Lucineia Mazzoni, secretária de Educação do município, alega que, em 2023, a rede municipal recebeu alunos do 2 ao 5º ano oriundos de colégios estaduais. "Isso impactou diretamente os resultados. Em 2025, a expectativa é que o resultado positivo do programa se amplifique, refletindo um avanço mais significativo na alfabetização", diz.
Observação: Apesar de haver esse índice insatisfatório no Indicador Criança Alfabetizada, o MEC concedeu à cidade o Selo Nacional Compromisso com a Alfabetização, por considerar que houve “o desenvolvimento de ações integradas em nível territorial, a institucionalização de políticas de alfabetização, a formação contínua de professores e a distribuição de materiais didáticos”.
📖Qual é a diferença entre aprender com cartilha ou com textos 'reais'?
Em geral, há duas formas de enxergar esse processo de aprendizagem: pensar na língua como objeto cultural, sempre contextualizada e com sentido; ou ver a escrita como um sistema de códigos, que exige certo distanciamento para ser compreendido.
São interpretações não necessariamente excludentes — uma pode complementar a outra. Mas alguns métodos optam por priorizar um desses aspectos.
Métodos sintéticos: As antigas (mas ainda usadas) cartilhas, por exemplo, ou o próprio IntraAct aproximam-se mais de uma visão técnica — o aluno começa a aprender por uma pequena parte (seja o som de cada letra ou de cada sílaba) para só depois combinar tudo e formar palavras. “Be-bê”, “Ba-bá”.
Métodos analíticos: Outra abordagem, defendida mais acima pela professora da USP, propõe uma reflexão sobre o uso social da língua: o aluno vai entrar em contato com textos reais (histórias, parlendas) para só depois olhar para as suas partes (palavras, sílabas, sons). A prioridade é a compreensão dos significados, sempre próximos ao universo infantil.
Não há uma determinação que obrigue as escolas a adotar um ou outro método no Brasil.
📖Quais as críticas dirigidas ao método? E como os apoiadores se defendem?
1- 'As crianças viram pequenas máquinas que repetem sílabas sem sentido.'
Isabel Frade, presidente emérita da Associação Brasileira de Alfabetização e professora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que o processo de aprendizagem realmente deve incluir a habilidade de decifrar e registrar sons em letras — mas não pode se limitar a isso.
“Consideramos o funcionamento do cérebro, mas e a parte social? É como se isolássemos a criança de todos os outros fenômenos para que ela consiga decodificar letras em 4 meses”, afirma. “A aprendizagem precisa acontecer a partir de usos sociais da escrita, como os textos.”
Elaine Vidal, da USP, concorda. “Não estamos só decifrando sons na leitura: estamos atribuindo sentindo para aquilo. Por trás de um cérebro que memoriza, há uma criança que pensa”, diz.
Streit, Jansen e Angelika Fuchs, autores do material didático do IntraAct na Alemanha, argumentam que a automação é um pré-requisito para que as habilidades de leitura e de escrita sejam desenvolvidas. Segundo esses estudiosos, apresentar o texto de um livro infantil a uma criança que ainda não é alfabetizada pode “sobrecarregá-la” com tantas letras ainda desconhecidas.
2- 'Os alunos não vão praticar a autodescoberta nem exercitar a criatividade.'
Suponha que a criança esteja no primeiro mês de alfabetização pelo método IntraAct. Ela conhecerá, até o momento, apenas quatro letras: A, M, L e O.
“Ela certamente vai querer escrever seu nome, o nome dos pais ou dos animes de que ela gosta. Se não for possível com essas letras, o que fazer? Isolar o ensino do alfabeto em relação à vivência das crianças não é legal”, explica Frade.
Irene, professora do IntraAct mencionada no início da reportagem, conta que, nesses casos, não esconde a resposta do estudante: se o nome a ser escrito for “Flávia”, por exemplo, ela opta por escrever a palavra em um papel e pedir para que o aluno copie, mesmo sem conhecer o F, o V e o I.
“São só 4 meses até ela saber o alfabeto inteiro. A crítica existe, mas a gente derruba. Não considero que esse método limite [a turma]. No segundo bloco de letras, ela já vai conseguir formar frases”, afirma.
➡️Em metodologias analíticas, como já explicado, o aluno vai entrar em contato com textos e, aos poucos, elaborar suas hipóteses a respeito dos sons das letras e da construção de palavras e frases. Como o processo está dentro de um contexto (interesse pela história, dinâmica com os amigos), a criança aprende a ler “atribuindo sentido àquilo”, explicam as pesquisadoras.
➡️Já na visão do método fônico ou do IntraAct, estimular a construção de hipóteses é desrespeitar o ritmo de desenvolvimento cerebral infantil. “Nós aprendemos pelo conhecimento visual de associação ao som. Biologicamente, aprendemos por repetição. Trazer todas as letras de uma vez só é um grande erro”, diz Irene, de Alta Floresta.
O livro sobre a metodologia do IntraAct diz que “a autodescoberta pode ser desafiadora e motivadora, mas também é particularmente ruim sobrecarregar uma criança assim”.
Problemas na alfabetização: o que é fluência leitora e por que ler devagar é preocupante
📖Qual é a solução, então?
Todos os especialistas entrevistados nesta reportagem — sejam críticos ou defensores do IntraAct — concordam em um aspecto: o problema da alfabetização do Brasil não é essencialmente o método usado nas escolas.
Outros fatores, mais importantes, necessitam de reparo, como:
a formação frágil de professores, principalmente após o crescimento da educação à distância;
as desestimulantes condições de carreira oferecidas aos docentes, com baixas remunerações e sobrecarga de trabalho;
a falta de estrutura e de material didático adequados nas escolas da rede pública.
Alfabetização: saiba as diferenças entre método fônico e método global
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Trump oficializa desmonte do Departamento de Educação; Senado precisa aprovar fechamento, e presidente não tem apoio suficiente

Banco Imobiliário: a história ‘idealista’ de um jogo roubado
Pprocedimento prevê que secretária da pasta, tome 'todas as medidas necessárias para facilitar' o fechamento. Medida não tem apoio popular, segundo pesquisa de opinião. Trump planeja esvaziar departamento de educação
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira (20) uma ordem executiva para desmantelar o Departamento de Educação.
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O procedimento prevê que Linda McMahon, secretária de Educação, tome "todas as medidas necessárias para facilitar o fechamento do Departamento de Educação e devolver a autoridade educacional aos estados".
McMahon, que é cofundadora da franquia de luta livre profissional WWE defendeu os planos de Trump de abolir a agência, mas prometeu que o financiamento estudantil continuará existindo.
O papel principal da agência é financeiro. Anualmente, ela distribui bilhões de dólares para faculdades e escolas, além de administrar empréstimos estudantis federais. Fechar o departamento significaria redistribuir cada uma dessas funções para outra agência.
Para fechar o Departamento de Educação por completo, porém, o Congresso teria que aprovar uma legislação, e Trump não tem os votos para fazer isso.
Embora os republicanos controlem ambas as câmaras do Congresso, o apoio democrata seria necessário para atingir os 60 votos necessários no Senado para que tal projeto de lei fosse aprovado.
O fechamento do Departamento de Educação é uma promessa de campanha do presidente eleito em 2024. Por outro lado, uma pesquisa Reuters/Ipsos apontou que 65% dos americanos são contrários ao fechamento do órgão, enquanto 30% apoiam a medida.
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A medida
Trump assina ordem para fechar Departamento de Educação em meio a crianças, em 20 de março de 2025
REUTERS/Nathan Howard
O Departamento de Educação supervisiona cerca de 100 mil escolas públicas e 34 mil privadas nos Estados Unidos, embora mais de 85% do financiamento das escolas públicas venha de governos estaduais e locais.
O órgão fornece subsídios federais para escolas e programas carentes, incluindo dinheiro para pagar professores de crianças com necessidades especiais, financiar programas de artes e substituir infraestrutura desatualizada.
Na quarta-feira, a Reuters informou que, segundo uma fonte anônima, os empréstimos estudantis e os serviços para crianças com deficiência seriam codificados em lei e continuariam. O documento instrui também que quaisquer programas ou atividades que recebam fundos remanescentes do Departamento de Educação não devem "promover DEI ou ideologia de gênero".
Na última semana, procuradores-gerais de estados democratas entraram com uma ação judicial para tentar impedir o fechamento e as demissões de quase metade da equipe. Os defensores do departamento dizem que ele é crucial para manter os padrões de educação pública elevados.
Eles acusam os republicanos de tentar impulsionar a educação com fins lucrativos e afirmam que o fechamento poderia interromper dezenas de bilhões de dólares em ajuda para escolas K-12 e assistência de mensalidades para estudantes universitários.
No início de março, Trump já havia falado à imprensa americana sobre seus planos de acabar com o departamento. Já em fevereiro, em entrevista ao canal de TV americano Fox News, o presidente afirmou que iria mandar o Departamento de Eficiência Governamental, comandado pelo bilionário Elon Musk, procurar supostas fraudes nas áreas de Educação e de Segurança.
"Vou dizer a ele muito em breve… para ir checar o Departamento de Educação. (…) Vamos encontrar bilhões, centenas de bilhões de dólares em fraude e abuso, e o povo me elegeu para isso", declarou Trump ao âncora Bret Baier.
O departamento, conhecido como DOGE, foi criado por Trump para descobrir e eliminar o que a sua administração considera como gastos governamentais desnecessários, mas vem causando polêmica por causa de demissões em massa de servidores e outras decisões.
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Greve na UnB: servidores técnico-administrativos paralisam atividades

Banco Imobiliário: a história ‘idealista’ de um jogo roubado
Eles reivindicam pagamento de parcela da Unidade de Referência de Preços (URP), mecanismo que ajusta salários. Paralisação começou nesta quinta (20) e é por tempo indeterminado; biblioteca fica fechada. Fachada da UnB
Divulgação/UnB
Os servidores técnico-administrativos da Universidade de Brasília (UnB) entraram em greve nesta quinta-feira (20). A paralisação acontece por tempo indeterminado e afeta também a biblioteca central.
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A categoria reivindica o pagamento da parcela de 26,05% da Unidade de Referência de Preços (URP), que compõe o salário.
🔎 URP: mecanismo para ajuste de preços, salários e contratos, visando combater a hiperinflação.
Segundo o Sindicato dos Servidores Técnico-administrativos da Fundação Universidade de Brasília (SINTFUB), o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou a continuidade da URP, em junho de 2024. Mas o sindicato diz que o Ministério da Gestão e Inovação (MGI) não liberou os recursos para o pagamento.
O g1 entrou em contato com o ministério, que não respondeu até a última atualização da reportagem.
A decisão pela realização da greve aconteceu durante uma assembleia do SINTFUB, na terça-feira (11);
Em assembleia nesta quinta (20), os servidores decidiram iniciar a greve;
Em relação ao fechamento da biblioteca, a informação é que não haverá multas para livros não devolvidos durante a greve.
Greve em 2024
Servidores técnicos da UnB fazem manifestação contra corte de benefício
Os técnico-administrativos da UnB realizaram uma greve no ano passado, entre 11 de março e 1° de julho.
A categoria reivindicou a reestruturação do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PPCTAE). À época, a categoria encerrou a paralização após um acordo com o governo federal. Entre 8 de abril e 20 de junho, os professores da UnB também realizaram uma paralização.
🔎 Em 2023, os técnicos fizeram uma manifestação contra o corte da Unidade de Referência Padrão (URP) (veja vídeo acima).
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Programa Pé-de-Meia não corre risco de descontinuidade, diz Haddad

Banco Imobiliário: a história ‘idealista’ de um jogo roubado
Proposta de Orçamento, que deve ser votada nesta quinta pelo Congresso, não prevê recursos suficientes para financiar o programa em 2025. Há um mês, TCU determinou que o governo incluísse, em até quatro meses, as despesas do programa dentro do Orçamento. Por meio do Pé-de-Meia, o estudante recebe um incentivo mensal de R$ 200, que pode ser sacado em qualquer momento
Divulgação/Governo Federal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (20) que o programa Pé-de-Meia não corre risco de paralisação.
Ele deu a declaração ao chegar para reunião da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), onde fez uma exposição sobre o momento da economia, focado nos programas que o governo enviou recentemente ao Congresso: o crédito consignado para empregados CLT e a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil.
"O programa [Pé-de-Meia] não sofre o risco de descontinuidade. O direito do estudante está garantido de qualquer forma", disse o ministro Fernando Haddad.
👉 O programa Pé-de-Meia foi criado em janeiro de 2024. Ele é destinado a estudantes do ensino médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de escolas públicas que integram famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal (CadÚnico).
💰O programa cria uma poupança para promover a permanência dos alunos na escola e a conclusão do ensino médio.
A proposta de Orçamento apresentada pelo relator, Angelo Coronel (PSD-BA), não prevê recursos suficientes para financiar o programa Pé-de-Meia em 2025.
Há um mês, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia determinado que o governo incluísse, em até quatro meses, as despesas do programa dentro do Orçamento.
Segundo Coronel, a peça orçamentária prevê somente R$ 1 bilhão para o custeio do programa neste ano. A estimativa do custo do Pé-de-Meia para 2025 é de cerca de R$ 13 bilhões.
Técnicos da Comissão Mista de Orçamento, e o relator da peça orçamentária, afirmam que a proposta assegura, no entanto, que o governo custeie o programa por meio da realocação de recursos da reserva de contingência do Orçamento.
Para isso, o Planalto terá de enviar um projeto ao Congresso pedindo a abertura de crédito para essa finalidade. O texto precisará passar por votação na CMO e também pelo conjunto de deputados e senadores.

Banco Imobiliário: a história ‘idealista’ de um jogo roubado

Banco Imobiliário: a história ‘idealista’ de um jogo roubado
Comprar imóveis e levar outros jogadores à falência: essa é a moral do mundialmente famoso jogo de tabuleiro que nos EUA ficou conhecido como "Monopoly". Mas a proposta de sua inventora, na verdade, era bem diferente.
Reprodução
Ela sonhava com um mundo onde reina a justiça reina e onde a riqueza e a terra são distribuídas igualmente. Elizabeth Magie Phillips viveu nos Estados Unidos no final do século 19 – e seu sonho ainda não se tornou realidade. E o jogo criado por ela também está sendo jogado hoje de forma diferente do que ela provavelmente tinha em mente quando o criou. Para Magie, aliás, o nome dele nem deveria ser "Monopólio" – e muito menos Banco Imobiliário, como ficou conhecido no Brasil –, mas sim "Jogo do Senhorio".
Todos jogam, todos ganham
"A versão do Banco Imobiliário da Magie tinha dois conjuntos de regras: um sobre quebrar monopólios e outro sobre mostrar o quão prejudiciais os monopólios são. Estas últimas são as regras pelas quais jogamos hoje", diz Mary Pilon, autora de The Monopolists. Só que hoje o foco não está – como Magie talvez desejasse – em ver o prejudicial como de fato prejudicial.
O conjunto "idealista" de regras foi baseado na teoria do imposto único do economista americano Henry George (1837-1897), que propôs tributar a terra – pesadamente – e depois redistribuir a receita. No "Jogo do Senhorio" de Magie, todos os jogadores devem pagar impostos sobre suas propriedades. Quando alguém ganhava dinheiro, portanto, os lucros eram redistribuídos para que todos se beneficiassem no final.
No entanto, esse conjunto de regras nunca prevaleceu. Em vez disso, eis o que jogamos atualmente: quem tiver acumulado mais posses e dinheiro no final, vence. Já quem vai à falência, perde.
Em 1904, Magie registrou uma patente para o "Jogo do Senhorio". O jogo se espalhou entre os estudantes da Costa Leste e acabou ficando conhecido como Monopólio – ou Banco Imobiliário.
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Cópia descarada de um vendedor
Na década de 1930, um grupo de quakers – religiosos protestantes – jogou com o vendedor desempregado Charles Darrow, que ficou impressionado. Ele copiou o jogo, alegou que era uma criação sua, apesar da patente, e vendeu os direitos para a fabricante de jogos Parker Brothers.
Segundo a fabricante, mais de 275 milhões de cópias foram vendidas no mundo todo até 2010. O jogo anticapitalista de Magie fez do vendedor desempregado um milionário – ela própria saiu de mãos vazias.
Essa história toda só veio à tona graças à jornalista Mary Pilon. Em 2009, ela trabalhava em um artigo para o Wall Street Journal sobre o Banco Imobiliário. Mas durante sua pesquisa ela estranhou o fato de não conseguir encontrar nenhuma fonte primária.
"A patente de Darrow era muito profissional e artística para um vendedor desempregado", disse Pilon à DW. "E ninguém conseguia me dizer as datas certas. Foi 1924, 1931 ou 1934?"
"Era tudo mentira"
A única pessoa viva que conhecia a verdadeira história do Banco Imobiliário naquela época era o professor de economia Ralph Anspach, inventor de um jogo anti-Monopólio. Na década de 1970, Anspach acabou se envolvendo em uma disputa judicial com a Parker Brothers sobre seu jogo e descobriu por acaso que foi Elizabeth Magie, não Charles Darrow, quem inventou o Banco Imobiliário.
"Esperei 40 anos que alguém me perguntasse", disse Anspach quando ela o contatou, lembra Pilon. Rapidamente, a jornalista percebeu que tudo o que havia lido na Internet sobre a história do Banco Imobiliário estava errado. Seu artigo acabou virando um projeto de livro para o qual Pilon viajou pelos EUA para pesquisar em arquivos durante cinco anos.
Nos passos de Lizzie Magie
Elizabeth Magie Phillips nasceu em uma família política em Macomb, Illinois, em 1866. Seu pai já havia feito campanha em seu jornal pela abolição da escravidão, que foi ratificada apenas um ano antes do nascimento de Magie.
Magie também era politicamente ativa décadas antes de as mulheres terem permissão para votar nos Estados Unidos. Quando se mudou para Washington D.C. com sua família, por volta de 1890, ela se associou ao "Woman's Single Tax Club" (Clube das Mulheres do Imposto Único), seguindo o espírito de Henry George.
Magie trabalhou em Washington D.C. como estenógrafa nos correios. Ela usava o cabelo castanho e cacheado em um corte curto e teve uma variedade de hobbies e profissões: publicou ensaios, poemas e contos, subiu no palco do teatro e, aos 26 anos, patenteou um dispositivo que havia inventado para fazer o papel deslizar mais facilmente nas máquinas de escrever.
Em algum momento, seu pai lhe deu uma cópia de Progresso e Pobreza, de Henry George. Na obra, George estabelecia as bases do jogo de Magie ao escrever: "O que destruiu todas as civilizações antes de nós foi a distribuição desigual de riqueza e poder." Essa frase foi uma inspiração para Magie.
Pico de desigualdade social
A Washington dos tempos de Magie – final do século 19 – era caracterizada pela industrialização, desigualdades e revoluções. Segundo o censo, em apenas vinte anos a cidade cresceu de 178 mil para quase 280 mil habitantes em 1900. E enquanto magnatas industriais como John D. Rockefeller, Andrew Carnegie e J.P. Morgan acumulavam riqueza, a classe trabalhadora vivia em condições precárias.
Magie era contra essa realidade: em um de seus poemas, ela descreveu a industrialização de Washington como um "lugar escuro e sombrio" onde "todos são egoístas".
Em uma edição de 1902 da Single Tax Review, ela descreveu seu jogo original: "Trata-se de uma demonstração prática do atual sistema de grilagem de terras, com todas as suas […] consequências. Poderia muito bem ter sido chamado de 'O Jogo da Vida', porque contém todos os elementos do sucesso e do fracasso do mundo real, e o objetivo é o mesmo da humanidade em geral, ou seja, a acumulação de riqueza."
A luta de Lizzie Magie por seu jogo
Ironicamente, Charles Darrow e os irmãos Parker acumularam uma fortuna por meio do jogo – a despeito da crise econômica global de então. Magie, que já era uma senhora idosa na época, só soube disso pela imprensa.
"Lizzie ficou furiosa", conta Pilon. E reagiu: com o tabuleiro de jogo original e sua patente – pela qual recebera algumas centenas de dólares na época – em mãos, ela mesma procurou a imprensa.
A fabricante do jogo propôs então um acordo, que Ralph Anspach chamaria mais tarde de "acobertamento", segundo Pilon: a Parker Brothers ofereceu a Magie o lançamento de dois de seus jogos como compensação. "Mas não há evidências de que isso tenha acontecido", diz Pilon. "Até hoje, a Parker Brothers ainda não reconhece que Lizzie é a inventora do Banco Imobiliário."
O que Magie pensaria sobre os tempos de hoje? Uma época em que a desigualdade social aumenta e políticos como Donald Trump jogam Banco Imobiliário com o mundo? De acordo com os dados mais recentes da Oxfam, o 1% mais rico da população mundial possui mais riqueza do que os 95% mais pobres juntos.
"Lizzie certamente olharia de forma muito crítica para o presente, especialmente para a desigualdade social", pondera Pilon. Elizabeth Magie morreu em 1948, aos 81 anos, em Staunton, Virgínia. Ela viveu o suficiente para ver o sucesso de sua obra, mas não para experimentar o reconhecimento de seu trabalho.
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