Crise no Inep: servidores desmentem presidente do órgão em caso de dados de alfabetização escondidos pelo governo

Entenda a ofensiva de Trump contra universidades de ponta
Servidores do Inep criticam 'contradição dos argumentos' usados pelo presidente do órgão para explicar por que dados educacionais do Saeb foram divulgados com 8 meses de atraso. Educação infantil – criança na escola
Licia Rubinstein
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Os servidores do Instituto Nacional e Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicaram na última sexta-feira (4) uma carta aberta com críticas aos argumentos utilizados pelo presidente do órgão, Manuel Palácios, para justificar o atraso de 8 meses na divulgação de parte dos dados do Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) de 2023.
Os funcionários do Inep dizem que entregaram todos os resultados da avaliação no dia 14 de agosto de 2024, desconhecendo motivos que pudessem ter gerado o atraso.
"Na perspectiva do seu corpo técnico, não há nenhum erro ou inadequação que justifique a não divulgação dos resultados do Saeb 2023", dizem os pesquisadores do Inep no documento.
Os funcionários descrevem que, em reunião feita no dia 2 de abril de 2025, manifestaram inquietações à presidência do órgão sobre a demora na divulgação desta e de outras avaliações e levantamentos organizadas pelo instituto, como o ENADE e o Censo de Educação Básica de 2024.
Nessa reunião, Palácios teria justificado o atraso do Saeb 2023 em decorrência de um erro de amostragem, gerando um impasse que, conforme os servidores, deveria ter sido discutido de maneira interna.
"O Presidente trouxe à público suas argumentações, sem prévia discussão interna com servidores", colocam os servidores do Inep.
Os funcionários também usam o documento para defender o trabalho executado pelo instituto: "destacamos que o INEP conta com um corpo técnico de servidores altamente qualificado, que dialoga com diversos especialistas e está aberto para discutir o aprimoramento de seus processos".
A polêmica dos números omitidos
Depois de forte pressão política, Manuel Palácios convocou na última quinta-feira (3) uma coletiva de imprensa para explicar por que os dados do 2º ano no Saeb foram disponibilizados somente naquele dia.
Aplicada para alunos do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e estudantes do 3º do ensino médio, o Saeb é o principal instrumento de avaliação da educação básica brasileira e é bancado por recursos públicos. A avaliação mensura o conhecimento dos alunos em língua portuguesa e matemática.
Enquanto os dados de alfabetização do Saeb ficaram “escondidos” durante 8 meses, o governo Lula comemorou publicamente os resultados de um instrumento criado pela própria pasta na atual gestão: o Criança Alfabetizada.
Os números, comunicados em 31 de maio de 2024, a partir de avaliações estaduais, mostraram que 56% das crianças estavam alfabetizadas (porcentagem que, em teoria, revelava uma recuperação da aprendizagem no pós-pandemia).
Em compensação, os números finais do Saeb divulgados pelo Inep são menos entusiasmantes: indicam um nível de alfabetização de 49% para alunos do 2º ano, 6 pontos percentuais a menos do que o apontado pelo Criança Alfabetizada.
Em alguns estados, a diferença foi mais gritante: no Maranhão, o Criança Alfabetizada apontou que 56% dos alunos de 7-8 anos estavam alfabetizados; já o Saeb, 31%, com margem de erro de 5,9 pontos percentuais.
Metade dos alunos brasileiros de 9 anos não sabe resolver tabuada e contas como ‘109 + 212’, mostra estudo internacional
Problemas na alfabetização: o que é fluência leitora e por que ler devagar é preocupante

Resultado preliminar do Pé-de-Meia Licenciaturas é divulgado; saiba como acessar

Entenda a ofensiva de Trump contra universidades de ponta
Programa do governo federal pagará bolsas de R$ 1.050 por mês, durante o período regular da graduação, para os alunos de cursos de licenciatura selecionados. Sala de aula.
Fabricio Lima/PMVV
O resultado preliminar do Pé-de-Meia Licenciaturas foi divulgado na sexta-feira (4) e já pode ser conferido na Plataforma Freire, sistema utilizado para gestão do programa em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
O resultado final deve ser divulgado em 14 de abril, e os pagamentos estão previstos para começar em maio. (Confira o calendário completo mais abaixo.)
O programa do governo federal pagará bolsas de R$ 1.050 por mês, durante o período regular da graduação, para os alunos de cursos de licenciatura selecionados.
Como funciona?
Os participantes do programa receberão uma bolsa mensal de R$ 1.050, durante todo o período regular de integralização do curso.
💰Deste total, o estudante poderá sacar R$ 700 de forma imediata, para apoiá-lo durante a graduação.
💰Os outros R$ 350 serão depositados em uma espécie de "poupança" e poderão ser sacados caso o estudante passe lecionar, após a conclusão do curso, na rede pública de ensino até cinco anos após a conclusão do curso.
Ao contrário do Pé-de-meia Ensino Médio, a versão do programa Licenciaturas não tem critério de renda. Puderam se inscrever todos os estudantes que conquistaram uma nota acima de 650 no Enem 2024.
Critérios de elegibilidade
Para participar do programa, os estudantes precisaram atender aos seguintes critérios:
Ter conseguido nota igual ou superior a 650 pontos no Enem;
Ter se matriculado em um curso presencial de licenciatura por meio do Sisu, Prouni ou Fies;
Estar matriculado em uma instituição de ensino superior com conceito 4 ou 5 nas avaliações do MEC.
Para fins de distribuição de vagas, o programa considera a seguinte ordem de prioridade, respectivamente:
Estudantes aprovados via Sisu;
Estudantes do Prouni;
Estudantes que utilizam o Fies.
Cronograma do Pé-de-Meia Licenciaturas de 2025
Primeira chamada
Resultado preliminar: 04/04/2025
Interposição de recurso ao resultado preliminar: 05/04/2025 a 09/04/2025
Resultado final: 14/04/2025
Indicação de ponto focal pelas IES: 04/04/2025 a 15/04/2025
Cadastramento dos bolsistas da 1ª chamada pelas IES nos sistemas da CAPES: a partir de 15/04/2025
Pagamento das bolsas: Até o 5º dia útil do mês de maio de 2025
Segunda chamada
Cadastramento de currículo e pré-inscrição dos candidatos na Plataforma Freire: 07/04/2025 a 19/12/2025
Aprovação das pré-inscrições pela CAPES: Até o dia 20 de cada mês
Cadastramento dos bolsistas pelas IES no sistema de Pagamento de bolsas (SCBA): Até o dia 25 de cada mês
Pagamento das bolsas: Até o 5º dia útil do mês subsequente ao cadastramento no SCBA
VÍDEOS DE EDUCAÇÃO

Temos 49% ou 56% dos alunos do 2º ano alfabetizados? Entenda a polêmica dos números omitidos e, agora, revelados

Entenda a ofensiva de Trump contra universidades de ponta
Segundo o Inep, dados do Saeb (principal avaliação da educação básica) do 2º ano do ensino fundamental não foram revelados antes por problemas na amostragem e nas margens de erro. Após pressão política, órgão divulgou os números nesta quinta-feira (3). Índices de alfabetização ficaram 'escondidos' por meses
Divulgação
Uma polêmica envolvendo índices divergentes de alfabetização de crianças e omissão de dados oficiais fez com que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) — órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC) — convocasse um pronunciamento coletivo às pressas no fim da tarde desta quinta-feira (3).
No evento, transmitido ao vivo pelo Youtube, Manuel Palácios, presidente do Inep, apresentou argumentos para justificar por que, até aquele momento, ainda não haviam sido divulgados os desempenhos das crianças do 2º ano no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
É a principal avaliação escolar do país, bancada com recursos públicos. Todos os demais índices dessa prova, relativos a alunos do 5º e do 9º ano, foram disponibilizados em agosto de 2024.
➡️Enquanto os dados de alfabetização do Saeb ficaram “escondidos” durante 8 meses, o governo Lula comemorou publicamente os resultados de um instrumento criado pela própria pasta na atual gestão: o Criança Alfabetizada. Os números, comunicados em 31 de maio de 2024, a partir de avaliações estaduais, mostraram que 56% das crianças estavam alfabetizadas (porcentagem que, em teoria, revelava uma recuperação da aprendizagem no pós-pandemia).
✏️Seria um índice igual ao que ficou “escondido” no Saeb? Não. Nos dados finalmente divulgados pelo Inep nesta quinta-feira, após intensa pressão de parlamentares e de provocação do Tribunal de Contas da União, o resultado ficou abaixo daquele “festejado” pelo MEC: 49%.
Em alguns estados, a diferença foi mais gritante: no Maranhão, o Criança Alfabetizada apontou que 56% dos alunos de 7-8 anos estavam alfabetizados; já o Saeb, 31%, com margem de erro de 5,9 pontos percentuais.
"É preciso que se diga que a avaliação censitária [feita por estados] é parte de políticas de incentivos e mobiliza mais as escolas. Era previsível que houvesse desempenho um pouco acima [do Saeb]", disse Palácios, na coletiva de imprensa.
De fato, os resultados das avaliações estaduais são usados para distribuição de recursos públicos e de bônus por alcance de metas.
🔎Por que os dados do Saeb ficaram escondidos por meses e só foram revelados diante de uma pressão externa?
Um ofício assinado por Palácios, revelado pela Folha de S.Paulo em 27 de março, mostra que o presidente do Inep orientou expressamente que fossem divulgados os microdados do Saeb apenas do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. As informações sobre alfabetização do 2º ano, portanto, ficariam "escondidas".
➡️Em 3 de abril, depois de uma intensa pressão política, o MEC determinou que o Inep divulgasse, sim, os números relativos a essas crianças. Foi quando Palácios apresentou argumentos para justificar o fato de os números não terem sido revelados antes:
processo de definição dos padrões de desempenho (quais faixas de nota seriam definidas como abaixo do básico, básico, adequado e avançado);
limitações na amostra da alfabetização.
"A nossa intenção era devolver os resultados do Saeb 23 já com a distribuição do alunado das diferentes redes por padrão de desempenho", disse o presidente do Inep.
Ernesto Martins Faria, diretor-executivo do Iede e especialista em avaliação de políticas públicas educacionais, afirma que essas explicações precisam ser mais detalhadas.
“Foi importante que o Inep tenha caminhado para o modelo de transparência agora e finalmente divulgado os microdados do Saeb. Mas [o instituto] precisa ter um papel mais forte: quais foram os problemas amostrais? É estranho, com o aparato que o Inep tem, não conseguir garantir uma amostragem razoável”, afirma.
“E por que a margem de erro é tão grande na Bahia [21,5 pontos percentuais], por exemplo? Margens altas também aconteceram com os números do Brasil no Timss, avaliação internacional. Precisamos entender mais a fundo o que está acontecendo.”
Metade dos alunos brasileiros de 9 anos não sabe resolver tabuada e contas como ‘109 + 212’, mostra estudo internacional
Quais as diferenças entre o Saeb e o Criança Alfabetizada?
Entenda abaixo:
Saeb:
Prova de português e de matemática feita por alunos do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e por estudantes do 3º do ensino médio.
Avaliação feita em uma amostra de escolas, a partir de um conjunto que representa toda a realidade do município.
Criança Alfabetizada:
Índice criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2024, focando nos alunos do 2º ano.
Calculado com base em avaliações estaduais de 2023, censitárias (aplicadas para todos os alunos). O Inep forneceu 20 questões de seu banco de perguntas para ajudar na parametrização de dificuldade. O resto foi definido por cada estado, com total independência.
Obs.: Acre, Roraima e Distrito Federal não participaram.
“Precisamos de mais informações para entender qual dos dois dados é mais confiável. Um argumento a favor do Criança Alfabetizada é que, de fato, há maior engajamento das redes de ensino, que não costumam ser responsabilizadas pelo Saeb”, diz Ernesto.
“Por outro lado, são avaliações diferentes em cada estado. É um desafio garantir que sejam compatíveis. Um aplicador pode ser mais rígido em um local do que em outro. A mediação do professor durante a prova também pode alterar os resultados.”
Um caminho, segundo o presidente do Iede, é fazer um cruzamento dos dados de escolas que fizeram tanto o Saeb quanto o Criança Alfabetizada. Para isso, o Inep precisa liberar os microdados deste último programa.
Vídeos de Educação
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Segundo o Inep, dados do Saeb (principal avaliação da educação básica) do 2º ano do ensino fundamental não foram revelados antes por problemas na amostragem e nas margens de erro. Após pressão política, órgão divulgou os números nesta quinta-feira (3). Índices de alfabetização ficaram 'escondidos' por meses
Divulgação
Uma polêmica envolvendo índices divergentes de alfabetização de crianças e omissão de dados oficiais fez com que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) — órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC) — convocasse um pronunciamento coletivo às pressas no fim da tarde desta quinta-feira (3).
No evento, transmitido ao vivo pelo Youtube, Manuel Palácios, presidente do Inep, apresentou argumentos para justificar por que, até aquele momento, ainda não haviam sido divulgados os desempenhos das crianças do 2º ano no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
É a principal avaliação escolar do país, bancada com recursos públicos. Todos os demais índices dessa prova, relativos a alunos do 5º e do 9º ano, foram disponibilizados em agosto de 2024.
➡️Enquanto os dados de alfabetização do Saeb ficaram “escondidos” durante 8 meses, o governo Lula comemorou publicamente os resultados de um instrumento criado pela própria pasta na atual gestão: o Criança Alfabetizada. Os números, comunicados em 31 de maio de 2024, a partir de avaliações estaduais, mostraram que 56% das crianças estavam alfabetizadas (porcentagem que, em teoria, revelava uma recuperação da aprendizagem no pós-pandemia).
✏️Seria um índice igual ao que ficou “escondido” no Saeb? Não. Nos dados finalmente divulgados pelo Inep nesta quinta-feira, após intensa pressão de parlamentares e de provocação do Tribunal de Contas da União, o resultado ficou abaixo daquele “festejado” pelo MEC: 49%.
Em alguns estados, a diferença foi mais gritante: no Maranhão, o Criança Alfabetizada apontou que 56% dos alunos de 7-8 anos estavam alfabetizados; já o Saeb, 31%, com margem de erro de 5,9 pontos percentuais.
"É preciso que se diga que a avaliação censitária [feita por estados] é parte de políticas de incentivos e mobiliza mais as escolas. Era previsível que houvesse desempenho um pouco acima [do Saeb]", disse Palácios, na coletiva de imprensa.
De fato, os resultados das avaliações estaduais são usados para distribuição de recursos públicos e de bônus por alcance de metas.
🔎Por que os dados do Saeb ficaram escondidos por meses e só foram revelados diante de uma pressão externa?
Um ofício assinado por Palácios, revelado pela Folha de S.Paulo em 27 de março, mostra que o presidente do Inep orientou expressamente que fossem divulgados os microdados do Saeb apenas do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. As informações sobre alfabetização do 2º ano, portanto, ficariam "escondidas".
➡️Em 3 de abril, depois de uma intensa pressão política, o MEC determinou que o Inep divulgasse, sim, os números relativos a essas crianças. Foi quando Palácios apresentou argumentos para justificar o fato de os números não terem sido revelados antes:
processo de definição dos padrões de desempenho;
limitações na amostra da alfabetização.
Ernesto Martins Faria, diretor-executivo do Iede e especialista em avaliação de políticas públicas educacionais, afirma que essas explicações precisam ser mais detalhadas.
“Foi importante que o Inep tenha caminhado para o modelo de transparência agora e finalmente divulgado os microdados do Saeb. Mas [o instituto] precisa ter um papel mais forte: quais foram os problemas amostrais? É estranho, com o aparato que o Inep tem, não conseguir garantir uma amostragem razoável”, afirma.
“E por que a margem de erro é tão grande na Bahia [21,5 pontos percentuais], por exemplo? Margens altas também aconteceram com os números do Brasil no Timss, avaliação internacional. Precisamos entender mais a fundo o que está acontecendo.”
Metade dos alunos brasileiros de 9 anos não sabe resolver tabuada e contas como ‘109 + 212’, mostra estudo internacional
Quais as diferenças entre o Saeb e o Criança Alfabetizada?
Entenda abaixo:
Saeb:
Prova de português e de matemática feita por alunos do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e por estudantes do 3º do ensino médio.
Avaliação feita em uma amostra de escolas, a partir de um conjunto que representa toda a realidade do município.
Criança Alfabetizada:
Índice criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2024, focando nos alunos do 2º ano.
Calculado com base em avaliações estaduais de 2023, censitárias (aplicadas para todos os alunos). O Inep forneceu 20 questões de seu banco de perguntas para ajudar na parametrização de dificuldade. O resto foi definido por cada estado, com total independência.
Obs.: Acre, Roraima e Distrito Federal não participaram.
“Precisamos de mais informações para entender qual dos dois dados é mais confiável. Um argumento a favor do Criança Alfabetizada é que, de fato, há maior engajamento das redes de ensino, que não costumam ser responsabilizadas pelo Saeb”, diz Ernesto.
“Por outro lado, são avaliações diferentes em cada estado. É um desafio garantir que sejam compatíveis. Um aplicador pode ser mais rígido em um local do que em outro. A mediação do professor durante a prova também pode alterar os resultados.”
Um caminho, segundo o presidente do Iede, é fazer um cruzamento dos dados de escolas que fizeram tanto o Saeb quanto o Criança Alfabetizada. Para isso, o Inep precisa liberar os microdados deste último programa.
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Entenda a ofensiva de Trump contra universidades de ponta

Entenda a ofensiva de Trump contra universidades de ponta
Governo de Donald Trump usa bloqueio de verbas como ferramenta para pressionar instituições acadêmicas a se alinharem a suas visões políticas e ideológicas; entre alvos, estão Harvard, Princeton e Columbia. Estudantes realizam um protesto com abandono de aulas nos degraus da Low Library da Universidade Columbia
Reuters
Desde que voltou à Casa Branca, Donald Trump tem colocado em risco a pesquisa universitária nos Estados Unidos por meio do bloqueio de financiamentos e de interferência na gestão de algumas das mais importantes instituições acadêmicas do mundo.
Com um Congresso submisso, controlado pelo partido Republicano, e uma Suprema Corte dominada por conservadores, o presidente americano não tem tido dificuldade em cumprir sua promessa de campanha de recuperar as instituições educacionais americanas do que ele chama de "esquerda radical".
Nos últimos dias, ele determinou a suspensão de 1,8 bilhão de dólares (cerca de R$ 10,2 bilhões) em financiamentos a Harvard, Columbia, Princeton, Johns Hopkins e Universidade da Pensilvânia, e ameaçou ir além caso essas instituições insistam numa suposta postura antissemita. Na visão da atual administração, isso inclui ações que questionem o governo de Israel, como acolher manifestações estudantis contra a guerra em Gaza.
Universidades encurraladas
O governo Trump mandou investigar cerca de 100 instituições de ensino superior por discriminação e antissemitismo. Algumas delas conseguiram recorrer na Justiça contra sanções mas, de forma geral, elas estão se curvando às pressões, já que não podem prescindir dos recursos federais. Segundo levantamento da Associated Press, essas universidades, juntas, receberam 33 bilhões de dólares (R$ 188,4 bilhões) entre 2022 e 2023, o que representa, em média, 13% de seus orçamentos.
O episódio mais recente aconteceu nesta semana com a Universidade de Princeton, que foi punida com a suspensão de bolsas de pesquisa no valor de 210 milhões de dólares (R$ 1,1 bilhão). A medida afeta dezenas de projetos que recebiam verbas federais vinculados ao Departamento de Energia, à Nasa (agência espacial americana) e ao Departamento de Defesa.
O reitor da instituição, Christopher Eisgruber, descreveu as ações de Trump como a maior ameaça às universidades americanas em décadas. "Estamos comprometidos em combater o antissemitismo e todas as formas de discriminação e cooperaremos com o governo nesse esforço. Princeton também defenderá vigorosamente a liberdade acadêmica e os direitos ao devido processo desta universidade", disse Eisgruber em comunicado.
Columbia, epicentro dos protestos estudantis pró-palestinos que se alastraram pelos Estados Unidos no ano passado, foi uma das primeiras afetadas pela atual ofensiva. No início de março, o governo determinou o corte de 400 milhões de dólares (R$ 2,3 bilhões) à universidade. A partir de então, a instituição anunciou reformas institucionais, como regras mais rígidas para protestos em seus campi e maior vigilância sobre departamentos de estudos do Oriente Médio.
Donald Trump fala à repórteres na Casa Branca
REUTERS/Evelyn Hockstein
No caso de Harvard, considerada a universidade com mais recursos do mundo, uma força-tarefa federal contra antissemitismo anunciou a revisão de 9 bilhões de dólares (R$ 51,4 bilhões) em contratos e subsídios federais ao acusar a instituição de não proteger seus estudantes judeus e de promover "ideologias divisórias através da livre pesquisa". Desse total, 255,6 milhões de dólares (R$ 1,5 bilhão) são relativos a contratos em vigor que foram suspensos, e o restante são compromissos de subsídios para os próximos anos.
A sanção mais expressiva até o momento foi contra a Universidade Johns Hopkins, um dos principais centros de pesquisa científica do país, que perdeu 800 milhões de dólares (R$ 4,5 bilhões) em financiamento. Segundo o governo, a instituição deveria rever sua postura em relação aos protestos em seu campus e garantir que alunos e professores respeitem as diretrizes do governo sobre antissemitismo e apoio a movimentos considerados vinculados ao Hamas. Como consequência, a universidade anunciou a demissão de mais de 2.000 funcionários.
Canetadas sem freio
As medidas do governo Trump têm sido comparadas às adotadas durante a Guerra do Vietnã ( de 1955 a 1976), período em que as universidades consideradas centros de ativismo antiguerra enfrentavam cortes de verbas federais. Professores que expressavam posições críticas ao governo, sobretudo durante a presidência de Richard Nixon, corriam o risco de perder financiamentos para pesquisas e até seus empregos por serem considerados antiamericanos ou comunistas.
No entanto, analistas avaliam que nenhum governo fez uso tão intensivo de ordens executivas– ações unilaterais do presidente – para atacar a oposição ao seu governo e ao de aliados. "Ordens executivas nunca foram concebidas para visar especificamente indivíduos ou atores não governamentais com propósitos de retaliação ou vingança", afirmou à Reuters o advogado Mark Zaid.
Suas ações têm despertado críticas até de aliados. "Ele [Trump] traçou essas amplas linhas de batalha, seja contra pessoas que ele acredita terem tentado arruiná-lo pessoalmente, seja contra aqueles que, em sua visão, tentaram destruir a civilização ocidental", afirma o estrategista republicano Scott Jennings. "Tudo o que ele disse que faria na campanha, ele está fazendo."
Manifestantes, incluindo alguns grupos judaicos, argumentam que o governo Trump erra ao equiparar as críticas à campanha militar de Israel em Gaza e a defesa dos direitos palestinos a antissemitismo e apoio ao grupo terrorista Hamas.
Essa pressão recai não só sobre instituições, mas também sobre estudantes, com prisões, perseguições e ameaças de deportação. É o caso da doutoranda turca Rumeysa Ozturk, que foi levada à força sob custódia por agentes federais em plena luz do dia, perto de sua casa em Massachusetts, e teve seu visto revogado.
Imagem de câmera de segurança mostra momento em que Rumeysa Ozturk é detida por agentes federais em Sommerville, Massachusetts.
AP Photo/picture alliance
Um ano atrás, ela assinou um artigo de opinião no jornal estudantil da Universidade Tufts, onde estuda, defendendo que a instituição deixasse de investir em empresas com vínculos com Israel em reconhecimento ao "genocídio palestino". Não está claro se esse foi o motivo da detenção, já que ela não estava diretamente envolvida em protestos. O governo fala em apoio de Ozturk ao Hamas.
Outro símbolo da repressão do governo americano nas universidades é Mahmoud Khalil, ativista palestino e aluno de pós-graduação de Columbia, detido em 8 de março em seu apartamento universitário em Manhattan. Khalil corre o risco de ser deportado, mesmo tendo green card e sendo casado com uma cidadã americana – que estava grávida de oito meses na época de sua prisão.
"Esta é a primeira prisão de muitas que virão", disse Trump em sua plataforma de rede social Truth Social à época, acusado de ser um "estudante radical a favor do Hamas".
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou ter revogado mais de 300 vistos de estudantes dentro da atual ofensiva do governo.
"Guerra cultural"
Entre os temas "proibidos" pela administração Trump estão ainda questões de diversidade, meio ambiente e direitos humanos.
Um dos exemplos mais emblemáticos dessa perseguição à qual o governo chama de "guerra cultural" foi a suspensão de 175 milhões de dólares (quase R$ 1 bilhão) para a Universidade da Pensilvânia devido a políticas esportivas para atletas transgênero.
No centro do caso está a nadadora Lia Thomas, que fez história ao se tornar a primeira mulher trans a vencer o campeonato universitário americano de natação feminina, competindo pela universidade. Sua vitória gerou uma onda de discussões e críticas, especialmente entre aqueles que acreditam que atletas transgênero têm uma vantagem injusta sobre mulheres cisgênero em competições esportivas.
O governo Trump alegou que a universidade não estava aderindo a políticas que o governo considerava necessárias para garantir a "equidade" no esporte feminino.
VÍDEOS DE EDUCAÇÃO