‘Fiz laqueadura aos 25 anos e realizei um sonho’

Por que as pessoas mentem mais quando pensam em sexo?
Auxiliar administrativa carioca Karoline Alves compartilhou história para incentivar outras mulheres que desejam fazer procedimento 'a correr atrás dos direitos'; legislação obriga planos de saúde e SUS a oferecerem cirurgia. A laqueadura é um metódo anticoncepcional praticamente irreversível
Getty Images/BBC
A assistente administrativa Karoline Alves queria fazer uma laqueadura — cirurgia para não ter mais filhos — desde que soube que o procedimento existia, quando ainda era adolescente.
"Sempre tive a certeza de que não queria ter filhos", conta ela à BBC News Brasil. "Mesmo usando outros métodos anticoncepcionais, toda vez que atrasa a menstruação a gente fica preocupada."
"Nunca me vi sendo mãe, nunca me vi tendo filhos, e fazer uma cirurgia para isso seria uma preocupação a menos na vida", afirma. No entanto todas as histórias que ela ouvia sobre a dificuldade de fazer o procedimento a desanimavam.
"Eu sempre ouvia que tinha que ter dois filhos para poder fazer. Mas não faz sentido. E quem não quer ter filho nenhum?", diz ela, hoje com 26 anos.
Quando tinha 25 anos, Karoline resolveu checar por si mesma quais eram, de fato, os requisitos legais para o procedimento.
E descobriu que 25 anos é justamente a idade mínima exigida pela legislação para mulheres que quiserem fazer a cirurgia de esterilização — e que mulheres mais jovens também podem fazer o pedido se tiverem pelo menos dois filhos.
"Eu até levei a lei impressa na médica caso algum dos médicos fosse mal informado", diz ela, que ficou positivamente surpreendida ao perceber que não teria resistência.
"Era a primeira vez que eu ia nessa médica, do plano de saúde que tenho no trabalho. Demora, mas nenhum dos médicos que eu passei falou que eu não poderia fazer por causa da minha idade ou por não ter filhos", diz Karoline. "Foi um alívio. Eu achei sinceramente que seria mais difícil."
Depois de fazer a cirurgia, a jovem compartilhou seu relato no Facebook. O post teve 20 mil curtidas e mais de 16 mil comentários — boa parte dos quais fazendo perguntas sobre o caminho para o procedimento ou querendo tirar dúvidas sobre como é passar por ele.
"Eu quis compartilhar minha história para que outras mulheres com o mesmo desejo saibam que é possível, para que elas não desanimem", diz a jovem. "A gente tem que correr atrás dos nossos direitos."
"Teve alguns comentários criticando, mas, para ser sincera, depois de um tempo eu parei de acompanhar, estou só respondendo quem me mandou dúvidas por mensagem."
Quais as exigências para fazer laqueadura?
A Lei de Planejamento Familiar, de 1996, estabelece que a esterilização só é permitida em pessoas capazes, maiores de 25 anos, ou, se forem mais jovens, que tenham pelo menos dois filhos vivos.
"Como é um ato definitivo, praticamente sem volta, existe uma cautela na lei para evitar a realização em mulheres muito jovens", explica a advogada Renata Farah, presidente da Comissão de Direito à Saúde da OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil). "Mas a maioria das dificuldades que as pessoas encontram não são entraves legais, mas da cultura do hospital, do Estado, etc", afirma.
A partir dessa idade, as únicas exigências são quanto aos procedimentos que precisam ser seguidos: é preciso um intervalo mínimo de 60 dias entre a pessoa manifestar a vontade ao médico pela primeira vez (por escrito) e o procedimento, e a pessoa precisa ser informada dos riscos da cirurgia, dos possíveis efeitos colaterais, da dificuldade de revertê-la e das outras opções de contracepção existentes.
"A médica conversou comigo, perguntou se eu tinha certeza, disse que é um método muito radical e a reversão é difícil, eles explicam tudo", conta Karoline. "Ela explicou que, mesmo com a cirurgia, ainda há chance de falha, já que nenhum método é 100% seguro."
"Mas como eu tinha muita certeza ela me encaminhou para a cirurgia", diz Karoline, que também precisou se submeter aos vários exames pré-cirúrgicos de praxe e passou por um atendimento psicológico nesses dois meses. "O que eu digo para quem me pergunta é que é preciso ter muita certeza, porque a psicóloga vai te questionar muito."
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Como mora com namorado, a auxiliar administrativa teve a opção de pedir o procedimento como solteira ou como parte de uma união estável. "Acabei fazendo como pessoa em união estável porque achei que seria mais fácil de ser aprovado", diz ela.
"Durante o procedimento, ficaram me perguntando qual a opinião do meu namorado, o que ele acha. Ele também não quer ter filhos, mas esse não é o ponto, é uma decisão que é minha."
Em casos de homens e mulheres casados ou com união estável, a lei exige que se apresente também a autorização do cônjuge para a realização da cirurgia.
"Eu acho super errado, porque o corpo é meu, a decisão é minha, mas como queria evitar ter problemas e tinha essa opção, acabei levando a autorização do meu namorado", diz ela.
Após o encaminhamento da ginecologista, da psicóloga e do cirurgião, o plano de saúde aprovou o procedimento. Após todas as burocracias, Karoline foi levada pelo pai e pelo namorado ao hospital, onde ficou um dia internada para a cirurgia.
"Meus pais sempre aceitaram de boa que eu não quero ter filhos, é algo que eles sempre souberam e sempre me deram muito apoio", conta. "É gente de fora [da família] que diz, 'ah, mas você vai se arrepender, vai mudar de ideia'. Pessoas que acham que a verdade delas é a verdade de todo mundo."
"Eu tenho amigas que têm filhos e não queriam ter, é uma situação muito difícil", diz.
"O corpo é meu, a vida é minha, eu sempre tive certeza. Não acho que vou me arrepender", afirma ela, que diz que realizar o procedimento foi a "realização de um sonho".
A laqueadura é uma cirurgia um pouco mais complicada que a vasectomia, procedimento de esterilização feito em homens. É caracterizada pelo corte e ligamento cirúrgico das tubas uterinas, impedindo o processo de fecundação.
Mas Karoline não teve problemas na recuperação.
"No dia, eu não podia levantar e tive um pouco de dor, mas passou com os remédios", diz a jovem, que continuou tomando remédios e anti-inflamatórios nos dias seguintes. "Também tive que limpar os pontos três vezes ao dia, mas foi só. Saí andando do hospital."
Karoline diz que sempre ouvia relatos de pessoas que não conseguiram fazer o procedimento
Isadora Alves/Arquivo pessoal
Teoria e Prática
Karoline fez o procedimento pelo plano de saúde — os planos são obrigados por determinação da Agência Nacional de Saúde a oferecer laqueadura, vasectomia e implantação do DIU desde 2008, quando foram incluídos na lista de cobertura mínima obrigatória.
Mas nem todo mundo tem a mesma facilidade que ela, com relatos de pessoas que tiveram o procedimento negado por motivos não relacionados a questões médicas ou legais, como "questões religiosas". Uma resolução da ANS determina que mesmo que não haja médico ou hospital no plano que esteja disponível para realizar o procedimento, a operadora do plano é obrigada a indicar um "profissional ou estabelecimento mesmo fora da rede conveniada do plano e custear o atendimento".
O Estado também tem, por lei, o dever de oferecer o procedimento de esterilização através do Sistema Único de Saúde — o SUS realizou mais de 67 mil laqueaduras em 2018 e um número parecido em 2017.
Pelas regras do Ministério da Saúde, a cirurgia pode ser feita de graça em qualquer hospital público que tenha serviço de obstetrícia e ginecologia. Em 2017, foram realizadas 67.525 laqueaduras, e, em 2018, 67.056 procedimentos.
No entanto, são frequentes os relatos de pacientes que tiveram muita dificuldade de conseguir fazer a cirurgia e diversos que não conseguiram.
Um estudo publicado neste ano pela pesquisadora Amanda Muniz Oliveira, da Universidade Federal de Santa Catarina, mostra que, embora o procedimento seja garantido por lei, há frequentes recusas na realização da cirurgia no Estado, o que "gerou judicialização de diversos pedidos". A pesquisa mostra que decisões judiciais sobre o assunto em Santa Catarina ora ignoram e ora salientam os requisitos da lei.
Segundo o estudo, frequentemente, quando o procedimento é garantido pela Justiça, não é "sob o fundamento de que se trata da vontade da mulher, e, sim, porque a mulher é hipossuficiente financeiramente", diz Oliveira, na pesquisa.
"Os Estados, municípios e hospitais podem ter procedimentos locais diferentes, mas não podem restringir direitos que são garantidos pela legislação nacional", afirma a advogada Renata Farah.

‘Passei minha vida com medo de ser chamada de gorda, até descobrir o movimento Body Positivity’

Por que as pessoas mentem mais quando pensam em sexo?
Megan Jayne Crabbe tinha cinco anos quando ela entrou em uma guerra com seu corpo. Hoje, ela uma ativista de um movimento de positividade corporal. Megan Jayne Crabbe diz que o movimento de positividade sobre o corpo abriu seus olhos
Natalie Lam
Megan Jayne Crabbe tinha cinco anos de idade quando entrou em guerra com seu corpo. Em vez de fazer amigos em seu primeiro dia de aula, ela ficou se comparando a suas colegas e dizendo para si mesma que ela era "gorda".
Agora, com mais de um milhão de seguidores no Instagram, ela recentemente foi ao Parlamento britânico defender que a gordofobia deve ser reconhecida como uma forma de preconceito.
Demorou quase duas décadas para que Megan aceitasse seu corpo. Até então, ela saía e entrava de dietas, passou por anorexia e ficou um tempo internada em um hospital psiquiátrico.
Aos 21, tendo abandonado a faculdade, ela chegou ao peso que queria. Mesmo assim, "odiava tudo" sobre si mesma.
"Sabia que não importava o peso que eu atingisse, nunca seria o suficiente", diz Megan, agora com 26 anos. "Não podia continuar com aquela vida. Eu sabia que tinha de ter mais. Meu distúrbio alimentar tomou tanto de mim — perdi muito tempo, e me recusei a permitir que meu distúrbio tomasse mais de mim."
"Deparei com a imagem de uma mulher no Instagram usando um biquíni e falando sobre aceitar seu corpo, sem fazer dietas e vivendo sua vida como ela era. Nunca tinha pensado que tinha essa opção."
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Megan começou a publicar mensagens e fotos de positividade sobre seu corpo na conta de Instagram Bodyposipanda, ganhando milhares de seguidores. Ela se refere a si mesma como "chubby" (algo como "gordinha") nas publicações e quer que seguidores abracem esse tipo de linguagem.
"A palavra "gorda" tinha o poder de me derrubar. Passei a vida toda com medo de ser chamada de gorda, não conseguia nem ver essa palavra", ela diz. "Quando eu encontrei o movimento 'body positivity', meus olhos se abriram para toda uma forma de ver isso. É só uma palavra, uma forma de descrever seu corpo e precisamos nos apropriar disso."
"Body positivity" significa "positividade sobre o corpo".
Megan passou a maior parte da sua vida odiando seu próprio corpo
Megan Jayne Crabbe
Mudança de percepção
Megan começou a fazer dieta aos 10 anos de idade, dizendo a seus pais que ela queria ser mais saudável. Mas logo eles descobriram que isso se tornou algo perigoso.
Quando ela tinha 14 anos, foi diagnosticada com um distúrbio alimentar. Aos 20, odiar seu corpo ocupou tanto a cabeça que ela abandonou sua formação e passou só a cuidar de sua irmã Gemma, que tem paralisia cerebral.
Ela agora se descreve como uma ativista, modelo e autora que recentemente completou uma turnê pelo Reino Unido em que cantou, dançou e debateu a cultura de dietas para um público total de 2 mil pessoas.
Recentemente, ela foi entrevistada por Fearne Cotton, uma apresentadora de TV e rádio inglesa. Cotton disse depois que sua conversa com Megan mudou como ela vê a vida. "Não consigo descrever como aquela conversa me transformou."
"Eu fiquei refletindo sobre cada palavra sua e foi uma mudança na minha percepção. Percebi o quão cruel eu estava sendo comigo mesma", afirmou Fearne ao podcast britânico How to Fail With Elizabeth Day. "Fui passar férias na praia depois por uma semana e normalmente eu odiaria usar biquíni, me penitenciando sobre isso ou aquilo, mas apenas não liguei. Foi tão maravilhoso."
Megan foi recentemente convidada para ir ao Parlamento debater com o departamento de Igualdade do Governo britânico sobre imagem corporal, chamando a atenção para a gordofobia, que ela defende que seja reconhecida como uma forma de preconceito.
"Não podemos ter uma conversa sobre imagem corporal sem discutir a gordofobia. Tantas das nossas inseguranças nascem do medo de sermos muito gordos, e para as pessoas que existem em corpos maiores a gordofobia resulta em discriminação e assédio na vida real todos os dias."
Megan às vezes recebe críticas online de pessoas que dizem acreditar que fotos de gordura e celulite promovem uma vida pouco saudável. Ela diz que debates sobre saúde não devem girar em torno de peso, e defende o fim do IMC (índice de massa corporal), que faz um cálculo que indica a gordura corporal total de uma pessoa. Para ela, esse cálculo não está correto. Ela diz, também, que pesar as crianças em escolas é "assustador e humilhante".
"Não espero que as pessoas necessariamente amem seus corpos, mas ao menos tentem respeitá-los. Eu me sinto sortuda por ter encontrado o movimento de positividade sobre o corpo na idade em que encontrei, porque recebi muitas mensagens de mulheres mais velhas que passaram suas vidas odiando seus corpos e só agora aprenderam a se aceitar."
Embora algumas pessoas categorizem Megan como uma "influencer", ela prefere evitar essa descrição porque "muitas pessoas fazem isso só para seu próprio benefício". Acima de tudo, ela quer mudar a cultura de dietas e espera ajudar as pessoas a construírem uma vida baseada em mais do que só aparência.
Megan trabalha como cuidadora de sua irmã Gemma, que tem paralisia cerebral
Megan Jayne Crabbe
"Foi um processo muito longo pegar tudo o que eu acreditava sobre peso, beleza e valor e me forçar a questionar isso. Tive de chegar a um ponto de respeito básico pelo meu corpo. Agora quero ajudar meu corpo a alcançar isso."
"Aos cinco anos, pensei que ser gorda fosse a pior coisa possível. Internalizei isso quando era muito jovem e hoje sei que foi um longo caminho até aqui. Passei a vida com ódio de mim mesma e não quero que mais ninguém se sinta assim."
Megan recebe mensagens de mulheres mais velhas que passaram a vida odiando seus corpos e só agora aprenderam a se aceitar
Megan Jayne Crabbe

Brasileira na Nasa revela que Titã, uma lua de Saturno, tem ciclo hidrológico parecido com o da Terra

Por que as pessoas mentem mais quando pensam em sexo?
Maior lua do planeta é a única a ter uma atmosfera densa no Sistema Solar. Missão Cassini e Voyager 2 fizeram pesquisas em um dos lugares mais estudados pelos astrônomos. Mapa geológico de Titã
Nasa/JPL-CalTech/ASU
Desde que a sondas Pionner 10 e 11 visitaram os gigantes gasosos na década de 1970, a maior lua de Saturno, Titã, é um dos lugares mais estudados do Sistema Solar. Isso porque, nas imagens das duas sondas, nenhum detalhe de sua superfície pode ser visto. Tudo bem que as câmeras eram meio tosquinhas até em comparação com outras de sua época, mas outras luas revelaram características de suas superfícies. Em vez de crateras e penhascos, Titã exibia uma pálida coloração amarela-alaranjada.
A conclusão, depois confirmada pelas sondas Voyagers, era que Titã é coberta por uma espessa atmosfera. A única lua do Sistema Solar a ter uma atmosfera densa. Foi por esse motivo que a sonda Voyager 1 foi planejada para fazer um sobrevoo exclusivo em Titã, abrindo mão de todo o resto do Sistema Solar exterior. Essa tarefa acabou ficando para sua irmã gêmea, a Voyager 2.
Maior lua de Saturno, Titã orbita o planeta em imagem captada pela sonda Cassini, da Nasa. Os anéis de Saturno são planos e vistos como uma linha fina, parecendo 'espetar' Titã.
NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute/J. Major
Quando a Nasa decidiu por uma missão a orbitar Saturno, uma das missões principais da sonda Cassini foi estudar Titã fazendo diversos sobrevoos. Nessas rasantes, a sonda utilizou seu radar para penetrar na atmosfera e mapear o solo do satélite. Além disso, seus instrumentos no infravermelho também ajudaram a entender o que havia por baixo das nuvens.
Brasileiro já 'emplacou' nove imagens em site da Nasa
Robô da Nasa faz nova selfie após 2,5 mil dias marcianos em missão
A atmosfera de Titã é composta basicamente por metano e nitrogênio e sua pressão chega a ser 45% maior do que a pressão atmosférica. Sendo densa assim, seria possível manter algumas substâncias em estado líquido. Não há água, já que a temperatura por lá é de -180 graus Celsius! Mas com metano na atmosfera, as chances de haver metano líquido não são pequenas, já que a essa temperatura ele pode se condensar.
Quando a Cassini começou suas observações com seu radar, encontrou de fato metano líquido, talvez até etano, mas mais do que isso, encontrou lagos e até mares dessa substância! Com o passar dos anos – a missão Cassini durou 13 anos – a superfície de Titã foi sendo mapeada aos poucos, combinando-se as informações de radar e de infravermelho.
Ilustração do orbitador Cassini cruzando o plano do anel de Saturno. Novas medidas da massa dos anéis dão aos cientistas a melhor resposta até agora sobre a idade deles.
Nasa/JPL-Caltech
Depois de 13 anos de dados coletados e mais de 2 anos analisando todas as imagens, a geóloga planetária brasileira radicada nos EUA, Rosaly Lopes, do Laboratório de Propulsão à Jato da NASA, publicou nesta semana um estudo com o mapa mais completo de Titã até hoje conhecido. Esse mapa geológico global permite identificar lagos, mares, planícies e dunas de areia.
O mapa é tão detalhado que é possível identificar a ação do ciclo hidrológico de Titã, que é igual ao da Terra, com a diferença que aqui o elemento ativo do ciclo é a água. Durante todos esses anos de mapeamento, foi possível ver lagos diminuírem de tamanho até desaparecerem totalmente durante épocas em que a lua se aquecia. Para depois reaparecer em épocas de temperaturas mais amenas. Em outras palavras, era possível o ciclo de evaporação e chuva do metano em Titã!
Foi possível, inclusive, ver a ação desse ciclo hidrológico no terreno, através da erosão provocada no leito dos rios de metano e na mudança nos campos de dunas. As imagens da Cassini por vezes mostravam a formação de nuvens de metano que iam desaparecendo aos poucos, conforme se dissipava com o vento ou mesmo com a precipitação.
"Titã tem um ciclo hidrológico ativo baseado em metano que formou uma paisagem geológica complexa, fazendo de sua superfície a mais diversa em termos geológicos do Sistema Solar," disse Lopes em entrevista. Ela acrescentou, ainda, que mesmo com diferenças grandes de temperatura, pressão, gravidade e principalmente de substância ativa, as semelhanças entre rios, lagos e vales encontrados na Terra e em Titã mostram que o processo geológico que os criou deve ser o mesmo.
Fotos mostram pedaço de ilha desaparecendo em lago de metano em Titã
Nasa/ESA
Além do interesse geológico, Titã também é de interesse na busca por vida. Para que ela surja e se desenvolva, um dos pré-requisitos é haver um meio líquido. A vida como se conhece é baseada na água, mas metano e etano líquidos poderiam ser esse meio aquoso. É claro que a vida baseada em hidrocarbonetos líquidos seria muito diferente da vida baseada em água e provavelmente não haveria estruturas muito mais complexas do que seres unicelulares. Ainda assim, seria vida e motivo de todo o interesse da ciência.

Pressão por sucesso e agenda cheia pode gerar burnout em crianças, diz psicóloga francesa

Por que as pessoas mentem mais quando pensam em sexo?
A especialista francesa Aline Nativel Id Hammou, que se prepara para lançar um livro sobre o 'burnout' infantil, recebe em seu consultório jovens pacientes exaustos, muitas vezes em depressão. Crianças podem dar sinais por meio de desenhos
Reprodução/TV Cabo Branco
Uma criança sem problemas de saúde pode se sentir tão cansada, a ponto de não ser mais capaz de dar continuidade a suas atividades cotidianas? Esse sentimento, descrito por profissionais que viveram um burnout, não se restringe aos adultos. Escola, aulas de reforço, inglês, balé, judô, natação, música e muitos eventos sociais sobrecarrega meninos e meninas de idades variadas.
Entenda diferenças entre burnout, estresse e depressão
“Recebi em meu consultório, durante mais de um ano, uma menina de oito anos que, por pelo menos seis meses, a cada 15 dias, vinha sábado de manhã e dormia no tapete. Eu a deixava dormir. Quando ela ia embora, me dizia: obrigada”, diz a psicóloga francesa Aline Id Hammou, especialista em burnout infantil.
Esse é um dos relatos surpreendentes que a especialista francesa faz em seu novo livro, que será lançado no início de janeiro na França. O título é "La charge mentale chez l’enfant quand nos exigences les épuisent" (“A carga mental nas crianças quando nós exigimos demais delas”, em tradução livre).
A obra, contou a psicóloga à RFI, é resultado de mais de cinco anos de experiência profissional com jovens pacientes que vivenciaram uma situação de exaustão generalizada. “Hoje em dia, ser criança é uma profissão de gente grande, com expectativas, exigências, metas e atribuição de funções”, explica.
De acordo com a psicóloga, a sociedade, que inclui pais, escolas e família, cobra um esforço que muitas vezes ultrapassa os limites das crianças, esperando, dessa maneira, garantir o sucesso delas no futuro – a chamada réussite, em francês.
Essa pressão, ressentida no cotidiano, é muita parecida com a sensação descrita pelos adultos que vivenciaram um burnout profissional – um nível de exaustão tão profundo que torna a pessoa incapaz de dar continuidade a suas atividades cotidianas, com efeitos diretos na saúde mental e física.
O excesso de tarefas no dia a dia, ressalta Aline Nativel, exige esforço, concentração e dedicação. As exigências e obrigações são tantas que geram sobrecarga mental. “Tudo isso é repetitivo, tem efeito cumulativo e, principalmente, a criança não vê sentido”, diz. O resultado, como em um adulto estressado, é um cansaço generalizado que leva a uma exaustão física e mental.
Fenômeno ocidental
Essa tendência, diz a psicóloga, é relativamente recente e atinge, do seu ponto de vista e experiência, principalmente as culturas ocidentais. Este comportamento é um reflexo da ansiedade em relação ao futuro e seus desafios: transformação do mercado do trabalho, crise econômica e aquecimento global, que provocam um sentimento de insegurança generalizado.
Essa sensação, vivida pelos adultos, é projetada nas crianças. “Elas acumulam solicitações sociais, físicas, cognitivas e emocionais. Esperamos que sejam bem-sucedidas. Os adultos, com frequência, não veem a diferença entre o sucesso e a felicidade”, observa.
A pressão em excesso impossibilita à criança evoluir por etapas – o mundo exige rapidez, resistência e bom desempenho. Muitos pais, observa a especialista, não aceitam a ideia de que seus filhos possam, em algum momento, fracassar. Esse comportamento incita uma busca pelo perfeccionismo que está na origem do burnout, muitas vezes extremamente precoce.
Síndrome de burnout é um esgotamento físico e mental
Os sintomas do stress nessa idade incluem, além do cansaço, a falta de disposição para brincar, de concentração, pouco apetite e dificuldades para dormir. “Sobretudo, essa criança vai sorrir cada vez menos e se transformar em um adulto em miniatura”, descreve Aline Nativel.
Este é o caso do mais jovem paciente da psicóloga, de apenas quatro anos. Vítima de um excesso de estímulos por parte dos pais, a especialista o incita a brincar em seu consultório, porque, para ele, isso “é coisa de criança.”
Extremamente intelectualizado, o menino se preocupa o tempo todo em agradar os pais e denota uma seriedade atípica para a idade. “Sempre digo que ele tem direito de fazer besteiras”, declara a psicóloga. “E ele responde que não pode, porque é grande, e os grandes não fazem besteira.”
No caso desse paciente, foi a própria escola que notou um comportamento diferente e sugeriu que os pais buscassem ajuda. Em situações como essa, o tratamento se estende à toda a família, que muitas vezes não aceita o diagnóstico. A tendência, explica a especialista francesa, é os pais acreditarem que o filho é superdotado, e por isso excessivamente intelectualizado para a idade.
Ideal de perfeição
Na adolescência, o burnout se expressa através de uma perda de confiança e tendência à autodestruição. “Eles vão fazer de tudo para mascarar seu proprio mal-estar. Às vezes, por exemplo, não vão dormir para acabar uma tarefa, o que gera sonolência durante o dia. Vão fazer coisas demais, o que causa problemas de concentração, além da depressão e da fobia, que pode se manifestar em crianças de 11 ou 12 anos”, alerta.
Em algumas situações, as pequenas vítimas de burnout, inclusive no jardim de infância, devem também ser acompanhadas por um psiquiatra e tomar antidepressivos e ansiolíticos. Uma das pistas para evitar o problema, acredita a psicóloga, é sensibilizar e conscientizar as escolas e os pais, criando, por exemplo, atividades de relaxamento dentro dos estabelecimentos. Relativizar a ideia do “sucesso” também seria um bom caminho.
De qualquer maneira, lembra, em qualquer idade, a busca pelo perfeccionismo gera angústias que podem desencadear doenças mentais. “É impossível ser você mesmo quando se quer encarnar um ideal de perfeição”, conclui a psicóloga.

Por que as pessoas mentem mais quando pensam em sexo?

Por que as pessoas mentem mais quando pensam em sexo?
Segundo estudo, tendemos a 'distorcer' a verdade para que pessoas em que estamos interessados tenham opinião mais favorável sobre nós. Por que as pessoas mentem mais quando pensam em sexo?
BBC
Pensar em sexo nos torna mais propensos a mentir?
Uma pesquisa da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, e do Centro Interdisciplinar Herzliya, em Israel, fez uma descoberta reveladora: quando pensamos em sexo, nosso barômetro de honestidade fica distorcido, e tendemos a "ajustar" a verdade para que as pessoas em que estamos interessados tenham uma opinião mais favorável sobre nós. Veja aqui o vídeo
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores conduziram experimentos com pessoas heterossexuais de 21 a 32 anos.
Infecções sexualmente transmissíveis estão em alta; saiba como se proteger
'Fiz laqueadura aos 25 anos e realizei um sonho'
Eles dividiram os participantes em dois grupos. Um deles foi submetido a um processo que os pesquisadores descreveram como 'condicionamento sexual' e outro que não.
O estudo constatou que as pessoas do primeiro grupo, quando falavam deles próprios a possíveis parceiros sexuais, tinham 30% mais chances de mentir para “ajustar” seus interesses aos do possível parceiro.
Elas também diziam que o número de pessoas com as quais fizeram sexo era menor do que o real.
Os pesquisadores concluíram que "as pessoas vão fazer e dizer praticamente qualquer coisa para criar um vínculo com alguém em que estejam interessadas".