Aluna pede reembolso após professor usar inteligência artificial para criar material de aula

Aluna pede reembolso após professor usar inteligência artificial para criar material de aula
Caso aconteceu em Boston, nos EUA, no início deste ano. Jornal "The New York Times" relatou que a estudante questionou o uso da ferramenta pelo professor colocando dúvida sobre comprometimento da qualidade do curso. ChatGPT
AP Photo/Matt Rourke
Uma aluna de Administração da Universidade Northeastern, em Boston, nos Estados Unidos, pediu reembolso do valor de uma das disciplinas do curso após descobrir que o professor havia utilizado inteligência artificial para compor o material da aula.
O caso, revelado pelo jornal "The New York Times", teria começado em fevereiro, quando a estudante Ella Stapleton revisou um material da aula de comportamento organizacional. Ela teria notado um comando que parecia uma interação do professor com o ChatGPT, inteligência artificial da OpenAI.
Ao jornal, Ella explicou que o material de aula do professor também apresentava texto desconexos, imagens de pessoas com partes do corpo distorcidas e erros de ortografia, o que reforçava a ideia de que o conteúdo havia sido gerado por IA.
Além disso, segundo a estudante, o uso da tecnologia não havia sido informado no material, o que contrariava o programa do curso que proibia "atividades academicamente desonestas", incluindo o uso não autorizado de inteligência artificial ou chatbots.
Northeastern University, em Boston, Massachusetts.
Divulgação
Ella, então, resolveu levar o caso para a coordenação do curso sob o argumento de que se sentia lesada, e que, pelo valor que pagava pela graduação, esperava uma "educação de alto nível".
A aluna teria pedido que instituição a reembolsasse em US$ 8 mil, equivalente a cerca de R$ 45.200 na conversão atual.
Procurada pelo g1, a universidade Northeastern não comentou o caso ou confirmou o pedido de reembolso, mas declarou que permite o uso de IA em seus conteúdos:
"A Northeastern adota o uso de inteligência artificial para aprimorar todos os aspectos de seu ensino, pesquisa e operações. A universidade oferece uma abundância de recursos para apoiar o uso adequado da IA ​​e continua a atualizar e aplicar políticas relevantes em toda a empresa."
Inteligência artificial na educação
Com a popularização de ferramentas de inteligência artificial, o uso na educação, tanto por alunos, quanto por professores, tem se tornado frequente.
No ambiente acadêmico, a prática tem se mostrado um problema, já que aspectos como autenticidade e originalidade são fatores essenciais para as avaliações.
Isso tem estimulado, por exemplo, uma demanda por detectores de textos gerados por IA, o que exige cuidados por professores, pesquisadores e editores.
A função principal dos detectores de textos gerados por IA é analisar vários recursos linguísticos, como estrutura de frases, escolha de palavras e elementos estilísticos.
Ferramentas como Gotcha-GPT, Originality AI, Copyleaks, ZeroGPT, GPTZero, entre outros, servem para tentar identificar e sinalizar conteúdos gerados por IA.
Em contrapartida, também estão disponíveis no mercado ferramentas que fazem o contrário, ou seja, reescrevem textos de inteligência artificial para mascarar sinais de que o conteúdo não tenha sido feito por uma pessoa.
Usar ou não usar inteligência artificial?
Para Gerson Moreira, coordenador de conteúdo e didática digital do Colégio Azul e Branco, parte da polêmica do uso de IA na educação vem de uma falta de conhecimento sobre as ferramentas e do medo de suas possibilidades.
O educador recomenda que:
A inteligência artificial não seja tratada como um tabu;
o uso seja sempre descrito e creditado;
seja um uso limitado, para tarefas específicas;
escolas, professores e alunos trabalhem juntos para se familiarizarem com as ferramentas e definir limites éticos para seu uso naquele ambiente.
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