Escola municipal de Inajá eleva o IDEB de 3,5 para 9,2 no Sertão de PE e supera média nacional; ‘é um reflexo de vidas transformadas’

Ideb: rede estadual do RJ sofre queda em avaliação
Escola conta com o apoio da ONG Amigos do Bem que atua em 300 comunidades carentes de Alagoas, Ceará e Pernambuco com projetos educacionais. Escola do Sertão de Pernambuco é destaque no Ideb.
Amigos do Bem
Os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (ideb), divulgados está semana, mostram um cenário de leve melhora no Brasil. No Sertão de Pernambuco, uma escola localizada no município de Inajá mantida pela ONG Amigos do Bem, obteve 9,2 pontos no Ideb, um resultado notável em comparação com a média nacional, abaixo de 6 para o ensino fundamental, e superior à média do ensino privado, perto de 7.
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Há uma década, a escola atingia uma nota de apenas 3,5 no Ideb, refletindo um cenário considerado negativo para a região. A chegada dos Amigos do Bem em 2017 marcou o início de uma mudança significativa, elevando a nota para 7,1 em poucos anos. Após sete anos de trabalho e acompanhamento, a nota da escola avançou para 9,2.
“Eu sempre falo que quem tem fome não é livre, e quem não sabe ler e escrever também não. Sabemos que a única forma de romper o ciclo de miséria secular no sertão é por meio da educação e do trabalho, promovendo a geração de renda e levando oportunidades, vidas”, disse Alcione Albanesi, presidente e fundadora da ONG Amigos do Bem.
O avanço na escola do Sertão pernambucano, em uma região historicamente marcada por grandes desafios, supera até mesmo as notas alcançadas em estados mais desenvolvidos e com maior infraestrutura. Esse resultado é ainda mais notável quando comparado à média nacional do Ideb 2021 de 5,8 para o Ensino Fundamental, com uma média de 7,1 no ensino privado e 5,5 no público. No contexto nacional, a maior nota do IDEB 2021 para escolas particulares foi de 7,4 no Distrito Federal, enquanto no ensino público foi de 4,6 no Paraná.
"Ver o progresso dos nossos alunos ao longo dos anos é emocionante e reafirma o poder da educação como agente de mudança. A nota que alcançamos hoje, de 9,2, é mais do que um número; é um reflexo de vidas transformadas, de crianças que agora enxergam um futuro promissor.’’ Elilde Araújo Gomes, diretora da Escola dos Amigos do Bem.
Alunos do Sertão de PE são destaque no Ideb.
Amigos do Bem
Ideb 2023
O índice que mede a qualidade da educação no Brasil mostra, em 2023, melhoras pontuais em relação a 2021, mas ainda aponta que os avanços registrados não foram suficientes para colocar todas as etapas do ensino no país dentro das metas estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC).
É o que mostrou, na última quarta-feira (14), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ao divulgar os resultados do Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira.
📈CONTEXTO: quando o MEC definiu as metas no Ideb, considerou apenas o período de 2007 a 2021. Como ainda não foi divulgado um novo patamar a ser atingido, o g1 comparou os índices atuais à escala que estava vigente há dois anos.
Veja abaixo:
👍Nos anos iniciais do ensino fundamental, o Ideb nacional foi de 6 – um aumento em relação a 5,8 (em 2021) e 5,9 (em 2019). A meta para esta etapa do ensino, em 2021, era justamente 6.
👎Nos anos finais do ensino fundamental, o número foi de 5, ante 5,1 no levantamento de 2021 e 4,9 em 2019. A meta para esta etapa do ensino, em 2021, era 5,5.
👎E no ensino médio, o Ideb ficou em 4,3 – aumento de 0,1 quando comparado a 2021 e 2019 (4,2). A meta para esta etapa do ensino, em 2021, era 5,2.
Como observado, a única etapa que alcançou a meta foi a dos estudantes de 1º a 5º ano — puxada principalmente pela melhora do fluxo dos alunos (ou seja, da aprovação deles na escola). Manuel Palacios, presidente do Inep, afirma que, no início dos anos 2000, as taxas de reprovação eram gigantescas, mesmo diante de pesquisas que mostram que reter o aluno não melhora o desempenho dele.
"Acho que, se observarmos esses dados ao longo de 18 anos, é uma grande história de sucesso na educação brasileira. (…) É preciso que a gente avance na educação na idade certa no país."
➡️Os dados apresentados são relativos a 2023. É a primeira avaliação nacional em larga escala que acontece após a pandemia de Covid-19 (a edição de 2021 teve menor adesão, por causa do fechamento das escolas).

Sucesso nos rankings de educação: por que Goiás, Pará, Espírito Santo, Ceará e Paraná tem destaque no Ideb?

Ideb: rede estadual do RJ sofre queda em avaliação
Investimentos em escolas de tempo integral, valorização dos professores e programas de recuperação de aprendizagem estão entre os fatores decisivos para o 'sucesso'. Secretários de Educação e especialistas analisam estratégias pedagógicas e administrativas que mais deram certo. Estudantes de escola pública no Pará.
Reprodução / Agência Pará
O que explica que determinados estados brasileiros tenham dado saltos enormes no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre 2019 e 2023? E como outros vêm conseguindo se se manter no topo dos rankings nacionais?
Para conhecer as "receitas" de sucesso, o g1 analisou dados e entrevistou secretários de educação e especialistas da área para descobrir quais estratégias pedagógicas e administrativas mais deram certo nos seguintes estados:
Pará: saiu da penúltima colocação (26ª) no ensino médio em 2021 e, dois anos depois, pulou para 6º lugar. Nesse período, o Ideb da rede estadual aumentou de 3 pontos para 4,3 pontos (a escala vai de 0 a 10).
Goiás: teve o melhor desempenho do país no ensino médio (Ideb de 4,8) na rede estadual.
Paraná e Espírito Santo: apresentaram o 1º e 2º maiores índices totais no ensino médio (4,9 e 4,8, respectivamente, considerando escolas públicas e privadas).
Ceará: registrou o Ideb mais alto (7,7) entre as redes estaduais nos anos iniciais do ensino fundamental (1º a 5º ano).
📝Antes de ver os diferenciais de cada rede (leia mais abaixo), confira um resumo do que mais impulsionou a aprendizagem nesses estados:
valorização da carreira de professor, com aumento de salários;
programas de recuperação de aprendizagem;
investimentos em infraestrutura e em materiais didáticos;
regimes de colaboração com os municípios;
programas de educação integral;
avaliações diagnósticas constantes.
📈Contexto: Os dados do Ideb, divulgados nesta quarta-feira (14), levam em conta o aprendizado dos alunos em matemática e português (na prova chamada Saeb) e o fluxo de aprovação (quantos passam de ano e quantos ficam retidos) em escolas públicas e privadas.
Os resultados nacionais foram preocupantes: nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, as metas não foram atingidas. Em 20% dos municípios do país, os alunos do 5º ano da rede pública sequer conseguem somar moedas de R$ 0,25.
✏️Pará: valorização dos professores, avaliações e investimentos
"Não existe uma bala de prata, e sim um conjunto de ações que influenciaram muito o resultado", afirma ao g1 Rossieli Soares, secretário de Educação do Pará e ex-ministro da Educação.
Veja os principais elementos apontados:
➡️Remuneração dos professores: Segundo o Movimento Profissão Docente, o estado paga um dos maiores salários do Brasil para professores da rede pública.
➡️Investimentos em infraestrutura: Segundo a Secretaria de Educação, 150 escolas foram reconstruídas. "Também demos condições melhores de merenda e de transporte, porque, se os alunos não se alimentarem e não tiverem como chegar à escola, não vão aprender nada. Aumentamos o gasto diário com alimentação de R$ 0,36 por aluno para R$ 1,50, mais R$ 0,50 do governo federal", afirma Soares.
➡️Monitoramento de aprendizagem: Claudia Costin, fundadora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE), afirma que o estado destacou-se na estratégia de recomposição dos conteúdos que não haviam sido absorvidos pelos alunos. "Não adianta esperar chegar o fim do ano para constatar que o aluno não aprendeu", diz. "A rede conseguiu montar provas e monitorar os alunos com frequência. Foi fantástico."
Rossieli Soares explica que o estado aumentou o número de aulas de português e de matemática de 3 para 5 por semana. Dessa forma, parte da carga horária pôde ser dedicada à recuperação das matérias que não haviam sido compreendidas pelos estudantes.
"Depois do diagnóstico do aprendizado das turmas, retomamos alguns conteúdos. Não adianta ensinar algo novo se ainda existe um déficit lá atrás", afirma. "É um grande programa de reforço escolar."
➡️Revisão na gestão das escolas: A maior parte dos colégios passou a ter dois vice-diretores — um mais focado nas questões administrativas, e outro, nas pedagógicas.
➡️ Regime de colaboração: A rede estadual auxiliou os municípios principalmente nas turmas de 2º ano do ensino fundamental, para fortalecer o processo de alfabetização.
➡️Valorização dos alunos e dos professores que se destacam: No programa "Bora Estudar", a família do melhor aluno de cada turma ganha R$ 10 mil em materiais de construção para fazer reformas na própria casa. E os docentes com melhor desempenho ganham bonificações, afirma Soares.
✏️Goiás: formação de professores na prática e bolsa-permanência
Priscila Cruz, presidente-executiva da ONG Todos Pela Educação, explica que Goiás entra em uma categoria diferente da do Pará: o destaque do estado é manter um bom desempenho no Ideb ao longo dos anos.
"Assim como o Espírito Santo, o Ceará e o Paraná, é uma rede que nunca sofreu grandes retrocessos. Consegue manter políticas essenciais e implementá-las de forma consistente", diz.
Para a secretária de Educação de Goiás, Fátima Gavioli, a questão central para o desempenho do estado são os investimentos. "Só assim que é possível melhorar a infraestrutura das escolas, os materiais didáticos e a distribuição de bolsas que ajudam no combate à evasão", afirma ao g1.
Veja outros destaques:
➡️Formação de professores: Por meio de parcerias com ONGs e instituições, o estado manteve uma política de investimento nos docentes com ênfase na prática.
"Eles já sabem a teoria. Precisamos focar no dia a dia: em como preencher o diário corretamente, ministrar os conteúdos… Quando têm dúvidas, eles podem entrar em contato com o centro de formação de professores para compartilhar experiências. E são turmas pequenas: não adianta colocar mil docentes assistindo a uma palestra de duas pessoas", afirma Gavioli.
Costin acrescenta a importância do cuidado tomado pela rede de Goiás na contratação de novos professores. "São seleções bem-feitas. E, (depois de começarem a dar aula), eles recebem um bom material de apoio ao livro didático."
➡️Políticas de incentivo à permanência escolar: Pelo "Bolsa Estudo", todos os alunos, independentemente da renda, ganham R$ 112 por mês se frequentarem a escola e tirarem boas notas. O programa abrange o 9º ano e o ensino médio.
➡️Monitoramento de aprendizagem: Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, conta que Goiás "vem conseguindo manter um padrão consistente no acompanhamento pedagógico dos alunos".
✏️Espírito Santo: aulas em tempo integral e apoio aos municípios
Entre as capitais, Vitória foi o maior destaque nos anos iniciais do ensino fundamental. A maior explicação para isso, na visão de Claudia Costin, é a implementação do programa de ensino integral.
"Havia antes um modelo de contraturno com aulas de arte e de esportes, além de oficinas de recuperação. Já era algo melhor do que só as 4 horas de aula por dia. Mas a rede avançou para o tempo integral, com aulas dialogadas, mais tempo em laboratórios e educação mão na massa. Deu muito certo, fiquei impressionada", afirma.
➡️Em números, a ampliação da rede integral: Segundo a Secretaria de Educação, no fim de 2019, o Espirito Santo tinha 36 escolas nesse regime de carga horária ampliada. Em 2024, já são 184 só na rede estadual, afirma o órgão.
➡️Apoio aos municípios por meio de um regime de colaboração: Foram direcionados mais de R$ 1 bilhão em investimentos nas redes municipais, principalmente para obras e compra de materiais didáticos.
"Uma das frentes de trabalho neste sentido é por meio do Pacto pela Aprendizagem do ES (Paes), uma iniciativa do governo do Estado cujo objetivo é fortalecer a aprendizagem das crianças desde a educação Infantil até as séries finais do ensino fundamental", afirma a Secretaria.
✏️Paraná: material de apoio ao professor e avaliações diagnósticas
Roni Miranda, secretário de Educação do Paraná, afirma que os "resultados do Ideb 2023 consolidam a boa qualidade na educação do Paraná".
"A gente vem avançando ano a ano, de forma sólida e constante", diz.
De fato, o estado se manteve entre os primeiros colocados nos rankings das últimas edições do Ideb.
Um dos destaques de 2023 foi justamente em matemática, disciplina em que historicamente o Brasil não se sai bem.
"O monitoramento da aprendizagem, a comunicação com a rede e os materiais de apoio ao professor muito bem-feitos explicam esse desempenho", afirma Claudia Costin.
Veja os detalhes:
➡️Aprimoramento na seleção de gestores: A rede pública passou a selecionar os diretores de escolas por meio de avaliações de capacidade técnica, provas e entrevistas.
➡️Formação continuada de professores: "Temos 33 mil docentes fazendo semanalmente esses programas. Os que se destacam ajudam a formar seus pares", afirma Miranda.
➡️Avaliação diagnóstica: "[As provas] são aplicadas trimestralmente, para entregar ao professor e à escola em quais conteúdos os alunos têm maior dificuldade. Assim, conseguem trabalhar de forma mais direcionada", explica Miranda.
➡️Combate ao abandono: Segundo a Secretaria de Educação, a rede investiu em alimentação escolar, oferecendo três refeições por dia aos alunos. Também aumentou a conectividade das escolas, para "dialogar com os interesses dos estudantes".
➡️Compra de material didático: O secretário afirma que comprou livros direcionados para a recomposição da aprendizagem dos alunos. E, para os professores, foram adquiridos materiais de apoio ajustados em parceria com eles próprios, para que se organizem mais facilmente no planejamento dos conteúdos.
✏️Ceará: educação em tempo integral e foco na alfabetização
Costin, do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, afirma que o Ceará avançou rapidamente em direção ao modelo de ensino integral.
A própria Secretaria de Educação ressaltou os seguintes elementos decisivos:
➡️Busca pela equidade: "Na prática, isso significa direcionar atenções de forma individualizada a cada aluno, para que todos tenham suas necessidades de aprendizagem específicas atendidas", afirma o órgão. O combate ao abandono escolar e o fortalecimento de vínculo com os alunos também contribuíram para o crescimento do Ideb.
➡️Programa Aprendizagem na Idade Certa (Paic): Desde 2007, o estado firma uma parceria com as redes municipais para dar suporte pedagógico, fornecer material estruturado, apoiar a gestão e aprimorar os sistemas de avaliação dos alunos.
➡️Educação profissional e integral: Segundo a Secretaria, são mais de 512 escolas com carga horária ampliada, sendo 367 delas focadas na profissionalização dos jovens do ensino médio.
Vídeos

Fies: CGU aplica primeira pena a instituição de ensino envolvida em esquema de fraude

Cruzada Maranata de Evangelização foi multada em R$ 170 mil. TV Globo apurou que fraude gerou R$ 941 mil irregulares para a instituição; servidora inserido decisões judiciais falsas no sistema, diz CGU. A Controladoria-Geral da União (CGU) divulgou a primeira punição contra uma instituição de ensino por envolvimento em um esquema de fraude para liberação de recursos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
O caso foi revelado em abril de 2023 e, além da CGU, também vem sendo investigado pela Polícia Federal. Na época, foi informada a suspeita de participação de 20 faculdades de várias partes do país. A estimativa era de que o esquema gerou prejuízo de mais de R$ 21 milhões à União.
Na edição desta quinta-feira (15) do “Diário Oficial da União” foi publicada uma decisão da CGU que prevê multa no valor de R$ 170 mil à Cruzada Maranata de Evangelização.
A TV Globo apurou que a investigação da CGU apontou que, com a fraude, a instituição obteve a liberação irregular de R$ 941 mil em recursos do Fies.
Ainda segundo a investigação, uma servidora do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) recebeu dinheiro para ajudar a instituição a conseguir a liberação dos recursos.
Para conseguir isso, de acordo com a CGU, a servidora inseriu de maneira ilícita no sistema do Fies liminares judiciais que davam à Cruzada Maranata de Evangelização o direito a requerer da União a recompra de títulos da dívida pública ligados ao Fies.
Relembre a operação de 2023 no vídeo abaixo:
PF faz operação contra fraudes no FIES
As faculdades que aderem ao Fies recebem esses títulos públicos da União como forma de pagamento das mensalidades dos alunos que entram pelo programa do governo.
Pela regra, as faculdades podem usar esses títulos para quitar dívidas tributárias e previdenciárias. E só conseguem que a União troque esses títulos por dinheiro quando não têm essas dívidas ou então quando obtém decisões liminares da Justiça obrigando o governo a fazer o pagamento.
A fraude investigada se dava justamente com a inserção de documentos ou decisões falsas no sistema do Fies que permitiam àquelas faculdades que não tinham direito receber dinheiro pelos títulos do Fies.
FIES na justiça: É possível obter financiamento mesmo sem atingir nota de corte no Enem?

Processos envolvendo Fies triplicaram de 2022 para 2023: ‘minha mãe vendeu uma casa de R$ 350 mil para eu cursar medicina’

Ideb: rede estadual do RJ sofre queda em avaliação
Número de ações por acesso ao financiamento, negociações ou cobranças subiram de 8,9 mil para 31,3 mil. Governo criou programa para quitar financiamentos iniciados até 2017. Camila Ramos, de 41 anos, cursou biomedicina de 2003 a 2007 por meio do Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), programa do Governo Federal. A mensalidade na Universidade Metodista de São Bernardo do Campo era de R$ 1 mil. Desse valor, ela pagou 30% com dinheiro do estágio e os demais 70% foram financiados.
A formação não garantiu melhora financeira imediata, nem a médio ou a longo prazo. Passados 17 anos, ela não conseguiu se colocar no mercado da biomedicina. A cobrança da dívida do Fies perdura, ao ponto de a inadimplência se tornar uma briga na Justiça com a Caixa Econômica Federal.
"Quando eu terminei a faculdade, era um valor bem alto para a minha renda. Eu acabei não conseguindo arcar com os valores", relembra. Foram pagos cerca de R$ 10 mil até as contas apertarem. Em 2014, o banco entrou na Justiça e cobrou o valor integral do financiamento: R$ 42 mil.
O processo de Camila é mais um em meio à pilha que tem aumentado nos tribunais brasileiros nos últimos anos. Ações ligadas ao Fies triplicaram de 2022 para 2023: subiram de 8,9 mil para 31,3 mil, o que representa aumento de 250%, segundo dados do DataJud, ferramenta do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Veja mais abaixo.
Processos ligados ao Fies
Os processos são de pessoas que tentam garantir seu ingresso no sistema de financiamento de Ensino Superior, renegociar pagamentos ou valores das mensalidades, e entidades que cobram dívidas antigas, entre outros assuntos.
Houve média de 86 novas ações por dia em 2023, número que é de 112 processos diários em 2024.
Para Rafaela Carvalho, advogada com atuação em Direito à Educação do escritório VLV Advogados, estão entre os motivos para crescimento dos processos crise financeira, mudança na legislação com o Novo Fies e questionamento a regras para o estudante ter direito ao financiamento (leia mais abaixo).
"Um dos principais motivos de judicialização de casos relacionados ao Fies é a solicitação de estudantes para obter o financiamento estudantil mesmo sem alcançar a nota mínima exigida no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]", afirma.
Veja, abaixo, o total de processos por estado:

"Eu tento negociar, já fui na Caixa infinitas vezes. Já tentei pelo Desenrola. Para você ter ideia, já entrei em contato até com o MEC, que me diz que é a Caixa que tem que fazer essa negociação. A Caixa fala que ela não tem poder de negociação, é só o MEC. Então um ficar jogando para o outro", conta.
Formada na 2ª turma de biomedicina da Metodista de São Bernardo, Camila trabalha atualmente como terapeuta e não consegue quitar o financiamento com a atual renda à vista, como o banco público cobra na Justiça.
"Chegou um ponto que eu não consegui me colocar no mercado de trabalho e optei por abrir mão. Não foi por uma falta de um desejo de continuar na área, mas porque realmente ali não condizia com a realidade. Ao longo do tempo, eu acabei optando por outras áreas", lamenta.
Busca por financiamento
Um dos processos do Fies iniciado e concluído em 2023 é o de Maria Eduarda Silva Gonçalves, de 21 anos, que cursa o 7° semestre de Medicina na Universidade Nove de Julho, na capital São Paulo. Mineira, ela tem ajuda da mãe para viver em outro estado e pagar a universidade.
Ela iniciou o Ensino Superior com mensalidade integral de R$ 8,7 mil e precisou acionar a Justiça para ter acesso ao Fies. O valor caiu para R$ 1,3 mil com o financiamento do Governo Federal, aprovado em dezembro de 2023.
"Minha mãe vendeu uma casa de R$ 350 mil para eu cursar medicina", conta Maria Eduarda. "O Fies veio em um momento que mais precisávamos pois, se eu não tivesse conseguido, não estaria mais na faculdade".
Maria Eduarda cursa medicina na Uninove, em São Paulo
Arquivo pessoal
Os dois anos de pagamentos com parcelas cheias, somado ao custo para se manter em outro estado, praticamente liquidaram o valor obtido com a casa. Maria Eduarda faz estágios não remunerados na sua área e tem previsão para se formar em 2027. Por enquanto, a dívida do Fies está em R$ 90 mil, estima.
"Imagino que vai ser complicado [pagar a dívida], vou precisar fazer bastante plantão. Acho que medicina me dá um pouco de segurança em relação a isso", diz, ao se referir aos salários da profissão, que tem piso de R$ 19.404,13 para jornadas de 20 horas semanais, segundo a Federação Nacional dos Médicos.
Decisões variadas
O acesso ao Fies está entre as principais causas dos processos, conforme afirma Rafaela Carvalho, advogada com atuação em Direito à Educação. Como houve mudanças na lei com o Novo Fies e há critério de nota mínima no Enem para a pessoa poder entrar no Fies, a Justiça virou caminho comum para garantir o financiamento.
No entanto, ela afirma que nem sempre é possível prever qual será a decisão pelo fato de alguns juízes manterem a necessidade de nota mínima no Enem para acesso ao Fies. Já outros, conta a advogada, consideram que estudantes de baixa renda podem não ter acesso aos mesmos recursos educacionais e, assim, dão o direito ao financiamento.
"Esses casos sublinham a importância de um sistema de financiamento educacional que seja ao mesmo tempo acessível e sustentável, garantindo que todos os brasileiros tenham a oportunidade de alcançar uma educação superior de qualidade", diz Rafaela Carvalho.
Renegociação de dívidas
O aumento no número de processos relacionados ao Fies ocorreu antes de o governo Lula, renegociar dívidas dos estudantes por meio do "Desenrola Fies" – o que ocorreu a partir de novembro de 2023.
Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), são R$ 15 bilhões em dívidas atrasadas referentes a financiamentos iniciados até dezembro 2017 (período incluído no Desenrola).
Estimativa do governo indica que R$ 655 milhões já foram recebidos com os pagamentos das parcelas de entrada definidas nas 343 mil renegociações solicitadas até julho. Ao todo, o FNDE estima até R$ 3,1 bilhões a serem recebidos com o programa de renegociações. O prazo para inscrição termina em 31 de agosto.
"O programa Desenrola Fies foi uma resposta do governo para tentar mitigar esse problema, oferecendo condições mais favoráveis para a renegociação de dívidas. No entanto, a eficácia dessas medidas e a adequação dos critérios de renegociação ainda são objeto de debate e análise judicial", analisa a advogada.
De acordo com o FNDE, os estudantes com dívidas do Fies que têm processo na Justiça podem renegociar suas dívidas nos termos da Resolução nº 55 do Desenrola.

Ideb: rede estadual do RJ sofre queda em avaliação

Ideb: rede estadual do RJ sofre queda em avaliação
Em 2021, o Ideb foi de 3,9 e, no ano passado, caiu para 3,3 – bem distante da meta estabelecida para essa faixa de ensino, que é de 4,6. Capital não chega à meta, mas tem avanços. Ministério da Educação divulga Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
A rede estadual do Rio sofreu uma queda na avaliação de qualidade feita pelo Ministério da Educação, segundo números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados nesta quarta-feira (14).
Em 2021, o Ideb foi de 3,9 e, no ano passado, caiu para 3,3 – bem distante da meta estabelecida para essa faixa de ensino, que é de 4,6.
Além disso, as escolas estaduais do Rio de Janeiro têm o pior Ideb no ensino médio da Região Sudeste, atrás de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.
RJ- 3,3
MG – 4,0
SP – 4,2
ES – 4,7
Situação da capital
Já a rede municipal do Rio apresentou uma melhora, mas ainda sem atingir a meta. Para os anos iniciais, que vão do primeiro ao quinto do ensino fundamental, as escolas municipais estão com índice 6, acima dos 5,4 de 2021, mas ainda inferior à meta de 6,4 .
As escolas que oferecem ensino fundamental dos anos finais, do sexto ao nono, ficaram com índice 5,2 – acima da nota 5 de três anos atrás, mas abaixo da meta de 5,7.
A prefeitura ressaltou que obteve o maior crescimento percentual na nota (+12%) da avaliação que compõe o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) entre todas as capitais do Brasil. (veja no fim da reportagem mais detalhes).
Bom exemplo em Santa Cruz
Entre as escolas com melhor desempenho na capital está a Escola Municipal Roberto Coelho, em Santa Cruz, que atende turmas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental.
A unidade que tinha atingido nota 6,2 no ideb de 2021, agora conseguiu nota 8,5.
Esse salto foi conquistado com o esforço de toda a comunidade escolar. Iniciativas que uniram professores, alunos e as famílias surtiram um efeito positivo na ponta do lápis.
É" o resultado de ações como buscar alunos que tinham problemas como assiduidade e frequência e conversar com as famílias", diz o diretor Rafael Amaral.
Prefeitura ressalta salto
Apesar de ainda não chegar à meta, a rede municipal do Rio ressalta que conquistou o maior crescimento percentual na nota (+12%) da avaliação que compõe o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) entre todas as capitais do Brasil nos Anos Iniciais, que são os alunos do 1º ao 5º ano. A rede também observa que o avanço nos Anos Iniciais ocorre justamente no período mais importante, que é a alfabetização.
Nos anos finais, a capital teve o quinto maior salto na nota (+5%) entre todas as capitais. A rede municipal do Rio é responsável pelo ensino fundamental do 1° ao 9° ano.
Desempenho do Rio no Ideb 2023
Secretaria Municipal de Educação/Divulgação
A rede municipal também aponta que teve o maior resultado da série histórica do Ideb e que a capital nunca alcançou notas tão altas. Nos Anos Iniciais, o Ideb da rede carioca chegou a 6,0, maior resultado da série histórica, iniciada em 2005. Nos Anos Finais, o Rio chegou a 5,2, outro resultado inédito.
O RJ2 procurou o governo do estado para comentar os resultados do Ideb, mas não obteve resposta.